Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

“Facão” corta 10% dos jornalistas

Só nesta última semana – da 5ª feira até agora – a Folha de S.Paulo demitiu nada menos que 40 jornalistas, ou na definição do próprio jornal, cerca de 10% dos repórteres de sua redação. E o fez da forma truculenta que a caracteriza, sem julgar dever explicações aos profissionais e muito menos ao sindicato da categoria, ao qual negou uma confirmação inicial dos cortes e só o fez depois de muita insistência da entidade.

De acordo com registro no portal Comunique-se, “redatores, repórteres e editores foram demitidos dos cadernos de ‘Classificados’, ‘Poder’ e ‘Cotidiano’. Profissionais com mais de 20 anos de empresa também fazem parte da equipe que foi desligada do jornal”.

Foram extintos o caderno “Folhateen”, voltado para os jovens, que se torna, agora, parte da “Ilustrada”, e dispensado o correspondente da Agência Folha em Cuiabá (MT).

Publico abaixo nota emitida pelo Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo, de repúdio às dispensas e à forma como se deram, demonstração cabal de que o jornal, como diz o sindicato, nada tem de democrático. Uma coisa é seu discurso editorial, outra a sua prática.

A nota do sindicato, assinada por seu presidente, José Augusto Camargo, o Guto:

“O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo protesta contra a atitude da direção da empresa Folha da Manhã, detentora dos títulos da Folha de S.Paulo e Agora São Paulo de demitir funcionários sem abrir um processo de negociação entre as partes.

“O Sindicato dos Jornalistas entrou em contato na tarde de 5ª feira (10/11) com a direção da empresa Folha da Manhã, com o objetivo de apurar a veracidade das informações que dão conta que a empresa pretende demitir 40 profissionais, ou cerca de 10% da redação.

“Na ocasião, o departamento Jurídico da empresa afirmou desconhecer qualquer processo de demissão e que entraria em contato com o Sindicato no dia seguinte. Na manhã de sexta-feira, como não houve retorno do setor jurídico, a diretoria do Sindicato entrou em contato com o departamento de RH que afirmou “não ter informação” sobre o caso.

“Ao final da tarde, finalmente, um telefonema da empresa confirmou que a empresa irá demitir, pois está adequando seu corpo de funcionários ao orçamento de 2012. No entanto, não disse quantos nem quando as mudanças ocorrerão, apenas que estão sendo estudadas caso a caso.

“A diretoria do Sindicato dos Jornalistas reafirma que não existem motivos que justifiquem demissões desta natureza. Na verdade, o jornal trabalha com um número limitado de profissionais, que acumulam horas-extras excessivas, “pescoções” intermináveis e multiplicidade de funções, como trabalhar para o impresso e também para o Portal. Todas as estatísticas apontam que há crescimento no faturamento das empresas, o que não justifica tal “intenção”.

“Todo o final e início de ano presenciamos a mesma postura das empresas, que na intenção de alcançar suas metas de faturamento não pensam duas vezes para demitir trabalhadores. A recusa de negociar as demissões com o Sindicato demonstra o total desrespeito com a entidade e com os jornalistas. No caso da Folha, tal atitude é uma contradição a tão divulgada “democracia” defendida pelo jornal, que na prática é apenas uma estratégia de marketing.”

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[José Dirceu de Oliveira e Silva é advogado e dirigente do PT, foi deputado federal e ministro-chefe da Casa Civil]