Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Legado à procura de um autor

A imprensa brasileira não poupou o presidente do Senado, José Sarney, no fim de semana, e os jornais de segunda-feira (29/6) noticiam que devem sem encaminhadas ainda nesta semana ao Conselho de Ética duas representações contra ele, por quebra do decoro parlamentar.


Mas a leitura dos textos que se acumulam desde sábado sobre o assunto não permite afirmar que esteja em curso um processo de cassação. Na verdade, não apenas Sarney e seus apoiadores como seus adversários do momento estão correndo contra o tempo para buscar uma saída honrosa para ambos os lados.


A possibilidade de tudo terminar em pizza vai depender muito de como a imprensa conduzir o tema daqui para a frente.


A lista de irregularidades que mancha a presidência do Senado não se restringe aos mandatos de José Sarney, mas o velho coronel da política clientelista demonstra uma surpreendente capacidade de produzir atos escandalosos. Surpreendente até para os padrões da política brasileira.


Representantes de três gerações de sua família aparecem seguidamente no noticiário, como beneficiários de mamatas e privilégios financiados pelo dinheiro público. É como se o simples fato de alguém vir ao mundo com o sobrenome inventado pelo político José Ribamar, ou se tornar um agregado do clã, lhe desse o direito de ser sustentado e enriquecer à custa do Estado.


Livro oportuno


A revista Época foi ouvir o presidente do Senado afirmar que não vai renunciar. No máximo, ele aceita afastar seus auxiliares acusados de esconder atos administrativos.


Veja faz uma lista dos truques usados para aumentar os vencimentos dos apadrinhados, alinha os abusos cometidos pela família Sarney no Senado e entrevista um funcionário concursado que tem vergonha do seu emprego.


IstoÉ espalha que gente da oposição a Sarney se beneficiou de empréstimos concedidos pelo ex-diretor geral Agaciel Maia, fato que é amplificado na segunda-feira (29) pela Folha de S.Paulo.


E CartaCapital, que já produziu uma série de reportagens sobre a miséria no Maranhão de Sarney, segue revelando qual será o legado do presidente do Senado quando ele deixar a política.


Depois que tudo isso terminar, quando estiver recolhido ao seu sítio de São José do Pericumã, o velho senador, que tanto aprecia a literatura, poderia inspirar-se no livro do falecido jornalista Anthony Mascarenhas, autor de Legado de Sangue, e produzir a obra definitiva sobre sua trajetória política.


Sugestão de título: Legado de lama.