Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mídias sociais e mídias de socialização

Um fato constantemente debatido na internet é acerca da complementação que uma mídia tem para com outra, contrariando os gurus xiitas que pregam o fim de todas as mídias tradicionais com a desculpa de que a web 2.0 inundará todos os lares e contaminará os usuários com suas mídias sociais capazes de oferecer entretenimento, estudo e socialização.

Bom, sobre o primeiro ponto não há o que se discutir. Ao longo da evolução comunicacional, observamos que as diversas mídias existentes (rádio, TV, impresso e web) realmente se complementavam, em uma espécie de característica própria de continuação. O que, de fato, não se completou foram os sistemas de negócio, pois cada mídia possui sua particularidade. Mas isso é outra história.

Quanto ao segundo ponto, é possível destacar que, mesmo com todas as características positivas da web 2.0, as mídias ditas como tradicionais ainda persistem. Por que ainda persistem? Porque houve uma complementação quase imperceptível entre essas mídias. Não há como realizar palpites certeiros para um futuro próximo, mas podemos observar com total clareza que a sociedade atual migra de uma mídia para a outra com naturalidade, sem ao menos ter a consciência de que está usando diversas plataformas midiáticas, sejam elas online ou não.

TV dá continuidade no mundo real

Com isso, se pararmos para analisar tal complementação, iremos deparar com um fator que ainda persiste atualmente: com as mídias sociais, você consegue agregar um número gigante de amigos, conversar com dezenas de pessoas ao mesmo tempo e é capaz de interagir em um game com mais de 20 usuários em tempo real. Porém, você sempre acaba sozinho depois de desconectar, o que não acontece com outras mídias.

Explico: interagir com dezenas de pessoas e conversar com vários membros de uma comunidade é uma ação social, mas não de socialização. A socialização ainda pertence, por exemplo, à TV, onde as pessoas se reúnem em volta do aparelho para assistir a um filme ou uma partida de futebol. Outra mídia de socialização é o cinema, pois nele você literalmente vê a reação das pessoas, além de se comportar de maneira diferenciada daquela de quando você está sozinho em casa. Outra mídia que já deteve esse poder foi o rádio. O aparelho já foi o centro das atenções de uma família ou até mesmo de uma determinada região carente. Após perder o posto para a TV, muitos gurus xiitas acreditavam que a web seria a nova sucessora desse reino. Porém, o que vemos é cada vez mais a internet sendo utilizada como uma ferramenta social, mas não de socialização.

A TV permite que você dê continuidade no mundo real àquilo que foi amplamente discutido durante o futebol ou o debate político. Já na internet, assim que você se desconecta, o usuário geralmente não dá continuidade às suas atividades, pois as pessoas com quem ele estava interagindo são de outras cidades, países ou, algumas vezes, nem existem, já que usam nomes e histórias falsos.

Isolamento social

Portanto, tirar o trono das mídias tradicionais só com argumentos de que a internet irá substituí-las é uma forma tão simplória de discussão que nos leva ao ponto de discutirmos sua real aplicação. A web tem se tornando o centro de muitos lares, mas de forma deturpada, não de maneira socializadora. Pessoas que se trancam em seus quartos e dificilmente trocam uma palavra com seus próprios familiares estão usando a web apenas como ferramental social no mundo virtual, sendo que poderiam utilizar tal mídia de forma mais socializadora.

Quando a web conseguir o feito de que pessoas passem de meros membros sociais virtuais e comecem a ser pessoas sociáveis que apenas utilizam a internet, aí podemos iniciar uma discussão de que a internet tomará o lugar de outras mídias quanto ao seu poder de maximizar laços sociais reais. Caso contrário, as mídias tradicionais ainda seguem como itens indispensáveis para uma sociedade moderna e a web continuará sendo um meio de se isolar socialmente do mundo real. A questão que sempre fica é: os pontos positivos e negativos nunca são exclusividades de uma mídia, mas sim, daqueles que as usam.

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[Cleyton Carlos Torres é jornalista, blogueiro, pós-graduado em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing e pós-graduando em Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo]