Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Não há como garantir segurança

Apesar de ter levado semanas para solucionar uma falha de segurança gigantesca, o diretor-presidente da Sony Corp., Howard Stringer, disse que não pode garantir a segurança de sua rede de videogame ou de qualquer outra rede da web no “maléfico mundo novo” do cibercrime. Os comentários de Stringer numa entrevista por telefone ao Wall Street Journal, antes de uma mesa-redonda em Nova York com repórteres, ocorreram após um mês difícil para a Sony. A empresa restaurou parcialmente dois de seus sistemas online de videogame e um serviço de transmissão de filmes e músicas no fim de semana, depois de ter sido obrigada a interromper os serviços por semanas, quando uma falha de segurança vazou dados pessoais de mais de 100 milhões de assinantes.

Embora a Sony tenha restaurado parte da PlayStation Network – um sistema para jogos online de seu videogame PlayStation 3 – nos Estados Unidos e na Europa, e também tenha incrementado as medidas de segurança, Stringer, de 69 anos, disse que a manutenção da segurança do serviço é um “processo interminável” e que ele não sabe se alguém pode estar “100% seguro”. Ele disse que a falha de segurança na PSN, na Sony Online Entertainment, um serviço de jogos online para computadores, e no serviço de transmissão de vídeos e filmes Qriocity pode gerar problemas maiores que ultrapassam os da Sony ou da indústria de videogames. E alertou que os ataques podem um dia visar ao sistema financeiro mundial, à rede elétrica ou ao sistema de controle do tráfego aéreo. “Infelizmente é o começo do mundo que está por vir”, disse Stringer. “Não é um admirável mundo novo; é um maléfico mundo novo”, disse ele.

“Seguro contra ataques”

A entrevista e a mesa-redonda foram os primeiros comentários em público de Stringer sobre os problemas de segurança depois da carta de 5 de maio no blog do PlayStation, em que pediu desculpas pela inconveniência causada pela suspensão dos dois serviços. Os problemas na rede de videogames, filmes e músicas da Sony foram um duro golpe para a estratégia defendida há tempos por Stringer, de casar seus produtos de hardware com conteúdo de seus negócios de entretenimento. Ele tem enfatizado essa estratégia desde que se tornou o primeiro diretor-presidente da empresa que não é japonês, em 2005, considerando-a essencial para a sobrevivência da Sony e a concorrência com os serviços oferecidos pela Apple Inc. em ligação a seus aparelhos e a loja de conteúdo iTunes.

A situação também expôs a presidência de Stringer a críticas e diminuiu o brilho da recuperação no lucro obtida pela Sony depois de dois anos no vermelho. Stringer disse que ainda é cedo para avaliar o impacto financeiro da interrupção na rede. A Sony anuncia os resultados do ano fiscal em 26 de maio.

Kazuo Hirai, chefe da divisão de videogames e eletrônicos da Sony, o escolhido de Stringer para sucedê-lo futuramente, é quem tem encabeçado a restauração dos serviços e a investigação do furto dos dados, que incluem nome, endereço e talvez o número do cartão de crédito dos assinantes. Ele disse que a familiaridade de Hirai com a PSN permitiu que conseguisse restaurar o serviço “mais rápido que qualquer um”. Stringer, que afirma que seu apoio à estratégia de integração pela rede não feneceu, considerou que seu papel era o de questionar as coisas duramente e reunir uma equipe para solucionar de vez o problema. “Se aconteceu algo positivo nesse período, foi que Kazuo mostrou uma calma e liderança e confiabilidade sem discordâncias e dissidências muito impressionante”, disse ele.

Numa entrevista separada, Hirai disse que a Sony fez todo o possível para garantir que seus sistemas online sejam seguros. Se alguém ainda conseguir ultrapassar suas barreiras de segurança, encontrará outras proteções para impedir que acesse os dados da Sony. “Fizemos todo o possível e razoável para garantir que o sistema é seguro contra ataques”, disse Hirai.

Criptografia e barreiras de segurança

Stringer discordou das críticas de políticos e de defensores da privacidade na internet, que acham que a empresa deveria ter alertado antes os assinantes para a possibilidade de furto de dados pessoais. A Sony desligou a rede PSN em 20 de abril, quando encontrou indícios de invasão e possível transferência indevida de dados de seus servidores, mas só revelou o vazamento de dados em 26 de abril. A empresa afirma que só teve certeza em 25 de abril que algumas informações pessoais tinham sido acessadas.

Stringer disse que “seria irresponsável” divulgar suspeitas antes de obter mais provas. “Estávamos tentando descobrir o que acontecera em meio a uma situação muito volátil e, quando conseguimos, informamos imediatamente”, disse Stringer. “Se sua casa tivesse sido arrombada, você primeiro ia procurar saber se sumiu alguma coisa antes de chamar a polícia”, disse ele. Na mesa-redonda com jornalistas, ontem (20/5), Stringer disse que a investigação do FBI sobre a questão está em andamento, mas não quis divulgar suas descobertas até agora.

Enquanto restaurava alguns de seus sistemas no fim de semana, a Sony informou que fortaleceu a proteção dos dados com novas tecnologias, instalando também mais monitoramento de software e testes de vulnerabilidade. A empresa também aumentou o nível de criptografia e instalou mais barreiras de segurança, os chamados firewalls. Também na mesa-redonda, Hirai disse a repórteres que não recebeu notícia de problemas substanciais desde que os serviços foram retomados.

Problemas que educam

Stringer declarou não achar que a segurança online da Sony tenha sido relaxada demais. Ele disse que a PSN está em operação há cinco anos e a Sony Online Entertainment, há dez, sem que houvesse qualquer falha de segurança nos dois serviços. “Não tínhamos motivo para acreditar que nossa segurança não era boa e ainda não temos motivo para acreditar nisso, porque temos várias pessoas cuidando disso”, disse Stringer. “Aprendemos que precisamos apenas continuar melhorando nossa segurança.” Afirmando que os assinantes da PlayStation Network são leais e entendem a situação, Stringer disse que eles têm reagido positivamente às medidas anunciadas pela Sony. “Temos de reconquistar a confiança e lealdade que podemos ter perdido nesta situação. É nossa meta, e vamos alcançá-la”, disse.

A Sony anunciou segunda-feira (16/5) que vai dar jogos de graça como parte de uma campanha “bem-vindo de volta” para assinantes da PSN na América do Norte e Europa. Ela também vai permitir aluguel de filmes de graça num fim de semana e distribuir por tempo limitado assinaturas de serviços mais completos. Nos dois dias desde que o serviço foi restaurado, Hirai disse que apenas “uma pequena porcentagem” das chamadas para suas centrais de atendimento do PlayStation foram de clientes pedindo para cancelar a assinatura. Mas Hirai alertou que ainda é cedo demais para tirar conclusões com base nisso.

Stringer disse que tem visto o ressentimento ser transferido da empresa para os responsáveis pela invasão. Os problemas da Sony serviram para educar as pessoas sobre os possíveis perigos de ameaças como essas à segurança.

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Do Wall Street Journal, de Tóquio