Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Nos bastidores da internet

Nos últimos três dias, a palavra mais ouvida no gigantesco auditório do igualmente gigantesco Orange County Convention Center, aqui em Orlando, Flórida, foi “awesome”, impressionante. É que estava em cartaz a Synergy 2015, reunião de cerca de oito mil pessoas que gravitam em torno do planeta Citrix, e todas encontraram motivos de sobra para dizer “awesome” algumas vezes. Imaginem: oito mil geeks, vestidos como geeks, portando-se como geeks, aplaudindo com entusiasmo propostas e revelações geeks. Os meninos do “Big bang theory” se sentiriam em casa. Já o resto da humanidade…

“Você já pensou se uma pessoa que vai andando pela rua entra aqui distraída e vê todo mundo aplaudindo workflows e conexões?”, perguntou a colega indiana com quem fiz amizade. Tive que rir. Não há “rua” nessa parte de Orlando, não há pedestres e só se entra com crachá na conferência; difícil imaginar o seu João voltando da padaria de sacola na mão entrando ali por acaso. Mas o toque de surrealismo caía bem: ao que estávamos assistindo seria considerado delírio futurista há bem poucos anos. E é provável que, em breve, o seu João esteja usando alguma ferramenta apresentada aqui.

A Citrix é uma das potências de bastidores da internet, e a pioneira do trabalho à distância. Há 26 anos, quando foi fundada, isso significava apenas que os usuários do WinFrame, seu principal produto de então, podiam colaborar entre si usando computadores de uma mesma rede; hoje pode significar, entre outras incontáveis combinações, acessar o conteúdo de um PC usando um iPhone no outro lado do mundo. Ainda me lembro como, nos idos de 1989, nós nos espantávamos com a incrível possibilidade de rodar um programa instalado num servidor à distância, em conexão banal feita por cabo. Hoje não nos espantamos com mais nada. Ou quase nada. Quando Mark Templeton, CEO da Citrix, usou o Photoshop para fazer correções numa foto de família, o auditório exclamou “awesome”. Afinal, o Photoshop estava instalado no PC do seu escritório, a quilômetros daqui, mas a tela que o exibia era a de um modesto iPad.

Logo veríamos algo ainda mais “awesome”. A palestra de abertura do evento foi encerrada com a participação dos fundadores do The Nimble Collective, uma nova empresa que, junto com a Citrix, está bolando a primeira plataforma de animação na nuvem, e uma comunidade de criação on-line. Eles desenharam um ratinho, lhe deram volume e movimento, mudaram a direção do olhar, o jeito da cabeça, a luz. O detalhe é que animadores usam alguns dos programas mais pesados do mundo. Foi um espanto vê-los trabalhar tão bem longe de estações de trabalho. A plateia veio abaixo: “Awesome, awesome”.

“A nuvem não é um lugar”, explicou Mark Templeton ao apresentar o novo produto da Citrix, o Workspace Cloud. “Ela é um jeito de fazer as coisas.”

Templeton é totalmente old school: se veste como o americano médio dos anos 60, adora rock, faz palestras com pouco ou quase nenhum ensaio, não esquenta quando o Wi-Fi sai do ar no ponto alto da demonstração. A vida como ela é. Muito divertido: “Há uma certa confusão em relação ao que um espaço de trabalho vem a ser. A concorrência diz que é um desktop. Nós achamos que é bem mais. É um desktop, são aplicativos Windows, aplicativos web, é mobilidade. É qualquer espécie de ferramenta digital que você precise para realizar a sua tarefa.”

Por que não um celular?

“Tudo o que você precisa já está no seu bolso”, observou Templeton. “Precisamos liberar o espaço de trabalho dos smartphones.”

Na semana que vem, falo mais um pouco sobre esse conceito, que é – como é que vocês adivinharam? – “awesome”.

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Cora Rónai é colunista do Globo