Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Nossas vidas sociais estão cada vez mais nas telas

Nicholas Carr tem em seu currículo nomes invejáveis. Escreveu um livro que virou best-seller do Wall Street Journal, colaborou com Wired e New York Times Magazine e deu palestras em instituições como MIT, Harvard e Nasa. Tudo isso por causa de seus pressupostos que geraram conclusões inusitadas.

Seria possível comparar a chegada da eletricidade à da internet? Sim, claro. Assim surgiu seu best-seller, The Big Switch. Estaria o Google nos tornando burros? Outro livro! Em The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains (‘O que a internet está fazendo com o nosso cérebro’, em tradução livre), ele nos mostra como os hábitos adquiridos com a internet estão nos deixando mais distraídos. Pode-se não concordar, mas o homem tem opiniões muito bem fundamentadas.

Os brasileiros terão a oportunidade de conhecê-lo hoje, no evento Info Summit, que ocorre no Renaissance São Paulo Hotel, em São Paulo. Confira, abaixo, trechos da entrevista que Carr concedeu à Folha.

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‘A transformação dos celulares em computadores’

No seu livro The Big Switch, você compara a revolução causada pela chegada da eletricidade à da internet. A internet teria causado uma revolução por não ser mais preciso instalar programas nos computadores, já que tudo ocorre na nuvem. Como você encaixaria as redes sociais neste processo?

Nicholas Carr – A internet social só se tornou possível pelo fato de os computadores passarem a ser tratados como utilitários. O fato que possibilitou a origem de redes sociais como Facebook e Twitter é que os dados estão sendo processados e armazenados em uma central. Isso permite que diferentes pessoas usem a mesma aplicação e dividam os mesmos dados simultaneamente. Isso é um serviço de computação em nuvem, o que é bastante diferente do que ocorria quando precisávamos instalar aplicativos nos nossos computadores.

Que outras mudanças causadas pela revolução da internet ainda vamos ver?

N.C. – É mais uma progressão do que algo radicalmente novo. Acho que a grande mudança pela qual estamos passando é a transformação dos celulares em computadores com várias funções.

‘A internet nos acostuma a estar distraídos’

Ainda sobre seu livro, você pode citar algumas das diferenças entre as revoluções causadas pela eletricidade e pela internet, além do óbvio? Acha que estamos preparados para a revolução?

N.C. – Bom, existem as diferenças óbvias entre a corrente elétrica e as informações que circulam nas redes da internet. No geral, são dois serviços que podem ser centralizados – e acho que é isso um pouco o que estamos vendo hoje, estruturalmente. Mas, obviamente, as informações que rodam pelas redes de computador são mais sensíveis – existem questões de segurança e privacidade.

Isso também significa que, quanto mais os serviços e as empresas adotam as redes de computadores, mais existe automação e esses serviços podem ser transferidos para qualquer parte do mundo rapidamente. E eu não acho que estamos preparados para as consequências desse processo. Em termos, por exemplo, de criação de riqueza. Existe a possibilidade de vermos cada vez mais empregos, até mesmo alguns mais sofisticados. Meu palpite é que haverá esse impacto na economia. Além dos impactos nas questões culturais, intelectuais e sociais envolvidas, na medida em que cada vez mais nossa vida social é conduzida por meio das telas.

No seu livro mais recente, você fala sobre como o nosso uso da internet muda nossas funções neurológicas. Como acontecem esses tipos de mudança?

N.C. – Quando adquirimos novos hábitos de pensamento, nossas funções neurológicas são rápidas ao se adaptarem a tais hábitos. Como a internet nos acostuma a estar constantemente distraídos e consumindo pequenos pedaços de informação a uma corrente constante, nossa mente se habitua a consumir informação desse jeito. A parte ruim, na minha visão, é que começamos a sentir dificuldade para nos concentrarmos e filtrarmos as distrações. Essa é a grande mudança pela qual estamos passando.

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Jornalista