Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O Brasil não cresce com exclusão digital

Estamos mal no ranking global de acessos à internet segundo os dados da pesquisa divulgada pelo Comitê Gestor da internet no Brasil. Estamos na incômoda 64ª, junto com o México e bem atrás dos vizinhos Uruguai, Argentina e Chile. Perdemos até para a Costa Rica, na América Central.

Mais da metade dos brasileiros (54,79%) nunca usou computador e 67,76% jamais entrou na internet. Os dados impressionam, mas não chegam a ser dramáticos no contexto mundial porque a exclusão digital é uma norma, até mesmo nos Estados Unidos, que está apenas no 10º lugar no ranking de acessos à internet.

O verdadeiro significado da desigualdade digital não está tanto nos números e estatísticas mas no processo de transição para a sociedade da informação. A redução do número dos sem internet é condição indispensável para que a economia digital funcione no país, porque a lógica do sistema mudou.

Para que as empresas funcionem no ambiente virtual elas têm que obrigatoriamente contar com sistemas de certificação de confiabilidade em parceiros e intermediários. Estes sistemas já existem e têm uma lógica: quanto mais gente emitir opiniões, mais confiável é a avaliação de reputações – como provam os casos do eBay e do Submarino.

O caso da certificação de credibilidade é apenas um dos elementos que compõem a nova lógica da internet, onde a inclusão é essencial. Outro é o da inovação através de sistemas de código aberto, nos quais quanto maior o número de participantes opinando e colaborando, maior a criatividade coletiva – uma exigência que passou a ser crítica na era digital onde o sistema só funciona se for alimentado pelo lançamento contínuo de novas idéias, serviços e produtos.

Lógica da inclusão

Até no jornalismo a inclusão digital passa a ser fundamental porque a tendência é a valorização do noticiário local e hiperlocal por intermédio da contribuição de leitores/repórteres. Quando mais colaborações, mais diversificado e atraente ficará a página noticiosa e conseqüentemente maior a sua clientela.

Mas se existe uma lógica da inclusão na internet, por que a desigualdade digital não diminui no Brasil e no mundo? A resposta está na atual coexistência entre duas estratégias distintas de crescimento econômico. A tradicional, baseada no princípio de que é necessário manter um exército de mão-de-obra barata para que a produção de bens seja lucrativa para uma minoria. A outra, a que poderíamos chamar de nova economia, apóia-se no princípio de que a inovação e a automação garantirão a produção de bens capazes de garantir o crescimento econômico para todos.

No primeiro caso, a exclusão está embutida no sistema que não funciona sem ela. No segundo, ocorre o contrário, ou seja a inclusão é o motor da inovação e criatividade. Quanto mais pessoas participarem do processo, maior o seu dinamismo e, portanto, maiores os resultados a serem distribuídos.

É importante ressaltar que a lógica da inclusão na nova economia não significa que ela caminhará para a eliminação da desigualdade. A única diferença é que enquanto no capitalismo clássico a tendência é o aumento das diferenças entre os com e sem computadores, na era digital diferença diminuirá, sem desaparecer por completo. [Postado em 28/11/05 às 10h56]

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Jornalista, editor do blog Código Aberto