Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O fim da manchete

No dia 24 de junho de 1996 o Diário Catarinense, jornal tablóide da RBS em Santa Catarina, publicou em letras garrafais: MORRE PC FARIAS. Por sorte dos editores, naquele dia não morreu ninguém mais importante, caso contrário, na edição seguinte teriam que fazer um jornal standard.

Exageros à parte, este recurso gráfico dos jornais para dimensionar e hierarquizar a importância da notícia perante o leitor praticamente sumiu na internet. As ‘novas tecnologias’ criaram um engessamento da notícia. Esse novo jornalismo bloqueado por páginas templates, fórmulas prontas à disposição dos editores cria uma rotina cerceada por projetos gráficos rígidos. Mas na mídia impressa ainda é possível quebrar estes padrões por iniciativa dos próprios editores e paginadores eletrônicos, dependendo do grau de importância da notícia. Se o fato realmente tem relevância, é possível dimensioná-lo graficamente e atribuir-lhe o valor que realmente merece.

Na Internet, qualquer quebra de rotina está ligada diretamente aos programadores do produto digital, diferentemente da mídia impressa, que trabalha visualizando a página, seja no pagemaker, no quark-x-press ou qualquer outro paginador eletrônico. A página está ali, na frente, sendo vista e analisada. Na Internet, redatores e editores trabalham em formulários, onde digitam a matéria do dia, editam e enviam. O resultado será visto depois no computador, após clicar no ‘refresh’.

O que o leitor/internauta vê diariamente é uma notícia fleumática. Imutável visualmente. Obviamente que a informação está lá, ágil, atualizada em tempo real como nunca se viu antes, mas sem o recurso gráfico da manchete.

Soluções existem

Não se trata de saudosismo, de ‘saudade da velha e boa manchete em letras grandes’, mas de recuperar uma função do jornalismo que é chamar a atenção do leitor para os níveis de importância da notícia.

Neste caso, onde não é possível improvisar, dado o grau de dificuldades da programação de uma página para web, é importante prever os fatos. A programação é demorada, os editores apontam os problemas e os designers e programadores, a solução.

Páginas templates devem existir para uma maior agilidade do jornalismo, mas podem ser previstas soluções diversas para não se cair numa rotina visual. O que se vê na internet são repetições de páginas que se formam automaticamente. Na mídia impressa existem os cadernos especiais, que podem ter variações do projeto gráfico original. Na Internet, coberturas especiais assumem a mesma formatação visual do corpo do todo, sem uma diferenciação do resto.

São poucos os editores que se especializaram nesse ambiente a ponto de alcançar uma total sinergia com designers e programadores. Menor ainda o número dos que sabem que há alternativas viáveis para atingir os objetivos propostos. As soluções existem tanto para páginas em html, em flash ou em sistemas com PHP, JSP ou ASP, nas quais é possível proporcionar uma maior liberdade para criação e diferenciação das manchetes. Um exemplo é ter uma variedade de templates, que podem ser escolhidas na hora do cadastro das notícias, de acordo com a necessidade e importância.

Rotina quebrada

No Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina estamos fazendo um site experimental em flash (www.universidadeja.ufsc.br) mesclando html e um banco de dados em PHP, numa tentativa de pesquisarmos a notícia integrando as mais diversas mídias: texto, hipertexto, infografias, slide-show, áudios, vídeos e transmissões ao vivo.

Ao esbarrarmos na atualização de um produto relativamente sofisticado como este, passamos a pensar nas soluções de automatização sem alterar o design da página, nem deixar a apresentação do conteúdo bloqueada por estas questões da programação. A solução imediata foi pensar na criação de modelos de páginas e no processo de hierarquização entre eles, ou seja, como estabelecer a forma de operacionalização e o momento de ativar cada uma das templates. Elas têm como objetivo colocar a informação em ordem de importância, buscando recuperar este recurso para o dimensionamento da notícia na internet. Isto é, criar pelo menos cinco tipos de prováveis de capas que seriam solicitados pelos editores, dependendo do grau de valor da notícia, o qual o leitor teria já visualmente a percepção da maior ou menor importância da manchete.

Na internet a imagem (são bitmaps formadas de pixels – quanto mais, maior o peso e o tempo necessário para carregar a página) pesa, não se podendo abrir as fotos como nos jornais. Mas as fontes são vetoriais (descrições matemáticas que o computador interpreta e invariáveis em qualidade quando ampliadas), seu tamanho não acarretará aumento do peso da página, proporcionalmente à lentidão de acesso, mas vai agregar maior valor às notícias, informando ao leitor já de imediato que aquela notícia é diferente. A rotina foi quebrada.

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Professor do Curso de Jornalismo da UFSC; jornalista especializado em flash e programação de PHP