Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

O futuro que se aproxima

Os próximos anos serão fundamentais para o Brasil. Pela primeira vez no pós-guerra abre-se a possibilidade de uma conjugação de crescimento econômico, novo posicionamento do país na economia global, mercado de consumo expandido (com a inclusão de novos consumidores), mercado de capitais maduro, modelos de gestão consolidados, grandes grupos com dimensão global, integração com América Latina, amplas obras de infra-estrutura à disposição do capital privado e o pré-sal coroando o modelo.

O país consegue chegar a uma posição privilegiada muito mais em decorrência da dinâmica interna de seu povo do que do planejamento de governo. Nem no governo FHC nem no de Lula houve uma visão estratégica que permitisse chegar onde chegou.

FHC teve o mérito de desenrolar alguns nós complicados – como os bancos estaduais, o endividamento dos estados, o modelo de agências reguladoras -, Lula avançou em passos importantes – redução do pesado endividamento herdado, consolidação de políticas sociais em escala nacional -, mas ainda são sementes plantadas.

Caberá ao próximo presidente a tarefa de comandar um país pronto para o grande vôo.

Definição da agenda

Algumas condições se farão necessárias. A mais importante será a capacidade de conciliação e de administração política do país – tarefas das quais tanto FHC quanto Lula se desincumbiram com maestria.

Agora o jogo será mais complexo devido às grandes mudanças tecnológicas ocorridas especialmente no campo da comunicação. A expansão da Internet, da banda larga e da informação digital, assim como os avanços da imprensa regional, romperam com a centralização da opinião pública.

Antes, os grandes jornais geravam notícias e informação, que eram replicadas pelas rádios, televisões, imprensa regional.

Por várias razões, esse modelo se esgotou. O acesso a novas informações, a própria expansão do país – cujo crescimento pela primeira vez na história se interioriza – provocou o descolamento da imprensa regional. Depois, a Internet trouxe novos sites, blogs, redes sociais e comunidades de discussão.

No modelo anterior, só tinham repercussão política as notícias que transitavam pela grande mídia. Cabia a ela definir a agenda econômica e parlamentar. E, de fato, ela foi o grande sustentáculo do modelo financista

A grande chance

Com a implosão desse modelo de formação de opinião, novos agentes estão se colocando. Gradativamente a internet permitirá que novas regiões, novas ideias, novos setores entrem no jogo. Não haverá mais os grandes consensos – como o que marcou a queda de Collor ou o apoio ao Plano Real.

Essa situação exigirá do novo presidente uma ampla condição de negociação. Mais que isso, um plano estratégico claro que seja entendido e aceito pela maioria dos setores nacionais.

O grande risco que o país poderia enfrentar seria eleger presidentes sem jogo de cintura, sem capacidade de negociação e sem visão clara de futuro.

Esse quadro de confronto, que antecede as eleições de 2010, de algum modo terá de ceder lugar a um debate civilizado de ideias. Sob pena de o país perder a maior chance da sua história.

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Jornalista