Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

O tuiteiro da bancada no JN

No final de abril, o jornalista William Bonner avisou a seus 515 mil seguidores no Twitter que, por falta de tempo, iria parar de usar a ferramenta. Não agüentou três meses longe. ‘Senti falta da diversão que me proporciona’, diz o apresentador e editor-chefe do Jornal Nacional em entrevista ao blog.


Agora com quase 700 mil seguidores, Bonner tem utilizado o Twitter, como antes, para brincadeiras com os leitores, como chamá-los de ‘sobrinhos’. Também continua oferecendo a eles a oportunidade de escolher a gravata que vai vestir diante das câmeras e divide com os leitores detalhes do seu cotidiano, como o fim de semana passado na serra.


Mas o editor-chefe do JN também tem dado, com maior frequência, sua opinião sobre assuntos da pauta do telejornal. ‘Fujam do cheque especial, sobrinhos. Fujam correndo’, escreveu outro dia. Ou ‘Maradona nos dá mais uma alegria’, anotou, sobre a notícia da demissão do técnico da seleção da Argentina.


Para quem assiste ao JN e, simultaneamente, lê o Twitter de Bonner, pode parecer que o apresentador está atuando como um ‘âncora’, comentando para seus seguidores as notícias vistas na televisão. Bonner rejeita essa impressão. ‘Não acho que isso [os comentários] tivesse alguma utilidade para o público’, diz. ‘Também não me parece que seja revelador daquilo que penso sobre os temas de uma edição do JN – e procuro exatamente evitar que sejam’.


Abaixo, a íntegra da entrevista com o editor-chefe do Jornal Nacional, realizada na segunda-feira (2/8), numa troca de e-mails.


***


Em abril, você se despediu formalmente de seus seguidores, dizendo que estava sem tempo para tuitar. Por que voltou?


William Bonner – Porque senti falta da diversão que me proporciona.


Na sua primeira fase no Twitter, você seguia poucas pessoas. Agora, não segue ninguém. Por quê?


W.B. – Na primeira fase, seguia umas 140 pessoas. Não é pouca gente, não. Segui-las significa abrir-lhes a possibilidade de me endereçar mensagens diretas. E um dos motivos pelos quais parei com o Twitter foi exatamente minha incapacidade de responder a todos de maneira atenciosa, como disse na ocasião. Hoje, se não sigo ninguém, não privilegio ninguém – e as cobranças de respostas não existem. Ainda assim, respondo a muita gente, seja abertamente, seja por mensagem direta. Faço isso por prazer, mas sem a obrigação autoimposta anteriormente de não deixar as DMs [mensagens direitas] sem um retorno. Simplesmente não há mais DMs a que responder. Sem obrigações, o Twitter é só diversão.


Você tem tuitado durante o Jornal Nacional. Como você faz isso? Nos intervalos? Durante a exibição de reportagens? Você usa o computador que aparece à sua frente no programa?


W.B. – Quando o fechamento de uma edição me permite, uso a ferramenta do Twitter durante intervalos. É uma forma interessante de interagir com o público que, naquele momento, acompanha o JN. Uso o computador que tenho à minha disposição na bancada. Ele me oferece o editor de textos do JN, que uso no fechamento, além de sessões de internet e e-mail.


Observo que, quando tuita durante o JN, muitas vezes você comenta notícias que serão exibidas ou acabaram de ser vistas. Por que você não faz esses comentários no próprio programa? Como âncora do JN não caberiam esses comentários?


W.B. – Não tenho o hábito de fazer ‘comentários’ sobre reportagens na minha timeline. Muito esporadicamente, mas muito mesmo, você poderá encontrar uma frase genérica do tipo: ‘O noticiário policial de hoje está pesado’. Não acho que isso tivesse alguma utilidade para o público. Também não me parece que seja revelador daquilo que penso sobre os temas de uma edição do JN – e procuro exatamente evitar que sejam. No livro Jornal Nacional modo de fazer, exponho os motivos pelos quais não emitimos opinião. O Twitter, por seu alcance muito menor do que o da própria TV aberta, e o conteúdo de minhas ‘observações’, por seu caráter genérico e superficial, estão a anos-luz de significar alguma mudança nessa postura. Meus seguidores de Twitter não vão buscar, em minhas mensagens, alguma pista de minhas opiniões sobre os temas do noticiário. Não é isso que esperam de mim. Caso contrário, me dariam unfollow, frustrados.


Na quarta-feira da semana passada, por exemplo, você comentou a demissão de Maradona do comando da seleção da Argentina com uma frase no Twitter. ‘Maradona nos dá mais uma alegria’. Antes, falando dos juros do cheque especial, você escreveu: ‘Fujam do cheque especial, sobrinhos. Fujam correndo.’ Estes não seriam comentários típicos de um âncora de telejornal?


W.B. – Certamente não. No primeiro tweet que você menciona, o torcedor-twitteiro brincou com a rivalidade Brasil x Argentina. Gaiatice pura. No segundo, o espectador-twitteiro replicou o que diversos seguidores recomendavam durante a exibição da reportagem. Na escassez de tempo com que habitualmente lidamos em telejornalismo, seria uma observação redundante, depois do que a própria reportagem exibia.


As opiniões de William Bonner no Twitter não devem ser vistas como as opiniões do editor-chefe do JN?


W.B. – Sou, hoje, editor-chefe do JN. E também pai de trigêmeos, marido de uma jornalista, praticante de corridas, consumidor. Em cada ambiente, em cada papel que desempenho, sou sempre eu – e o que digo e faço estão sempre em acordo com o que penso. No Twitter, só exponho aquilo que me parece adequado ao perfil de utilização que determinei para mim. E não uso o Twitter para fazer jornalismo. Só abro exceções no uso lúdico que faço da ferramenta para iniciativas que tenham algum propósito socialmente relevante, como quando estimulei e divulguei formas de ajuda às vítimas das enchentes em Alagoas e Pernambuco.

******

Jornalista