Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Os blogues falam de tudo

Quase todos ainda escrevem ‘blog’, como em inglês, já sem aspas, e não ‘blogue’, em português, como já se fez com ‘dogue’ (sinônimo de cachorro), que deixou de ser ‘dog’ há algum tempo. É um reparo talvez indispensável à matéria de Marcelo Mathe – ‘Blog é coisa séria’ –, na Veja que está nas bancas (edição 1907, 1/6/05). Afinal, os jornalistas não podem se furtar à missão de trazer novas palavras para a língua portuguesa quando, como é o caso, elas são necessárias. (Algumas linhas abaixo, o jornalista, premido pela necessidade, escreverá blogueiro. Por que, então, não grafou ‘blogue’?)

O texto nos informa que já existem 30 milhões de blogues no mundo e que este número quase dobrará até o final de 2005, chegando a 53 milhões. No Brasil, num universo de cerca de 12 milhões de internautas, 7 milhões deles visitaram blogues somente no mês de abril. A palavra escrita encontrou novo caminho na internet e já apresenta números equivalentes a ouvintes de rádio e telespectadores de televisão. O cinema já ficou para trás faz tempo. E a leitura impressa coexiste entre paradoxos: insatisfeitos com a Galáxia Gutenberg, os internautas buscam na rede o que não encontram em livros, jornais e revistas, mas voltam aos três com inusitada freqüência, pois este é o caminho natural de quem pesquisa ou simplesmente procura!

Mas procuram o quê? O que não encontram em livros, jornais e revistas, certamente. Mas este não é o único motivo: na internet, a busca está ao alcance de poucos cliques. ‘No ano passado, os blogs (sic) foram a área que mais cresceu na internet nacional’, segundo declaração de Alexandre Magalhães, do Ibope/NetRatings (Prestem atenção ao monstrinho que agregaram ao Ibope. Não teriam outro nome, outra forma de denominar o trabalho adicional?)

Atendimento preferencial

O texto deflagra oportunas reflexões. Como se comportariam os dissidentes políticos que da ex-União Soviética enviavam seus manuscritos, por meio de portadores especiais, se pudessem utilizar os blogues? Hoje, na China e no Irã o blogue tornou-se um dos últimos recursos da liberdade.

De acordo com o texto, os inventores do blogue foram Evan Williams e Jason Shellen, liderando uma equipe de jovens interessados apenas em utilizá-lo como ferramenta doméstica de trabalho em informática. ‘A ferramenta deu tão certo, contudo, que eles decidiram abri-la ao público’. O Google adquiriu a empresa em 2003.

Quem está acostumado às tradicionais notas de pé de página ou a remissões em fins de capítulos, tem dificuldades de acompanhar a constelação de novos caminhos abertos nas janelas dos blogues: ‘Na semana passada, havia 22.532 atalhos para seu endereço em outras páginas da internet’, diz Mathe, comentando o desempenho do blogue Boing Boing, dos EUA, especializado em cultura pop e tecnologia.

Num dos blogues brasileiros mais visitados – o de Alexandre Soares Silva – as cotas raciais nas universidades e a literatura brasileira passam por maus bocados. ‘Eu adoro provocar’, diz o blogueiro.

Quem comprou Veja nas bancas, leu primeiro. Para a revista, os assinantes, cota garantida de leitores, vêm em segundo lugar. Os franco-leitores têm estranha preferência no atendimento. Mas vale a pena ler a matéria. Se você é daqueles leitores que pouco sabem de blogues e blogueiros, a leitura é indispensável.