Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Partido da Redação Ciberjornalística

O jornalista e professor espanhol Ramón Salaverría parte para o duelo verbal quando ouve alguém afirmar que a pirâmide invertida é uma fórmula aplicável a todas as modalidades de jornalismo, inclusive na web. Diretor do Laboratório de Comunicação Multimídia da Universidade de Navarra (http://www.unav.es/fcom/mmlab/mmlab/cvramon.htm) e co-autor do livro Manual de Redacción Ciberperiodistica (Editorial Ariel, Espanha, 2003), ele afirma que a generalização é um anacronismo e não poupou ironias contra a professoraMaría José Cantalapiedra, da Universidade dos Países Bascos, quando ela fez a apologia da pirâmide no Congresso de Santiago de Compostela.

O depoimento reproduzido a seguir foi originalmente postado por Ramón Salaverria no blog Intermezzo, em (http://intermezzo-weblog.blogspot.com/2004/12/partido-pr-e-contra-pirmide-invertida.html#c110252964285536332)

[Para conhecer detalhes sobre o pensamento do professor Salaverría, baixe o texto de sua autoria ‘Como escrever para a web’ em (http://www.mediaccion.com/recursos/verdetalle.php?o=193&MEDIACCION_SESSID=
9878fb36e6c7da58d9038399bf061ca1
). É necessário cadastrar-se em (http://www.unav.es/fcom/mmlab/mmlab/menu.htm)] (C.C.)

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Com todo o meu respeito: a defesa intransigente do uso da pirâmide invertida como formato único e supremo de textos para meios cibernéticos implica, além de uma visão anacrônica, um desconhecimento absoluto da estrutura e da forma como é lido um texto em meio digital.

A pirâmide invertida tem, sem dúvida, sua utilidade em notícias de atualidade que não têm desenvolvimento hipertextual. Mas pretender que este formato deve ser o ÚNICO formato jornalístico válido nos meios cibernéticos equivale a mostrar uma absoluta ignorância e desprezo pela variedade de formatos textuais oferecidos atualmente pelos meios digitais (reportagens, crônicas simultâneas, relatos cronológicos, informações em formato de blogs, infográficos não-lineares). Curiosamente todos estes formatos ‘transgressores’ são os que se encontram na vanguarda do desenvolvimento de uma nova narrativa hipertextual.

Quem defende apenas a pirâmide invertida deveria lembrar que um meio cibernético é, por definição, uma publicação hipertextual. Quer dizer, uma publicação que fragmenta o seu conteúdo em nós; freqüentemente centenas e inclusive milhares de nós. Esta fragmentação pode ser realizada seguramente numa ordem decrescente de interesse (ou seja, como uma pirâmide invertida), mas também de forma episódica (cronológica), de forma seqüencial.

Além disso, o suposto argumento da professora Cantalapiedra para apoiar sua defesa da pirâmide invertida NÃO é na verdade um argumento. Ela afirma que defende a pirâmide invertida porque um jornalista ‘deve ter a capacidade de contar num parágrafo tudo o que está acontecendo’. Muito bem: totalmente de acordo. Mas o que esta afirmação tem a ver com a pirâmide invertida? Esta afirmação tem a ver com as qualidades de concisão e densidade informativa, aspectos que se referem ao ‘estilo jornalístico’, mas não à ‘estrutura da narrativa’.

A pirâmide invertida é um formato narrativo, não um estilo. Ela, como professora de jornalismo, deveria sabê-lo. Além disso, por definição, para usar a pirâmide invertida num texto é necessário que ele tenha mais de um parágrafo; o outro, desde o início do século 20, se chama ‘summary lead’, ou abertura resumida.

Como parece que o Congresso de Santiago de Compostela deu margem a que alguns propusessem bobagens, aqui vai a minha: no caso de alguém desejar aderir, anuncio o nascimento do PRC (Partido da Redação Ciberjornalistica), também conhecido nos meios clandestinos como PCAPPI (Partido Contra os Antiquados Propositores da Pirâmide Invertida).