Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Por um debate menos maniqueísta

O sociólogo espanhol Manuel Castells, em seu livro Sociedade em Rede (1996), expõe que com a internet minorias ganham espaços nos meios de comunicação. Ao contrário dos grandes conglomerados, que transmitem um trabalho com viés mercadológico visando ao lucro, em alguns casos há a responsabilidade social, porém mesmo assim aliado ao capital de alguma forma.

Para o filósofo alemão Jürgen Habermas, nos anos 1960, sua ideia de esfera pública tinha como ideal a irrestrita discussão racional sobre questões de interesse coletivo e deveria ser aberta para todos. Entretanto, tal ideia é questionada pela filósofa americana Nancy Fraser, que vê minorias isoladas na esfera de Habermas.

Em uma esfera pública, como é a internet, debater política usando termos chulos ou posições enviesadas no preconceito infundado sem nenhum dado social ou científico denigre não apenas o debate, mas também o próprio interlocutor, muito mais do que seu alvo, além de excluir outras partes do debate. Vivemos em uma sociedade complexa e é um argumento infantil comparar a disputa entre governo e situação a uma “guerra entre bem e mal”, assim como num mundo com tantas diferenças argumentar que o Brasil pode se tornar a nova Líbia soa um apelo juvenil, e não oriundo de um ator social relevante. Ler tais agressões em sites oficiais faz as declarações soarem ainda mais inconsequentes.

Diálogo pluripartidário

Dos lados envolvidos na discussão sobre políticas públicas e partidárias surgem blogueiros com comportamento de trolls que estão sempre dispostos a atacar e nunca observam os defeitos do grupo ao qual defendem ou pertencem. Apenas fazem isso quando miram em uma dissidência ou facção. Alguns desses trolls trabalham em gabinetes de representantes públicos, partidos ou empresas privadas e quando seus nomes são denunciados acabam por manchar a imagem daqueles a que estão vinculados, como se fossem jagunços recebendo ordens e neste infame processo, o superior, que não tem nada a ver com a troca de tiros deste “cibercangaço”, acaba sendo prejudicado. O líder pode se prejudicar mais que o próprio “cibercangaceiro”. Afinal, muitas vezes aquele que ocupa cargo de chefia é uma figura pública de maior destaque, porém há aqueles que se escondem atrás de subordinados para alfinetar rivais.

Os atores sociais que estão inclinados para um debate mais ético devem procurar vigiar as próprias palavras nos meios de comunicação e encontros pessoais e evitar blogueiros e jornalistas que, mesmo aparentando defender uma causa, mais prejudicam a mesma, assim como não parabenizar suas atitudes. Para o bem da democracia, é saudável manter um diálogo pluripartidário e não agressivo com as partes envolvidas.

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[Gabriel Leão é jornalista e mestrando em Comunicação]