Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Por uma outra globalização

O mundo assistiu nos últimos anos a numerosas transformações difíceis de se imaginar há apenas 15 ou 20 anos. Computadores de última geração, acesso à internet a qualquer hora, de qualquer lugar e até sem fio, celulares para todos os gostos e necessidades, câmeras digitais de altíssima resolução e diversas outras novidades.

Todas estas transformações, principalmente da universalização da internet, fizeram com que não existissem mais distâncias. O mundo todo se comunica em tempo real. As diferentes culturas hoje se entrelaçam. É o que chamamos de sociedade-mundo.

Para o autor Edgar Morin, este fenômeno é positivo, pois mundializou as manifestações culturais de diferentes países. Mas, para ele, quando se trata de arte, literatura, pensamento, a mundialização cultural não é homogênea. A partir do conceito de sociedade-mundo, ‘se torna difícil para a nação a criação de confederações que respondam às necessidades vitais dos continentes e, mais ainda, ao nascimento de uma confederação planetária, esboços de uma cidadania terrestre’, afirma Morin.

Morin acredita que a globalização instalou a infra-estrutura de uma sociedade-mundo que ela mesma é incapaz de instaurar. Por isso, ocorrem guerras e choques culturais. Os atentados de 11 de setembro de 2001 e as guerras no Oriente Médio são um exemplo disso.

Legitimidade

O autor diz que o desenvolvimento ignora sentimentos como a alegria, o amor, o preocupar-se com os outros. Estamos vivendo em crise, e só a união dos povos poderá solucioná-la. Exemplos dados por ele são instituições como Greenpeace e encontros como o Fórum Social Mundial. É o que ele chama de política de humanidade. O mundo todo deveria se unir para resolver problemas como a Aids e a pobreza na África. ‘É a reforma do humano’. A música O sal da terra, de Beto Guedes, retrata bem o pensamento de Morin:

Vamos precisar de todo mundo, pra banir do mundo a opressão. Para construir a vida nova, vamos precisar de muito amor. A felicidade mora ao lado, e quem não é tolo pode ver. A paz da terra, amor, o pé na terra.

És o mais bonito dos planetas, tão te maltratando por dinheiro. Tu que és a nave nossa irmã. Canta, leva tua vida em harmonia, e nos alimenta com seus frutos. Tu que és do homem a maçã.

Vamos precisar de todo mundo, um mais um é sempre mais que dois. Pra melhor juntar as nossas forças, é só repartir melhor o pão. Para merecer quem vem depois. Deixa nascer o amor, deixa fluir o amor.

O autor Pierre Lévy tem opinião um pouco diferente sobre o uso da internet. Para ele, a internet propõe um espaço de comunicação, transparente e universal. É o que ele chama de ‘ciberdemocracia’: são criadas comunidades virtuais que criam uma democracia digital na rede. Segundo ele, uma das características mais positivas da internet é que ela está ajudando a aumentar o fluxo de informação. Aumentou também a liberdade de expressão. Seja através de blogs, de comunidades no Orkut ou do bate-papo virtual, as pessoas têm agora um espaço muito maior de discussão e de debate de idéias.

O único problema é a legitimidade dessas informações, já que não há credibilidade no que é escrito. Para Lévy, isso deve ser contornado pelos próprios usuários – e também há diferentes processos de busca: pode-se confrontar a informação. Para ele, apesar dos problemas, a internet é hoje o meio mais eficaz de contornar a censura dos regimes autoritários.

Ciberdemocracia

O conceito de ‘pertencimento’ perde um pouco o seu valor quando pensamos nas comunidades virtuais. Os websites são acessíveis ao mundo inteiro, independentemente da distância geográfica. Ocorreu a ‘desterritorialização’ da esfera pública.

O autor batizou os hiperlinks de omnivisão. Pode-se caminhar por tudo, ler sobre tudo, ouvir músicas, ver filmes, fotos, shows, tudo é captado pela esfera digital. E o mais interessante é que cada um vê o que lhe interessa. ‘A omnivisão distingue-se da televisão porque permite a cada um não apenas ver a distância, mas também digerir o próprio olhar’. ‘A internet é o primeiro sistema de comunicação multimídia interativo intrinsecamente transfronteira. Tem vocação para transcender as barreiras nacionais, lingüísticas, institucionais, disciplinares e outras’.

Para Lévy, o desenvolvimento da internet expressa um movimento de interconexão mundial que se manifesta tanto na esfera econômica quanto na esfera política. Só a partir da criação de uma ciberdemocracia podemos discutir em esfera planetária os problemas ambientais, por exemplo. ‘Para cada problema, as posições e os argumentos vão se distinguir em múltiplos fóruns virtuais, como em um cérebro gigante, iluminando aqui e ali suas assembléias de neurônios’, diz o autor.

Referências

Por uma outra comunicação – Mídia, mundialização cultural e poder. Moraes, Dênis de.

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Estudante de Jornalismo, São Paulo