Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Quando o melhor é não informar

Andrew Alexander, ombudsman do Washington Post, escolheu como tema de sua coluna de domingo [31/5/09] a difícil decisão que jornalistas têm de tomar sobre o que deve ser divulgado ou não. Em um filme clássico de 1952, Deadline-USA, um editor interpretado por Humphrey Bogart está ao telefone com um gângster que o alerta: ‘Divulgue esta história e você é um homem morto’. O corajoso jornalista segura o telefone de modo que as máquinas possam ser ouvidas e lhe responde: ‘Isto é a imprensa, baby, a imprensa. E não há nada que você possa fazer. Nada!’. Muitos pensam que esta cena do cinema é uma constante dos que trabalham na mídia; ou seja, não importa o argumento, os leitores receberão as notícias. Mas, na verdade, algumas vezes é possível fazer algo para deter a informação.

Caso a caso

Leitores do Post – de membros do governo federal a cidadãos comuns –rotineiramente fazem apelos para que determinadas informações sejam retidas. A maior parte dos pedidos é negada, mas alguns poucos são concedidos. Se um leitor quiser impedir a divulgação do valor de venda de seu imóvel ou informações sobre prisão por dirigir embriagado, seu pedido será negado, pois estes dados são públicos. No entanto, quando se trata de uma ameaça à segurança pessoal, é possível que o apelo seja atendido.

O editor Mike Semel, da Virginia, lembra um caso no qual autoridades federais expressaram medo de que uma matéria pautada pelo Post contribuisse para aumentar as ameaças de morte contra um policial. Em outras ocasiões, o Post concordou em atrasar a publicação de matérias que poderiam prejudicar uma investigação criminal. Os nomes de testemunhas de crimes foram retidos depois de o jornal ter concordado que a revelação iria ameaçar suas vidas.

Pelo mesmo motivo, o diário apagou o nome de uma compradora de sua lista de vendas de imóveis semanal depois de ela ter expressado temor de ser reconhecida por um homem que a estava seguindo. Quando casas de luxo são retratadas em fotos, editores geralmente não informam a localização precisa, para que ladrões não tenham o ‘mapa da mina’. A política do diário é somente publicar o endereço quando se é essencial para a matéria.

O editor de obituários, Adam Bernstein, revela, no entanto, que já negou pedidos de parentes de mortos que não queriam referências a casamentos anteriores ou à causa da morte. O sítio do Post também nega pedidos para apagar matérias em arquivo daqueles cujas condenações foram canceladas por uma corte. Mas, em algumas ocasiões, o sítio reorganiza os resultados de busca para que a primeira matéria a aparecer seja a que fala do cancelamento da condenação.

Segurança nacional

O ex-editor-executivo Leonard Downie Jr. lembra que, durante seus 25 anos no cargo, o Post concordou poucas vezes em eliminar matérias inteiras. Já Marcus Brauchli, que sucedeu Downie no ano passado, diz que ainda não recebeu nenhum pedido do governo para segurar informação sobre segurança nacional.

Em 2005, a administração do então presidente George W. Bush tentou impor limites a uma matéria da repórter Dana Priest, que cobre segurança nacional, que revelava a existência de prisões de interrogatório da CIA na Europa Oriental. Antes de a matéria ser publicada, Downie foi intimado a comparecer à Casa Branca, onde o presidente, o vice-presidente Dick Cheney e o diretor da Inteligência Nacional, John D. Negroponte, explicaram-lhe o motivo do pedido.

Mesmo assim, a matéria foi publicada – e ganhou um prêmio Pulitzer. O Post decidiu apenas não identificar os países participantes do programa, porque oficiais do governo alegaram que a revelação destas informações poderia gerar esforços antiterrorismo nestes países, o que poderia fazer deles alvo de retaliação de terroristas.

Apesar de líderes do governo, em geral, alegarem que a divulgação de informações pode prejudicar a segurança nacional, Geoffrey R. Stone, pesquisador da Universidade de Chicago, rebate: não há exemplo em nenhuma instância no qual a imprensa tinha informação confidencial cuja publicação foi causa direta e imediata de danos aos EUA.