Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Receita para controlar a internet

Pouco antes de um juiz condenar novamente Mikhail Khodorkovsky, o mais famoso preso político da Rússia já era atacado na internet. O site de Khodorkovsky saiu do ar. Recentemente, esse tipo de ofensiva também foi usada para punir empresas americanas, como a Amazon e a PayPal, por conflitos com o WikiLeaks.

É quase impossível descobrir os responsáveis. Embora os sites voltem ao ar, os ataques raramente causam indignação. No passado, regimes repressivos tinham firewalls para impedir as críticas de dissidentes. Mas os ataques contra o site de Khodorkovsky revelam mais sobre o futuro do controle da rede do que as práticas tradicionais de censura. No modelo russo, nenhuma censura direta é necessária. Exércitos de internautas pró-governo encarregam-se da tarefa e atacam sites opositores. Os ataques são apenas um dos vários modos pelos quais o Kremlin controla o conteúdo da rede. Muitos dos provedores do país pertencem a oligarcas amigos e empresas controladas pelo governo, que não hesitam em suspender usuários e blogs independentes.

O Kremlin também vem explorando a internet como propaganda. Ano passado, Vladimir Putin ordenou a instalação de webcams para transmitir em tempo real a construção de casas para vítimas de incêndios florestais. Seria uma grande estratégia de relações públicas se as vítimas tivessem computadores. Os serviços de segurança e a polícia da Rússia também se aproveitam da vigilância digital, usando sites de redes sociais para reunir informações e avaliar o estado de espírito da população.

Cursos de jornalismo

Na verdade, o Kremlin censura muito pouco a internet, preferindo o controle social às restrições tecnológicas. Há uma certa lógica nisso. A censura direta prejudica sua imagem no exterior e os ataques virtuais são muito ambíguos para ganhar espaço na mídia. Deixando que empresas aliadas exerçam o policiamento digital, o governo não tem de se preocupar com críticas na rede.

Uma das razões pelas quais observadores não notam os ataques é que eles estão acostumados a medidas mais fragrantes de controle da internet, que é muito amorfa para ser dominada. Silenciosamente, a China vem adotando práticas similares às da Rússia. Ano passado, o site do Nobel Liu Xiaobo foi atacado depois que o dissidente chinês foi premiado. Autoridades chinesas, agora, participam de cursos de jornalismo e usam seus conhecimentos para moldar a opinião pública online, em vez de censurá-la.

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Repórter do New York Times