Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sugestão de 3º mandato de Lula é pauta do dia

Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 3 de abril de 2008


REELEIÇÃO
Folha de S. Paulo


Idéia a rechaçar


‘A POPULARIDADE recordista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ausência de um nome forte do PT para a sua sucessão atuam como um incentivo para o queremismo. Até 3 de outubro de 2009, quando vai se fechar a janela legal para mudanças nas regras da eleição do ano seguinte, a centelha do terceiro mandato continuará sendo atiçada vez ou outra.


Desta feita coube ao vice-presidente da República alimentar o braseiro que estava esquecido havia quatro meses. ‘Os brasileiros desejam que Lula fique mais tempo no poder’, afirmou José Alencar durante entrevista à rádio Bandeirantes. Disse-o de modo espontâneo, sem que houvesse sido questionado sobre o assunto pelo entrevistador.


Oblíquas e intermitentes, as aparições da idéia de permitir a Lula mais uma reeleição respondem a uma inquietação crescente na base do governo. Os petistas -que ocupam 5.000 postos na máquina federal e controlam largas fatias dos orçamentos da União, de estatais e de fundos de pensão- não têm, ainda, perspectiva de preservar o ‘statu quo’ a partir de 2011.


Nesse contexto, Lula, cada vez mais popular, torna-se um desaguadouro natural de desejos continuístas. Manter a hipótese do terceiro mandato acesa na esperança de que venha a incendiar os ânimos da população é um experimento que não custa nada ao PT. A cúpula do partido e a do governo observam com altíssimo interesse o resultado dos ‘balões de ensaio’ enquanto manifestam repúdio indignado à simples menção do tema.


O que torna inviável a proliferação das chamas, no entanto, é a resposta da população quando exposta à possibilidade do terceiro mandato. Os brasileiros, que garantem a Lula recordes de avaliação positiva, rechaçam, numa proporção ainda maior, de 65%, a hipótese de uma nova reeleição para o presidente.


Ainda que o placar fosse oposto -com o continuísmo endossado por ampla maioria-, seria preciso barrar as tentativas de legalizar o terceiro mandato consecutivo. Se o advento da reeleição no Brasil sacrificou em alguma medida o princípio da alternância no poder, esse custo foi suplantado pelo benefício da continuidade administrativa.


O balanço se inverte, no entanto, quando se pensa num período de 12 anos. Nesse caso, os custos -a propensão ao mandonismo, à erosão dos freios institucionais que tentam equilibrar o peso desproporcional da Presidência no Brasil e a crises políticas violentas advindas da falta de circulação de partidos e lideranças no poder- ficariam proibitivos.


Instituir o terceiro mandato seria uma aventura potencialmente desastrosa no Brasil. Toda tentativa de emplacar essa idéia, mesmo que aparentemente anódina, deve ser combatida.’


 


Clóvis Rossi


A hora do caudilho


‘SÃO PAULO – Quando ainda era assessor de imprensa da Presidência, o jornalista Ricardo Kotscho perguntou a seu chefe e amigo Luiz Inácio Lula da Silva o que gostaria de ser se não fosse presidente. ‘Candidato’, respondeu Lula, de bate-pronto.


Anteontem, sem mais nem menos, o vice-presidente José Alencar disse que, ‘se perguntarem aos brasileiros, o que os brasileiros desejam é que o Lula fique mais tempo no poder’. Parece ser verdade, a julgar pelas pesquisas.


Somando-se o primeiro parágrafo ao segundo, ter-se-ia o mais clássico caso de juntar a fome com a vontade de comer. Quer dizer, então, que vem aí a re-reeleição de Lula? Não necessariamente. Até prova em contrário, sou obrigado a tomar pelo valor de face as reiteradas afirmações de Lula de que um terceiro mandato consecutivo seria ‘brincar com a democracia’.


A minha interpretação para a soma dos dois parágrafos iniciais é esta: Lula vai fazer o diabo para tentar eleger seu sucessor. Óbvio? Nem tanto, a julgar pelas especulações, inclusive recentes, de que ele faria corpo mole em 2010 para ter o caminho aplainado para voltar em 2014.


Fazer o diabo significa desconhecer limites para lealdades e nomes. O presidente já demonstrou que não morre abraçado nem com os mais próximos. Dispensou rapidinho, por exemplo, José Dirceu e Antonio Palocci.


Dispensará, portanto, manda a lógica, qualquer candidato/a a candidato/a que não decolar. Já demonstrou também que abraça ex-adversários com a mesma facilidade com que os atacava rudemente antes. A lista é imensa.


Creio que a única condição para um candidato ter em Lula um grande eleitor em 2010 será a capacidade de não ameaçar o caudilhismo que Lula exerce desde o sindicato de São Bernardo e que se firmou muito na Presidência.’


 


Eliane Cantanhede


No papo de quem?


‘BRASÍLIA – Só não vê quem não quer: a tese da re-reeleição de Lula, reprimida em público, corre solta em corações e mentes do governo, do PT e da base aliada.


O próprio vice-presidente, José Alencar, disse à rádio Bandeirantes: ‘O Lula deseja fazer o seu sucessor. Mas eu digo para você que, se perguntarem aos brasileiros, o que os brasileiros desejam é que o Lula fique mais tempo no poder’.


Em politiquês, leia-se: segundo Alencar, Lula não quer e não tem nada a ver com isso, mas os eleitores estão doidos para empurrá-lo rampa acima de novo. O vice, nada menos que o vice, namora publicamente com a possibilidade do terceiro mandato do presidente.


Lula não pode admitir uma barbaridade dessas a dois anos das eleições presidenciais, mas a idéia paira sobre o Brasil, empurrada pelas circunstâncias políticas internas e pelos ventos sul-americanos.


Na política interna: José Dirceu caiu, Antonio Palocci despencou, Dilma Rousseff nem decolou e já sacoleja sob o impacto do dossiê do uiscão. O PT não tinha quadros para repor Dirceu e Palocci, nem tem um Plano B para o caso de Dilma não sair do chão. E convém desconfiar do interesse petista em apoiar um corpo estranho, apesar de aliado. Ciro Gomes (PSB), por exemplo, que vai bem nas pesquisas.


Enquanto isso, Lula navega em recordes de popularidade, diz o que bem entende, onde bem entende, e avisa que a oposição ‘pode ir tirando o cavalinho da chuva’, porque a eleição de 2010 está no papo. OK. Mas no papo de quem?


Quanto ao continente: Chávez perdeu o referendo na Venezuela, mas deixou um rastro continuísta.


Por ora, Néstor já estendeu o mandato Kirchner, elegendo Cristina na Argentina, e Álvaro Uribe está assanhado na Colômbia. Porque, como diria Alencar, o povo quer.


No Brasil, o ‘povo’ pode vir a querer, e a política, a viabilizar. Lula vai na onda e justifica: ‘Eu sou a ‘metamorfose ambulante’, lembram?’.’


 


Janio de Freitas


Conversas de todo dia


‘O TOM GERAL entre surpresa e crítica, nas reações de políticos à menção do vice José Alencar a ‘mais tempo’ para Lula, tem muito de encenação e, quando inclui, pouco de sinceridade. Como preocupação, sondagem ou como discreta aprovação, esse é o tema em que todas as cabeças políticas se encontram e para o qual convergem, mais cedo ou mais tarde, todas as conversas que se introduzem na (possível) sucessão de 2010, no uso propagandístico do Programa de Aceleração do Crescimento, nas viagens extravagantes de Lula, nos seus discursos cada vez mais agressivos e mais insinuantes de messianismo.


O vice Alencar apenas levou ao microfone radiofônico, como sua opinião (‘de democrata’, fez questão de ressaltar), o assunto cuja constância, entre os que convivem com política, não permite surpresa a ninguém.


Nesse caso raro de comunhão temática é ampla uma espécie de velada certeza do propósito de Lula, expressa nas especulações divergentes sobre a forma de realização do continuísmo, mas sempre continuísmo: por meio plebiscito que autorize a candidatura para terceiro mandato; ou com emenda constitucional direta como foi feita para Fernando Cardoso, ou ainda com mais dois mandatos depois de um interregno, entre 2011 e 2014, preenchido por um(a) sucessor(a) de plena lealdade.


As duas primeiras hipóteses suscitam o desdobramento especulativo entre as vias para facilitá-las. A mais explícita, com propostas específicas ao Congresso, ou o terceiro mandato metido em um desvão de projeto de reforma política.


Por acaso ou não -faça no fim a sua escolha-, no dia em que o vice Alencar fala da ‘preferência dos brasileiros’ por ‘mais tempo para Lula’, uma segunda fala inesperada o complementou. Diante dos grandes empresários e outros que integram o populoso Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (mas não Político), o próprio Lula, mesmo sem saber ‘se caberia aqui propor’ tal tema, pediu ‘uma discussão sobre reforma política’. A reforma que qualificou como ‘a mais importante de todas elas’.


Diante dessa importância, Lula não sabe ‘por que as pessoas não querem fazer, a gente percebe a fragilidade dos partidos, as debilidades, e as pessoas não querem fazer’.


Mas Lula sabe por que quer fazê-la.


Reconhecimento


A atribuição que os governistas fazem a ‘um tucano’ infiltrado no Planalto, para divulgar o tal dossiê, é de uma pobreza mental que chega a ser insultuosa. Mas tem um lado aproveitável: é uma acusação à escolha incompetente de assessorias palacianas e, como complemento, da Abin com suas depurações dos cadastros para nomeações. E a Presidência ainda recusa a divulgação de seus gastos ‘porque ameaçaria a segurança presidencial’.’


 


Maurício Simionato


Presidente da CNBB critica terceiro mandato


‘O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Geraldo Lyrio Rocha, rechaçou ontem -após a abertura da 46ª Assembléia Geral da entidade, em Indaiatuba (102 km de SP)- um eventual terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


‘Acho que devemos ficar com o que a Constituição estabelece. Qualquer outra coisa é entrar por um caminho de casuísmo que não é benéfico à democracia’, disse, ao ser questionado pela imprensa sobre as declarações do vice-presidente José Alencar (PRB-MG).


Alencar havia sugerido um terceiro mandato para Lula. Disse que os brasileiros desejam que ele ‘fique mais tempo’.


Dom Geraldo disse ainda, sobre as eleições municipais de outubro, que o país precisa superar o ‘círculo da corrupção’. ‘É o candidato corrompendo o eleitor, comprando o seu voto. É o eleitor corrompendo o candidato, vendendo seu voto. Nós precisamos acabar com isso.’


O religioso ainda cobrou as reformas tributária, política e agrária. ‘Estamos aguardando que essa reforma [agrária] possa ser mais acelerada para que haja também mais tranqüilidade no campo em nosso país.’


A 46ª Assembléia Geral começou ontem e vai acabar no dia 11. Cerca de 300 bispos participam do encontro. Durante a assembléia, a CNBB vai elaborar uma cartilha para orientar o eleitor a não votar em candidatos envolvidos em corrupção.


O bispo de Blumenau (SC), dom Angélico Sândalo Bernardino, criticou o Legislativo, ao ser questionado sobre a CPI dos Cartões e a existência de um dossiê sobre gastos na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. ‘Fico preocupado quando vejo o Legislativo gastando um tempo enorme com tantas discussões, que não têm levado a nada, enquanto projetos importantes ficam engavetados. Acho que isso também é corrupção’, disse.


A CNBB divulgou um documento intitulado ‘Análise da Conjuntura’ -elaborado por padres e assessores ligados à entidade- no qual voltou a criticar o cenário político do país. Em um trecho, o texto diz que ‘a política, os partidos e o Poder Judiciário perderam credibilidade diante da corrupção e do corporativismo que favorecem a impunidade’.


O presidente Lula encaminhou uma carta à CNBB, lida na abertura do encontro, na qual saúda os bispos e diz que ‘não cabe a nenhum governo ou forma de poder tentar domesticar ou reduzir o papel das igrejas e comunidades religiosas’.’


 


PARANÁ
Dimitri do Valle


Requião usa TV Educativa para atacar decisão do TCE


‘O governador Roberto Requião (PMDB) voltou a aparecer na TV Educativa do Paraná para fazer críticas contra instituições públicas. Por decisão federal, Requião foi multado em R$ 200 mil e está proibido desde janeiro de usar a emissora para atacar Poderes, desafetos e a imprensa. O governador está recorrendo da decisão.


Requião apareceu anteontem na ‘Escola de Governo’, reunião de seu secretariado transmitido pela TV Educativa, para contestar decisão do TCE (Tribunal de Contas do Estado). Na semana passada, o tribunal suspendeu licitação para a escolha de jornais paranaenses responsáveis pela divulgação de atos do governo.


Atendendo a uma ação impetrada pela editora ‘O Estado do Paraná’, o TCE concedeu liminar suspendendo a licitação e determinando correções no edital. A editora, que publica jornal de mesmo nome, contestou o fato de a licitação não prever exigência de comprovação da tiragem da publicação.


O dono do jornal ‘O Estado do Paraná’, o ex-governador Paulo Pimentel, disse que impetrou a ação porque jornais que podem comprovar sua tiragem (no caso, segundo ele, ‘O Estado do Paraná’, ‘Gazeta do Povo’ e ‘Folha de Londrina’) seriam alijados do processo.


‘[A licitação para a escolha dos jornais estaduais] Era para nos excluir. Era um edital endereçado’, declarou Pimentel, que já foi aliado de Requião, mas rompeu relações desde a eleição estadual de 2006.


‘O que estamos querendo não é subsídio do governo. O que pleiteamos é um direito de disputar uma concorrência em igualdade para prestar um serviço que é previsto em lei.’


Vitória de aliado


O item que pedia a comprovação de circulação, porém, estava previsto no edital para a escolha do jornal de circulação nacional responsável pela divulgação de atos do governo Requião.


Essa licitação foi vencida pelo ‘DCI’, que tem como acionista o ex-governador paulista Orestes Quércia, aliado de Requião. Deputados de oposição pediram que a mesma decisão tomada na licitação estadual seja estendida à concorrência vencida pelo jornal de Quércia.


Requião discordou da decisão do Tribunal de Contas durante a transmissão da ‘escolinha’, como a reunião do secretariado também é conhecida, e criticou o TCE prometendo fazer mudanças no seu funcionamento. ‘O TCE não é Ministério Público nem juiz ao mesmo tempo. No regimento interno [do tribunal] tem uma exacerbação. Vamos revogar’, disse.


A assessoria de imprensa do TCE disse que ninguém se manifestaria sobre as declarações do governador.


De acordo com a assessoria de imprensa da Procuradoria Geral da República no Paraná, a gravação da reunião será analisada. Por meio da assessoria, a procuradora Antônia Lélia Sanchez informou que todas as reuniões da ‘escolinha’ estão sendo fiscalizadas desde novembro, época em que a ação civil pública contra Requião deu entrada na Justiça Federal.


O governador, quando foi condenado em primeira instância, disse ter sido vítima de ‘censura prévia’ por não conseguir dar sua versão dos fatos que envolvem a atividade do governo no único canal que lhe é acessível, a TV Educativa.’


 


DITADURA
Carlos Heitor Cony


O rosto na multidão


‘RIO DE JANEIRO – Tudo bem, cada um se diverte e se glorifica como quer. A mania agora é fuçar fotos do passado, sobretudo as das passeatas de 1968, documentadas à farta pelos bons profissionais do ramo. Apesar de farta, a oferta foi menor do que a procura, não deu para todo mundo deixar registro na história nacional. Mesmo assim, descontando os que morreram por isso ou por aquilo, é difícil encontrar um cidadão maior de 40 anos que não tenha dado sua contribuição heróica à luta contra a ditadura.


Parece um pouco com o caso dos figurantes dos filmes do Glauber. Volta e meia esbarro com um cara que garante ter feito figuração em tal filme -e, neste particular, minha glória particular é ter tido um irmão que, sem querer, fez figuração num filme de Hitchcock (‘Notorius’) que tem cenas passadas aqui no Rio. Cary Grant e Ingrid Bergman estão sentados na Cinelândia, tomando coco por canudinho, ali mesmo no Amarelinho, gente passando pra lá e pra cá. De repente, surge meu irmão, que estava indo para a Faculdade de Medicina, tomava o bonde ali perto, no Tabuleiro da Baiana. A cena é rápida, mas deu para consagrar a família.


Bem verdade que o Janio de Freitas e o Ruy Castro viram o filme 247 vezes para me desmentirem, mas, nos fastos familiares, ninguém nos tira essa glória.


Voltando às fotos da passeata. Não me procuro entre os heróis daquele tempo. Não participei de nenhuma delas, metade por preguiça, metade por ser militante do único partido que me interessa, o do ‘Eu Sozinho’.


Quando chegar ao inferno (este dia não está tão longe assim), pedirei a Satanás um único favor: o de me dar uns gravetinhos e uma caixinha de fósforos para fazer a minha fogueirinha particular, onde purgarei meus pecados. Sozinho e mal-acompanhado.’


 


Mônica Bergamo


Mídia impressa


‘A Comissão de Anistia começa a julgar amanhã processos de jornalistas que podem receber indenizações por terem sido perseguidos pela ditadura militar. Serão apreciados 54 casos -entre outros, os de Ziraldo, Jaguar e Sinval de Itacarambi Leão. ‘Eis do que se trata: de uma retomada corajosa que implica na disposição para enfrentar todas as críticas que, certamente, virão’, afirma Paulo Abrão, presidente da comissão. ‘O grande fato que precisamos destacar é que há mais de três anos não são realizados julgamentos de processos de jornalistas pelas razões notoriamente conhecidas’,afirma, referindo-se a casos anteriores que geraram polêmica.’


 


DOSSIÊ
Letícia Sander


Lula vê ‘chantagem política’ contra Dilma no caso dossiê


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) é vítima de ‘chantagem política’ no episódio do vazamento e divulgação de dossiê sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.


Em entrevista no Itamaraty, após almoçar com o presidente da Eslovênia, Danilo Türk, ele isentou a ministra de suspeições e minimizou o impacto das informações do dossiê.


O petista disse que a impressão que tem do episódio -classificado por ele como lamentável- é que ‘alguém encontrou um osso de galinha e tentou vender para a imprensa que tinha encontrado uma ossada de dinossauro. Na hora que foi montar para saber o tamanho do dinossauro percebeu que era um franguinho’.


‘Eu acho que a pessoa que tem a história da Dilma, a pessoa que presta um serviço ao país que a Dilma presta, não pode ser vítima de uma chantagem política de uma figura que eu não sei quem é, que roubou peças de um documento de um banco de dados e vendeu a idéia para alguém que era um dossiê.


Eu não posso em algum momento ter um milésimo de suspeita contra a ministra Dilma, porque conheço ela, sei da história dela e sei que serviço ela presta ao país’, afirmou.


Apesar de o governo ter aberto uma sindicância para apurar o responsável pelo vazamento, Lula reconheceu que o Planalto pode não chegar a conclusão nenhuma e sugeriu que mais fácil seria se a imprensa dissesse de quem recebeu os dados.


‘Estamos tranqüilos, obviamente que tristes porque quem recebeu na imprensa sabe quem foi. E nós vamos ter que fazer uma investigação e, possivelmente, nunca saberemos quem foi que pegou o documento de um banco de dados e vendeu como se fosse dossiê.’ Lula disse que ‘foi uma leviandade clandestina’. ‘Se tivesse caráter, não seria clandestino.’


‘Não quero acusar ninguém, porque é muito ruim você acusar sem saber. Hoje tem jornais que já dizem que teve senadores que participaram disso. Eu ainda não li a matéria, mas acho lamentável’, afirmou.


Numa defesa veemente da principal ministra de seu governo, tida como candidata à sucessão em 2010, Lula disse que ‘não é justo’ que alguém submeta Dilma a essa situação.


E afirmou que a ministra tem ‘compromisso com este país 24 horas por dia’. ‘Porque pode ter neste planeta alguém que trabalhe igual, mas mais do que a Dilma trabalha, com a responsabilidade que ela tem… Ou seja, não é justo que alguém faça isso com ela.’


O presidente disse ainda que, como ‘seres políticos’, ele e Dilma têm de ‘suportar essas coisas até que a verdade venha à tona’. ‘Só tem algumas pessoas que sabem: os jornalistas que receberam o tal documento que era do tal banco de dados e foi transformado em dossiê e o cidadão, a cidadã, sei lá quem, que pegou esse documento.’


Também afirmou que não é a primeira, nem a segunda, e não será a última vez na história do Brasil ‘que alguém tenta roubar documento de um jeito para vendê-lo de outro’.


Disse que sua orientação diante do episódio é de ‘não parar de trabalhar um só minuto’ e acrescentou que ele e Dilma vão continuar viajando pelo Brasil, a despeito de críticas sobre suposta atuação ‘eleitoreira’ em eventos pelo país.


‘Temos obrigação com este país, lançamos um programa de investimentos, agora as obras estão começando a acontecer, vou continuar viajando pelo Brasil, a Dilma continuará viajando pelo Brasil e as pessoas que estão na CPI que apurem e dêem um jeito de evitar que essas coisas voltem a acontecer.’


Colaborou ELIANE CANTANHÊDE , colunista da Folha ‘


 


Marta Salomon


Casa Civil silencia sobre banco de dados paralelo


‘Responsável pelo banco de dados paralelo ao sistema oficial de controle para processar despesas do ex-presidente Fernando Henrique, a Casa Civil não disse o que foi feito desses arquivos no Planalto. A pergunta foi reiterada pela Folha ontem. Pelo terceiro dia consecutivo, não houve resposta.


Desde o início da crise, há 13 dias, a Casa Civil teria deixado de lançar informações nessa base. A partir da penúltima edição da revista ‘Veja’, que circulou com a notícia de dossiê com gastos de FHC para supostamente constranger a oposição na CPI, o trabalho no banco de dados teria sido interrompido.


Dali em diante, informações do governo tucano guardadas no arquivo morto do Planalto teriam sido lançadas diretamente no sistema oficial de controle de suprimentos de fundos, o Suprim.


O ‘banco de dados’ montado pela Casa Civil a partir de fevereiro é a origem do ‘relatório de suprimento de fundos’, documento de 13 páginas a que a Folha teve acesso. A informação foi confirmada pela ministra Dilma Rousseff, que nega a denominação ‘dossiê’.


No sábado, em Curitiba, a ministra observou que a Folha agira ‘corretamente’ ao apresentar cópia do relatório à Casa Civil antes de noticiar que partira de sua principal assessora, Erenice Guerra, a ordem para elaborar o banco de dados.


Na véspera, a ministra havia declarado: ‘O que a doutora Erenice afirmou na matéria [da Folha] é a mesma coisa que estamos afirmando desde a [reportagem da] ‘Veja’: nós fizemos um banco de dados’.


Embora a Casa Civil tenha reconhecido o processamento de gastos de FHC em banco de dados diferente do Suprim, o petista Paulo Teixeira (SP) defendeu que os arquivos seriam a mesma coisa. Ele levou anteontem à CPI cópia de ofício da Casa Civil que informa ‘a existência do banco de dados’ desde 2005. Em mais de uma ocasião, a Casa Civil afirmou que os dados vazados eram parte de ‘relatórios impressos de processos referentes a contas do tipo B, em fase de digitação, que, depois de conferidos, seriam inseridos no Suprim’.’


 


CULTURA
Bibi Ferreira, Irene Ravache e Paulo Goulart


Incentivo ao teatro!


‘NESTE ANO , o Dia Internacional do Teatro foi comemorado com uma excelente novidade: atendendo a solicitação da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal, que há mais de quatro anos discute e debate as questões da área, profissionais do teatro propõem lei de incentivo específica para o setor, que inclui a criação da Secretaria Nacional de Teatro.


As declarações e constatações, publicadas na imprensa, dos representantes do Ministério da Cultura fortalecem ainda mais a nossa proposta de lei. Segundo o MinC, ‘o teatro movimenta um número cada vez maior de recursos da Lei Rouanet: R$ 44.376.571 em 2000 e R$ 107.967.652 em 2007’.


Essa afirmação do MinC vem mostrar para a sociedade que o segmento está amadurecido para ter uma lei específica, como a do audiovisual. Então, por que não ter uma lei específica para desenvolvermos também as várias formas da produção teatral?


Também queremos colaborar para consertar as distorções que o MinC há seis anos detectou e apontou na Lei Rouanet, mas não formalizou nenhuma das intenções de mudanças veiculadas pela mídia. Pela absoluta falta de políticas públicas e pela proliferação da meia entrada, as temporadas, o público e as sessões semanais diminuíram, e os preços dos ingressos aumentaram.


A criação da Secretaria Nacional de Teatro e a nova lei já nascem sem os vícios e distorções que foram inseridos, durante anos, por causa de interesses e pressões políticas -e que acabaram desfigurando a origem da Lei Rouanet. Como o próprio MinC constatou, ‘a distorção chega ao ponto de TVs públicas, orquestras sinfônicas, o Sistema S e até a Funarte precisarem se utilizar da Lei Rouanet’.


Ao contrário do que ocorre atualmente com a Lei Rouanet, a Secretaria Nacional de Teatro contará com profissionais qualificados para emitir pareceres sobre os projetos teatrais, além de formular políticas públicas que atendam as mais variadas formas de produção: teatro de rua, festivais, manutenção de grupos, experimental, pesquisa, comédias, musicais, projetos de memória, projetos de sensibilização e formação de novas platéias, teatro para infância e juventude, pequenas, médias e grandes produções etc. Essa ação impedirá casos como o que o MinC denunciou, de ‘um proponente que, em cinco anos, captou mais de R$ 40 milhões’.


Na verdade, o proponente não tem responsabilidade nenhuma se a lei permite a captação por meio de renúncia fiscal. Só quem pode impedir esse fato é exatamente quem analisa os projetos, por meio da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, e concede o certificado de captação -no caso, o Ministério da Cultura.


A nossa lei nasce de discussões legítimas dentro do Poder Legislativo. Infelizmente, as distorções apontadas pelo MinC só podem ser corrigidas por quem as aprova, e, como a Secretaria de Fomento e a Funarte não conseguem atender a demanda -ou, como foi dito em entrevistas por representantes do ministério, ‘enxugar gelo’, a Secretaria Nacional de Teatro vem em ótimo momento para desafogar essas instituições. Mensalmente, temos conhecimento de emendas, como a portaria de 26 de fevereiro de 2008, que alteram e aumentam a burocracia, engessando cada vez mais o uso da Lei Rouanet.


Várias indústrias e empresas do Norte e Nordeste têm isenções de Imposto de Renda a fim de propagar o desenvolvimento local. Portanto, elas não possuem recursos para patrocinar pela Lei Rouanet. Por isso a importância da Secretaria Nacional de Teatro e do FNC (Fundo Nacional de Cultura) nesses locais.


Em 2008, a previsão do fundo é ter mais de R$ 325 milhões. Essa verba é a verdadeira Lei de Fomento para as Artes a que o Ministério da Cultura tem acesso ilimitado e não consegue utilizar em sua plenitude. O FNC é uma poderosa ferramenta que deve atender a demanda dos mais variados segmentos culturais.


Pretendemos que a Lei do Teatro Brasileiro formule pensamentos sobre o contexto social, econômico e estrutural do teatro. Como o secretário-executivo do MinC declarou: ‘um mecanismo não pode substituir uma política inteira’.


Precisamos de regras estabelecidas pelo Estado, e não por governos. A Lei do Teatro Brasileiro dará ao setor a importância que ele merece em nossa sociedade, como um agente de propagação do conhecimento, da reflexão e do desenvolvimento da identidade cultural do cidadão.


ABIGAIL IZQUIERDO FERREIRA , a Bibi Ferreira, 85, é atriz e diretora. IRENE YOLANDA RAVACHE PAES DE MELO , 63, é atriz e diretora. PAULO AFFONSO MIESSA , o Paulo Goulart, 75, é ator e diretor.’


 


Silvana Arantes


João Sayad teme risco de extinção da Lei Rouanet


‘O secretário de Cultura do Estado de São Paulo, João Sayad, vê nas restrições feitas à Lei Rouanet pelo Ministério da Cultura, na semana passada, um risco de extinção da lei, o que seria, na opinião dele, um erro.


‘Devagar com o andor. Prefiro uma lei ruim a que ela não exista. Neste caso, o ótimo é inimigo do bom’, diz Sayad.


A ofensiva do MinC contra a Lei Rouanet foi deflagrada na quinta passada, quando o secretário-executivo da pasta, Juca Ferreira, co-assinou com o ator e presidente da Funarte, Celso Frateschi, o artigo ‘Incentivo ao Teatro?’, na Folha.


No texto, dizem: ‘Com a Lei Rouanet, os orçamentos públicos para a área de cultura escassearam, com exceção do federal e de raros casos estaduais e municipais. A distorção chega ao ponto de TVs públicas, orquestras sinfônicas, o Sistema S e até a Funarte precisarem se utilizar da Lei Rouanet’.


Criada em 1991, a Lei Rouanet permite que a empresa destine parcela de seu Imposto de Renda devido ao financiamento de projetos culturais previamente aprovados pelo MinC.


Sayad diz que ‘toda política pública, cujo alvo é atingir o extremo -o pobre, o carente-, tem um desvio, porque vai contra uma força natural, que é o mercado’. O ‘desvio’ é o benefício a quem não precisa.


No caso da Lei Rouanet, diz o secretário, ‘produções comerciais acabam tirando uma casquinha. A questão é o tamanho da casquinha e como fazer a alteração sem jogar a criança fora com a água do banho’.


Em entrevista à Folha após a publicação de seu artigo, Ferreira disse haver ‘um desenho’ em discussão no governo para solucionar a questão.


Fundo


O MinC propõe como alternativa à Lei Rouanet a aprovação de um fundo não-contingenciável (alheio a eventuais bloqueios do Ministério da Fazenda), sob sua administração.


O fundo deveria ter ao menos R$ 1 bilhão, total movimentado pela Lei Rouanet em 2007.


Produtores culturais reagiram ao artigo de Ferreira e Frateschi, chegando a apontar ‘desonestidade intelectual’ em seus argumentos.


‘O mundo cultural tem os financiadores [empresas], o governo e os artistas. A discussão que está se dando entre esses três grupos é muito enfraquecedora da questão do subsídio à cultura. Existem outros setores subsidiados e existem as autoridades econômicas, muito mais poderosos política e legalmente do que esses três grupos de gatos pingados’, diz Sayad.


Para o secretário paulista, ‘os grupos culturais deveriam se acertar internamente, antes de se expor à ambição de grupos muito mais poderosos, que também lutam por subsídios’, sob o risco de ‘o vencedor [do debate] não ser nenhum dos segmentos que estão disputando esse montante de subsídio, mas sim as autoridades econômicas, sempre ocupadas com orçamento, ou outros procuradores de subsídio’.


Embora classifique como ‘uma estratégia arriscada’ do MinC o artigo de Ferreira e Frateschi, Sayad se diz ‘admirador’ do ministro Gilberto Gil.


‘[Ele] Tem lá os problemas administrativos, mas, em termos de imagem política para a cultura no Brasil e no exterior, simpatia pessoal e boas intenções, Gilberto Gil é campeão’.


Questionado sobre quem, numa eventual presidência do PSDB em substituição a Lula, deveria assumir o lugar do tropicalista Gil no Ministério da Cultura, Sayad graceja: ‘Outro tropicalista. Caetano é tucano? Ele nunca disse’.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Uma nova política?


‘Na manchete do UOL ao longo de tarde e noite, para o site Contas Abertas, ‘Investimento da União em 2008 é o maior em oito anos’. O site creditou ao PAC e citou Lula, ‘muita gente dentro do governo e no meio empresarial ainda não tem noção do impacto’.


Já Cristiano Romero, em coluna no ‘Valor’, deu o pano de fundo do conflito que vem desde sexta-feira, on-line, entre Fazenda e Banco Central. Em suma, ‘há um debate em curso no governo para a adoção de uma nova política econômica’. Em vez de metas para inflação, metas para câmbio. Diz ‘ministro próximo ao presidente’, talvez ministra, que, caso o Banco Central eleve os juros, ‘desta vez vai ter problema’.


SOTAQUES


Priorizando economia, o ‘New York Times’ dá caderno ao amontoar de ‘sotaques’ nas teleconferências do mercado, inclusive aquela, de meia hora, que resultou no resgate do Bear Stearns. ‘Sociedade secreta’, Wall Street até resiste, mas nada vai resultar do pacote recém-lançado, diz o ‘NYT’, se não envolver ‘os mercados tão interconectados, como Japão ou até Brasil’. Brasil cuja bolsa teve foco específico no especial, ao lado de Indonésia, Arábia Saudita etc.


INFLUÊNCIA POSITIVA


O serviço mundial da BBC fez pesquisa com 18 mil, em 34 países, e levantou que ‘44% das pessoas acreditam que o Brasil exerce influência positiva no mundo’. Foi o sexto, atrás de Alemanha, Japão, UE, França e Grã-Bretanha.


Mas o eco maior, em agências e sites de busca, foi para a pequena recuperação na imagem dos EUA. Um ano antes, 31% achavam que tinha influência positiva. Agora, 35%. Mas 47% seguem dizendo que sua influência é negativa.


BRASIL E A ÁFRICA


Manchete da BBC Brasil: ‘Banco Mundial propõe ‘New Deal’ alimentar com ajuda do Brasil’. E no ‘Wall Street Journal’, Roberto Zoellick, agora o presidente do Bird, citou os ‘novos pólos’ China, Índia e Brasil como modelos para o futuro da África.


Quer mobilizar parceiros contra a fome, do dinheiro de EUA, Europa e Japão aos ‘países de grande experiência agrícola, como o Brasil’.


E O PARAGUAI


Em artigo e entrevistas, o candidato Fernando Lugo se concentrou na renegociação de Itaipu, dizendo não ser ‘impossível’ e lembrando o caso do canal do Panamá.


O ‘Valor’ focou como ele e demais ‘ignoram o problema do contrabando’, de interesse do Brasil. Lugo promete, na reportagem, ‘transparência’. Seu adversário maior, Lino Oviedo, promete ‘vontade política’. E ficam por aí.


‘STAND UP’


Em uma eleição movida a humorísticos, John McCain voltou ao David Letterman Show e fez piada, agora que lidera a corrida, de espionar o apresentador. O republicano oficializou a candidatura no programa, um ano atrás


O DINHEIRO


McCain já lidera, mas os doadores pró-republicanos, alerta o ‘WSJ’ cada vez mais partidarizado, ainda dão seu dinheiro aos democratas.


JUNTOS


Já o pró-democrata ‘NYT’, na coluna de Maureen Dowd e na manchete do site, agora espalha que Hillary Clinton até ajuda Barack Obama.


DIVERSOS


O ‘NYT’ destaca que cresceu a ‘diversidade’ de raça, gênero e partido na cobertura de TV, até na Fox News


DE QUEM RECEBEU?


Ricardo Noblat, blogueiro pioneiro em Brasília, hoje faz senador pedir desculpas por não agir como o blog quer.


E ontem postou o nome tão aguardado. ‘Quem divulgou a parte conhecida do dossiê foi Álvaro Dias, do PSDB.’ O senador ‘se recusa a dizer de quem recebeu’ e até ‘leu no plenário o artigo da Constituição que defende seu direito de não testemunhar sobre as informações recebidas’.’


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Folha de S. Paulo


Filha de Murdoch pede doações por Obama


‘Poderia ser apenas um exemplo transatlântico dos ímpetos de arrecadação da campanha de Barack Obama pela candidatura democrata à Presidência dos EUA, mas a recepção do próximo dia 28, no bairro londrino de Notting Hill, tem um endereço especial.


É na casa de Elisabeth Murdoch, filha do bilionário da mídia internacional Rupert Murdoch e dirigente de uma importante produtora de eventos, que doadores famosos e anônimos capazes de pagar US$ 1.000 -ou o máximo de US$ 2.300 permitido por lei pela recepção VIP- se encontrarão em ato de apoio ao senador.


Rupert Murdoch é dono da Fox News, ícone da mídia alinhada ao governo do republicano George W. Bush. Jornais de seu conglomerado News Corporation como o ‘Los Angeles Times’ e o tablóide ‘New York Post’, no entanto, já endossaram Obama.


O senador é visto como o favorito da mídia pelos americanos. Em pesquisa realizada em fevereiro, 48% dos eleitores democratas disseram que a imprensa é mais crítica a Hillary Clinton. Apenas 14% viam um viés contra Obama.


Até o anúncio do evento na casa de Elisabeth, porém, eram vagas as especulações sobre a cordialidade da dinastia de empresários da comunicação com Obama. Afinal, Hillary lidera as doações entre empregados da News Corporation e, há dois anos, o ‘NY Post’ endossou a reeleição da senadora.


Apoio de peso


Obama tem avançado também em um dos principais redutos de Hillary -o cobiçado grupo de líderes do partido. Sob o título de ‘superdelegados’, estes podem votar na convenção partidária que, no fim de agosto, decidirá quem representará os democratas na eleição presidencial de novembro, como bem entenderem, sem necessidade de seguir o resultado das prévias estaduais.


Ontem, Obama recebeu o apoio do veterano Lee Hamilton, deputado por 34 anos por Indiana, que realiza suas primárias em 6 de maio. O endosso do democrata que presidiu o grupo na Câmara encarregado de investigar o 11 de Setembro oferece ajuda a enfrentar as acusações de inexperiência em temas de segurança nacional.


Há duas semanas, Bill Richardson, único governador hispânico dos EUA e aliado histórico dos Clinton, já declarara apoio ao senador.


Com o ‘New York Times’ e agências internacionais’


 


TELEVISÃO
Ricardo Sangiovanni


TVs pagas do exterior exibem a partir de hoje anúncio sobre São Paulo


‘Estréia hoje à noite, em canais de TV paga da América Latina, a campanha publicitária ‘São Paulo, Todas as Cidades do Mundo’, da gestão Gilberto Kassab (DEM).


Serão mais de mil inserções em horário nobre, com comerciais em português, espanhol e inglês, a um custo de R$ 2 milhões.


O objetivo da campanha, diz o presidente da SPTuris (São Paulo Turismo), Caio Carvalho, é atrair investimentos para o turismo.


A campanha terá três meses de duração. No primeiro mês, o spot será de um minuto, montado pela produtora MPM Propaganda, com imagens do centro da cidade e de eventos como a Virada Cultural, o Carnaval e a Parada Gay. ‘Todas as culturas, todas as arquiteturas, todos os povos, todas as crenças’, diz a letra da música do comercial. Nos dois meses seguintes, as peças terão 30 segundos de duração.


‘Não quero atingir o turismo de massa, mas o nosso cliente, o homem de negócios’, diz Carvalho.


Serão entre cinco e seis inserções diárias até 30 de junho nos canais CNN Internacional e CNN em Espanhol. TNT, Sony e The History Channel exibirão os spots nos fins de semana.


Segundo Carvalho, a campanha é parte de uma estratégia para fazer com que cada turista que venha a São Paulo passe um dia a mais na cidade.’


 


Daniel Castro


Negros serão ricos e corruptos na Globo


‘Novela de estréia de João Emanuel Carneiro na faixa das 21h da Globo, ‘A Favorita’ (nome definitivo), no ar em 2 de junho, promete polêmicas. Os personagens negros saem da cozinha. Serão ricos, mas corruptos, vaidosos e vingativos.


Interpretado por Milton Gonçalves, Romildo tem potencial explosivo, por ser político. ‘Ele veio do interior de São Paulo. Seria um daqueles deputados estaduais que já tiveram vários mandatos e uma grande influência em determinada região. É de centro-direita e rouba através de licitação de obras públicas. Não tem nenhum negócio de fachada. Como tantos, tem todos aqueles milhões sem origem’, antecipa Carneiro.


Alicia (Taís Araújo), filha de Romildo, também não é flor que se cheire. Carneiro a define como ‘dândi’ (almofadinha) e ‘artista plástica pretensiosa’.


‘Alicia vai contratar Halley (Cauã Reymond) , um simpático malandro filho de uma cafetina (Elizângela), para se passar por gay e ‘sujar’ a reputação do ex-namorado dela, um mauricinho machista, junto ao círculo de filhinhos de papai caretas. Ao se fazer passar por gay, Halley despertará o interesse de outro mauricinho, Orlandinho Queiroz (Iran Malfitano), este, sim, gay, mas reprimido, ainda no armário, fazendo questão de posar de hetero, sempre cercado de lindas modelos para aparecer nas fotos, como vários conhecidos nossos de revistas de fofocas’, alfineta Carneiro.


GUERRA 1 A Globo entrou com ação judicial contra o ator Rodrigo Faro, que a trocou pela Record, onde será apresentador do ‘Melhor do Brasil’, no lugar de Márcio Garcia. A emissora requer o cumprimento integral de contrato, que vai até 30 de junho de 2010, ou o pagamento de multa, pela ‘rescisão imotivada’, superior a R$ 600 mil.


GUERRA 2 A assessoria de Rodrigo Faro diz que a multa já foi paga. A Globo afirma que Faro apenas enviou notificação informando estar disposto a conversar sobre a multa contratual.


JUSTO O publicitário Roberto Justus diz que nunca se comprometeu a levar Gilberto Barros para a Rede TV!. Houve apenas uma sondagem, diz.


SEM GRAÇA A reestréia do ‘Casseta & Planeta’ marcou 29,4 pontos, anteontem na Globo. Foi o pior começo de temporada do programa pelo menos desde 2001. Exibido em seguida, o ‘Toma Lá, Dá Cá’ deu 22,8 pontos.


GANGORRA Mesmo com as reestréias na Globo, ‘Troca de Família’, da Record, foi líder, com 13 pontos. No horário (23h25/0h23), a Globo (‘Jornal da Globo’ e ‘Programa do Jô’) teve 12.


MIDAS As mudanças de Silvio Santos no ‘Aqui Agora’ não funcionaram no primeiro dia. Na terça, o programa registrou uma de suas piores médias desde o retorno, em março. A Band, com ‘Brasil Urgente’ e ‘Jornal da Band’, deu lavada no SBT: 7,1 a 3,2 das 17h55 às 20h13.’


 


SUPREMO
Mônica Bergamo


Porta fechada


‘Depois de anunciar que fará uma cruzada contra a construção de ‘obras faraônicas’ para sedes de tribunais, o ministro Gilmar Mendes, novo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) e do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), diz que trabalhará contra a abertura de novas vagas no Judiciário. Só um dos projetos prevê a criação de 230 novas varas na Justiça Federal.


LÓGICA


Mendes diz querer mudar a ‘lógica atual’, em que tribunais pedem aumento do número de juízes toda vez que aumenta o número de processos ‘per capita’. ‘É um ritmo natural, que envolve questões corporativas.


Mas temos que analisar que só com a aplicação das súmulas vinculantes haverá uma baixa enorme de processos’, o que tornaria desnecessária a criação de novas vagas, diz ele.


NA TELA


Coincidência: o STF deve abrir em breve edital para a contratação de 74 jornalistas para a TV Justiça, que está no ar há seis anos. Com isso, vai romper contrato que tem com a Fundação Padre Anchieta, da TV Cultura, que fornece matérias jornalísticas para a TV.’


 


TELES
Mônica Bergamo


Foice


‘Carlos Jereissati, acionista da Oi/Telemar, que está comprando a Brasil Telecom, já decidiu: seu filho Pedro Jereissati será o presidente da holding da Telemar. ‘Estou saindo de cena’, diz ele, afirmando que fará ‘apenas’ parte do conselho -que será presidido por Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez.’


 


CINEMA
Sérgio Rizzo


Indicado ao Oscar, documentário investiga erros dos EUA no Iraque


‘Havia ‘500 maneiras’ de conduzir equivocadamente a ocupação do Iraque, e apenas duas ou três certas, na avaliação da ex-embaixadora norte-americana Barbara Bodine, encarregada de administrar Bagdá nos primeiros meses da invasão. ‘O que não entendemos foi que passaríamos por todas as 500’, diz.


Bodine figura entre os diversos profissionais de primeiro e segundo escalões do governo dos Estados Unidos ouvidos pelo diretor e roteirista Charles Ferguson em ‘Sem Fim à Vista’, que disputou o Oscar da categoria – vencido pelo seu produtor executivo, Alex Gibney, com ‘Táxi para a Escuridão’, também sobre a guerra.


Exibido na abertura do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários no Rio de Janeiro, ‘Sem Fim à Vista’ terá sessão única, hoje, em São Paulo. Ferguson deixa de lado o que levou a Casa Branca a optar pela invasão e investiga, em minúcias operacionais, por que ela não deu certo.


‘Fiz o filme por uma série de razões, mas certamente uma delas foi informar e mudar a opinião pública norte-americana’, disse Ferguson em entrevista à Folha, por e-mail, pouco antes do início do festival. ‘Ainda é difícil dizer qual foi o seu efeito até agora e qual será quando, como planejo, ele se tornar disponível na internet.’


Nos cinemas dos EUA, ‘Sem Fim à Vista’ arrecadou US$ 1,4 milhão. A quantia é expressiva se comparada à bilheteria de US$ 200 mil obtida por ‘Táxi para a Escuridão’, por exemplo, mas irrisória diante dos US$ 120 milhões de ‘Fahrenheit 11 de Setembro’ (2004), de Michael Moore -que, mesmo assim, não alcançou seu principal objetivo, impedir a reeleição de George W. Bush.


A batalha de Ferguson, no entanto, continua em DVD (o disco custa US$ 19,99 na Amazon) e em livro, com o recém-lançado ‘No End in Sight – Iraq’s Descent Into Chaos’ (sem fim à vista – a queda do Iraque no caos), que amplifica a análise do filme a partir da íntegra das entrevistas e de outros dados (US$ 12,21 na livraria virtual Amazon).


Ferguson calcula em US$ 1,8 trilhão os prejuízos causados pela ocupação do Iraque. ‘O custo da guerra torna mais difícil lidar com a atual situação econômica, incluindo o preço do petróleo, mas não apenas por isso’, afirma. ‘Muitas coisas sobre a guerra e o governo Bush são difíceis de entender. Culpo a mídia por não ter sido mais crítica e informativa, particularmente em 2002 e 2003.’


Paixão por filmes


Documentarista iniciante, Ferguson criou a produtora Representational Pictures e investiu cerca de US$ 2 milhões do próprio bolso para realizar ‘Sem Fim à Vista’. ‘Aprendi que estou completamente apaixonado por fazer filmes’, diz o diretor.


Admirador de Errol Morris (‘A Tênue Linha da Morte’), Jennifer Baichwal (‘Manufactured Landscapes’), Jason Kohn (‘Manda Bala’), Shimon Dotan (‘Hot House’) e de seu colaborador Gibney, assegura ter ‘diversas idéias para futuros projetos’, mas não quer falar sobre nenhuma.


Formado em matemática pela Universidade da Califórnia em Berkeley e doutor em ciência política pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, ele conhece os corredores do poder nos EUA: na virada dos anos 80 para os 90, foi consultor da Casa Branca e do Departamento de Defesa, entre outros órgãos do governo.


Em seguida, passou a trabalhar para empresas de tecnologia e, em 1994, fundou a Vermeer. Dois anos depois, com a venda da empresa -que criou um programa de desenvolvimento de páginas de web- para a Microsoft, entrou no grupo dos milionários da internet.


De volta à vida acadêmica, passou também a escrever livros sobre as relações entre política, economia e tecnologia, e se tornou membro vitalício do Conselho de Relações Exteriores dos EUA.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 3 de abril de 2008


REELEIÇÃO
O Estado de S. Paulo


Brincando com a democracia


‘‘Não se brinca com a democracia’ – disse o presidente Lula, explicando por que não aceita a idéia de um terceiro mandato. E reiterou, com maior ênfase, essa posição quando, indagado pela jornalista Maria Lydia – em recente entrevista no Em Questão, da TV Gazeta – sobre se a recusa a um terceiro mandato se devia a ‘valores éticos’, respondeu: ‘Mais do que isso: valores democráticos.’ Pode-se até discutir sobre a equivalência de tais valores, mas claro está que o presidente Lula quis demonstrar que associa firmemente a Democracia às regras de alternância do poder. Sendo assim, o vice-presidente José Alencar está brincando com a democracia quando defende mais tempo para Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República – por ser isso o que ‘o brasileiro quer’ e porque Lula ‘fez muito’, mas ainda ‘há muito a fazer’. Grave não seria o que disse, se se tratasse apenas de destempero de uma cabeça. Mas tudo indica que não se trata disso. Há motivos para acreditar que não faria essas declarações sem a prévia anuência do presidente, pela simples razão de que sabia que ninguém acreditaria que não o consultara antes de fazê-las.


Apesar de todas as enfáticas negativas presidenciais, não é provável que Lula nunca tenha, pelo menos, acalentado a idéia de disputar o terceiro mandato que, salvo algum percalço inesperado, conquistaria tranqüilamente, dadas as extraordinárias circunstâncias em que se insere o quadro político atual, tais como: um presidente da República com os maiores índices de popularidade que já desfrutou – 58% de avaliação positiva – desde o início de sua primeira gestão; uma situação econômica, em termos de recuperação de crescimento e geração de empregos, com resultados positivos como há muito não se via – pelo menos desde o ‘milagre econômico’ dos tempos da ditadura; a total concentração do poder político na pessoa do presidente, de tal forma que não se vislumbra alguém de seu partido ou de sua base aliada que seja candidato ‘natural’ a sua sucessão; e o favoritismo, segundo todas as pesquisas, de um candidato oposicionista à sua sucessão – a saber, o governador tucano de São Paulo, José Serra.


Como não poderia deixar de ser, visto que as forças políticas são torrentes que de formas variadas sempre buscam desaguar em seus almejados mananciais de poder, a idéia de um terceiro mandato, em continuidade, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já extravasa em significativas manifestações populares e até num projeto legislativo defendido pelo deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), velho amigo do presidente Lula, propondo a realização de um plebiscito para que a população brasileira decida se quer ou não modificar a Constituição para dar ‘mais tempo de governo’ ao presidente, como pretende o vice Alencar.


Na verdade, até a idéia de um mandato presidencial de cinco anos, sem reeleição, em torno da qual governistas e oposicionistas parecem caminhar para um consenso, pode favorecer apenas a meio velada intenção de um terceiro mandato. É que, de um lado, a fórmula poderia resolver um problema de disputa interna do PSDB – já que o governador mineiro, Aécio Neves, até agora não demonstrou abrir mão da disputa com seu colega paulista em 2010, embora pudesse fazê-lo se os tucanos lhe garantissem a candidatura presidencial de 2015. Mas, de outro lado, com essa mudança constitucional poderia estar ‘zerada’ a atual restrição ao terceiro mandato contínuo, o que abriria, a Lula, as portas a um ‘novo’ mandato dentro das novas regras – e em obediência à exigência ‘dos brasileiros’ (auscultados pela intuição de José Alencar) de que o Programa de Aceleração do Crescimento (o PAC), que pode ter mãe incerta, mas cujo pai é conhecido, não há de ser interrompido por adversários políticos.


Depondo sobre os primeiros anos do regime militar, Carlos Lacerda dizia que o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiro presidente daquele sistema, afirmou com toda a convicção: ‘Aos meus amigos peço e aos meus comandados ordeno: não me falem em prorrogação (do mandato presidencial)’, mas depois de tantos e insistentes apelos, aceitou a prorrogação de seu mandato, ‘docemente constrangido’.


Não há como deixar de notar que cada vez aumenta mais o cordão dos que pretendem impor ao presidente Lula um doce constrangimento.’


 


Luciana Nunes Leal, Denise Madueño, Elizabeth Lopes e Silvia Amorim


‘Cada um fala o que quer’, diz Lula sobre 3º mandato


‘Um dia depois de o vice-presidente José Alencar defender a tese do terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que tem ‘coisa mais séria para fazer’ do que discutir as possibilidades de continuar no poder depois de 2010. Lula se disse preocupado em viajar pelo País para acompanhar de perto as obras do Programa de Aceleração do crescimento (PAC) e falou, por fim, em ‘descansar’ depois que encerrar o segundo governo.


‘Eu digo para vocês que, se perguntar para os brasileiros o que os brasileiros desejam, é que o Lula fique por mais tempo no poder’, declarou Alencar anteontem, em entrevista à Rádio Bandeirantes. Ele chegou a comparar Lula ao presidente americano Franklin Roosevelt (1933-1945). O deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) anunciou, em seguida, intenção de pedir um plebiscito sobre o terceiro mandato.


Questionado ontem sobre a entrevista do vice, Lula respondeu: ‘Cada um fala o que quer. Eu não vou entrar nesse debate porque eu tenho coisa mais séria para fazer. O meu papel agora, até 2010, é fazer vocês viajarem mais comigo para acompanhar as obras do PAC.’


O presidente rebateu as acusações da oposição de que antecipa o debate eleitoral, ao cumprir uma maratona de viagens para visitar obras e lançar programas assistenciais. ‘Sou o cidadão mais cansado de eleição. Se tem uma coisa que eu não gostaria de fazer era discutir eleição, porque cansei’, disse. ‘Chega, né? Quero descansar.’


Na mesma linha defendida por Lula, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), afirmou que não há ambiente no Congresso para votar um projeto que estabeleça o terceiro mandato ou proponha um plebiscito. ‘Respeito as opiniões políticas existentes, mas isso não prospera. Não vejo clima para prosperar.’


Chinaglia lembrou que na Câmara há vários projetos para acabar com a possibilidade de reeleição, que teriam mais possibilidade ir a voto.


POLÊMICA


Um dos 40 denunciados ao Supremo Tribunal Federal por envolvimento no escândalo do mensalão, o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT-SP) disse, em seu blog, que a Constituição não proíbe um novo mandato, tanto que o PSDB e o antigo PFL, hoje DEM, conseguiram aprovar um segundo mandato para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. ‘Para FHC mudaram as regras do jogo ao término do segundo tempo e nada. Só para Lula é que é golpe e inconstitucional’, declarou o petista.


Apesar do argumento de que não haveria empecilho constitucional para um eventual terceiro mandato de Lula, o ex-ministro reconhece que a proposta esbarra em um problema político: ‘É a inconveniência e o irrealismo políticos de se propor uma alteração constitucional dessa envergadura na situação política atual e na correlação de forças que temos no País’.


Mesmo assim reiterou: ‘Nada impede que a Constituição seja mudada para permitir um terceiro mandato. Aí caberia ao STF se pronunciar sobre a constitucionalidade da mudança e não à mídia ou à oposição.’


?CASUÍSMO?


O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), considerou as declarações de Alencar como ‘casuísmo’. Para o tucano, o vice-presidente só vem corroborar uma atitude ‘pró-campanha’ do governo. ‘A tese é um casuísmo que, ao meu ver, não vai prosperar. Agora, a simples enunciação da tese já contribui para esquentar ritmos de campanha que não deviam estar existindo agora’, disse Serra. ‘Acho que o governo, em geral, tem tido uma atitude pró-campanha. Aliás, a própria declaração do Alencar joga água nesse moinho. Não acho isso bom.’’


 


CENSURA
O Estado de S. Paulo


China condena dissidente a 3 anos e meio de prisão


‘O ativista chinês dos direitos humanos Hu Jia, de 34 anos, foi condenado a três anos e meio de prisão por subversão, informou na manhã de hoje em Pequim seu advogado, Li Fangping. Hu, que declarou inocência num julgamento fortemente criticado por governos estrangeiros, tem dez dias para recorrer da sentença.


Em setembro, Hu e o advogado Teng Biao divulgaram o documento ‘A Real China e a Olimpíada’, no qual relacionam casos de violações dos direitos humanos por parte do governo. Hu foi preso em dezembro, enquanto sua mulher, Zeng Jinyan, foi mantida em prisão domiciliar. Em março, em entrevista ao Estado, Li Fangping disse que o tribunal e os promotores estavam do mesmo lado e ele só teve 20 minutos para apresentar os argumentos de defesa.’


 


VIDA ONLINE
Ana Paula Lacerda


Internet vira vitrine para profissionais


‘Um vídeo com mais de 100 mil acessos no YouTube chamou a atenção de um dos diretores da produtora Maria Bonita Filmes, Dudu Venturi. ‘O vídeo estava em destaque em um portal, por ter muitos acessos e ter sido feito por brasileiros. Era uma refilmagem de uma cena de tiroteio do filme Matrix, muito bem feita’, conta.


Venturi foi atrás dos responsáveis e descobriu que eram estudantes da USP, e que o vídeo fora produzido com um orçamento de R$ 200. ‘Fiquei impressionado quando vi o making of do projeto, e chamei os garotos para conversar.’


Foi assim que surgiu o grupo Cromossomos, formado por sete jovens que hoje trabalham na criação de novos projetos e produtos dentro da Maria Bonita. ‘Sabíamos que era um bom material, mas não imaginamos que teria tanto alcance’, diz João Henrique Crema, um dos criadores. ‘A internet permitiu a divulgação rápida do nosso trabalho, e isso deve se tornar cada vez mais comum no futuro. Na área de audiovisual, já é realidade’, diz Max Röhrig, outro dos criadores. Também estão no grupo Bruno Raphael, Eric Honda, Pedro Aguilera, Daniela Libardi e Pedro Carvalho.


Empresas de comunicação, marketing e tecnologia têm usado recursos de internet para conhecer melhor o trabalho de possíveis profissionais. O YouTube, o DeviantArt, de artes gráficas, e dezenas de sites para músicas tornaram-se vitrines para empresas locais e multinacionais. A gravadora brasileira Trama também trabalha com artistas que têm músicas na internet.


‘Isso é mais comum para cargos operacionais e gerências, mas aos poucos deve alcançar níveis hierárquicos mais altos’, diz a consultora Mara Turolla, responsável pelos programas de Desenvolvimento Executivo da consultoria Carreer Center. ‘Além disso, ramos mais tradicionais, como a indústria e o varejo, ainda não estão acostumados com essas ferramentas.’


Ela afirma que, para cargos de diretoria ou acima, a internet é mais uma ferramenta para se trabalhar a imagem do executivo do que para pleitear crescimento profissional. ‘Ter artigos publicados ou palestras disponíveis na internet pode ser interessante.’ Entre as redes de relacionamento, ela cita os fóruns de discussão das escolas de negócios e o LinkedIn.com como recursos válidos para se expor e conhecer pessoas. ‘São redes focadas em negócios, não em informações pessoais.’


Gladys Zrncevich, sócia da consultoria A2Z, diz que os executivos que atualmente ocupam altos cargos nas corporações não utilizam a internet como ferramenta para conhecer possíveis colegas, fazer network ou buscar novos desafios. ‘Quando essas pessoas cresceram no mercado, a internet não existia ou estava no início.’ Ela não nega, porém, que entre os jovens executivos a utilização da internet é muito maior. ‘Não sabemos como vai ser o network dessas pessoas no futuro. Mas será diferente, mais informatizado.’’


 


TELES
Nilson Brandão Junior


Contrato da Oi e BrT depende de 11 operações de compra


‘Por causa de questões de formalização jurídica, o acordo entre Oi e Brasil Telecom (BrT) só deve ser assinado na semana que vem. Além de todos os contratos suspendendo as ações do litígio judicial envolvendo os sócios, especialmente Citigroup e Opportunity, que tramitam no Brasil, EUA e Inglaterra, a documentação que está sendo elaborada pelos advogados cobre pelo menos 11 diferentes operações de compra e venda de ações nas duas operadoras.


A principal delas, considerada a espinha dorsal do negócio, é a venda do controle da BrT para a Oi. Esse negócio, inicialmente estimado em R$ 4,85 bilhões, poderá sair por um valor um pouco maior, ao redor de R$ 4,9 bilhões, por conta de atualizações decorrentes da demora do fechamento do acordo. Um batalhão de advogados vem trabalhando dia e noite na redação final da série de contratos e acordos. Chegou a ser cogitado o fechamento para hoje ou amanhã, mas detalhes nos textos têm exigido reformulações.


A Techold, holding que controla a BrT, é formada por Citigroup, Opportunity e os fundos de pensão Previ (do Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Petros (Petrobrás). Na semana passada, Citi e Opportunity definiram que abririam mão das ações que moviam, um contra o outro, em fóruns no Brasil e no exterior. Apenas essa decisão exige a assinatura de uma série de acordos de desistência em ações judiciais. Estima-se ainda que os novos controladores da BrT poderão usar até R$ 3,7 bilhões no pagamento de direitos de minoritários.


Em paralelo a essas duas operações – compra do controle da Brt e oferta aos minoritários -, a composição acionário da TmarPart, controladora da Telemar, vai ser reestruturada.Como resultado dessa operação, a composição da nova TmarPart ficará basicamente assim: os grupos Andrade Gutierrez, do empresário Sergio Andrade, e La Fonte, de Carlos Jereissati, terão 20% cada um. Juntando a fatia da Fundação Atlântico (dos empregados da Telemar), eles assumem o controle da empresa, com uma fatia de 51%. O restante do capital da se dividirá entre BNDES, com 16,5%, Previ (12,5%), Petros (10%) e Funcef (10%).’


 


OLIMPÍADAS
O Estado de S. Paulo


COI garante que não haverá barreira para TVs e internet


‘Os Jogos Olímpicos serão transmitidos ao vivo pela televisão, afirmou ontem Kevan Gosper, vice-presidente da Comissão de Coordenação do Comitê Olímpico Internacional (COI). ‘Não há o que temer quanto a censura nas imagens’, afirmou.


Gosper acrescentou que ‘todos os meios credenciados poderão utilizar a internet de forma aberta e livre’ durante a cobertura dos Jogos de Pequim.


A televisão governamental chinesa (CCTV) está acostumada a transmitir eventos com horas de atraso. Por isso, ainda há o temor de que esse comportamento se repita.


A cerimônia de segunda-feira, na Praça da Paz Celestial, para a chegada da tocha olímpica, foi transmitida com ligeiro atraso – apesar de na tela aparecer a informação ‘ao vivo’. Alguns dias antes, em outra transmissão, a TV chinesa havia cortado imagens de militantes da ONG Repórteres Sem Fronteiras que protestavam na Grécia durante a cerimônia para acender a tocha olímpica.’


 


Eduardo Nunomura


Censura a sites começa a cair. Parcialmente


‘O designer gráfico Bruno Porto, um carioca de 36 anos que vive e trabalha em Xangai, levou um susto ao entrar ontem na internet. Na tela de seu computador, a página da Wikipedia, a enciclopédia virtual em construção pelos internautas, estava funcionando. Sem censura. Ou quase. Porto disparou e-mails para amigos que vivem na China. E cada um deles foi confirmando o improvável: os chineses estão deixando de bloquear conteúdos da rede mundial de computadores.


Até quando isso vai durar é a pergunta que Porto mais quer saber. Para atualizar o blog brunoporto.com, ele enfrentava enormes dificuldades. Mas encontrou seu jeitinho. Pelo endereço snoopblock.com, que permite a um usuário em qualquer lugar do planeta navegar anonimamente, o carioca driblava a censura. Acessava livremente WordPress ou Blogger, sites que gerenciam os blogs.


Na terça, o Comitê Olímpico Internacional pressionou o governo central de Pequim a garantir acesso livre aos profissionais de imprensa que cobrirão os Jogos. Um dia depois, os internautas na China começaram a ter a liberdade de uma internet quase sem censura.


A liberalização tem suas limitações. O carioca Porto está fazendo uma pesquisa sobre a escrita no Tibete. Se tivesse digitado essa palavra ou ?dalai lama?, nada feito. Mas ele digitou ?alfabeto tibetano? (em bom português) no Google e descobriu que a Wikipedia estava aberta. Outras palavras, contudo, continuam censuradas, como Falun Gong ou sex (sexo) e drugs (drogas). Rock-and-roll? Os chineses parecem não se importar, mas não querem conteúdo violento rodando pela rede.


Durante anos, as páginas da BBC, de Londres, foram bloqueadas. Hoje são liberadas. A CNN, dos EUA, também teve seu conteúdo vetado, mas só por algum tempo. O YouTube ficou um mês fora do ar, porque alguém publicou vídeo com a condecoração do dalai-lama pelo congresso norte-americano.


O controle, no entanto, não é um bicho-de-sete-cabeças. Há dois servidores da rede mundial para 1,3 bilhão de chineses. Assim, o trabalho fica mais fácil para robôs virtuais e os milhares de chineses da fiscalização online. Quando vêem algo arriscado, melhor vetar.


Em março de 2007, algumas imagens publicadas no Flickr, o álbum virtual de milhões de internautas, incomodaram o governo chinês. Penalidade: dois meses fora do ar. Hoje, quem estiver na China só pode recorrer ao banco de dados de fotos a partir dessa data. O correspondente do jornal O Globo, Gilberto Scofield, não pode ler seu próprio blog (oglobo.globo.com/blogs/gilberto) em Pequim. Ele também é uma vítima.


MAIS CENSURA


Esse tipo de controle não é restrito à internet. Em junho do ano passado, o Brasil foi homenageado num festival de cinema na China. O Maior Amor do Mundo, do diretor Cacá Diegues, e Se eu Fosse Você, de Daniel Filho, não passaram em Pequim, mas foram exibidos em Xangai. A capital é menos liberal que a megacidade que sonha rivalizar com Nova York ou Londres. O longa brasileiro O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburguer, concorrente ao Oscar, foi vetado. Mas, se uma cópia tivesse sido enviada para Xangai, provavelmente não teria havido problemas.


A liberalização do acesso aos sites chega em um bom momento para um país que viu a internet crescer exponencialmente nos últimos anos. Já são 132 milhões de usuários, quatro vezes mais que em 2000. Hoje, os chineses passam 18 horas por semana conectados. Mais de 50 milhões têm aparelhos com internet móvel. Com o gostinho de mais essa abertura, eles podem querer que o ‘até quando’ dure bem mais do que o fim dos Jogos Olímpicos, em agosto. Bruno Porto agradece.’


 


Tutty Vasques


Beijing, beijing, pau, pau


‘Paris prepara-se para dar uma vaia retumbante na tocha olímpica que passará por lá na segunda-feira. Cobra-se mais respeito dos chineses aos direitos humanos, mas o protesto é aberto também a quem já não agüenta ver Nicolas Sarkozy no papel de Napoleão Bonaparte. Mais do que livre, a vaia que se ensaia no longo caminho do fogo até a pira de Pequim terá propriedades genéricas de desabafo.


Vai ter panelaço em Buenos Aires, manifestante pelado em Londres, pancadaria nas ruas de Seul, prisão de advogados em Islamabad, protesto gay em São Francisco, caça aos monges no Tibete, dança aborígine na Austrália. A tocha deixará um rastro de catarse por onde passar.


O Brasil, lamento dizer, está fora do roteiro, mas quem estiver com uma vaia apertada no peito terá uma chance de ouro para se aliviar no dia 17 de junho, quando o time do Dunga pega a Argentina no Mineirão.


Na pior – ou seria na melhor? – das hipóteses, a gente vaia os argentinos. ‘


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Record apela para piadinhas com a líder


‘Confusão à vista. A briga entre Record e Globo deve ganhar mais lenha nos próximos dias. A disputa por audiência entre as duas emissoras, que foi parar em campanhas publicitárias, recebe nos próximos dias mais uma provocação por parte da Record.


A emissora de Edir Macedo investirá mais em peças publicitárias que fazem trocadilhos com a nova campanha da concorrente. Usando o ‘Q’, que a Globo diz ser de qualidade de sua programação, a Record brinca com a ‘Q’ueda de audiência da concorrente nos últimos anos. O ‘Q’ deve render outras piadinhas do tipo também por parte da rede.


A intenção da Record é provocar e acirrar mais a briga, que, segundo a emissora, tem chamado holofotes e a atenção do público para suas atrações.


Representantes das duas redes participariam ontem de uma reunião no Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) para acertar os ponteiros. A Globo acusou a Record de ter feito anúncios enganosos sobre audiência.


A Record pretendia exibir ainda ontem, em um de seus noticiários, um editorial falando sobre o assunto. ‘


 


 


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