Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Trabalho chato distribuído no mundo da web

Faça uma determinada tarefa em seu computador. Não deveria levar mais de dois segundos. Repita 14.399 vezes. Parabéns! Sua jornada de trabalho de oito horas terminou.

Ainda não existe esse local de trabalho, mas com a criação inteligente de tarefas padronizadas de dois segundos, distribuídas a computadores conectados à internet, é tecnicamente possível montá-lo.

A finlandesa Microtask produziu o software que entrega essas tarefas.

A companhia se oferece para realizar ‘trabalho entediante e repetitivo’ -como digitalizar formulários em papel ou cartões de visita- para possíveis clientes.

O software da Microtask reparte uma tarefa em pedaços microscópicos, como transcrever um número de quatro dígitos escrito a mão em um pequeno retângulo em um formulário (números e letras escritos a mão são o grande problema dos softwares de reconhecimento de texto).

Essas tarefas, sem informação de identificação sobre o cliente ou sobre a tarefa maior, podem ser distribuídas on-line para trabalhadores em qualquer lugar.

Linha de montagem

A abordagem mostra como o conceito de trabalho on-line amplamente distribuído evoluiu desde que foi iniciado pelo serviço Mechanical Turk, lançado pela Amazon.com em 2005. Mechanical Turk se parece com um quadro de avisos on-line, onde empresas publicam oportunidades de trabalho. Ofertas incluíam US$ 0,02 cada para encontrar informações de contato de 7.500 hotéis e US$ 0,03 cada para responder a perguntas sobre 9.400 brinquedos.

Os ‘microtarefeiros’ serão empregados em tempo integral em outras empresas, como uma seguradora finlandesa que colocou funcionários no Báltico para trabalhar digitalizando os formulários em papel da empresa, usando software Microtask. A Microtask mantém os trabalhadores concentrados em uma única tela, fornecendo tudo o que é necessário para concluir a tarefa, sem ter de navegar na web para mais informações.

A CloudCrowd, baseada em San Francisco, também se oferece para distribuir o trabalho de clientes on-line. Como a Microtask, ela encontrou maneiras de dividir o trabalho em pequenas fatias.

‘Em vez de crowdsourcing [terceirização em grupo], nós chamamos o que fazemos de widesourcing [terceirização ampla]’, diz o vice-presidente de marketing da empresa, Mark Chatow.

‘Pegamos tarefas como tradução, que costumava ser feita por um único especialista, e as dividimos em pedaços para que um amplo leque de pessoas possa manipular partes diferentes do trabalho.’

A CloudCrowd usa membros do Facebook que a procuram em busca de trabalho; ela diz que tem 50 mil trabalhadores. A tradução tradicional custa cerca de US$ 0,20 a US$ 0,25 por palavra, diz Chatow, ‘mas estamos fazendo por US$ 0,067 por palavra’. Ele diz que os tradutores ganham em média US$ 15 por hora e caçadores de erros, cerca de US$ 7 por hora.

Miettinen, da Microtask, diz: ‘A pura compensação monetária é um conceito do século 20’. Ele imagina utilizar os talentos de designers de jogos para tornar o trabalho divertido. Isso poderia reduzir as queixas sobre pagamento irrisório ou tédio mortal.

E o controle do trabalhador é exatamente o que o modelo da Microtask criou – é a fonte de sua eficiência insidiosa.

Assim como as linhas de montagem da Ford um século atrás traziam o trabalho para trabalhadores que realizavam uma única tarefa repetitiva, o software da Microtask faz o mesmo através da internet. A cada dois segundos.

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Do New York Times