Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

ABI e Abert pedirão
veto ao projeto da Fenaj

Leia abaixo os textos desta sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 14 de agosto de 2006


DITADURA NA IMPRENSA
José Maria Mayrink


ABI e Abert pedirão veto a lei sobre trabalho na mídia


‘O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azedo, anunciou ontem no Rio que, em articulação com a Associação Nacional de Jornais (ANJ), tentará convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a vetar o projeto de lei aprovado pelo Senado que fixa regras para o exercício da profissão de jornalista.


‘Considero esse projeto desastroso, um disparate de autoria de amadores sem nenhuma vivência no dia-a-dia das redações’, disse Azedo, ao justificar sua oposição à proposta. O presidente da ABI critica a ‘imprecisão’ do texto ao definir as funções que, de acordo com a nova lei, só poderiam ser exercidas por portadores de diploma de jornalismo.


Um dos exemplos mais gritantes, segundo Azedo, é a definição de comentarista – ‘o profissional que realiza avaliação, comentário pelo rádio, televisão ou processo semelhante’, conforme consta do inciso XIII do artigo 6º, que enumera as 23 atividades privativas de jornalista profissional.


‘Se as escolas de jornalismo tiverem de dar uma formação de acordo com as qualificações definidas pelo projeto de lei aprovado pelo Congresso, elas vão se transformar num amontoado de disciplinas sem possibilidade de formar profissionais’, alertou Azedo.


A ABI, segundo seu presidente, não foi consultada sobre o projeto de lei complementar (PLC 79/2004) quando ele foi discutido no Congresso. ‘Vamos ver agora se ainda dá tempo de levar o presidente da República a vetar o texto’, disse Azedo, depois de analisar a questão com a Associação Nacional de Jornais (ANJ).


Em nota assinada por seu presidente, José Inácio Gennari Pizani, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) se manifestou ‘indignada’ com a aprovação do projeto pelo Congresso e pediu seu veto pelo presidente.


A Abert, diz a nota, acredita que, antes de deliberar sobre a matéria, o presidente deva receber e analisar as ponderações de todos os setores envolvidos. ‘A Abert confia que o princípio constitucional da liberdade de expressão e do direito ao trabalho prevaleça no exercício das atividades desenvolvidas pelos milhares de profissionais’, acrescenta o texto.


O presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Empresarial (Aberje), Paulo Nassar, afirmou que o projeto de lei, ‘apresentado pelo deputado Pastor Amarildo (PSC-TO) e aprovado pelo Senado enquanto a sociedade brasileira estava entretida com a Copa do Mundo e aterrorizada pela falta de segurança pública’, ameaça a liberdade de trabalho e de expressão no ramo da comunicação empresarial.


‘O projeto, que transpira corporativismo e ranço inquisitorial, deve provocar desemprego com a eliminação de milhares de comunicadores mestiços’, adverte Nassar, referindo-se ao ‘perfil mestiço’ dos trabalhadores da comunicação empresarial, ‘produto da saudável mistura de relações-públicas, jornalistas, publicitários, administradores, economistas, historiadores, psicólogos, fonoaudiólogos, entre outros’.’


 



O Estado de S. Paulo


‘Estão fazendo tempestade em copo d’água’, reage presidente da Fenaj


‘Na certeza de que o presidente Lula vai sancionar o texto aprovado pelo Senado, o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio Murillo de Andrade, se apressa a acalmar quem é contra a nova lei de regulamentação da profissão de jornalista.


‘Estão fazendo tempestade em copo d’água, porque pouca coisa muda em comparação com o Decreto-Lei 972, de outubro de 1969’, disse Andrade, ontem, ao Estado, apontando entre as novidades a exigência de diploma para diagramador, ilustrador, repórter-fotográfico e repórter-cinematográfico.


Segundo o presidente da Fenaj, entidade que apoiou a aprovação do projeto na Câmara e no Senado, o novo texto não traz nenhum tipo de ameaça para a liberdade de expressão, como alegam os seus críticos.


O objetivo é proteger o jornalista, defendendo o mercado de trabalho e garantindo maior qualificação profissional, disse ele. ‘Não muda nada quando se transforma atividade em função’, destacou.


Para a Fenaj, não tem fundamento o receio de que venham a perder o emprego alguns profissionais que não são jornalistas, mas trabalham em jornal.


‘Quem é comentarista vai continuar fazendo comentário, contanto que não seja sobre matéria jornalística’, observou Andrade, acrescentando que os casos polêmicos (sobre a interpretação do que é ou não é jornalístico) serão resolvidos na Justiça.


O presidente da Fenaj aconselha o uso de bom senso para a contratação de comentaristas que falam de esporte, como jogadores de futebol. ‘A participação desses profissionais pode ser importante, mas está havendo a apresentação de espetáculo por espetáculo, sem compromisso com a informação.’


Andrade insiste em que qualquer pessoa pode escrever para um jornal ou falar em uma emissora de televisão, ‘mas jornalismo só pode ser feito por jornalista’. Isso vale também para o arquivista, ‘quando esse profissional trabalha com material jornalístico para a elaboração de notícias, memórias ou programas jornalísticos’.’


 


PCC E CAMPANHA
Alexandra Penhalver, Carlos Marchi e Chico de Gois


Serra vê ligação entre PT e PCC; Mercadante o chama de leviano


‘Os candidatos do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, e ao governo de São Paulo, José Serra, usaram ontem a mesma expressão – ‘muito estranho’ – para comentar a nova onda de ataques do PCC em São Paulo. Serra lembrou que um inquérito policial registrou a proximidade de Jilmar Tatto, secretário municipal de Transportes em São Paulo durante a gestão Marta Suplicy (PT), com perueiros ligados à facção criminosa. O candidato do PT ao governo do Estado, senador Aloizio Mercadante, disse que a afirmação é ‘absolutamente leviana e mostra desespero político’.


‘Há indícios (de ligação do PT com o PCC). Basta olhar as manifestações do crime organizado. O que eles dizem da política, o que dizem que eles dizem, segundo gravações. O fato de que uma das cooperativas de perueiros de São Paulo era ligada ao secretário de Transportes do PT’, afirmou o ex-prefeito, em Jales, no interior de São Paulo. ‘Ele tem ligações notórias com esse pessoal.’


Tatto foi acusado de ter pedido a inclusão de perueiros ligados ao PCC em uma outra cooperativa. Como não foram encontradas provas contra o ex-secretário de Marta, a Justiça não acatou o pedido de prisão.


Serra fez questão de frisar que a suspeita de ligação do PCC com o PT não está fundamentada em provas. ‘Eu não diria que há provas, diria que há indícios que precisam ser investigados’, destacou. E comentou as denúncias de posicionamento político dos líderes do crime organizado. ‘Não tenho dúvida de que são muito estranhos esses ataques, nas suas implicações políticas, porque têm havido constantes manifestações de líderes do crime organizado contra determinadas forças políticas, como se estivesse se partidarizando’, comentou.


Mercadante cobrou provas. ‘Acho uma afirmação absolutamente leviana, que mostra o desespero político. A palavra dele não pode ser levada a sério depois que desistiu de ser prefeito de São Paulo’, disse. ‘Qualquer indício, ele tem obrigação de apresentar e pedir investigação e apuração, o que nós sempre queremos na vida pública’, afirmou, após reunião com militantes do PT em Hortolândia, na região de Campinas.


PESQUISAS


Os ataques do PCC entraram na agenda da disputa eleitoral anteontem, quando o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), afirmou que ‘o PT pode estar manipulando essas ações’. Ele registrou a ‘coincidência’ dos ataques criminosos com a divulgação de pesquisas em que Alckmin cresce: ‘O PT vive no submundo e nada mais me espanta nesse partido’, disse, na ocasião.


Ontem, Bornhausen foi chamado de ‘irresponsável e golpista’ pelo presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). ‘A atitude dele é desqualificada e desrespeitosa.’ Cedo, o presidente do PT havia dito que não usaria a violência em São Paulo ‘de forma oportunista’ e condenou a transformação do problema em questão eleitoral.


Mais tarde, recrudescendo o tiroteio, Bornhausen distribuiu uma nota para replicar. ‘Falta de responsabilidade na escolha de dirigentes é característica do PT’, dizia o texto, citando Sílvio Pereira, Delúbio Soares e Bruno Maranhão, ex-dirigentes do PT que estão sendo processados – os dois primeiros, por envolvimento com os escândalos do mensalão e o último por ter comandado uma invasão violenta do Congresso. À noite, o PT paulista distribuiu outra nota, prometendo processar Serra e Bornhausen.


Ontem, o vice de Alckmin, senador José Jorge (PFL-PE), pegou carona na fala de Bornhausen para ironizar: ‘Quando as pesquisas estão a favor de Alckmin, os ataques recomeçam. O PCC trabalha de acordo com as pesquisas.’


O vice de Serra, deputado Alberto Goldman (PSDB), disse ter informações de que o PCC tem trabalhado contra os candidatos do PSDB. E comentou: ‘Não quero levantar suspeitas sobre a quem isso interessaria.’


Enquanto PT e partidos de oposição foram a campo e trocaram acusações, o candidato Orestes Quércia (PMDB) cancelou ontem a sua programação na zona sul paulistana, temendo a onda de violência.


O ex-secretário acusado por Serra, Jilmar Tatto, disse que as acusações policiais contra ele são ‘infundadas’ e que suspeita de ‘cunho político’ nas investigações.’


 




CAMPANHA
Eugênia Lopes


PT e PSDB terão mais de 70% do tempo na TV


‘O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, terá mais tempo de propaganda eleitoral gratuita em rádio e televisão do que seu principal adversário, o presidente Lula, que disputa a reeleição pelo PT. A cada programa de 25 minutos reservado para a propaganda dos candidatos ao Planalto, o tucano contará com 10 minutos, 22 segundos e 15 centésimos, enquanto Lula terá 7 minutos e 21 segundos. Os dois têm juntos, portanto, quase 71% do tempo.


A partir de 15 de agosto, a propaganda presidencial vai ao ar às terças, quintas e sábados. Atrás de Lula nas pesquisas, Alckmin aposta no horário gratuito para tentar uma virada.


Nos 45 dias do programa gratuito, Alckmin também terá direito a um número maior de inserções (pequenas peças publicitárias de 30 segundos de duração) do que o presidente. O tucano vai aparecer em 223 inserções, enquanto o petista contará com 158. ‘Essa questão do tempo de cada candidato é pura aritmética’, explicou o ministro Gerardo Grossi, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um dos critérios adotados para definir o tempo é o número de deputados que foram eleitos por seus partidos, em 2002.


O horário eleitoral será entre os dias 15 de agosto e 28 de setembro, em um total de 20 dias com programas de candidatos à Presidência. A propaganda dos presidenciáveis será veiculada nas rádios e TVs às terças, quintas e sábados em dois blocos de 25 minutos cada. Nas televisões, a propaganda para presidente vai ao ar das 13h às 13h25 e das 20h30 às 20h55. Nas rádios, será veiculada entre 7h e 7h25 e das 12h às 12h25.


Os candidatos terão direito ainda a 540 inserções em rádio e TV durante 45 dias. Serão 12 inserções diárias de 30 segundos cada, totalizando 6 minutos diários. Alckmin terá 2 minutos, 29 segundos e 31 centésimos de inserção por dia. O presidente Lula contará com 1 minuto, 45 segundos e 84 centésimos por dia. Em seguida vem o candidato do PDT, Cristovam Buarque, com 34 segundos.


O cálculo leva em conta o tempo que cada partido da coligação dispõe. Os cálculos foram feitos com base em 7 candidaturas à Presidência. Esse tempo pode sofrer alterações porque o tribunal ainda vai analisar 4 pedidos de registro de candidatura.’


 




VALERIE PLAME
Folha de S. Paulo


Ex-agente da CIA processa Cheney


‘Valerie Plame, ex-agente da CIA (Agência Central de Inteligência), entrou ontem com uma ação contra o vice-presidente Dick Cheney, seu ex-assessor Lewis Libby, e contra Karl Rove, assessor da presidência.


A identidade secreta de Plame foi vazada para a imprensa por funcionários do governo. Na ação, Plame os acusa de conspirarem para destruir sua carreira.


Plame e seu marido, o ex-embaixador Joseph Wilson, acusam Cheney, Rove e Libby de revelarem a identidade da agente por vingança, por causa de críticas feitas por Wilson ao governo Bush, relacionadas à guerra do Iraque.


Diversos meios de comunicação falaram sobre Plame após ela ter sido identificada pelo colunista Robert Novak em um artigo publicado em 14 de julho de 2003. Esse artigo apareceu oito dias depois que o jornal The New York Times publicar matéria assinada por Wilson onde ele afirmava que o governo do presidente George W. Bush manipulara informações da inteligência para justificar o início da guerra contra o Iraque.


No início de 2002, a CIA enviou o embaixador Wilson a Níger para averiguar as informações de que o governo de Saddam Hussein procurou comprar urânio do país africano, para fabricar armas nucleares.


Wilson desmentiu a informação, mas sua opinião não foi levada em conta pelo presidente Bush em seu discurso sobre o Estado da União, em 2003.


Na ação, Cheney, Libby, Rove, outros membros não identificados do governo e outros funcionários são acusados de colocar em risco a vida de Wilson e de seus filhos ao exporem sua mulher como uma agente da CIA.


Esse processo é a mais recente reviravolta num caso que vem sendo discutido há bastante tempo e obrigou Bush a defender sua campanha para justificar a guerra.


A ação diz que ‘os acusados iniciaram uma campanha anônima de insinuações destinadas a desacreditar e ofender os demandantes e dissuadir outros críticos de se manifestarem publicamente’.


‘Esta ação contesta a exposição, proposital e maliciosa, por autoridades do governo federal, de Valerie Plame, cujo trabalho foi reunir argumentos para tornar os EUA uma nação mais segura, e que arriscou a vida pelo seu país’, declararam os advogados do casal na ação.


O ex-assessor Libby é a única autoridade do governo acusada de envolvimento no vazamento de informações. Em janeiro, Libby deverá comparecer em juízo para responder a uma ação por perjúrio e obstrução de justiça.


Libby é acusado de mentir a agentes do FBI (Polícia Federal americana) e um júri federal sobre quando soube a identidade de Plame e o que, depois, declarou à imprensa.


No mês passado, o promotor público Patrick Fitzgerald declarou ao advogado de Rove que ainda não havia eliminado a possibilidade de iniciar um processo criminal contra o assessor presidencial.


Embora não tenha sido especificado nenhum valor a título de indenização, a ação reivindica no caso de condenação dos réus o pagamento de custas, honorários de advogados além de indenização por danos.


A porta-voz de Dick Cheney não quis comentar sobre a ação impetrada e o porta-voz da equipe de advogados de Rove afirmou que ‘as alegações, no mérito, são absoluta e extremamente inconsistentes’.


A ação foi iniciada um dia após o jornalista Robert Novak e o ex-porta-voz da CIA, Bill Harlow, confirmarem que um outro funcionário do governo americano, cujo nome não foi mencionado, lhes havia falado sobre Plame.’


 



EUA
Folha de S. Paulo


Indecência na TV e no rádio pode custar caro


‘O grande aumento da multa cobrada das emissoras de rádio e TV pela veiculação de palavras ou atos considerados indecentes está levando gigantes da mídia dos Estados Unidos a agir rapidamente para se proteger. O preço a ser pago, que antes era um pequeno aborrecimento, pode se transformar num enorme gasto para as emissoras.


A nova lei, no entanto, é boa para as empresas que fabricam dispositivos de retardamento de transmissão, destinados a capturar qualquer tipo de linguagem considerada ofensiva antes que seja transmitida. É também boa razão para apresentadores, diretores e produtores levarem seu talento para os canais via satélite e a cabo, aos quais os padrões federais de decência não se aplicam.


Desde que o presidente Bush sancionou a lei, em junho, elevando a multa máxima que pode ser cobrada pela FCC, sigla em inglês da Comissão Federal de Comunicações, para US$ 325 mil, as empresas recorreram à empresa californiana Prime Image Inc. Ela produz o dispositivo eletrônico que permite aos canais de TV editarem qualquer linguagem ofensiva antes de ir ao ar. As encomendas do aparelho, que antes eram de uma por dia, saltaram para 30.


QUEM PAGA A CONTA


Conhecidos radialistas de uma grande emissora de radiodifusão agora são obrigados, por contrato, a arcar com as multas se disserem qualquer coisa que leve a emissora a ser penalizada. A rede de TV pública, multada em março por causa de um documentário produzido por Martin Scorsese, está enviando orientações legais periódicas para as emissoras pertencentes à rede.


Grupos de pais pressionaram o Congresso a tomar uma atitude depois que a cantora Janet Jackson fez uma breve aparição na TV com o seio à mostra, durante transmissão da final do campeonato de futebol americano, em 2004. Membros do Congresso rapidamente elaboraram projetos de lei para aumentar o valor da multa cobrada pela FCC.


Contudo, em 2004 e 2005, esses projetos de lei ficaram engavetados tanto no Senado quanto na Câmara. Em maio, o líder da maioria, Bill Frist, republicano do Tennessee, assumiu um dos projetos e agilizou sua aprovação no Senado. A Câmara aprovou o texto logo depois e, em 15 de junho, Bush sancionou a lei, elevando o teto das multas por falta de decência.’


 




TV DIGITAL
Adriana Chiarini


BNDES pode financiar varejo para TV digital


‘O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) poderá financiar ‘a cadeia toda de TV digital’, disse ao Estado a gerente do Departamento de Indústria Eletrônica da instituição, Irecê Fraga Kauss Loureiro. O BNDES pretende apoiar não apenas investimentos para fabricação no País de produtos como partes e peças, aparelhos de TV digital e caixas conversoras de sinal digital e analógico, mas também serviços, inclusive de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia e software. A inovação é uma das prioridades do banco.


Há possibilidade até de financiamento do comércio das caixas conversoras do sinal de TV. Nesse caso, pode seguir o modelo do programa PC para Todos, onde o financiamento é dado pelo BNDES ao comércio varejista com o objetivo de facilitar o acesso da população ao computador. Com ele, as lojas criam seus próprios financiamentos ao consumidor.


O PC para Todos, porém, é específico para computadores e não pode ser usado para TV digital. Outras linhas de crédito do banco federal provavelmente poderão ser usadas para TV digital sem que tenham de ser modificadas. Para avaliar questões como estas, o BNDES está montando um grupo de trabalho para TV digital. Com representantes de vários departamentos, o grupo tem prazo de três meses para concluir se as linhas de crédito que o Banco oferece são suficientes ou não para atender ao setor.


O BNDES já aprovou R$ 100 milhões em créditos do programa PC para Todos. As condições para os comerciantes são tão melhores quanto menores forem as taxas de juros e maiores os prazos aos consumidores. O chefe de departamento de Financiamento a Máquinas e Equipamentos do BNDES, Cláudio Leal, avalia que o valor já aprovado é alto, considerando que o programa foi lançado este ano e previa um total de R$ 300 milhões. ‘Já foi um terço do orçamento’, disse Leal.


 




SUPERMAN – O RETORNO
Luiz Carlos Merten


‘Ele é o emigrante definitivo’


‘Filho adotivo, Bryan Singer foi também um garoto judeu criado numa comunidade católica. Daí que ele sempre teve o sentimento de ser um tanto deslocado no mundo. ‘Quando garoto, havia esta família que morava na casa ao lado e também tinha um filho adotivo, mais uma filha natural; ingenuamente, eu achava que todas as famílias tinham filhos adotivos.’ Ele não chegava a se sentir propriamente diferente, nem incomodado, mas é significativo que seus heróis preferidos, daquela época, fossem Superman e Luke Skywalker, da série Star Wars. E Singer, curiosamente, não gostava de quadrinhos. ‘Não era fã nem tinha muita curiosidade.’ Tanto isso é verdade que, ao ser contratado para fazer X-Men, ele praticamente não sabia nada sobre os personagens. ‘Minha primeira providência foi ler os comics e tudo, ou quase tudo, o que se havia escrito sobre eles.’


Foram três encontros com o diretor de Superman – O Retorno, na Cidade do México. Uma coletiva, uma round table, com cinco jornalistas da América Latina, e a one a one, a exclusiva, a única, apressou-se a dizer a assessora de imprensa de Singer, que ele concedeu, até agora, em todo o tour promocional do filme que estréia hoje. Eram para ser apenas 10 minutos, que foram sendo prorrogados. Cada vez que a assessora entrava na sala para adverti-lo do tempo, ele a dispensava com o sinal de que estava tudo bem. Há tempos Singer vive fora do armário, mas isso não interfere em nada no filme nem na natureza do herói que ele filmou. Seu Superman não é gay, por maior que seja sua idealização da mulher amada (com a qual teve intercurso, é bom lembrar). Seria sensacionalismo insistir no assunto, embora a opção do diretor pelo melodrama e a euforia com que o colega de Clark Kent o recebe, no jornal, possam parecer surpreendentes num filme do gênero. Superman – O Retorno estreou arrebentando nas bilheterias dos EUA, mas fez, mesmo assim, um milhão de dólares a menos que as otimistas previsões da Legendary Pictures e da Warner. A dúvida sobre se ele será o filme do verão nos EUA liga-se ao fato de que Piratas do Caribe 2 – O Baú da Morte, com Johnny Depp (que chega aqui na próxima sexta-feira, dia 21), estreou lá de forma mais retumbante, ainda.


Você ia realizar X-Men 3 quando Superman surgiu em sua vida. Foi muito difícil trocar de franquia?


Na verdade, eu não saí de X-Men 3 para Superman. Já havia desistido da terceira parte e trabalhava num projeto que me interessava muito, mas que agora acho que vou só produzir – o remake de Logan’s Run, de Michael Anderson (que, no Brasil, se chamou ‘Fuga do Século 23’). A Warner há tempos trabalhava com a idéia de promover um retorno ao Superman. Foi quando tive um encontro com Richard Donner, que fez a versão de 1978, em Austin, no Texas. Participávamos de um evento e eu lhe disse que adoraria fazer Superman. Ele quis saber qual seria meu foco. Eu lhe disse que teria de ser um filme de retorno, porque uma geração inteira se passara sem que houvessem filmes do Superman no cinema. E também disse que gostaria de colocar muito drama na história, porque o público jovem só conhecia o Superman teen de Smalville, na TV. Não seria só um filme de ação. Richard deu todo apoio para que eu fosse escolhido.


E ele viu o filme pronto? Gostou?


Depois da première, Dick me deu um grande abraço e me disse uma frase que não posso repetir. É muito íntima e eu só posso dizer que foi gratificante.


Superman se inscreve numa tendência do seu cinema, que é sempre abordar personagens de dupla face. Num filme de Bryan Singer, mesmo o herói não é o mocinho imaculado. Ele carrega sempre uma ambivalência.


É o que torna o cinema fascinante, não? Não queria fazer só mais um filme de verão, cheio de barulho e explosões. Queria fazer um filme de personagens e, para isso, não poderia ficar preso a um enfoque unidimensional. O mundo mudou, ficou mais complexo nestes quase 30 anos que se passaram, desde o Superman de 78. E eu sou adotado. Sempre tive uma identificação com Superman, que foi o herói da minha infância e adolescência. Queria dar-lhe um contexto, queria criar o pathos do Superman.


Você fala muito abertamente da sua condição de adotado. É um assunto quase sempre tabu, porque, na maioria das vezes, as pessoas, até inconscientemente, fazem uma distinção entre filhos naturais e adotivos, como se os segundos fossem filhos de segunda classe.


Quando garoto, havia esta família que morava na casa ao lado e também tinha um filho adotivo, além de uma filha natural. Eu achava que todas as famílias tinham, ou deviam ter, filhos adotivos. Fui criado com muito amor, o que despertou em mim um sentimento – filhos naturais, você pode ter sem querer, por acaso; filhos adotivos você tem de querer. Mas existe, sim, uma sutil distinção que as pessoas, de maneira geral, terminam por estabelecer. Os heróis que filmo são super, claro, mas têm esse lado vulnerável do qual me sinto próximo. São deslocados, solitários. A minha frase favorita no filme de Dick é quando Marlon Brando põe Kal-El no berço espacial e a mãe diz, num lamento, que ele vai ser sempre um solitário. Brando pega o cristal, coloca no berço e diz que o garoto nunca será solitário. Estarão sempre juntos, conectados pelo cristal. É uma coisa que me emociona tanto que não resisti e me apropriei dela, no desfecho de Superman – O Retorno.


Quando você disse que seu Superman teria um filho, o estúdio não tentou demovê-lo da idéia? Afinal, Superman é um herói de 70 anos e nunca teve filhos. É uma mudança e tanto no conceito do personagem.


Ninguém interferiu no meu trabalho nem tentou mudar o que eu havia planejado. Tive absoluta liberdade, absoluto controle sobre todo o processo, desde o roteiro até a edição final.


Você tem 40 anos, mas tem essa cara de garoto, de 30. Como o Kid conseguiu essa liberdade em Hollywood?


Acredite – foi uma sucessão muito natural de eventos. Meu primeiro filme, Linha Direta, foi muito bem acolhido em Sundance. Pelo segundo, Os Suspeitos, ganhei dois Oscars, melhor roteiro e ator coadjuvante (para Kevin Spacey), o que despertou o desejo de muita gente de trabalhar comigo. O terceiro, O Aprendiz, não teve uma crítica muito favorável, mas foi bem de público e me deu muito dinheiro. Quando cheguei ao primeiro X-Men, defini o que queria fazer, mas aí houve esse encontro com um executivo do estúdio, durante o qual ele tentou definir o que seria o meu trabalho e a responsabilidade do estúdio. Disse-lhe que tinha dinheiro no banco, não precisava daquilo e, até logo, obrigado, levantei-me para ir embora. Ele então mudou o discurso e eu senti, naquele momento, que havia ganho uma batalha. X-Men 1 e 2 fizeram muito sucesso e ainda houve a série House, na TV, que virou um fenômeno nos EUA. Tudo isso me garante essa liberdade, mas ela também tem seus inconvenientes. No caso de Superman, por exemplo, tive sempre de decidir sobre tudo sozinho. Não recebi um só memorando do estúdio. Conversava com minha equipe, por certo, mas as decisões eram sempre minhas. Após um dia extenuante de trabalho, ia para casa sabendo que, no dia seguinte, haveria mais e mais decisões. O sentimento de solidão muitas vezes era devastador.


E você nunca buscou a ajuda de um especialista? Nunca fez análise?


Você diz psicanálise? Tentei, mas não deu certo. Prefiro me analisar em conversas como essa que estamos tendo aqui, agora.


Pode ser delírio meu, mas faço uma ponte entre o seu filme e O Destino do Poseidon, de Ronald Neame, de 1972. Aquele filme discute o conceito cristão da assunção, por meio do grupo que sobe por dentro do navio emborcado, sob a liderança do padre. A ascese termina quando eles chegam ao topo e existe ali o aço, como limite intransponível. O ateísmo do diretor o leva a propor uma solução humanista – é a mão do homem, do exterior, que salva aqueles personagens. Você, de certa maneira, inverte isso. Quando Lois, o marido e o filho ficam presos no navio, eles batem desesperados no vidro e nós os vemos ir a fundo. É Superman quem os resgata, com seus superpoderes. Me parece que você busca sempre uma paráfrase bíblica, identificando Superman ora com o Pai, ora com o Filho, como Deus e o Cristo.


É interessante, mas interpretar os super-heróis do ponto de vista da religião e da teologia não é uma coisa nova. Existe até um livro, The Gospel According to the Superheroes. Falemos do velho Poseidon. Foi um filme que me marcou muito. Era criança e viajava com meus pais quando fomos vê-lo. Quando percebi que a personagem de Shelley Winters ia morrer, aquilo me deixou muito agitado. Foi minha primeira experiência com a morte, acho eu. Meu pai percebeu e me propôs que fôssemos comprar pipoca. Perguntou se eu queria ficar com ele no lobby, comendo nossas pipocas. Foi o que fizemos e eu só vi o filme completo anos depois. É preciso somar a isso outra impressão. Em outra viagem, um amigo e eu contratamos um minissubmarino. À medida que descíamos, eu sentia o esmagamento daquelas toneladas de água. Foi de novo um sentimento de morte. Quando escrevi o roteiro, a soma das duas experiências, uma de forma consciente, a outra talvez mais inconsciente, terminaram por se integrar nessa cena específica.


Sempre existiu o segredo da dupla personalidade de Clark Kent/Superman, mas o seu herói parece possuir mais segredos. Toda aquela cena em que Clark, na redação do jornal, vê a subida de Lois pelo elevador, é rica de significados.


Um filme é feito sempre três vezes. No roteiro, na filmagem e na edição. Essa cena surgiu no script, mas foi sendo perfeccionada porque sempre achei que era uma das mais importantes na estrutura dramática do filme. É o momento em que Lois e Clark/Superman começam a compartilhar seus pequenos segredos. Ele sabe que ela está subindo para o terraço sob uma profunda comoção. Sabe que ela vai fumar. O encontro com Clark antecipa o de Lois com o Superman, quando surge a cobrança por aqueles cinco anos de afastamento, durante os quais ela ficou sozinha e reconstruiu a vida. Mais tarde, quase como um contraponto, Superman vai usar de novo a supervisão para ver a família no interior da casa. Não quero parecer pretensioso, mas esse é um filme de personagens, mais do que um filme de ação. Foi pensado e desenvolvido para ser assim.


Você gravou inteiramente o filme em digital. Por que?


Inicialmente, a idéia era fazer Superman em película, em 35 mm. Mas eu queria uma imagem de 70 mm. Na hora de fazer o teste com Brandon Rough, que interpreta Superman, usamos película, mas, por diversão, eu estava com uma minicâmera e gravei também em digital. Mais tarde, olhando as duas imagens com o diretor de fotografia percebemos que o digital fornecia uma qualidade muito próxima à dos 70 mm que eu tanto queria. George Lucas já havia feito Star Wars 3 com uma supercâmera em digital, que ele usou para partes do filme, apenas. Eu resolvi usar para toda a duração da filmagem. Tivemos, portanto, uma gravação. Não me arrependo. Concordo, integralmente, quando dizem que o futuro do cinema é o digital. Isso poderá trazer toda uma revolução no método de fazer e exibir cinema, mas eu acho que o grande, o maior desafio, será sempre a questão do conteúdo. A serviço de que estamos colocando nossa tecnologia? Que tipo de histórias queremos criar?


A história, portanto, é o principal. A história e os personagens. Quem são seus mestres?


Gosto muito de Superman – O Filme. Usei elementos daquele filme e de Superman 2, também de Richard Donner, para construir o meu Retorno. Se se trata de uma seqüência, é do primeiro filme, que é muito bem narrado, em suas três partes. A primeira tem uma majestade bíblica, a segunda é a mais pura ‘americana’ e a terceira fornece a ação galopante. E o tema do amor já é essencial. Superman pára o tempo para tentar salvar Lois. Dito isso, minhas preferências não são originais. Gosto de Steven Spielberg, de George Lucas, de James Cameron, de Akira Kurosawa. Eles criam histórias, rompem as barreiras da técnica, mas, no final, o que fica são com seus personagens. O cinema, para mim, é a arte de criar personagens. Podem, ser gente como a gente, como em Os Suspeitos, podem ser maiores que a vida, como em X-Men e Superman. O que nos liga ao que vemos na tela é a densidade dos personagens.


Você era esperado no Brasil. Cancelou a viagem à última hora e, por isso, estamos agora, aqui, conversando no México. O que você vai fazer, a seguir?


Vou tirar férias. Preciso parar um pouco. Gosto da minha casa, dos meus amigos e tenho cada vez menos tempo para eles. Mas você pode esperar – minha próxima meta é conhecer mais a América Latina.


Você pediu, há pouco, em espanhol, que fechassem a porta. Aprendeu a falar algumas palavras só por causa dessa viagem?


(Em espanhol.) Oh não. Aprendi a falar a língua há muitos anos, num acampamento. Não pratico muito, mas falo sem dificuldade. Acho a cultura latino-americana muito diferente da nossa, mas rica e fascinante. Vivemos numa época em que, nos EUA, existe uma desconfiança muito grande em relação ao estrangeiro. Acho que isso só favorece a discriminação. Pegue o Superman. Ele é o emigrante definitivo. E faz parte das nossas vidas.


Uma última pergunta. Você viu X-Men 3?


Vi e gostei, Brett (o diretor Ratner) fez um trabalho muito bom. E era difícil, com todos aqueles personagens que eu havia criado e mais os que ele introduziu. Brett é um amigo. Sabe muito mais do que eu sobre quadrinhos. E é um cinéfilo. Ele encheu o filme de referências. Não faria X-Men 3 daquele jeito, mas Brett me surpreendeu. Cinema e quadrinhos são mídias diferentes. Muitos fãs ficaram irritados porque ele tomou liberdades em relação aos personagens. Foi um risco. O preço de arriscar é criar algo novo e forte e isso Brett conseguiu.


O repórter viajou a convite da distribuidora Warner’


 



LITERATURA
Antonio Gonçalves Filho


Câmara Brasileira do Livro diz quem vai para a final do Jabuti


‘A Câmara Brasileira do Livro anunciou ontem a lista dos 10 primeiros colocados das 19 categorias do 48º Prêmio Jabuti, que será entregue em setembro e vai distribuir mais de R$ 120 mil em prêmios. O colunista Daniel Piza, o repórter Bruno Paes Manso e os colaboradores Ruy Castro e Fabrício Carpinejar, os quatro do Estado, estão entre os indicados que passam à segunda fase. Ela vai revelar, no dia 8 de agosto, os nomes dos vencedores. Entre os selecionados nesta apuração estão Milton Hatoum (por Cinzas do Norte, na categoria romance), Mamede Mustafá Jarouche (pela tradução de Livro das Mil e Uma Noites)e Marceline Freire (por Contos Negreiros).


Após dobrar para R$ 30 mil o prêmio para o Livro do Ano (nos gêneros ficção e não-ficção) em 2005, o Jabuti 2006 traz como novidade a duplicação do valor do prêmio para o ganhador de cada categoria, passando de R$ 1,5 mil para R$ 3 mil. O número de categorias também cresceu, passando de 17 para 19. As categorias ciências exatas, tecnologia e informática e economia, administração, negócios e direito, que no ano passado foram unificadas, passam a ser independentes de novo. A CBL também desmembrou as categorias reportagem e biografia, atenta ao crescente número de títulos nos dois gêneros.


Assim, Ruy Castro e Daniel Piza concorrem na categoria biografia por, respectivamente, Carmen (Companhia das Letras), sobre a cantora Carmen Miranda, e Machado de Assis: Um Gênio Brasileiro (Imprensa Oficial). Outros fortes concorrentes estão no páreo, entre eles Carlos Didier, autor de exaustiva pesquisa sobre a vida do compositor Orestes Barbosa (Orestes Barbosa – Repórter, Cronista e Poeta, Agir Editora).


Na categoria reportagem, Bruno Paes Manso concorre com O Homem X (Record). É uma obra oportuna. Nessa reportagem, ele analisa a ação e o discurso dos assassinos em São Paulo, revelando como o negócio criminal se organiza na região. Paes Manso enfrenta fortes concorrentes na categoria, como a dupla Taís Morais e Eumano Silva, autores de Operação Araguaia – Arquivos Secretos da Guerrilha (Geração Editorial) e Lucas Figueiredo (de Ministério do Silêncio, publicado pela Record, editora com mais citações na categoria).


Outra categoria em que a disputa está acirrada é a da tradução. Mamede Mustafá Jarouche concorre com a nova tradução de Ulisses, de James Joyce, feita por Bernardina da Silveira Pinheiro para a editora Objetiva, e com a monumental versão de Rubens Figueiredo para Anna Kariênina, de Tolstói, para a Cosac Naify, cujo cuidado gráfico com suas publicações garantiu à editora paulistana mais indicações na categoria capa (quatro candidatos).


Na categoria poesia foram indicados, entre os dez candidatos, os autores Affonso Romano de Sant’Anna (Vestígios, editora Rocco), Fabrício Carpinejar (Como no Céu & Livro de Visitas, Bertrand Brasil) e Ivan Junqueira (Poesia Reunida, Girafa Editora).’


 




O Estado de S. Paulo


Edição rara de Shakespeare alcança 4 milhões de euros


‘Uma rara edição com as principais obras de William Shakespeare foi vendida ontem em um leilão realizado pela Sotheby’s, em Londres, por mais de 4 milhões. Trata-se de um exemplar conhecido como First Folio, volume publicado após a morte do escritor e que foi a base para as edições posteriores de sua obra. É considerado um dos mais importantes livros ingleses.’


 




BELÍSSIMA
Keila Jimenez


Novela derrapa em audiência na SIC


‘Se por aqui muita gente fazia apostas sobre quem era o filho de Bia Falcão e o mandante do grande plano em Belíssima, em Portugal, a audiência não está nem aí com esses mistérios.


No ar na rede portuguesa SIC, a trama de Silvio de Abreu não vem impressionando em audiência na terrinha desde a sua estréia. Segundo pesquisas locais, sua média varia lá entre 9% e 12%. Passa longe de sucessos da concorrente TVI, que batem a casa dos 17%.


Belíssima termina lá em agosto e, mesmo sem a repercussão alcançada por folhetins anteriores de Silvio de Abreu em Portugal, a mídia local noticiou à exaustão o final da novela exibido no Brasil. Detalhe: desta vez, ao contrário do que aconteceu em A Próxima Vítima, não haverá um destino diferente reservado aos lusos. O desfecho, lá, será como cá.


Mesmo sem muito sucesso entre essa platéia, Belíssima é uma das apostas da Globo Internacional do ano. A trama, que além de Portugal está sendo exibida na Grécia – estreou na semana passada no canal Alpha-Channel -, passa a ser comercializada para outros países a partir de janeiro de 2007 com títulos como Sinhá Moça.’


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 14 de agosto de 2006


SÃO PAULO SOB ATAQUE
Clóvis Rossi


Reféns que o Estado não vê


‘MADRI – Em um esforço sobre-humano, vou acreditar no ministro Tarso Genro quando diz que é ‘irrestrita’ a disposição do governo federal de ajudar São Paulo a enfrentar a crise de segurança. Seria tão obsceno tentar tirar proveito eleitoral de uma situação como a que vive o Estado que não dá para imaginar essa hipótese. Nem o Brasil desceria tão baixo.


Da mesma forma, vou acreditar que o governador Cláudio Lembo recusa a tal Força Nacional de Segurança (que de todo modo não parece ser o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos) porque não considera necessário, não porque prejudicaria a candidatura de seu antecessor.


Dito isto, no entanto, chega a ser imoral a inação das autoridades no caso. O PCC não nasceu ontem. Os ataques a alvos diversos tiveram um auge há pouco mais de dois meses. Os assassinatos de agentes carcerários (para não mencionar ataques a ônibus, bancos etc.) não começaram ontem. Será que ninguém desenvolveu uma idéia, uma que fosse, para tentar garantir a vida da população em geral e dos agentes em particular, além de assegurar também o direito constitucional de ir e vir?


Aliás, para ser bem prático, qualquer plano teria que começar com a demissão sumária do secretário de Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho, capaz de dizer a enormidade adiante reproduzida: ‘Se você comparar [a situação de maio] com o que está acontecendo, houve regresso. Há uma continuidade, mas não em intensidade’.


Mais ‘saulices’: ‘Nós não vamos ficar reféns dessa situação’. Alguém precisa combinar com o rapaz que São Paulo já ficou refém. Quando ônibus deixam de circular, por conta da ação de um grupo, a cidade está refém. Só o responsável pela sua segurança não percebe. Alguma surpresa com a crise?’


 


Eliane Cantanhêde


Contra-ofensiva, enfim


‘BRASÍLIA – Prontidão propriamente não há, mas basta o governador Cláudio Lembo estalar os dedos na reunião de hoje entre ele, o ministro Thomaz Bastos e as duas equipes para que brigadas especiais do Exército sejam deslocadas para São Paulo.


A idéia, mais uma vez, não é botar oficiais e soldados trocando tiros nas ruas com bandidos do PCC. É impor a sensação de que há Estado, há lei, há comando, inclusive com efetivos militares ostensivamente distribuídos pela capital e pelo interior do Estado. Como foi no Rio.


Eles poderão ser usados para uma megaoperação de transferência de presos entre as penitenciárias de dentro e de fora de São Paulo. Além disso, têm recursos especiais para identificar líderes e detectar conversas e intenções. É o que se chama de ‘inteligência’.


Mas o mais importante é que os dois executivos -o governo federal, via Thomaz Bastos, e o estadual, com Lembo- conseguiram ter uma conversa pragmática ontem, descontaminando um plano esquematizado comum do vírus político-eleitoral. Enquanto os partidos (PFL, PSDB e PT) se esgoelam, os dois governos vão tentar operar.


A partir dessa boa notícia, poderão surgir novas no encontro de hoje -como o emprego de equipamentos sofisticados, de efetivos, de recursos. Afinal, já está claro para todo mundo, principalmente para os líderes do PCC, que o governo estadual e até o governo federal, sozinhos, perdem essa guerra.


A grande incógnita é quanto à capacidade de contra-ofensiva da facção criminosa, que até aqui tem surpreendido com modus operandi articulado, ágil e tristemente eficaz. Será um teste de forças, e isso sempre tem um alto grau de risco.


Mas, convenhamos, é melhor fazer algo e dar um basta do que continuar sem fazer nada, todos perplexos, todos derrotados.’


 



Fabiana Leite


Para Lembo, ‘só malandro quer ser governador’


‘Depois de explicar seu desapego ao cargo de governador de São Paulo a jornalistas, Cláudio Lembo (PFL) puxou o gravador da reportagem da Folha ontem à noite e declarou: ‘Só malandro quer ser [governador]!’ Em seguida, fez gestos para a repórter não gravar, mas a frase já tinha sido registrada, o que foi informado ao governador, cada vez mais famoso por seus comentários ácidos ou divertidos.


Depois da declaração, Lembo saiu despreocupado entre assessores, para ser efusivamente recebido para um evento na noite de ontem pelo ator, diretor e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa no teatro Oficina, no centro da capital paulista.


Lembo, ex-colega de Corrêa na faculdade de direito, autorizou ontem o grupo do dramaturgo, o Oficina Usyna Uzona, a usar o teatro, pertencente ao Estado, até que seja aprovada pela Assembléia paulista uma concessão de uso.


O dramaturgo ainda tentou ensaiar uma valsa com Lembo pouco antes de entrar no local, mas o governador seguiu caminhando.


Ansiedade


Pouco antes, Lembo, que se manifestava pela primeira vez sobre a segunda onda de ataques do PCC em São Paulo, voltou a confirmar que está ansioso para deixar o cargo -o que já tinha afirmado há dois meses, na primeira série de ataques.


‘Faltam 170 dias para você ficar livre de mim’, disse o governador, depois de ser provocado por um repórter.


Questionado se o desejo de deixar o governo não denotava um abandono do Estado, o governador pefelista começou a explicar sua relação com o poder.


‘Essa sua pergunta é muito boa. Eu sou um homem que busca governar sem nenhum interesse egoístico. Eu disse no primeiro dia que cheguei: foi o acaso que me levou ao governo de São Paulo, tenho uma carreira curta no governo’, disse Lembo.


‘Claro que estou fazendo o possível, mais do que o possível, para preservar a disciplina, para preservar a boa administração, a administração honrada, ética, e faço isso com grande satisfação, me sinto muito homenageado, mas também, como um bom velhinho, preciso me retirar’, continuou o governador. ‘Só malandro quer ser [governador]!’, encerrou.’


 


Luis Nassif


Lembo no reino dos espertos


‘O GOVERNADOR Cláudio Lembo é dotado da boa-fé dos justos, quase até o limite da ingenuidade. Quando ocorreu a primeira invasão do PCC, percebeu logo de cara que tinha sido vítima de uma esperteza de seu antecessor, Geraldo Alckmin, que deixou estourar no seu colo a bomba da transferência para presídio de alta segurança das lideranças do PCC.


Hoje, livre da batata quente, o ex-governador Alckmin continua criando máximas clássicas, como a de que a melhor maneira de combater o controle do PCC sobre os presídios é ‘atuar com inteligência, persistência e prender as lideranças do crime’… que controlam os presídios justamente por já estarem presas.


Depois, caiu na esperteza do secretário Saulo de Castro Abreu Filho, capaz de gastar 90% do tempo trabalhando explicações para justificar o que não conseguiu nos 10% restantes. Saulo criou o paradoxo do sucesso explosivo: quanto maior a eficiência das forças de repressão, maior a reação dos bandidos. A consagração virá, provavelmente, quando os criminosos conseguirem explodir a avenida Paulista.


Sua avaliação para a segunda onda do PCC é outro clássico: ‘Se comparar a situação de maio com a que está acontecendo, houve regresso. Há uma continuidade, mas não em intensidade. Isso simboliza que as pessoas não estão obedecendo cegamente, que a tal liderança começou a ser questionada e, na hora em que começa a ser questionada, a liderança perde força. Perdendo força, acabou’. A última estatística falava em 106 ataques.


Aí o governador percebe que tem muito esperto no seu entorno e volta os olhos para o amigo Lula. Trata-o com deferência, convida-o a visitar o Palácio dos Bandeirantes. Em retribuição, Lula anuncia publicamente sua intenção de ajudar São Paulo a combater o crime -a maneira mais eficiente e deselegante de evitar qualquer pedido de ajuda e deixar o amigo em má situação. Só aí Lembo provavelmente se deu conta de que Lula também é esperto. Tão esperto que, quando foi anunciado o Sistema Único de Segurança, no início do seu governo, tratou de afastar de si esse cálice, para não correr o risco de dividir o ônus de problemas de segurança com os governos de Estados. Preferiu a comodidade atual: a cada crise, ele oferece publicamente a ajuda da onipresente força especial de segurança.


Ao seu lado, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, reitera a oferta de ajuda e se permite criticar a ‘falta de inteligência e de gestão’ da polícia paulista. Ele tem na Polícia Federal um cérebro sem tronco e membros. Por baixo das ações espetaculares, tem-se uma PF sem gasolina para os carros, sem equipamentos básicos para seus escritórios, sem quadros para vigiar a fronteira, uma força que vive de ações tópicas.


A única coisa que falta a São Paulo é um delegado Paulo Lacerda. Nesse reino de espertos, sobrou apenas a boa-fé do governador Lembo. Que a conserve, não grande o suficiente para ser confundida com ingenuidade, mas na proporção exata de quem, em todo esse episódio, parece ser o único homem público sério, que não tenta tirar nem o corpo nem se prevalecer do desastre.’


 



FICÇÃO REAL
Nelson Motta


Bia Falcão em Brasília


‘RIO DE JANEIRO – Muito além do entretenimento, as novelas no Brasil ganharam também a função de intermediar as relações humanas. Tornou-se um hábito nacional usar os personagens e a trama de uma novela para falar de si mesmo, de seus gostos e desgostos, do que faria ou não em tal circunstância, com qual dos dois ou das duas ficaria. Assim, as pessoas se revelam muito mais quando falam sobre a novela -protegidas pelos personagens- do que se falassem de si mesmas.


Para isso as novelas precisam de personagens que provoquem grande identificação nos mais diversos segmentos sociais e façam deles seus representantes. Sempre foi assim: os triângulos amorosos, os ricos e os pobres, os mocinhos e vilões. No final, os bons sempre vencem e os maus são castigados, depois de cumprirem a missão de canalizar o ódio, a frustração e o ressentimento do público para personagens de ficção, que são xingados e malhados todas as noites como Judas de Sábado de Aleluia, enquanto os vilões da vida real dormem sossegados.


Sempre foi assim, mas agora é diferente, é muito pior. Não é surpresa. No Brasil do mensalão e dos sanguessugas, da mentira, do cinismo e da impunidade, os vilões da novela ‘Belíssima’, um grande sucesso de audiência, não só foram perdoados como eleitos os favoritos do público. Atendendo o desejo popular, o autor usou seu talento para dar um final feliz à grande vilã que em toda a história das novelas sempre morreu ou foi duramente castigada.


E por que seria, se ninguém é? Se o STF jamais em sua história condenou um parlamentar, se poucos mensaleiros confessos foram nem sequer cassados, se Severino está em campanha e os assassinos ricos continuam soltos ? Bia Falcão deveria ter acabado como deputada em Brasília.’



 


CAMPANHA
Letícia Sander


TSE escolhe critério que dá a Alckmin mais tempo na TV


‘O tucano Geraldo Alckmin terá 23 minutos a mais do que o seu principal adversário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cada semana de propaganda eleitoral no rádio e na TV. Ontem, o TSE definiu a divisão do tempo a que cada candidato à Presidência tem direito, adotando uma interpretação que é mais benéfica a Alckmin.


As propagandas dos presidenciáveis irão ao ar em dois programas de 25 minutos cada um, às terças, às quintas e aos sábados. Eles também dividirão seis minutos diários de inserções, nos 45 dias de campanha eleitoral.


Nos blocos de 25 minutos, Alckmin ocupará 10 minutos e 22 segundos. Já Lula terá 7 minutos e 21 segundos.


Nas inserções, o tucano terá 2 minutos e 29 segundos por dia contra 1 minuto e 46 segundos de Lula.


O TSE decidiu levar em conta, na divisão do tempo, a bancada de deputados federais eleita em outubro de 2002, e não a da posse, interpretação adotada até a eleição passada. O cálculo antigo prejudicaria Alckmin, pois PSDB e PFL perderam 16 deputados entre a eleição e a posse. Já PT e PC do B só perderam um.


‘Me parece o mais lógico. Do contrário, o partido vira barriga de aluguel’, defendeu ontem o ministro José Gerardo Grossi. A princípio, o PT não deve recorrer para tentar reverter a decisão.


Juntos, Lula e Alckmin terão mais do que o dobro do tempo de todos os candidatos reunidos. Cristovam Buarque (PDT) é o terceiro com mais tempo de rádio e TV. Ele terá, a cada semana, 18 minutos e 25 segundos.


Logo depois, empatados, estão Luciano Bivar (PSL) e José Maria Eymael (PSDC) que terão a cada semana 9 minutos e 36 segundos. Por último, também empatados, estão a Heloísa Helena (PSOL) e Rui Costa Pimenta (PCO). Eles terão 9 minutos e 9 segundos por semana.’


 




TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Abaixo da cintura


‘Início da noite, diz a manchete no site de ‘O Estado de S. Paulo’ que ‘Serra e vice de Alckmin insinuam haver ligação do PT com os ataques do PCC’. Mesmo horário, na manchete do UOL, ‘Alckmin ‘estranha’ a onda de ataques e pede apuração’.


Tudo começou quando, no dizer do blog de Josias de Souza, o pefelista Jorge Bornhausen ‘socou abaixo da cintura’ ontem na Folha, falando que ‘o PT pode estar manuseando, manipulando essas ações’.


O petista Tarso Genro se recusou a responder, no blog, ‘declarações de um quilate tão rebaixado, de uma postura tão caluniosa’.


NENHUM ÔNIBUS


A exemplo de dois meses atrás, insiste a Globo que os civis resistam aos ataques.


Nos intervalos da tarde, bateu sem parar que ‘o prefeito determinou que os ônibus voltem a circular às quatro’.


Às 16h, ‘vamos ver se a determinação está sendo cumprida’. Num terminal, ‘como a gente vê aí, nenhum sinal, tudo parado, nenhum ônibus, nem sequer estacionado’.


UM ÔNIBUS SOLITÁRIO


Vem a noite, começa o ‘SP Record’ e conta no terminal, do alto, ‘um ônibus solitário’.


Começa o ‘SPTV’. Sobre o terminal, do Globocop, ‘totalmente vazia ali, a plataforma onde deviam estar os ônibus’. No bloco final, surge ao vivo o ex-secretário de Celso Pitta, digo, o repaginado prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab:


– Evidentemente, é um processo gradual… Amanhã eles circularão normalmente.


‘FIRST COMMAND’


Do ‘Washington Post’, ontem, abrindo texto à pág. A20:


– A gigantesca gangue de prisão do Brasil, ‘the First Command of the Capital’, mostrou que ainda opera sem controle do governo, lançando ataques em São Paulo, em protesto contra superlotação.


E no título do espanhol ‘El País’, ‘São Paulo sofre outra onda de ataques organizada pela máfia carcerária’. Em outras palavras, ‘el Primer Comando de la Capital’.


MORTO VIVO


No blog de Josias de Souza, uma indicação do estopim. A certa altura do depoimento à CPI de Armas, Marcola pediu:


– Posso fazer uma pergunta? Pode ser em off, entre nós?


Desligaram o gravador e ele quis saber ‘como é o regime de Catanduvas’. É o presídio federal para onde ele pode ser mandado, dito ‘supermax’, ‘Super Maximum Security’.


Lá, falaria por parede de vidro, sob monitoramento etc. No título do blog, ‘Líder do PCC temia virar ‘morto vivo’.


A LIÇÃO


De Gilberto Dimenstein, na Folha Online, ontem, sob o título ‘A boa lição do PCC’:


– Quando mais se prende, mais vulnerável fica a sociedade, isso porque o PCC se torna ainda mais forte. Quando mais se pede tratamento desumano aos presos, mais e mais somos nós as vítimas.


De Paulo Mesquita, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, ao site Carta Maior:


– Políticas cujo único objetivo parece ser o encarceramento são insustentáveis. Num Estado com as dimensões de São Paulo, isso só vai levar a crises e mais crises.


OUTRO LADO


O ex-secretário do governo FHC para segurança não pára. Ontem, lá estava ele no programa de Ana Maria Braga e nas rádios. Cobrou verbas do governo Lula, questionou a Força Nacional, o de sempre.


ATENTADO E REVOLTA


No fim da escalada de manchetes do ‘Jornal Nacional’, ‘Israel volta a bombardear o Líbano, e uma família de brasileiros morre durante os ataques’.


À tarde, na reportagem da Globo, houve destaque para as ‘lágrimas de dor e revolta’, mais uma descrição pouco usual para ‘o bombardeio israelense’:


– No atentado, morreram o menino Hadi, de 8 anos, e Fátima, de 4 anos.


À noite, no ‘JN’, nem atentado nem revolta.’


 




ACORDO DESFEITO
Folha de S. Paulo


Tribunal da União Européia anula fusão entre Sony e BMG


‘Um tribunal da União Européia anulou a decisão que permitia a fusão entre as gravadoras BMG e Sony. Para o Tribunal de Primeira Instância, em Luxemburgo, a Comissão Européia (o ‘braço’ executivo do bloco) ‘cometeu um erro claro de avaliação’ ao autorizar o acordo em 2004. Segundo a Corte, não houve análise suficiente para determinar se a fusão poderia criar um monopólio no setor fonográfico.


Com a decisão de ontem, a comissão deverá analisar novamente a transação que formou a segunda maior empresa do setor e determinar se irá aprová-la novamente, se irá impor condições mais duras ou dará fim ao acordo. Um porta-voz disse que o organismo estudará o caso ‘com muito cuidado’ e reexaminará o negócio segundo as condições atuais de mercado. Ele afirmou que um novo parecer poderá demorar até quatro meses para ser apresentado.


A Sony e a empresa detentora da BMG, a alemã Bertelsmann, disseram que estudarão o processo e discutirão os próximos passos com a Comissão Européia. As duas empresas afirmaram que não acreditam que a decisão do tribunal afetará a parceria. ‘O julgamento não afeta a validade da joint venture Sony BMG’, declarou a Bertelsmann.


A anulação da fusão afetou alguma das principais concorrentes da Sony BMG. Tanto a EMI, a terceira maior gravadora do mundo, como a Warner (a quarta maior) viram despencar os preços de suas ações. A primeira teve uma queda de 9,2% no valor de seus papéis, e a segunda, de 15,7%.


A desvalorização foi provocada pelo temor do mercado de que a fusão estudada pelas duas empresas também não será aceita pela UE. Caso confirmado, o acordo formará uma companhia fonográfica com cerca de 25% das vendas do setor, superada apenas pela Universal.


O recurso contra a fusão foi apresentado por um grupo de 2.500 gravadoras independentes que alegaram que a união entre Sony e BMG reprimiria o surgimento de novos artistas e reduziria a concorrência no mercado.’


 




TELINHA
Daniel Castro


Ministério libera beijo gay a adolescentes


‘Apesar de ainda ser um tabu em grandes redes, como a Globo, cenas de beijos entre homossexuais podem ser exibidas pela TV em qualquer horário. Essa é a interpretação do Ministério da Justiça, a quem compete fazer a classificação indicativa dos programas.


Em despacho de anteontem, o ministério classificou como livres (qualquer horário) as eventuais edições gays do ‘Beija Sapo’, programa de namoros apresentado por Daniella Cicarelli na MTV (sextas, 19h).


A atração havia sido classificada como livre sem distinção de héteros de gays. Porém, o promotor da Infância e Juventude de São Paulo, Motauri de Souza, recomendou à MTV que pedisse nova análise do Ministério da Justiça apenas do ‘Beija Sapo’ com gays e lésbicas.


O ministério chegou a cogitar inaugurar com o ‘Beija Sapo Gay’ a nova faixa de 10 anos, prevista no novo Manual de Classificação Indicativa, lançado há uma semana. Mas o ‘Beija Sapo Gay’ de 2005 foi visto por dez analistas, que concluíram não haver nenhuma inadequação em seu conteúdo, ou seja, ele não pode ser contra-indicado para menores de 10 anos.


‘Dentro do novo manual, que valoriza os direitos humanos, beijo é apenas beijo, seja ele por casal heterossexual ou homo’, diz José Elias Romão, diretor do departamento de classificação indicativa. A MTV gravará agora um ‘Beija Sapo’ só com rapazes e outro só com garotas.


TERROR LIGHT 1 Com uma cobertura mais discreta por parte da Record e da Globo, os novos ataques da facção criminosa PCC não estão levantando a audiência das TVs, ao contrário do que ocorreu em 15 de maio.


TERROR LIGHT 2 Anteontem, a média de televisores ligados na Grande São Paulo das 7h às 24h foi de 44%. Na quarta-feira anterior, tinha sido de 47%.


DATENA SAI DE CENA Apresentador do ‘Brasil Urgente’ (Band), que não abafou os novos ataques do PCC, José Luiz Datena vai sumir por algum tempo do vídeo. Vai passar por uma cirurgia para retirada de um nódulo no pâncreas. Antes, viajará para Roma. ‘Não só irei ao Vaticano como rezarei muito’, brinca o jornalista.


PROTESTO 1 A Assembléia Legislativa do Piauí aprovou pedido de informações à Record sobre o personagem Piauí (Roberto Bontempo), vilão de sua próxima novela (‘Bicho do Mato’).


PROTESTO 2 Os parlamentares temem que a ‘péssima reputação’ de Piauí, que ‘será ladrão e traidor’, ‘ridicularize’ o Estado nordestino. A Record não quis comentar o assunto.


FAMOSO QUEM? Muita gente que passou ontem de manhã pela Candelária, no Rio, onde era gravado o seriado ‘CSI: Miami’, não tinha a menor idéia do que se tratava. Algumas pessoas queriam saber de qual novela era a gravação. Outras nem sabiam o que é ‘série’? Mesmo assim, a produção expulsava fotógrafos.’


 




CABEÇADA
Folha de S. Paulo


Fifa coloca Materazzi e Zidane frente a frente


‘Os dois principais personagens da final da Copa do Mundo da Alemanha vão se reencontrar em campo neutro na próxima quinta-feira, em Zurique. Convocados pela Fifa para uma acareação, Zidane e Materazzi estarão frente a frente e terão de explicar o episódio em que se envolveram -que teve como conseqüência a cabeçada e a expulsão do francês.


A entidade que comanda o futebol mundial, que já havia decidido investigar a agressão, agora voltou-se contra o defensor italiano graças às declarações do meia francês dadas a duas emissoras de televisão.


Segundo a Fifa, o processo disciplinar contra Materazzi foi aberto a partir da entrevista de Zidane, que acusou o adversário de insultar sua mãe e sua irmã com ‘palavras duras’ antes do tresloucado gesto que surpreendeu o mundo.


A decisão vai ao encontro do que pretendia o francês. ‘As pessoas olham a reação, não a ação. É preciso punir o culpado. O verdadeiro culpado é aquele que provoca’, afirmou na TV.


O tetracampeão mundial decidiu se antecipar e vai comparecer hoje à sede da Fifa para um depoimento preliminar. Ele será acompanhado por um dirigente da federação italiana.


Zidane deverá encaminhar uma declaração por escrito até a próxima terça-feira. Uma cópia será remetida a Materazzi, e ambos se encontrarão dois dias depois para a conclusão do processo. A divulgação das penas só vai ocorrer no dia 21.


O zagueiro -que tatuou a Taça Fifa na coxa esquerda, além do ‘23’, número de sua camisa na Copa, no braço- fez política de boa vizinhança e tentou se reaproximar do francês ao dizer que Zidane mereceu ganhar a Bola de Ouro no Mundial.


‘Ele ganhou pelo que fez dentro de campo. Ele foi o melhor da Copa’, afirmou.


Apesar de demonstrar despreocupação, a federação italiana acompanha o caso com interesse e bem de perto.


É que, pelo estatuto da Fifa, se ficar comprovado que o jogador da Azzurra insultou Zidane com palavras de cunho racial ou político, a seleção poderia ser punida. É uma hipótese remota que inclui perda de pontos e suspensão internacional.


Materazzi apareceu ontem no treinamento da Inter de Milão, seu clube, e foi saudado por torcedores. O time apresentou também Grosso, autor do gol de pênalti que assegurou o título.


O juiz da partida, o argentino Horacio Elizondo, confirmou que não ouviu as ofensas e que foi alertado por um de seus auxiliares sobre a agressão.


‘Eu estava de costas em outro lugar do campo e não ouvi a conversa entre os dois jogadores. Quando vi Materazzi no chão, parei o jogo na hora.’


Foi o espanhol Luis Medina Cantalejo -quarto árbitro da decisão- quem avisou o assistente Darío Garcia.


Elizondo reconheceu que a atitude do francês foi ‘absolutamente inesperada’ e que não imaginou que expulsaria o astro justamente na última partida da carreira do ex-atleta. Segundo o árbitro, Zidane disse que o juiz poderia ficar tranqüilo, ‘porque o que eu fiz mereceu mesmo o cartão vermelho’.


O jornal italiano ‘Gazzetta dello Sport’ publicou em sua edição de ontem que Zidane ofendeu o juiz uruguaio Jorge Larrionda na semifinal do Mundial, contra Portugal.’


 




Folha de S. Paulo


Irmã do francês foi modelo e mora na Itália


‘Origem do bate-boca que descambou para uma das cenas mais incríveis de todas as finais de Copas do Mundo, Lila Zidane, 36, mora em Turim desde que o irmão famoso foi contratado pela Juventus, o clube poderoso da cidade, na década de 90.


A irmã do craque francês -insultada pelo italiano Materazzi no gramado do Estádio de Berlim, no domingo- chegou a trabalhar como modelo em pequenos eventos publicitários.


Hoje, porém, é uma espécie de gestora dos negócios do astro fora dos gramados. Ela e os outros irmãos -Madjid, Farid e Nordine- cuidam da ‘Zidane Diffusion’, empresa que administra a imagem multimilionária do ex-jogador -cujos contratos de publicidade não se encerrarão antes de 2017.


Lila sempre foi muito próxima de Zidane, que tem 34 anos. Na biografia do craque, ela conta que ambos costumavam brincam juntar. ‘Eu, de Mulher Maravilha, e ele, de Homem-Aranha.’’


 




CINEMA NACIONAL
Silvana Arantes


Festival de Gramado aposta em renovação para escapar da crise


‘O Festival de Gramado inicia daqui a um mês sua 33ª edição (14/8 a 19/8), tentando espantar o fantasma da decadência.


Nos últimos anos, a mostra gaúcha assistiu à diminuição de seu prestígio e importância no cenário dos festivais nacionais. O sinal mais evidente da insignificância de Gramado para os filmes que premia é a tímida bilheteria obtida nos cinemas pelos recentes vencedores do Kikito, troféu-símbolo do festival.


A superprodução ‘Gaijin -Ama-me Como Sou’, de Tizuka Yamasaki, que arrebatou quatro Kikitos no ano passado (incluindo os de melhor filme de ficção e direção), fez uma carreira decepcionante nos cinemas: com 52,8 mil espectadores, amargou um 15º lugar no ranking dos filmes nacionais mais vistos em 2005, segundo dados da empresa Filme B, voltada aos números do mercado cinematográfico.


A boa notícia para Gramado é que a crise dos festivais é geral, conforme avalia o crítico José Carlos Avellar, contratado como consultor pela mostra gaúcha, para reformular sua programação, a partir deste ano.


Avellar afirma que ‘o modelo de festival de cinema típico dos anos 60, que reúne em competição filmes representantes de diversos países e premia um deles, era eficaz naquele momento’. Não mais. Na era do DVD, o consumo de cinema segue outras regras, e um prêmio em festival deixou de ter efeito certo sobre o espectador.


A solução que Avellar propôs a Gramado vai par e passo com iniciativas adotadas por festivais internacionais. ‘A primeira grande transformação foi incluir mostras paralelas à disputa oficial, como fizeram Cannes e Veneza’, diz. O passo seguinte desses e de outros festivais, como os de Toulouse (França) e San Sebastian (Espanha), ‘foi tornarem-se parceiros dos diretores’, seja oferecendo prêmios à produção de filmes ou bolsas de residência para desenvolvimento de roteiros.


Esse é um caminho que Gramado quer seguir, paulatinamente. As mudanças imediatas desta edição -cuja programação foi divulgada nesta semana (leia quadro à dir.)- incluem um prêmio à difusão do filme vencedor, ou seja, auxílio financeiro para o lançamento nos cinemas, e a instituição de um júri popular com um número fixo de membros que avaliem todos os títulos da disputa.


O novo júri popular substitui o formato até então adotado por Gramado, cujos votantes eram ‘as pessoas presentes em cada sessão’, como define Avellar. Um formato que, na prática, dava a impressão de tornar vencedor o filme cujo diretor levasse mais amigos à sessão.’


 




SUPERMAN – O RETORNO
Marco Aurélio Canônico


Ataques? Chamem o Super-Homem!


‘PCC? Atentados em São Paulo? Chamem o Super-Homem! Ele pode não resolver o problema da Segurança Pública, mas garantirá 154 minutos de diversão. Quase 20 anos após sua última aparição no cinema, o super-herói que é o maior símbolo de poder, virtude e, para muitos, do ‘american way of life’, está de volta à velha forma.


‘Superman – O Retorno’ traz novamente aos moradores da fictícia Metrópolis o alienígena Kal-El -mais famoso na Terra como Clark Kent ou, quando em collant azul e sunga vermelha, como Super-Homem.


Dirigido pela jovem estrela ascendente Bryan Singer (de ‘Os Suspeitos’ e dos dois primeiros ‘X-Men’) e com um elenco que mistura iniciantes (Kate Bosworth, Brandon Routh) e veteranos (Kevin Spacey, Frank Langella), a nova aventura do homem de aço mostra o herói voltando à Terra após cinco anos de busca por seu passado nos vestígios de seu extinto planeta, Krypton.


A velha capa vermelha, bem como os óculos do desajeitado repórter Kent, são envergados desta vez por outro novato (como Christopher Reeve quando entrou no papel em 1978), o ex-garçom Brandon Routh.


Em entrevista coletiva em Londres, que contou com Spacey (o novo Lex Luthor) e Bosworth (a rejuvenescida Lois Lane), Routh e Singer falaram sobre o processo de escolha do ator para o mítico papel.


‘Precisava de alguém que representasse a memória que todos tinham do Super-Homem’, disse Singer. ‘Ao conversar com Brandon, notei nele aquele jeito calmo e aquela ética típicos de uma criação de interior, assim como Clark Kent.’


Também chama a atenção a enorme semelhança física entre o ator e o estereótipo do Super-Homem -é difícil não confundir Routh com Reeve.


‘Tinha consciência do legado do Super-Homem e de Christopher Reeve no papel, por isso fui cuidadoso, respeitoso. Mas, se me preocupasse em estar à altura do personagem, não teria feito o filme’, disse Routh.


A tarefa de mexer com um legado de 68 anos -o personagem foi criado por Jerry Siegel e Joe Shuster em 1938- não assustou Singer, que reformulou Lois Lane. ‘Fazendo ‘X-Men’, aprendi que sempre surge expectativa quando você mexe com aspectos tradicionais dos heróis. Neste caso, achei que era necessário introduzir esse cenário em que Lois Lane é casada e tem filho. É um inimigo emocional para o herói, mais poderoso do que a kryptonita.’


O diretor também destacou sua ligação pessoal com o personagem -ambos são adotados e filhos únicos. ‘Sempre me senti ligado ao Super-Homem, por isso eu precisava contar a história dele ao meu modo.’


Seu modo dá ênfase ao aspecto emocional e humano dos personagens em detrimento da ação desenfreada. Também inclui a participação de velhos amigos, como o ator Kevin Spacey, a quem lançou para a fama em ‘Os Suspeitos’ (1995).


Spacey, um ator com formação teatral e dois Oscar na prateleira, desdenhou do fato de participar de seu primeiro ‘blockbuster’. ‘Se foi bom para Marlon Brando, também é para mim’, disse o ator, em referência à participação de Brando no filme de 1978 (ele também aparece no novo ‘Superman’).


Pode até ser bom o suficiente, mas Spacey se espantou com o esquema industrial. ‘É meio bizarro, é a primeira vez que participo de um filme desse tipo, que gera infinitos produtos. Foi estranho entrar num supermercado e ver minha cara numa caixa de cereal.’’


 



Inácio Araujo


Retorno do herói é atrevido e divertido


‘O Super-Homem está de volta, é verdade.


Mas o herói que atravessou o século 20 com brio, das histórias em quadrinhos ao cinema, volta transformado.


Ele quase explode de vaidade, diante do aplauso popular, após um salvamento espetacular. Ele dedica-se ao mais vil voyeurismo, acompanhando cenas da vida conjugal de Lois Lane. Seu lado humano desta vez estará mais nele do que em seu alter ego jornalista, Clark Kent.


Também Lois está mudada neste ‘Superman – O Retorno’. Com o sumiço do Super-Homem, ela topou ficar com um homem comum -outro jornalista. Teve um filho chamado Jason, ao qual não pode se dedicar direito. Lois virou uma mulher frustrada, maníaca por alimentos saudáveis, fumante às escondidas e manipuladora.


Melhor sorte teve Lex Luthor. Além de ser interpretado por Kevin Spacey, se livrou da prisão perpétua e almeja fazer o que fazem arquivilões: dominar o mundo.


Singer introduz o século 21 ao Super-Homem pelo viés de uma crítica feroz. E fazer dele uma celebridade vaidosa talvez não seja o aspecto mais agudo desse criticismo.


Por outro lado, existe o cinema, esse criador insaciável de mundos paralelos. Luthor acredita no poder da imagem: sempre leva um auxiliar ao seu lado com uma câmera ligada. Quando expõe seus planos perversos, o faz diante de uma cidade de brinquedo -uma maquete.


Breve, é como se Singer questionasse o cinema por seu pecado de criar mundos falsos e deixar de lado o verdadeiro. Pois o cinema, como Luthor, ambiciona criar o que não existe, dar vida a mundos inexistentes.


Se no final o filme cai um pouco, não é nada que comprometa a alegria de ver uma grande produção tão inventiva e atrevida.’