Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Agência Carta Maior

SINDICALISMO
Agência Carta Maior

CUT debate influência da mídia sobre trabalhadores, 2/11

‘SÃO PAULO – O Coletivo de Formação Política da CUT-SP promove, dia 6 novembro, das 9 às 13 horas, um debate intitulado ‘A mídia (ainda) faz a cabeça dos trabalhadores?’. A atividade será realizada no auditório da CUT-SP (rua Caetano Pinto, 575, Brás, São Paulo), sendo destinada para secretários de formação de sindicatos, dirigentes sindicais, militantes dos movimentos sociais e demais interessados no tema.

Participarão do debate Renato Rovai (revista Fórum), Eduardo Guimarães (presidente do Movimento dos Sem-Mídia), Paulo Salvador (Revista do Brasil) e Lula Miranda (colaborador da Carta Maior e secretário de Formação para a Cidadania do Sindicato dos Trabalhadores em Editoras de Livros do Estado de SP). Os organizadores do evento propõem o debate das seguintes questões:

1 – A mídia brasileira é conservadora e ‘golpista’?

2 – A grande mídia é utilizada pelos grupos dominantes como mantenedora do status quo?

3 – De que forma os sindicatos podem utilizar-se da mídia como ferramenta na formação de seus dirigentes e associados?

4 – De que forma a mídia (e que mídia?) pode ajudar na luta dos trabalhadores na busca pela manutenção de seus direitos (bem como na luta por novas conquistas)?

5 – De que forma os sindicatos podem combater a mídia oligopolista e ajudar/incentivar a manutenção de mídias alternativas?

6 – Quais são os veículos da mídia que defendem verdadeiramente os interesses dos trabalhadores e dos movimentos sociais?

7 – O que vem a ser o Movimento dos Sem-Mídia (MSM)? Quais as suas propostas?

Maiores informações pelo telefone (11) 2108-9200′

GUERRA AO TERROR
Gilson Caroni Filho

Estados Unidos, uma lição de barbárie, 4/11

‘Quando George W. Bush acena com a redução gradual de soldados no Iraque, mas se recusa a promover uma mudança radical de estratégia, afirmando que a presença militar americana continuará após sua saída da Casa Branca, que leitura se pode fazer? O ocaso do império e a perda de dinamismo da economia serão inversamente proporcionais à ferocidade de seu papel de polícia do mundo, por mais desmoralizado que ele se encontre. Uma vez instalada, a barbárie não retrocede aos apelos kantianos por uma paz perpétua. Não nos iludamos com o médio prazo. Tentemos aprender com as lições recentes.

Os saques promovidos contra o Museu Nacional de Bagdá, em 2003, não devem ser debitados apenas à ‘negligência’ das forças de ocupação anglo-americanas. A destruição de tesouros arqueológicos das civilizações que viveram às margens do Tigre e do Eufrates foi, talvez, o mais emblemático ato da invasão imperialista. A mais significativa aplicação prática da doutrina expressa no ‘Project for New American Century’: o avanço sobre destroços. Não como conseqüência inelutável de confronto surgido em uma conjuntura inesperada, mas como premissa de expansão mundial, calcada na supremacia militar e no fundamentalismo neoconservador que empolgou o poder norte-americano. Bush é Deus e Paul Wolfowitz (lembram dele?) seu profeta.

A terra arrasada será sempre a do ‘outro’, dos bárbaros, dos que não foram ‘eleitos’ dentro dos cânones pentecostais para purificar o mundo. Os predestinados têm algo a destruir para preservar os interesses nacionais. O que precisava ser eliminado não eram apenas o Iraque, muito menos o Irã, Coréia ou Cuba.

O verdadeiro ‘eixo do mal’ é, na ótica do império, a civilização e sua história. Quanto menos vestígios, maior a possibilidade de êxito da desconstrução em andamento. Francis Fukuyama, apesar do arrependimento, terá, custe o que custar, dado a palavra final. E será o final da palavra. A vida, tal como prenunciou Macbeth, será uma história cheia de som e fúria contada por um idiota e que, no fim das contas, nada significará.

Superpotência condenada por debilidades estruturais de sua economia, os Estados Unidos convivem com crescente perda de hegemonia mundial. A incapacidade – apesar do colossal aparato midiático – de universalizar os seus interesses específicos se dá em um cenário de gigantescos déficits fiscais e comerciais, dependência de aportes de capitais europeus e asiáticos , além da necessidade de ampliação de reservas petrolíferas para atender à demanda doméstica. Tais fatos, somados às deformações constitutivas apontadas por Tocqueville, explicam o fim do regime republicano no maior país capitalista do mundo e a lógica da barbárie que se avizinha.

Assistimos, nas duas gestões de George W. Bush, a um retrocesso histórico-político sem precedentes. O capital, autonomizado da política, faz tábua rasa dos preceitos mais elementares da modernidade. No coração do Império, a distinção, tão cara ao republicanismo, entre ‘Imperium’ e ‘dominium’ se esfuma na absorção da sociedade política pela lógica do mercado.

O patrimonialismo, quem diria, se instalou fagueiro na terra do Tio Sam. O establishment se descolou da democracia, vista como obstáculo à governabilidade. Fraturada a hegemonia, só restou avançar fazendo ouvidos moucos à opinião pública mundial. Nunca caminhamos tão celeremente de volta ao estado de natureza hobbesiano. A ironia está no Estado Policial como avalista do esfacelamento da sociedade civil. De momento de eticidade em Hegel, o ‘glorioso’ Estado se tornou o gestor executivo de uma ordem que anuncia o lema dos tempos pós-industriais: ‘homini lupus homini’. Hobbes se vinga de Rousseau.

Para a tradição socialista, tão mais combativa quanto preparada teoricamente estiver, o quadro aterrorizante não surpreende. Há muito tempo, autores como Rosa Luxemburgo atentaram para o fato de que capitalismo e barbárie não eram incompatíveis. Pelo contrário, a segunda decorreria do desenvolvimento do primeiro.

Termos sucumbidos a ilusões reformistas, talvez tenha sido a maior vitória ideológica dos filhos de Adam Smith. Que, justiça seja feita, nunca descuraram das condições subjetivas para a reprodução de sua ordem social. O confinamento na vida privada, o narcisismo exacerbado, a competitividade sem sentido e o individualismo irrestrito semearam a despolitização para colher o assentimento aos ditames do’ homo demens’.

Felizmente o quadro acima é restrito à formação social norte-americana. Não encontra equivalente, ao menos na mesma escala, em outros países. E é da impossibilidade de enquadramento geral que nasce o temor da classe dirigente estadunidense. A truculência nazista de Rumsfeld, Bush, Cheney e Wolfowitz, em seus dias de prestígio, era proporcional ao medo da resistência que pressentiam. Sabiam que o pragmatismo cínico não elimina o devir. Que as contradições não são eliminadas por decreto.

Para eles, a civilização é um incômodo a ser removido. Um mal a ser extirpado a ferro e fogo. O caráter simbólico das ações predatórias encontra aqui sua real intenção. Se o que pretendem é eliminar o ‘mal’ da herança humanista, melhor destruir seu berço. Que se evaporem 5.000 anos de história escrita, as tradições sumerianas, as lembranças dos Impérios da Babilônia e dos persas. Que se destrua Najaf, que sítios arqueológicos sejam saqueados, e estátuas e cerâmicas destroçadas.

Essa é a contribuição de quem pode oferecer bomba de fragmentação e um ‘mclanche feliz’. Para o ex- secretário de Defesa, Donald Rummsfeld, isso era natural: ‘A liberdade é bagunçada mesmo’. Essa foi a contribuição neoliberal para o caro conceito de liberdade forjado nos marcos da Revolução Francesa.

EUA e os então governantes da Inglaterra e Espanha anunciaram o fim da modernidade. Em troca, tal como está no ‘Project for New American Century’ prometeram ‘uma dominação de espectro amplo’. Nisso contam com o posto avançado dos Estados Unidos no Oriente: o Estado de Israel e sua política externa, calcada no extermínio sistemático do povo palestino.

Talvez a opinião pública mundial já tenha isolado o vírus causador da barbárie e elaborado o antídoto. Terá porções de Thomas Jefferson, doses de ‘Magna Carta’, sensibilidade ante o horror de Guernica e a cultura libertária da diáspora judaica.

Vencida a primeira etapa, há que se erguer as bases para um novo contrato interestatal que tenha como premissas a multilateralidade e uma ordem socialista e democrática. As bases de peças de terracota terão demonstrado aos mísseis ‘Tomahawk’ que nem tudo que é sólido se desmancha no ar.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa.’

 

COPA 2014
Flávio Aguiar

A bronca do Financial Times, 31/10

‘O anúncio na terça-feira, dia 30 de outubro, de que o Brasil sediará a Copa do Mundo de 2014 não surpreendeu ninguém do ramo, de torcedores a comentaristas e políticos. Também não houve surpresas quanto a reações de dúvidas na imprensa européia quanto à capacidade brasileira de sediar o evento, com base no argumento de que o Brasil enfrenta ;problemas de infra-estrutura (transporte e estádios), de segurança, e de corrupção (como se tudo isso fosse monopólio nosso). Também não surpreende o ceticismo que se manifesta em alguma imprensa brasileira, sempre baseado na idéia de que somos mais ufanistas do que nosso pobre país permite. Como também não surpreendem as reações eufóricas de políticos, por exemplo. Vai ver que alguns de nós somos mesmo mais eufóricos do que devíamos, assim como alguns somos mais auto-depreciativos (não depressivos) do que deviam.

É claro que apesar da CBF e seus problemas, e dos inegáveis problemas do Brasil, a decisão da FIFA é uma vitória para o país, e uma oportunidade de ouro para se apressarem mudanças (para melhor) que estão em curso nele, em todas as áreas. Com exceção, é certo, do transporte aéreo cuja crise brasileira segue tendência mundial (repito, mundial) de insolvência no setor, pelos motivos os mais variados.

Na Alemanha houve reações moderadamente críticas por parte pelo menos de duas publicações, o Frankfurter Allgemeine Zeitung, de Frankfurt, e Focus, de Munique, matriz estética e estilística da ‘nossa’ Época. Também o Neue Zürcher Zeitung, de Zurique, seguiu esse padrão, observando as dificuldades que o país deve superar para organizar adequadamente a Copa.

Essas manifestações foram compensadas pelas reações entusiastas de Franz Beckenbauer, aqui ainda apelidado de o Kaiser do futebol, membro do Comitê da Fifa, e Michel Platini, ex-seleção francesa, hoje presidente da União Européia de Futebol, apontando o Brasil como um país ideal para o evento.

Mas o tom ficou mesmo com o Financial Times, de Londres, um dos ‘formadores da opinião’ conservadora na Europa e no mundo. Em artigo bastante agressivo, publicado antes do anúncio confirmando a esperada decisão da FIFA, o jornal londrino simplesmente decretava que o Brasil não tem condições de realizar o evento pelos motivos acima referidos. Ao final deixava a ressalva de que o país teria de realizar a ciclópica e münchausica tarefa de se erguer pelos próprios cabelos para sair do espetáculo de ineficiência, insegurança e outras negações com que brindamos o mundo.

Como nota destoante do azedume, ele reproduzia observação de Juca Kfouri, segundo a qual, se a África do Sul foi escolhida para 2010, porque o Brasil não poderia sê-lo para 2014?

A bem da verdade, essa é a pergunta. Se na África do Sul pode, porque no Brasil não pode? A fúria do Financial Times se dá numa moldura complicada: a Europa, que disputa a hegemonia futebolística com a América Latina, ficará desprovida da competição – e dos bilhões, em qualquer moeda, que ela traz, durante muitos anos. São os quatro entre 2006 e 2010, mais os quatro entre 2010 e 2014, mais o tempo que se levará para determinar os investimentos para a de 2018, quando provavelmente voltará ao continente europeu.

Na África do Sul, a Copa terá hegemonia financeira de grupos europeus e norte-americanos, a começar pelo farto transporte aéreo necessário (além de enventualmente uma presença asiática mais intensa). Aliás, o que fará a Chins, país agora em investimento contínuo no continente africano?

Já no Brasil não será assim. Vai haver muita repartição com grupos brasileiros, de marcas de cerveja à Petrobrás. That’s the question, diria um certo príncipe dinamarquês nascido na Inglaterra, mais precisamente em Stratford-on-Avon, nas mãos parteiras de um certo William bom de bola no palco.

Tem razão, portanto, a fúria que se desencadeou, aqui e ali em se atacar o Brasil. Nelson Rodrigues tem um livro de título genial, reunindo suas crônicas sobre futebol: ‘À sombra das chuteiras imortais’. Pois é. À sombra delas, gravitam os interesses dos mortais, ávidos de financiamentos e de outras benesses e bons negócios.

Sem falar que, se conseguirmos seguir no masculino o exemplo de hoje do futebol feminino, de garra, dedicação e disciplina, periga o Brasil ganhar as duas copas, a da África e a da América. A não ser que o Uruguai… mas isto é outra história.

PS – Estou devendo aos internautas uma explicação sobre por que, de repente, estas ‘Cartas de Berlim’. Aguardem, em breve.’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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