Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Agência Carta Maior

CONTEÚDO
Venício Lima

Internet vs. Mídia tradicional: mudança sem retorno

‘Pesquisa revela que 83% dos consumidores de mídia no Brasil produzem seu próprio conteúdo de entretenimento usando, por exemplo, programas de edição de fotos, vídeos e músicas. O público de faixa etária entre 26 e 42 anos é o mais envolvido com atividades interativas na rede.

Duas pesquisas divulgadas recentemente mostram, de forma inequívoca, a dimensão das mudanças que estão ocorrendo no ‘consumo’ de mídia, tanto no Brasil como no mundo. Elas são tão rápidas e com implicações tão profundas que, às vezes, provocam reações inconformadas de empresários e/ou autoridades que revelam sérias dificuldades para compreender ou aceitar o que de fato está acontecendo no setor de comunicações.

Internet supera TV

A primeira dessas pesquisas é ‘O Futuro da Mídia’ desenvolvida pela Deloitte e pelo Harrison Group. A Deloitte é a marca sob a qual profissionais que atuam em diferentes firmas em todo o mundo colaboram para oferecer serviços de auditoria e consultoria. Essas firmas são membros da Deloitte Touche Tohmatsu, uma verein (associação) estabelecida na Suíça. Já o Harrison Group é uma consultoria independente com sede nos EUA.

A pesquisa, realizada simultaneamente nos EUA, na Alemanha, na Inglaterra, no Japão e no Brasil, identificou como pessoas entre 14 e 75 anos ‘consomem’ mídia hoje e o que esperam da mídia no futuro. A coleta de dados foi feita entre 17 de setembro e 20 de outubro de 2008 e a amostra foi dividida em quatro grupos de faixas etárias: a ‘Geração Y’, com idade entre 14 e 25 anos; a ‘Geração X’, que tem entre 26 e 42 anos; a ‘Geração Baby Boom’, formada por pessoas entre 43 e 61 anos; e a ‘Geração Madura’, que compreende os consumidores entre 62 e 75 anos. No Brasil, foram ouvidas 1.022 pessoas, classificadas nas quatro faixas etárias.

Vale a pena transcrever o que a própria Deloitte relata sobre alguns dos resultados referentes ao Brasil (cf. Deloitte, Mundo Corporativo n. 24, abril/junho 2009).

O levantamento mostra que o Brasil, com um mercado formado essencialmente por um público jovem é, dos cinco países participantes da pesquisa, aquele em que os consumidores gastam mais tempo por semana consumindo informações ofertadas pelos mais variados meios de comunicação e se mostram especialmente envolvidos com atividades on-line. Os consumidores brasileiros gastam 82 horas por semana interagindo com diversos tipos de mídia, incluindo o celular. Para a grande maioria (81%), o computador superou a televisão como fonte de entretenimento. Os videogames e os jogos de computador constituem importantes formas de diversão para 58% dos entrevistados. (…) (grifo nosso)

Uma das principais informações reveladas é que o usuário quer participar, interferir. De acordo com as entrevistas realizadas com o público nacional, 83% dos consumidores de mídia produzem seu próprio conteúdo de entretenimento usando, por exemplo, programas de edição de fotos, vídeos e músicas. O público de faixa etária entre 26 e 42 anos é o mais envolvido com atividades interativas na rede. Quanto mais jovem, mais propenso a produzir seu próprio conteúdo on-line.

Um dado extremamente revelador é que assistir à televisão é a fonte de entretenimento preferida pelos entrevistados de todos os países participantes da pesquisa, com exceção do Brasil. Entre nós, a TV aparece em terceiro lugar, as revistas em sétimo, o rádio em nono e os jornais em décimo.

O quadro (adaptado) abaixo revela as preferências brasileiras.

Fontes de entretenimento favoritas – Brasil

1º – Assistir a filmes em casa (não inclui filmes na TV) ………55 %

2º – Navegar na internet por interesses pessoais ou sociais..53 %

3º – Assistir à televisão …………………………………………………46 %

4º – Ouvir música (usando qualquer dispositivo ………………..36 %

5º – Ir ao cinema ………………………………………………………..30 %

6º – Ler livros (impressos ou on-line) ……………………………..25 %

7º – Ler revistas (impressas ou on-line) ………………………….16 %

8º – Jogar videogames ou jogos de computador ……………..14 %

9º – Ouvir rádio ……………………………………………………………13 %

10º – Ler jornais (impressos ou on-line) ………………………….12 %

Para um país acostumado – há décadas – à hegemonia não só da televisão, mas de uma única rede de TV, esses dados não deixam de ser surpreendentes.

Participação ativa

Já a vontade majoritária de participar e interferir na construção do conteúdo, revelada pelos entrevistados brasileiros, acaba de vez com a idéia do obtuso ‘Homer Simpson’ (cf. L. Leal Filho, ‘De Bonner para Homer’, Carta Capital, 7/12/2005) e com o mito da passividade dos nossos leitores, ouvintes e telespectadores.

Mais do que isso, os dados colidem frontalmente com as práticas históricas dos principais grupos de mídia brasileiros que, salvo raras exceções, sequer admitem a existência de ouvidorias ou de ombudsman em suas empresas.

A supremacia das redes sociais

A pesquisa Deloitte/Harrison faz referencia a outra pesquisa divulgada em junho de 2008 pelo Ibope/Net Ratings sobre o surgimento das ‘redes sociais virtuais’, ou seja, os sites de relacionamento que reúnem internautas com os mesmos interesses. Segundo esta pesquisa, 18,5 milhões de pessoas haviam navegado neste tipo de site em maio de 2008. Se somados os fotologs, videologs e programas de mensagens instantâneas, o número salta para 20,6 milhões.

Pois bem. No painel de abertura do 8º Tela Viva Móvel, dia 20/5, em São Paulo, o gerente de conteúdo e aplicações da Oi, Gustavo Alvim, informa que as redes sociais já desempenham papel mais importante que o acesso a emails no cenário da internet mundial. Em média, enquanto 65,1% dos usuários mundiais de internet acessam emails, 66,8% acessam redes sociais. ‘E o Brasil é o líder absoluto em redes sociais, com 85% de seus internautas que acessam pelo menos uma rede social’.

Os dados vêm confirmar a aplicabilidade da hipótese do ‘long tail’ (Chris Anderson) à ‘cultura convergente’ – como faz Henry Jenkins – e, particularmente, reafirmar a tendência já prevalente da contextualização, análise e organização capilar de conteúdos, inclusive os jornalísticos, em sites e blogs, deixando para trás os velhos modelos dos jornais impressos diários.

‘Pendurados na internet’

Diante desses dados – e das importantes transformações que sinalizam – é que se deve compreender a recente declaração do senhor ministro das Comunicações na abertura do 25º Congresso Brasileiro de Radiodifusão, no dia 19/5, em Brasília.

Segundo relata Mariana Mazza do Televiva News, depois de fazer uma vigorosa defesa da radiodifusão e registrar o abismo entre o faturamento da radiodifusão e das telecomunicações – ‘o setor de comunicação fatura R$ 110 bilhões por ano. Desse total, somente R$ 1 bilhão é do rádio e R$ 12 bilhões das TVs. O resto vocês sabem muito bem onde está’ –, o ministro sugeriu que os jovens devem usar menos a internet e assistir mais programas de TV e de rádio. ‘Essa juventude tem que parar de só ficar pendurada na internet. Tem que assistir mais rádio e televisão’.

Ao que parece o senhor ministro – e os radiodifusores que ele tão bem representa – estão realmente perdendo o ‘bonde da história’.

é Pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília – NEMP – UNB’

 

EDUCAÇÃO
Olgária Mattos

A educação e os comics: instantâneos brasileiros

‘As escolas públicas de São Paulo adotaram histórias em quadrinhos com conotação sexual, no ensino de crianças entre 8 e 9 anos. A escolha não foi circunstancial, pois expressa o núcleo da ideologia contemporânea, que considera que ‘a verdadeira cultura é inacessível à grande massa’.

A imprensa divulgou a notícia de que as escolas públicas de São Paulo, a fim de ‘estimular a leitura e a escrita’ no aprendizado da língua portuguesa, haviam adotado, para crianças entre oito e nove anos, histórias em quadrinhos. A publicação foi considerada imprópria por conter palavrões que, como se sabe, portam conotação sexual. Considere-se, também, além do estilo do desenho, a dificuldade de leitura de seus balões, que se deve ao traçado das letras, desenho e letras plenamente adequados ao gênero.

Assim, a questão não é a história em quadrinho, mas a adoção, pelas escolas, de uma expressão literária de distração ‘para adolescentes e adultos’, uma vez que a árdua tarefa da educação é introduzir a criança no universo do conhecimento, formando-lhe a sensibilidade e o pensamento, para que ela possa apropriar-se, progressivamente, de um repertório mais amplo e diverso daquele de que dispõe por sua inserção social e pela cultura de massa.

Confundindo educação e entretenimento, cedendo à adaptação da escola ao gosto das mídias, esta escolha não foi circunstancial, pois expressa o núcleo da ideologia contemporânea, que considera que ‘a verdadeira cultura é inacessível à grande massa’. Adorno escrevia nos anos 1940 que a mídia determinou uma cisão entre ‘cultura de elite’ e ‘ cultura popular’, protagonizando a cultura média midática, que difunde um conhecimento medíocre para a grande massa. Para ele, a indústria cultural seria, então, produzida ‘para os ignorantes’. Em seguida, seria levada a cabo ‘pelos ignorantes’, por equipes técnicas que não estabelecem nenhum contato ou contato apenas episódico com o mundo da cultura. Acrescente-se o ideário de que a dificuldade em alfabetizar, bem como em despertar interesse pelos saberes escolares, devem-se ao pressuposto de a escola não estar adaptada ao universo do ‘ educando’. Na verdade, talvez a crise esteja em a escola ter-se adaptado à carência do status quo , que corresponde à indigência das próprias elites educacionais.

Em sua obra ‘A revolução da escrita e suas conseqüências culturais na Grécia Antiga’ , Havelock indica a maneira pela qual o advento da educação formal e o ensino da gramática foram de grande eficácia, pois qualquer sistema de escrita que reproduzisse apenas a língua falada estaria sujeito a flutuações e variâncias que acabariam por comprometer sua função social de comunicação e clareza, e por isso exigia um alto grau de convenção. Também Adorno em suas ‘Minima Moralia’ alertava para as dificuldades das relações humanas na sociedade industrial produtivista,uma vez que esta se encontra sob o domínio da razão instrumental, movida pelo culto da eficiência e dos resultados, por um lado, pelas razões econômicas, de outro. Na educação, trata-se, antes da pergunta sobre o que ensinar e seus métodos, de refletir sobre o ‘tipo de indivíduo que se procura formar com a educação.’ Por visar o indivíduo compassivo com seus próximos e solidário na sociedade, a educação não se pautava pelas necessidades do mercado. Valia-se, pois, no ensino da língua, de narrativas exemplares em que a elaboração literária era essencial. Por isso,associava-se o ético ao prazer estético.

A adaptação da escola ao social é comandada pelo fetiche da facilidade que comanda, por sua vez, as transformações dos programas educacionais, definindo comportamentos intelectuais. Esta mutação do caráter civilizacional da educação escolar não é acontecimento isolado de São Paulo, mas se expande por todo o sistema de ensino. Que se pense na indústria dos livros para-didáticos e sua discutível qualidade, recomendados em estabelecimentos de ensino.

Desde suas origens gregas, a educação formal visava desenvolver saberes e habilidades a fim de reunir escola e vida. Diversamente daquelas aptidões que se aprendem sem necessidade de instrução, pela experiência e pelo hábito, a escola foi o lugar de adoção de uma identidade coletiva com valores e conhecimentos comuns e compartilhados. Lembre-se que ‘aluno’, em francês, se diz ‘ élève’, porque a educação eleva a criança e sublima o povo.

Independentemente de sua utilização, o fato de este material ter sido cogitado para as escolas públicas indica de que maneira o Estado produz intensivamente a exclusão, educando os mais pobres para permanecerem na pobreza.. Elitista, o Estado impede o acesso dos despossuídos à cultura formal, tornando-a privilégio de uma elite. ‘Genocídio cultural’, na expressão de Pasolini.

Olgária Mattos é filósofa, professora titular da Universidade de São Paulo.’

 

QUESTÃO EM ABERTO
Gilson Caroni Filho

O antigo silêncio dos influenciáveis

‘Qual a lógica que explica o silêncio de ‘formadores de opinião’ sobre determinados temas e um entusiasmo frenético sobre outros? Uma denúncia feita pela revista Carta Capital, em 2004, e o silêncio com que foi recebida pela maioria dos meios de comunicação, pode ajudar a responder essa pergunta.

Nada como folhear revistas e jornais antigos para constatarmos a eterna briga do jornalismo de mercado com fatos que incomodam seus interesses e os dos eternos aliados no campo político. No momento em que a tucanos e demos voltam à ofensiva, através de uma CPI que vai bem além da dimensão eleitoreira, adentrando o terreno do entreguismo puro e simples, convém recordar como eram tratadas questões estratégicas nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Ainda mais quando sabemos que o verdadeiro alvo é o marco regulatório do pré-sal, em um eventual retorno do consórcio neoliberal ao poder.

Voltemos no tempo, mais precisamente a março de 2004. Como reagiria a opinião pública de uma nação soberana se tomasse conhecimento, por meio de conceituada publicação jornalística, que sua Polícia Federal foi comprada por serviços de inteligência de um país estrangeiro? Que as instituições republicanas são inteiramente controladas por redes de espionagem, e setores expressivos da imprensa local cooptados para produzir uma imagem favorável aos interesses da potência controladora?

Seria impossível conter o terremoto político advindo de tais revelações, salvo se um isolamento acústico fosse imediatamente construído por aqueles que elaboram a agenda da opinião pública. E é nesse ponto, no silêncio consensual do complexo midiático, que reside a atualidade deste pequeno artigo.

Reportagem de capa da edição de Carta Capital, com data de 19/3/2004 ,trouxe à tona um personagem que poderia ter saído das páginas de qualquer romance de John Le Carré. Versão tão patética quanto real do ‘espião que sabia demais’, o português naturalizado americano Carlos Costa chefiou o FBI no Brasil de 1999 a outubro de 2003. Na época, em entrevista ao jornalista Bob Fernandes, ele foi categórico:

‘Os Estados Unidos compraram a Polícia Federal. Há um antigo ditado, e ele é real: quem paga dá as ordens, mesmo que indiretamente’.

Não descartando a possibilidade de alguma agência americana ter grampeado o Palácio da Alvorada e o Itamaraty, Costa disse que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), ao pedir equipamentos e recursos ao mundo todo, ‘se prostitui’.

Não menos contundente foi sua afirmação segundo a qual uma das mais importantes funções da embaixada americana no país era manipular a imprensa brasileira. Usando, eufemisticamente o verbo influenciar, o ex-agente não poderia ter sido mais claro:

‘Detectamos jornalistas que sejam pró-América e os convidamos a ir aos Estados Unidos com todas as despesas pagas. Essa não era minha área, mas começa assim. Influenciar é mudar o pensamento contrário aos nossos interesses’.

E qual seria o modus operandi? Mais uma vez, Carlos Costa foi direto: ‘Seja lá o que for necessário. Se é comprar, é comprar, há várias maneiras. Mas deixa isso pra lá’.

Eis o cenário da realidade brasileira no reinado de Fernando Henrique Cardoso. Agindo com total desenvoltura, uma profusão de siglas tais como a US Customs, DEA, NAS, CIA e FBI faziam de nossa legislação letra morta e tornavam o conceito de soberania nacional, numa perspectiva otimista, uma hipótese a ser permanentemente verificada. Tínhamos, enfim, polícias compradas e submetidas a comandos externos, uma Abin supostamente controlada e formadores de opinião ‘influenciados’. O quadro se tornava mais dramático quando o monitoramento de setores estratégicos do governo era apresentado como rotina.

O que chamou a atenção, há cinco anos, foi a ausência de repercussão da matéria de Carta Capital no Congresso e, acima de tudo, em outros veículos jornalísticos. Por conta de episódios de gravidade bem menor, o conservadorismo põe-se a falar em crise de governo, perda de capacidade administrativa e riscos à coesão social. Clama-se pela instalação de Comissões Parlamentares de Inquérito e o alarido udenista se reflete nos editoriais das empresas que abrigam aqueles a quem Costa chama de ‘os influenciáveis’.

A título de exemplo, por que a denúncia da revista dirigida por Mino Carta não provocou, à época, a mesma comoção que o destempero do então ministro José Dirceu em entrevista ao jornalista Merval Pereira, de O Globo?

Desde sua publicação, o espaço concedido à reportagem de Bob Fernandes foi praticamente inexistente. Uma ou outra nota, até o abafamento total. Qual terá sido o motivo do silêncio reinante nas redações dos principais jornais e revistas do eixo Rio-São Paulo quando o assunto é a ingerência imperialista na política brasileira?

Há nove anos, Carta Capital sistematicamente denuncia o aparelhamento do Estado por agências americanas. Para ser mais preciso, vem historiando um processo que se inicia em 12/4/1995, quando é assinado o Acordo para Combate ao Narcotráfico, e se estende aos dias de hoje, com a DEA efetuando pagamentos a policiais brasileiros.

Na edição de 3/3/1999, a revista já apresentava a CIA controlando o antigo Centro de Dados Operacionais (CDO). À época, Fernando Henrique Cardoso teve grampeada uma conversa com o então chefe do Cerimonial da Presidência da República, embaixador Júlio César Gomes dos Santos.

A que devemos o silêncio dos ‘influenciáveis?’ Traria a matéria denúncias graves sem a verificação adequada? Ausência de fundamentação empírica que indicasse sensacionalismo ingênuo ou petição conspiracionista? Não, CartaCapital tem feito um belo trabalho investigativo. Na edição de 2004, à riqueza de detalhes somam-se fotos que documentam a desenvoltura de Carlos Costa nos salões do poder.

Seria conseqüência da lógica concorrencial das empresas jornalísticas, ignorar os fatos noticiados por veículos rivais? Ante a magnitude do assunto, era pouco plausível uma argumentação de cunho puramente mercantil. O mais sensato seria aprofundar a matéria, focalizando atores políticos relevantes, diretamente envolvidos na questão, tais como militares e estrategistas.

Estaríamos, então, nos deparando com um fenômeno hierárquico presente no interior do campo jornalístico? A existência de um veículo, e apenas um, que pautaria os demais? A história recente da imprensa brasileira impossibilita tal conjectura. Diferentes publicações puxaram o fio da meada de assuntos relevantes e foram seguidas pelas demais. Basta lembrar que o impeachment de Collor começou nas páginas da revista Veja e os principais escândalos do governo FHC foram inicialmente noticiados pela Folha de S.Paulo.

Talvez o desdobramento mais importante da matéria de capa da revista dirigida por Mino Carta tenha sido a ausência de desdobramentos. O silêncio gritante do resto da mídia realçou ainda mais as palavras do agente Carlos Costa, quando define a ação dos serviços secretos sobre os seus diletos profissionais de redação: ‘Influenciar é mudar o pensamento contrário aos nossos interesses’.

Talvez isso nos ajude a entender o arrazoado de certos colunistas em defesa da CPI da Petrobrás, talvez compreendamos com mais facilidade os princípios que norteiam articulistas zelosos na defesa da política externa que privilegiava os objetivos de grandes conglomerados. Quem sabe, nesse prosaico episódio, redescoberto no folhear de um exemplar antigo da melhor publicação brasileira, esteja desnudada a política editorial de várias publicações.

Alguém pode retrucar que a argumentação desenvolvida no parágrafo acima é simplificadora. Certamente. Mas, enquanto os ‘influenciáveis’ não romperem seu pacto de silêncio, qualquer teoria conspiratória terá relevância analítica. Ou repetindo a sabedoria do senso comum: ‘Quem cala, consente’. Just do it.

É bom relembrar quando uma nova batalha se avizinha.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa.’

 

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