Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Agência Carta Maior

IMAGEM

Olgária Mattos

A memória fotográfica: o instante decisivo

‘A exposição ‘Staring Back’ apresenta, no MIS, os trabalhos de Chris Marker, realizados entre 1952 e 2006. Cineasta, fotógrafo e poeta, o artista constrói a narrativa das convulsões do século e da História contemporânea, das crises francesas ligadas à independência da Argélia até maio e 68, da Guerra do Vietnã às manifestações contra a Lei do Primeiro Emprego na França em 2006, do Governo da Unidade Popular de Allende no Chile em 1972 a Marighela no Brasil,dos Baader Meinhof à queda do Muro de Berlim e à Perestroika em Moscou.

Cronista, Chris Marker desestabiliza a versão consagrada dos eventos de uma história oficial celebrativa, desfazendo a idéia de uma gesta heróica, fundada no dualismo do vencedor e do vencido, distanciando-se da noção de uma História Universal e da unilateralidade de um sentido único dos acontecimentos. Em cada fotografia há personagens que, a igual título do próprio artista, são testemunhas e atores de seu tempo. Se o olhar da câmera é melancólico, isso deve-se à visão markiana do tempo (fotográfico). Assim, à foto de 1961 na Praça da Bastilha sucede o mesmo lugar mas em outra data, agora 2001. Deslocando o tema da repetição na história para seu sentido inédito, à multidão aguerrida e politizada do passado se substitui um casal de namorados, um Eros que depôs as armas e transfigurou o espaço matricial da República em lugar de enamoramento e ócio, em ‘ cansaço político’. O mesmo e seus duplos registram a passagem do tempo e a caducidade de tudo que é humano, mal,temporal, todas as coisas destinadas ao desaparecimento.

Em lugar do fotógrafo militante que estetiza seus objetos de representação e à qual pretende atribuir uma objetividade sem lacunas, Marker trabalha com o ‘surrealismo dos fatos’. Esta é sua maneira de compreender o limiar entre o luto e o lúdico, aceitando um mundo paradoxal em que não existem soluções definitivas, no qual a memória previne reunir os acontecimentos sob um único princípio, seja ele a luta de classes, a tomada do poder,a injustiça ou o fim da História. Assim, em uma das fotos de 1968, o passante solitário compõe a cena primitiva dos carros incendiados na rebelião estudantil, em que a ação é uma das figuras da contemplação. Na obra de Chris Marker, se a História é um acúmulo de ruínas, a memória é uma forma particular de atenção para a qual cada acontecimento é o primeiro e o último na álgebra do tempo. Marker,em meio a um mundo desumano e contraditório, reavê a potência alucinatória das imagens,sem a solução mágica e preguiçosa de ‘ mudar a desordem das coisas’.

O ato fotográfico é, para Marker, um consentimento ao mundo, consentimento mas sem qualquer resignação. Por isso, em letreiro de um de seus retratos, o artista anotou: ‘naquela fração de segundo, o operário chileno sabia que a fábrica nacionalizada era propriedade sua, o boxeador tailandês sabia que tinha perdido, a esquerdista alemã sabia da derrota de seu partido.’ A arte de Marker é uma reflexão sobre a instantaneidade dramática do décimo de segundos em que toda uma existência se resume e o acaso se torna destino e História.

Olgária Mattos é filósofa, professora titular da Universidade de São Paulo.’

 

ENTRE ASPAS

Redação – Carta Maior

O papelão de Waldvogel e a desmontagem do factóide Lina

‘A jornalista Monica Waldvogel reuniu no programa ‘Entre Aspas’, da Globonews, o ex-secretário da Receita Federal (no governo FHC), Everardo Maciel, o presidente do SindiReceita, Paulo Antenor, e um advogado tributarista para discutir a ‘crise da Receita’. Após uma introdução onde denunciou o ‘aparelhamento’ da Receita e apresentou Lina Vieira como ‘vítima’ deste processo, ouviu dos convidados que o aparelhamento foi feito, na verdade, por Lina Vieira. Para jornalista Luis Nassif, comentário inicial de Waldvogel foi ‘vergonhoso, antijornalístico e desonesto’.

O programa foi ao ar nesta terça-feira (25). A apresentadora Monica Waldvogel iniciou o ‘Entre Aspas’ com uma leitura apocalíptica sobre o ‘aparelhamento da Receita’ pelo governo Lula, mostrando Lina Vieira como uma ‘vítima’ de interesses poderosos (Sarney, Petrobras, etc.). Todas as teses da introdução de Waldvogel foram rejeitadas e rebatidas pelos participantes do programa. Ao final do mesmo, constrangida, a jornalista pergunta:

– Mas então houve uma manipulação da opinião pública?

O jornalista Luis Nassif resumiu assim, em seu blog, o papel constrangedor de Waldvogel e a desmontagem do factóide Lina Vieira:

O comentário inicial lido por Mônica Waldvogel é vergonhoso, antijornalístico, desonesto, porque desmentido ao longo de todo o programa pelos três entrevistados convidados. A Globonews perdeu o rumo.

Os três convidados são unânimes em afirmar que politização ocorreu na fase de Lina Vieira, não agora. Mônica atropela as conclusões da mesa redonda, desrespeita os telespectadores ao antecipar conclusões falsas. Principalmente sabendo-se que a abertura sempre é feita após o programa, com base nas conclusões levantadas.

Paulo Antenor, presidente do SindiReceita, sindicato dos Analistas-Tributários da Receita Federal, denuncia o aparelhamento da Receita… por Lina. Mostra que o pedido de demissão coletiva dos antigos superintendentes foi apenas uma antecipação para demissões que ocorreriam. O advogado tributarista nega crise na Receita. Disse que está mais preocupado com as taxas de juros dos bancos e temas mais relevantes.

Mônica tenta se socorrer do ex-Secretário da Receita Everardo Maciel, da gestão FHC, pedindo que confirme a politização. Everardo diz que a politização ocorreu com Lina e que agora não há ingerência política, porque é atribuição do Ministro definir o Secretário.

Depois disso tudo, Mônica volta ao papo de que Mantega estaria pressionando para não apertar os grandes contribuintes. Os entrevistados negam. Everardo mostra que esse foco nos grandes contribuintes começou em sua gestão. Mônica diz que houve aumento na arrecadação dos grandes contribuintes na gestão Lina. Everardo desmonta com números.

Mônica vem com a história da opção do regime de caixa pela Petrobras foi manipulação. Everardo é incisivo: a Petrobras está certa. O factóide criado foi para justificar a queda da arrecadação na gestão Lina – embora admita que a queda tem muitos outros fatores deflagradores, entre os quais a crise.

Mônica: se fosse tão clara a possibilidade de mudar o regime no meio do ano, não haveria essa controvérsia.

Everardo: a regra é clara e foi feita em 1999 justamente para enfrentar o problema da desvalorização cambial.

Mônica: mas até agora a Receita está para soltar um parecer.

Everardo e os demais: já foi feito, concordando com a Petrobras. Essa prática existe há muito tempo, não existe qualquer ilegalidade ou manobra contábil.

Mônica, balbuciando: a lei foi feita. Houve então uma manipulação da opinião pública?

Todos concordam com a cabeça.

Aí ela deriva a entrevista para o caso Sarney, perguntando se é legítimo pressionar a Receita para abrandar a fiscalização.

O presidente do Sindicato disse que é impossível essa pressão, que nunca essa informação correu na Receita. Disse que sempre trabalhou próximo à chefia da Receita, tanto no governo FHC e Lula, e nunca viu esse procedimento. O chefe da Receita conversa com políticos todos os dias. Mas esse tipo de ingerência é novidade para a gente.

Everardo disse que se ocorreu, o momento certo seria na época em que foi feita. Se não fez, cometeu prevaricação.

Conclusão final dos três entrevistados: Lina foi um desastre para a imagem da Receita e caberá a todos os funcionários trabalharem para o resgate de sua imagem.

Assista o programa e depois volte à abertura.

PS – O programa é ao vivo. Então na abertura Mônica definiu conclusões que não foram avalizadas, posteriormente, pelos entrevistados.’

 

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