Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Agência Carta Maior

MANIFESTAÇÃO
Solidariedade a Laura Capriglione e Lucas Ferraz

‘Movimento ‘Sindicato é Pra Lutar!’, coletivo de oposição à direção do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, divulga nota de solidariedade aos repórteres Lucas Ferraz e Laura Capriglione, da Folha de São Paulo, que foram atacados, nas páginas do próprio jornal, por Demetrio Magnoli, a pretexto de criticar a matéria ‘DEM corresponsabiliza negros pela escravidão’. ‘Será que a Folha de S. Paulo pretende, com a ajuda de Magnoli, extirpar do jornalismo brasileiro atual qualquer voz questionadora do pensamento único externado pelos donos da mídia e pelos plutocratas do DEM?’ – pergunta a nota.

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A nota a seguir é do Movimento Sindicato é Pra Lutar! – coletivo de oposição à direção do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo:

A Folha de S. Paulo perpetrou um ato dos mais baixos contra dois de seus funcionários. Designou, ou permitiu, que um colunista de aluguel, o sr. Demétrio Magnoli, atacasse pesadamente e com termos ofensivos os repórteres da casa Laura Capriglione e Lucas Ferraz (‘O jornalismo delinqüente’, 9/3). A pretexto de criticar a matéria ‘DEM corresponsabiliza negros pela escravidão’ (Folha, 4/3), por eles assinada, Magnoli envereda pelo perigoso terreno da galhofa e da injúria, atacando ainda o historiador Luiz Felipe de Alencastro, pesquisador sério e autor de obra respeitável.

Os repórteres cobriram a audiência pública sobre a política de cotas para afrodescendentes realizada no STF. Na ocasião, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) afirmou que também os negros deveriam ser responsabilizados pela escravidão. Ao tentar livrar a cara do parlamentar goiano, Magnoli afirma que ‘Demóstenes Torres disse o que está nos registros históricos’. Não aponta quais.

A certa altura, faz a seguinte citação para comprovar suas acusações: ‘Num livro publicado em Londres, que está entre os documentos essenciais da história do tráfico, o antigo escravo Quobna Cugoano relatou sua experiência na fortaleza de Cape Coast: ‘Devo admitir que, para a vergonha dos homens de meu próprio país, fui raptado e traído por alguém de minha própria cor’.

Magnoli não cita o nome do livro. Será que o leu por inteiro? Trata-se de Bury the chains: prophets and rebels in the fight to free an empire’s slaves, de Adam Hochschild (ed. Houghton Mifflin, 2005). Boa parte de seu conteúdo pode ser encontrada no Google.

Ao contrário do que o intelectual de almanaque leva a crer, não se trata de uma obra sobre a responsabilidade dos negros na escravidão. Seu tema é a luta abolicionista na Inglaterra em fins do século XVIII, pelo fim ao regime de cativeiro patrocinado pelo império britânico.

Não é novidade que sobas africanos entravam como sócios menores no lucrativo negócio de seres humanos, realizado por comerciantes brancos das metrópoles européias e das colônias americanas. Mas Magnoli não diz que a escravidão era uma relação social fundamental no antigo sistema colonial, como Fernando Novais e outros analisaram com maestria. Logo, apesar de existirem negros que lucravam com transações desse tipo, não eram eles os agentes determinantes. A escravidão era a mola mestra do colonialismo. A responsabilidade principal era dos países europeus e não dos chefes tribais.

Será que a Folha de S. Paulo pretende, com a ajuda de Magnoli, extirpar do jornalismo brasileiro atual qualquer voz questionadora do pensamento único externado pelos donos da mídia e pelos plutocratas do DEM?

A reportagem de Laura Capriglione e Lucas Ferraz é correta, clara e objetiva. Limita-se a registrar a peculiar visão de mundo de um dos líderes nacionais de um partido de direita. Queremos expressar nossa irrestrita solidariedade aos repórteres, traiçoeiramente atacados com a conivência do próprio jornal.

São Paulo, 10 de março de 2010

Assinam pelo Movimento Sindicato é Pra Lutar!

(coletivo de oposição à direção do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo)

Gilberto Maringoni, jornalista

Lúcia Rodrigues, jornalista

Igor Fuser, jornalista

Luciana Araújo, jornalista

Fausto Salvadori, jornalista

Otto Filgueiras, jornalista

Maíra Kubik Mano, jornalista

Miguel de Oliveira, jornalista

Luiz Gustavo Mesquita, jornalista

Pedro Pomar, jornalista’

 

LIVRO
Don Hazen, AlterNet

O futuro da mídia progressista nos Estados Unidos

‘Um novo livro destaca como a mídia progressista e independente chegou a ter a maior influência de sua história nos Estados Unidos. Essa mídia já alcança um público de milhões de pessoas todos os dias e está decididamente mais influente do que nunca. Antigamente seria considerado um grande sucesso se uma revista progressista obtivesse mais de 200 mil assinantes por mês. Mas hoje há dúzias ou mais de blogs, revistas e sites de notícias online, nos EUA, que têm mais de 1 milhão de leitores únicos por mês. O artigo é de Don Hazen.

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Enquanto o establishment jornalístico, e mesmo progressistas, como Bob McChesney e John Nichols lutam pelo que resta do declínio dos anúncios dirigidos ao jornalismo corporativo, os ativistas e jornalistas Tracy Van Slike e Jessica Clark escolheram contar uma história diferente, mais positiva, sobre o futuro da mídia nos EUA.

No seu livro ‘Além da Câmara de Eco: reformulando a Política através das redes de mídia progressista’ [Beyond the Echo Chamber: Reshaping Politics Throug Networked Progressive Media] (New Press), os autores nos levam a uma jornada pela relativamente recente (dos últimos 8 anos para cá) surgimento da mídia progressista e independente. A conclusão a que chegam é inegável: sob qualquer ponto de vista, o que conhecemos por mídia progressista e netroots, alcança um público muito maior – milhões de pessoas todos os dias – e está decididamente mais influente do que nunca.

Antigamente seria considerado um grande sucesso se uma revista progressista obtivesse mais de 200 mil assinantes por mês. Mas hoje há dúzias ou mais de blogs, revistas e sites de notícias online que têm mais de 1 milhão de leitores únicos por mês. A recém formada rede Ad Progress www.adprogress.com, fundada por AlterNet [www.alternet.org], The Nation [www.thenation.com] e Mother Jones [www.motherjones.com], a qual se juntaram American Prospect [www.prospect.org], The New Republic[www.tnr.com] e outros têm mais de um milhão de leitores. E, a propósito, a mídia progressista não está em crise, principalmente porque não depende de uma única fonte de receita – os anúncios -, como acontece à mídia corporativa; em vez disso, é frequentemente financiada por uma mistura de subvenções, doações de leitores, vendas de anúncios e lista de parceiros do vasto setor do ativismo não lucrativo.

Lideradas por fazedores de mídia criativa agressiva, como Robert Greenwald, da Brave New Films, Markos Moulitsas do The Daily Kos, Jane Hamsher do FireDogLake, John Byrne da Raw Story e Mark Karlin da BuzzFlash, a nova mídia progressista usa uma série de estratégias e táticas muitíssimo mais agressivas e orientadas para o ativismo do que o pequeno universo das revistas impressas que dominaram a mídia progressista por longo período (Heck, a Revista da The Nation, tem 145 anos).

Mas, antes que o establishment da mídia progressista se tornasse tão convencido do seu papel, há ainda fraquezas maiores e nuvens negras no horizonte. Clark e Van Slyke não se esquivam dos obstáculos, dedicando a melhor metade do livro a analisar os desafios do futuro com histórias de sucesso e promovendo modelos de redes sociais e colaboração que eles acham que podem fortalecer a influência recém desoberta da mídia progressista.

O que é mídia progressista?

A mídia progressista é feita por um vasto conjunto de entidades de todos os tamanhos e formatos. Mas, com larga vantagem, sua maior audiência é online.

A mídia progressista é ideologicamente diversa, indo do liberal ao radical. Grosso modo, as milhares de pessoas que fazem mídia progressista acreditam em tornar o mundo um lugar melhor através dos seus esforços midiáticos. Elas estão lutando por uma sociedade mais igualitária e justa, pela democratização da informação, pela transparência no exercício do poder público e pela defesa de questões sociais, cobrando responsabilidades e prestações de contas aos responsáveis (para falar de alguns dos valores que os progressistas cultivam). Muitas das entidades de mídia progressista praticam o jornalismo de opinião e a reportagem investigativa, enquanto outras estão muito mais voltadas para a agitação e propaganda altamente bem sucedidas, organizando táticas para chamar a atenção para questões e causas.

E o termo progressista é um balaio de gatos. Há muitas diferenças entre esses grupos, na filosofia, no tipo de jornalismo praticado, na orientação ideológica e na estrutura de negócios. Algumas dessas diferenças podem não ser tão significantes para um não-iniciado, mas dentre os praticantes dessas mídias há alguns que merecem ser anotados. Por exemplo, há um abismo entre o imensamente visitado Huffington Post [www.huffingtonpost.com] e entidades menores, com foco mais restrito, como o Grit TV www.grittv.org de Laura Flander, ou o ColorLines Magazine[www.colorlines.com], ou ainda a reunião de alguns em portais de mídia progressista, como Mother Jones Magazine, The Nation e o influente programa de rádio e tevê de Amy Goodman, Democracy Now![www.democracynow.org]. O Huffington Post, que tem dez vezes mais visitação que os restantes (com exceção do Salon.com) está na liderança das mídias com visão progressista, desfrutando de uma equipe de qualidade escrevendo, e da voz influente de sua fundadora, Arianna Huffington.

A genialidade do Huffington Post é que, virtualmente, todo comentarista liberal progressista com algo a dizer ou uma idéia a comunicar sente que precisa ‘blogar’ no ‘Huff Po’, embora muita gente termine levando seus textos para o site, fazendo com que muito conteúdo fique disperso e seja perdido. Ainda, o Huffington Post é a carteira de uma grande quantidade notícias sobre celebridades, fofocas e coberturas desse tipo, como as infames votações em que leitores podem escolher o ‘mais engraçado de Hollywood’ ou o melhor decote na entrega do prêmio Globo de Ouro. Não surpreendentemente, essas coisas são sempre muito populares.

Embora a influência da mídia progressista seja crescente e a sua audiência, maior do que nunca (eles chegam até a terem representação na TV corporativa, como é o caso de Rachel Maddow, Keith Olbermann e Ed Schulz), a defesa justificável em Beyond the Echo Chambers não é toda a história. O fechamento recente da rádio Air America nos lembra que nem tudo vai bem no universo da mídia progressista. De fato, há vários problemas fundamentais muito similares [nos veículos dessa mídia], em termos de um futuro de longo prazo.

A primeira questão é a demografia. Embora haja algumas pequenas organizações de mídia tocadas por pessoas negras, a imensa maioria das organizações midiáticas com recursos tem audiência predominante de pessoas brancas, bem-educadas, quase sempre com mais de 60% de homens, com idades que abarcam a geração baby boomer [nascidos entre 1945-63]. Isso reflete a maioria da audiência que segue mais de perto as notícias da mídia corporativa, e a mídia de direita conservadora. Esse fato demográfico é o que se expressa na visitação de blogs, revistas de opinião e em sites de notícias. As consequências são duplas. Primeiro, a mídia progressista, a despeito de seus valores, reflete o universo masculino branco. (Há exceções óbvias de lideranças de audiência, como Katrina vanden Heuvel, na The Nation e o time editorial feminino de Monika Bauerlein e Clara Jeffries no Mother Jones, enquanto o Women’s Media Center – Centro de Mídia da Mulher -, sob a nova direção de Jehmu Greene trabalha para melhorar a situação de um longo período de desequilíbrio quando se trata de articulistas mulheres.

A esmagadora brancura não é um valor progressista; uma falta de diversidade embaraça a mídia progressista há décadas, como nas questões de classe, dado que a mídia progressista tem sido sempre o lar de elites, em sua maioria altamente educadas. Clark e Van Slyke enfrentam esse desafio no capítulo inteligentemente intitulado ‘Pale, Male and Stale’ (Pálido, Masculino e Batido). Focando sempre o lado positivo das coisas, os autores citam o crescimento da vida online da comunidade afro-americana, com alguns blogs populares. Então, há campanhas altamente bem sucedidas da Color of Change (http://colorofchange.org/) [Organização cujo slogan é mudando a cor da democracia, em inglês]. No ano passado, a organização lançou uma campanha contra a cobertura racista da Fox News, pressionando dezenas de anunciantes a abandonarem o programa de Glenn Beck e o ranço diabolicamente racista do demagogo favorito de Rupert Murdoch. E, liderados por Roberto Lovato, um veterano da mídia progressista, a www.presente.org instrumentalizou a pressão para que o programa do anti-imigrante Lou Dobbs saísse do ar.

Essas conquistas dão uma dimensão da influência do setor progressista e da sua estratégia sofisticada nas questões de raça. Mas elas também sugerem que há uma mistura fundamental entre várias organizações e táticas de mídia online, que borram as fronteiras entre o jornalismo e o puro ativismo. Se essa mudança é o melhor para a evolução da mídia progressista é um debate que eu deixo para depois, mas é claramente verdade que os nossos maiores sucessos foram alcançados via esforços que muitos não chamariam de jornalismo, ou mesmo mídia, mas uma nova forma de organização que usa os dispositivos da mídia na internet.

Um segundo desafio é o financiamento. Embora a mídia progressista vá melhor das pernas do que a mídia corporativa, porque não é dependente de anúncios, ela nunca foi bem financiada por fundações ou indivíduos ricos (embora a sobrevivência de veículos mais antigos da mídia progressista dependam da lealdade e da estada no poder de alguns doadores individuais-chave). E isso que a grande recessão só está encolhendo as doações das fundações.

Um caso de grande sucesso em financiamento é a história do Media Matters [www.mediamatters.org], que acompanha as transgressões da mídia corporativa e de direita. Empreendimento importante na mídia ecológica em geral, Media Matters beneficiou-se muito de doações de parte da Democracy Alliance www.democracyalliance.org, um grupo de doadores progressistas com muito dinheiro.

Mas, no maior financiamento pessoal recente de mídia independente, as bilionárias Herb e Marion Sandler escolheram criar o ProPublica http://www.propublica.org, com 10 milhões de dólares por ano, pondo um ex-editor do Wall Street Journal ao custo de 550 mil dólares por ano. Propublica tende a ser fóbico quanto a todas as coisas progressistas.

Propublica emprega alguns bons jornalistas e produz um trabalho de qualidade. Mas a organização é constituída no antigo modelo de: ‘produzir trabalho investigativo e, de alguma maneira, magicamente, o problema descoberto será resolvido’. Falta-lhes investimento substancial em marketing, promoção e organização na internet. Todos esses elementos são essenciais para que se consiga uma mudança política numa era dominada por milhares de lobistas e de relações públicas propagandistas e centenas de milhões de dólares protegendo o interesse de todo e qualquer interesse imaginável.

O terceiro desafio é provavelmente o mais fundamental. A despeito desses sucessos recentes, a mídia progressista ainda não está pronta para chegar aonde pode travar uma batalha real com a mídia de direita. Muitos estão familiarizados com o poder da Fox e de Rupert Murdoch, com a imensa audiência de Rush Limbaugh e dezenas de outros jogadores de direita. E há muito mais direitosos online e nas revistas.

Os conservadores sempre investiram muito dinheiro na mídia e nas comunicações, enquanto muito do dinheiro progressista se destina a uma miríade de questões da preferência de doadores individuais. É como se eles de alguma maneira contassem com a mídia establishment para fustigar a mídia de direita. Bem, nós sabemos como isso tem funcionado. Muitas questões liberais são recepcionadas por conservadores, e negligenciadas por uma aparentemente super tímida administração Obama.

Uma série de números ilustra o problema. Enquanto progressistas vibram felizes com o sucesso da MSNBC e de Rachel Maddow, e cada vez mais estejam grudados na tevê todas as noites, o domínio continuado da Fox News, na tv a cabo é acachapante. Eis os números da audiência comparados no dia 27 de janeiro, quando Obama falou à nação, de acordo com o site TV by the Numbers: Bill O’Reilly marcou 4.067 000 espectadores, Glenn Beck alcançou 3.140 000 espectadores, e Sean Hannity obteve 3. 636 000 espectadores – audiências gigantescas, aproximadamente três vezes o tamanho de Keith Olbermann (1. 159 000 espectadores) e Rachel Maddow (883 000 espectadores). Clark e Van Slyke tratam do problema no capítulo ‘Luta contra a Direita’, destacando o sucesso da Brave New Films perturbando a Fox News. Mas, como sabemos muito bem, a avassaladora mídia Murdoch continua a bradar, chafurdando na lama.

O capítulo 8 do livro ‘Além da Câmara de Eco’, intitulado ‘Assembléia do Coro Progressista’, analisa as características do trabalho do FireDogLake [www.firedoglake.com] e inclui elementos de uma entrevista comigo, na qual tento descrever o pensamento por trás da AlterNet.org.

Se você quiser uma visão compreensiva de muitas mídias progressistas bem sucedidas ao longo dos últimos 8 anos, por favor compre uma cópia de Beyond the Echo Camber. Há desafios imensos pela frente, os quais Van Slyke e Clark conhecem muito bem. Porém, os autores insistem que há muito mais resultado em construir alternativas e, usando as novas ferramentas online – Facebook, Twitter e muitas outras – os progressistas podem se mover para um estágio de luta de longo prazo por uma sociedade melhor.

Nota da Redação: A Media Consortium (www.themediaconsortium.org) é uma rede de mídias alternativas que criaram uma espécie de associação, nos moldes da recém criada Altercom, no Brasil, da qual Carta Maior faz parte.

Tradução: Katarina Peixoto’

 

ELITE
Altamiro Borges

Millenium pauta a direita midiática

‘O convescote do Instituto Millenium revela o preconceito de classe e o asco de parcela das elites com o ciclo político aberto pelo governo Lula. E aponta o seu receio diante da real perspectiva da continuidade desta experiência.

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O seminário do Instituto Millenium, realizado na semana passada num luxuoso hotel da capital paulista, foi muito positivo. Ele serviu para tirar qualquer dúvida sobre a postura que o grosso da mídia hegemônica adotará na eleição presidencial de 2010. Colunistas de aluguel, como Arnaldo Jabor, Reinaldo Azevedo e Demétrio Magnoli, entre outros mercenários, somente vocalizaram o que os barões da mídia já decidiram: eles unificarão suas pautas, reportagens e manchetes para atacar a ministra Dilma Rousseff, estimular o diversionismo e blindar o governador José Serra.

Bia Barbosa e Gilberto Maringoni, dois jornalistas que não ocultam suas críticas de esquerda ao governo Lula, cobriram o evento nauseante e ficaram surpresos com seu grau de agressividade. Bia concluiu que o evento serviu apenas para ‘organizar a campanha contra Dilma’. Maringoni notou que os discursos ‘raivosos’ alvejaram os aspectos democráticos do atual governo, como o Plano Nacional de Direitos Humanos e a Conferência Nacional de Comunicação, e sinalizaram a estratégica eleitoral unificada e ofensiva dos barões da mídia na batalha sucessória.

Revelações do twitter do Estadão

Prova das péssimas intenções dos barões da mídia foi revelada no twitter do insuspeito Estadão. Entre outras pérolas direitistas, ele registrou: ‘A imprensa se acordou diante do lulismo’, rosnou Reinado Azevedo, o pitbul da Veja. Noutro trecho, confessa: ‘O Marcelo [Madureira, do Casseta e Planeta] diz ser do PSDB. Eu não, eu sou de direita’. Madureira, após explicitar a sua simpatia tucana, ataca Lula: ‘Vivemos num país em que o presidente usa a mentira como prática política’.

Entra em cena o elitista Arnaldo Jabor: ‘A democracia é um conceito sofisticado. Tangenciamos a ditadura da maioria’. O bobo da corte da TV Globo prossegue: ‘Minha preocupação é que, se a Dilma for eleita, teremos uma infiltração de ‘formigas’ da velha esquerda’. Um dos chefões do Grupo Abril, Sidney Basile, ainda teoriza: ‘O risco de nos aproximarmos da ditadura da maioria é real’. Todos os palestrantes, com exceção dos ‘intrusos’ Antonio Palocci e Hélio Costa, nem disfarçaram as suas preferências eleitorais pelo candidato tucano José Serra.

‘Esquerda que não deve existir’

O twitter do Estadão deixou de registrar outras tiradas de golpismo explícito, talvez temendo as chacotas. ‘A imprensa tem que acabar com o ‘isentismo’ e o ‘outroladismo’, com esta história de dar o mesmo espaço para todos’, rosnou o Reinaldo Azevedo. Já o arrivista Demétrio Magnoli agitou a galera ao alertar que ‘só a vitória da oposição’ pode evitar a ‘restauração stalinista’ que seria representada pela candidatura Dilma Rousseff. ‘Não somos Venezuela ou Cuba. Temos que falar que somos diferentes’, esbravejou o ex-esquerdista, hoje um direitista convicto e hidrófobo.

Denis Rosenfield, um fascista folclórico, seguiu a toada. ‘O PT propõe subverter a democracia pelos processos democráticos’. Já o líder da seita fundamentalista Opus Dei, Aberto Di Franco, repetiu velhas bravatas. Coube ao bobo da corte da TV Globo animar a platéia. ‘Lula, com seu temperamento conciliador, teve o mérito de manter os bolcheviques e os jacobinos fora do poder. Mas conheço a cabeça dos comunistas, fui do PC, e isso não muda, é feito pedra… A questão é impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir’.

Feras acuadas e violentas

O convescote do Instituto Millenium revela o preconceito de classe e o asco de parcela das elites com o ciclo político aberto pelo governo Lula. E aponta o seu receio diante da real perspectiva da continuidade desta experiência. O instituto congrega a nata da burguesia nativa, com banqueiros, latifundiários e industriais. O especulador Armínio Fraga, gestor do fundo da entidade, é o ícone desta confraria. Pragmáticos, eles choram mais recursos públicos e incentivos fiscais. Na hora da batalha sucessória, porém, eles não escondem seus arraigados interesses políticos de classe.

Expressão da nova realidade, o instituto reúne quase todos os barões da mídia e confirma que os meios privados de comunicação são hoje o ‘partido do capital’. Roberto Irineu Marinho, Otávio Frias Filho e Roberto Civita fizeram questão de assistir seus histéricos. Terceirizaram o trabalho sujo, mas estão apreensivos. ‘A guerra da democracia está sendo perdida’, rosnou Azevedo. ‘Se o Serra ganhasse, faríamos a festa em termos das liberdades… Mas a perspectiva é que a Dilma vença’, lamuriou Magnoli. Como feras acuadas, os barões da mídia ficarão ainda mais violentos.

Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e organizador do livro ‘Para entender e combater a Alca’ (Editora Anita Garibaldi, 2002).’

 

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