Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Alberto Dines

‘O Brasil cresce à noite – quando políticos dormem e não atrapalham. O velho axioma confirmou-se na última quinta-feira quando o IBGE divulgou uma expansão recorde na produção industrial: mais 2,2% com relação a abril e mais 7,8% quando comparada com maio de 2003. Uma das novidades foi o aquecimento na venda de bens não-duráveis, inclusive vestuário, estimulado por um inverno prematuro e rigoroso.

São Pedro foi, aparentemente, mais eficaz do que os parlamentares da base aliada que ainda não conseguiram votar a Parceria Publico-Privada (PPP) para sustentar o fluxo de investimentos e evitar bolhas ou espasmos.

Semi-adormecido, meio-acordado, mas de qualquer forma muito consciente do que faz, o PT deixa escapar uma rara oportunidade para erradicar da cena política o pernicioso conceito do ‘rouba mas faz’. Ademar de Barros encarnou-o nos anos 40, Paulo Maluf a partir da década de sessenta e, quando finalmente a Suíça começou a mostrar que além de cucos, chocolates e contas numeradas, também é capaz de formar juízes rigorosos, chega a notícia do arquivamento da sindicância para apurar os crimes de lavagem de dinheiro praticados pelo ex-prefeito e seus familiares.

Qual a culpa do PT neste arquivamento? As autoridades brasileiras estão de braços cruzados há dois anos incapazes de produzir novos documentos para alimentar os procedimentos em Genebra e transformá-los em processo. E o PT há 18 meses no poder flerta com Paulo Maluf na esperança de que o eterno candidato a qualquer cargo vago seja confirmado no próximo pleito municipal paulistano para tirar votos do candidato da oposição e favorecer a reeleição da prefeita Marta Suplicy.

Prova da manhosa estratégia foi a afobada reação da prefeitura tão logo se divulgou a notícia do arquivamento da sindicância envolvendo Maluf: a procuradoria-geral do município entrou imediatamente com um pedido para que a justiça suíça reabra as investigações e despachou dois funcionários com novo reforço documental.

Por que não o fez antes? Não interessava. Era preciso ganhar tempo e permitir que a candidatura de Maluf fosse lançada formalmente. Agora, a cada dia que passa, sua cassação fica mais difícil, exatamente como planejavam os estrategistas do PT: não o querem fora do pleito, mas capaz — mesmo desacreditado — de dividir o eleitorado anti-Marta.

Maquiavel não o faria diferentemente. Quando em 1998 na campanha para o governo de São Paulo a atual prefeita designou Maluf como nefasto não apenas combatia um adversário, mas fornecia o vocábulo-chave, arrasador trissílabo, para compor o seu retrato definitivo.

Mudou Maluf, mudou Marta ou mudou o dicionário? Ninguém mudou. Nesses seis anos introduziu-se no repertório político a figura do nefasto-útil, a sinistra figura que se torna essencial para jogar o jogo sujo dos fins que justificam os meios.

Injusto situar a manobra apenas nos porões da política municipal. Também na esfera federal nota-se uma — digamos — fleuma na operação para atalhar o percurso da dinheirama malufiana no labirinto internacional de lavagem de dinheiro.

A pasta da Justiça que compõe o minoritário grupo dos bem-sucedidos na Esplanada dos Ministérios, desta vez, não fez jus à fama de competência. Os defensores do interesse público sabiam que o dinheiro já deixara a Suíça e escondia-se nos domínios ingleses. Obviamente, deveriam fechar as duas portas, como recomendam os manuais de caça aos larápios. Se o erário municipal foi lesado e a vítima foi o contribuinte paulistano, isso não significa que o poder público federal deva manter-se álgido e distante de um problema que, antes de tudo, compromete a credibilidade do país.

Na comemoração dos 18 meses no poder, os marqueteiros do governo não incluíram no rol das façanhas a consagração do pragmatismo. Por modéstia, certamente. Em apenas três semestres, o partido das quimeras e utopias graduou-se na realpolitik, esta sedutora alquimia de resultados capaz de juntar boa-fé com má-fé numa salada moral cujo preço pode ser exorbitante.’’



Virgilio Abranches

‘Pressionado na TV, Maluf volta a negar acusações’, copyright Folha de S. Paulo, 7/7/04

‘O candidato do PP à Prefeitura de São Paulo, Paulo Maluf, voltou a ser questionado por jornalistas -desta vez no programa ‘Roda Viva’, da TV Cultura, anteontem- sobre contas bancárias no exterior e sobre um pacto de não-agressão com o PT.

Em relação às contas em outros países, Maluf insistiu que não as tem. Indagado ainda sobre movimentações financeiras que sua mulher, Sylvia, teria feito no paraíso fiscal de Luxemburgo, também negou, dizendo que os jornalistas deveriam acreditar em sua palavra.

Sobre as acusações de desvio de verbas de obras, exibiu documento do Tribunal de Contas do Município e disse que suas contas como prefeito foram aprovadas.

O ex-prefeito também negou um suposto acordo para não agredir a prefeita Marta Suplicy (PT). Sobre o fato de o deputado petista José Mentor, relator da CPI do Banestado (que investiga envio irregular de dólares ao exterior), insistir em não convocá-lo para depor, afirmou: ‘O José Mentor foi vereador quando eu era prefeito. Nunca entrou no meu gabinete e nunca votou a meu favor’.

O ex-prefeito discutiu com o repórter do jornal ‘O Estado de S. Paulo’ Fausto Macedo, que lhe perguntou se Maluf achava que ‘o político que rouba, mas faz’, deveria ser preso. ‘Se você se refere a mim, eu sou um homem correto, eu te respeito e você me respeita’, respondeu.

Quando questionado pelo mesmo jornalista se dormia ‘tranqüilo’, Maluf disparou: ‘Mais do que você’. E Macedo respondeu: ‘Isso eu duvido’.

Apesar de negar o pacto de não-agressão com o PT, Maluf centrou fogo no candidato do PSDB, José Serra, e elogiou o bilhete único e os CEUs (Centros Educacionais Unificados), principais projetos de Marta.

Vinculou o nome do tucano à Operação Vampiro, que investiga fraudes na Saúde entre 1990 e 2004 (Serra foi ministro da área de 1998 a 2002), e ao que chamou de ‘juros pornográficos’ de FHC.

‘Minhocão’

O ex-prefeito repetiu as promessas de gerar empregos e ajudar na segurança pública e defendeu as obras que fez em São Paulo. Nesse momento, questionado se se arrependia de ter construído o elevado Costa e Silva, viaduto conhecido como ‘Minhocão’, Maluf citou o publisher da Folha, Octavio Frias de Oliveira.

‘Tenho orgulho do ‘Minhocão’ e vou fazer uma revelação. Peço aqui ao Fernando Rodrigues, que trabalha na Folha de S. Paulo, que naturalmente ele tem acesso ao senhor Octavio Frias de Oliveira, a quem eu tenho maior respeito, homem de 92 anos, que trabalha todos os dias. Ele me disse, ainda na semana passada: ‘Paulo, por que você não faz mais propaganda do Minhocão? É a sua melhor obra. Uso ela todo dia. É a melhor obra da cidade’.’’



Jade Augusto Gola

‘Líderes nas pesquisas vão a debate da Band’, copyright O Estado de S. Paulo, 7/7/04

‘Fernando Mitre, diretor de jornalismo da Band, confirmou para o dia primeiro de agosto, a realização do segundo debate com os candidatos à Prefeitura paulistana. José Serra (PSDB), Paulo Maluf (PP) e Marta Suplicy (PT), candidatos que não compareceram no debate da Globo, confirmaram sua presença.

O debate será mediado por Carlos Nascimento e terá cinco blocos. Agora, além das perguntas feitas pelo mediador e entre os candidatos, jornalistas da emissora escolherão um candidato para responder uma pergunta e outro para comentar a resposta, com direito a réplica.

Segundo Mitre, essa fórmula já estava sendo estudada há meses. ‘Esse formato é a síntese de tudo que deu certo na Band. Assim, os eleitores terão condições plenas de fazer uma boa comparação entre os candidatos’, completa.

Ao contrário da Globo, que levou o debate ao ar às 11 horas de uma quinta-feira, a emissora do Morumbi realiza o seu em um domingo, às 22 horas. O debate do segundo turno já está marcado para o dia 10 de outubro, mas está em estudo a realização de um segundo debate ainda no primeiro turno, que seria realizado no dia 12 de setembro.’