Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Alckmin tem vantagem sobre Lula na TV

Leia abaixo os textos desta quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 6 de julho de 2006


ELEIÇÕES 2006
Fernando Rodrigues e Marta Salomon


Na TV, vantagem de Alckmin será de 23 minutos por semana


‘Uma nova interpretação do Tribunal Superior Eleitoral deve ampliar ainda mais a vantagem de tempo de rádio e de TV que o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) terá sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a campanha eleitoral.


Com a mudança, Alckmin ficará com 23 minutos a mais que Lula por semana, considerando os programas que irão ao ar três vezes por semana a partir de 15 de agosto, e as inserções diárias de até um minuto cada. O TSE, segundo a Folha apurou, determinará que sejam consideradas as bancadas partidárias da eleição (em outubro de 2002), e não as do dia da posse (em fevereiro de 2003), para fazer o cálculo da divisão do tempo da propaganda. Dois terços do tempo são divididos com base no número de deputados.


Como entre a eleição e a posse o PSDB e o PFL, siglas que dão sustentação a Geraldo Alckmin, perderam 16 deputados, a nova interpretação do TSE favorece o candidato tucano. Os partidos que apóiam formalmente Lula perderam apenas um deputado no período.


Pela interpretação que valeu até a eleição de 2002, com base na bancada da posse, a aliança tucana-pefelista teria direito a 74 minutos semanais na TV e outros 74 minutos no rádio. Agora, de acordo com o novo entendimento, esse tempo sobe para 81 minutos.


No caso de Lula, os partidos que dão sustentação ao petista (PT, PC do B e PRB) não tiveram grande alteração nas suas bancadas entre a eleição e a posse. Ainda assim, o petista ganha um minuto a mais com a nova interpretação do TSE: sai de 57 para 58 minutos, aproximadamente.


Por uma provocação do PSDB, que se considerava prejudicado pela interpretação antiga da lei, o TSE passou a considerar, em 2004, a bancada eleita. Essa regra foi confirmada pela nova lei eleitoral, sancionada em maio. O tribunal chegou a divulgar que esse dispositivo da nova lei não valeria, mas quatro dos sete ministros do TSE, ouvidos pela Folha, tendem a considerar o número de deputados eleitos em 2002.


A Folha simulou o tempo que os candidatos ao Planalto terão no rádio e na televisão por semana. As propagandas dos presidenciáveis irão ao ar em dois programas diários de 25 minutos cada às terças, quintas e sábados. Eles também irão dividir seis minutos diários de inserções curtas, de até um minuto cada, nos 45 dias de propaganda eleitoral.


Uma terça parte do tempo é dividida igualmente entre os sete candidatos lançados até ontem, último dia para registro das candidaturas. Os dois terços restantes são divididos de acordo com a bancada de deputados, mas não reflete a atual composição da Câmara.


A regra explica por que a candidata Heloísa Helena, lançada pelo PSOL, com sete deputados, terá menos tempo que Luciano Bivar, cujo partido, o PSL, perdeu seu único representante na Câmara. O PSOL foi criado só em junho de 2004.


Alckmin e Lula dominarão o espaço de propaganda gratuita no rádio e na televisão. Juntos, terão mais do que o dobro do tempo de todos os demais candidatos reunidos.’


 


Silvio Navarro


Aliança de Alckmin em 2006 imita o slogan de Lula em 2002


‘O conselho político criado para balizar a campanha do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) definiu ontem que a coligação formada por PSDB e PFL levará o nome de ‘Por um Brasil decente’, levantando a bandeira da ética. O título é similar ao slogan usado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição de 2002. À época, a campanha do petista também fora centrada na ética, com os dizeres ‘Por um Brasil decente, vote Lula presidente’.


Elaborada pelo responsável na área de comunicação da campanha tucana, Luiz Gonzalez, a escolha do nome da coligação agradou ao PFL, que cobra do candidato uma atitude mais crítica em relação à moralidade. A queixa dos pefelistas é que Alckmin explora pouco o escândalo do mensalão em seus discursos. A crise política do governo Lula foi tema do último programa do PFL na TV.


Em conversa com líderes partidários, Alckmin afirmou porém que não quer fixar a ética como seu lema de campanha, sob o argumento de que quer ser ‘o candidato do desenvolvimento’. Disse que o tema da ética dá margem a críticas dos adversários de que seu discurso é esvaziado. Ontem, em entrevista, o tucano disse ‘ser muito diferente’ do presidente Lula, em resposta a uma reportagem do jornal inglês ‘Financial Times’, intitulada ‘Dois principais candidatos brasileiros têm muito em comum’.


‘Somos diferentes na maneira de governar, nos valores éticos, na visão de mundo, nas questões macroeconômicas, na política externa, na qualidade de serviços públicos, educação, saúde e segurança pública’, declarou o ex-governador.


Ele afirmou ainda que Lula faz ‘uma política atrasada’ de investimentos, ‘movida pelo processo eleitoral’. ‘É um tipo de política que deve ser superada. Tem que trabalhar desde o primeiro dia, e não deixar para fazer na véspera de eleição.’


Estados com problemas


Na reunião do conselho político, os coordenadores estabeleceram que darão atenção especial a três Estados, apontados como zona de tensão no mapa de alianças: Maranhão, Espírito Santo e Amazonas.


No Maranhão, o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), se comprometeu a pressionar a senadora Roseana Sarney (PFL-MA), que concorre ao governo local, para que faça um gesto em favor de Alckmin. Os tucanos reclamam que ela negocia apoio velado a Lula.


No Espírito Santo, os tucanos ainda buscam um palanque para Alckmin, já que o partido indicará o vice na chapa de Paulo Hartung (PMDB), mas o governador capixaba está inclinado a apoiar o presidente Lula na campanha à reeleição. O problema no Amazonas é conciliar as candidaturas rivais ao governo de Arthur Virgílio (PSDB) e Amazonino Mendes (PFL).


Segundo o vereador José Anibal, Alckmin disse ter telefonado para Aécio Neves e José Serra para minimizar o impacto de suas declarações sobre reeleição. Ao conselho, Alckmin alegou ter defendido a emenda da reeleição antes e que não queria parecer volúvel.


Alckmin inicia hoje oficialmente sua campanha por onde a de Lula terminou: no palanque de Luiz Henrique da Silveira (PMDB), em Santa Catarina. Foi em Florianópolis que Lula fez o último comício em 2002.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Testar a democracia


‘Os sites dos mexicanos ‘El Universal’, à direita, e ‘La Jornada’, à esquerda, mudavam de manchete de dez em dez minutos ou menos, ontem na recontagem das atas de votação do pleito presidencial.


Passados três dias da eleição e com três milhões de cédulas ressurgindo do nada, não tem mais site no mundo que arrisque a vitória à direita ou à esquerda.


O NYT.com até chegou a destacar que o conservador Felipe Calderón propôs um governo de coalizão, mas logo voltou atrás e passou o dia com o enunciado ‘México faz recontagem’ na home.


O WP.com, no alto de sua página inicial, ficou dizendo que a ‘Contagem mexicana aumenta a tensão’ e falou em ‘possível violência’. No blog do site, comparações com o caso ‘Bush-Gore 2000’.


O econômico WSJ.com, na mesma linha, dizia que o ‘Empate no México poderá testar sua democracia’. E o FT.com primeiro destacou que o esquerdista López ‘Obrador ainda pode vencer’, mudando depois para críticas de Calderón ao adversário.


Do espanhol Elpais.es ao brasileiro UOL, a inusitada vantagem de Obrador ontem na recontagem foi destaque.


De volta ao México, ‘El Universal’ e ‘La Jornada’ pouco diferiam na renovação das manchetes da apuração, com a vantagem de Obrador caindo pouco a pouco -até que se alcançaram os 80% e o ritmo, subitamente, cresceu.


Começou então a batalha de denúncias entre o PAN de Calderón e o PRD de Obrador, com entrevistas dos mesmos sites à CNN em espanhol.


Esta última, por volta de 23h15 (Brasília), ouvia dos primeiros que os segundos haviam atrasado as atas das regiões pró-Calderón. Já os segundos diziam que só uma recontagem dos votos -e não das atas- seria confiável.


O problema eram ainda os votos ‘inconsistentes’ que apareceram quase do nada nas contas da justiça eleitoral, em favor de Obrador, terça.


Os dados ‘inconsistentes’ que deixaram a vantagem de Calderón sobre Obrador em 0,6% na primeira contagem já eram notícia por aqui desde o ‘Jornal da Globo’, na terça.


Mas o ex-blog de Cesar Maia, que gosta de mencionar o seu papel na resistência ao escândalo Proconsult, em 82, já destacava ontem a razão que teria garantido a suposta ‘vitória de Felipe Calderón’.


Seria ‘a campanha do medo contra Obrador’, a mesma que o prefeito pefelista do Rio vem propondo à ‘equipe do Alckmin’, agora contra Lula.


Do outro lado, o site Carta Maior anunciava ontem em sua manchete, ‘Suspeita de fraude eleitoral deixa México à beira de crise’. O site fala em ‘manobras turvas’ etc.


E lembra o ‘fantasma de 1988’, quando o candidato do mesmo PRD, Cuauhtémoc Cárdenas, perdeu para Carlos Salinas de Gortari -o mesmo que encaminharia o acordo de livre comércio com os EUA.


‘I AM BETTY, THE UGLY’


No ‘Washington Post’ de ontem, ‘Melodramas latino-americanos que são ‘made in the U.S.A.’. Diz o jornal que ‘o segredo é simples’:


– Pegue duas pessoas que querem se beijar. Evite que elas o façam por mais de 120 capítulos.


São as ‘telenovelas’, que ‘eram escritas e produzidas geralmente no México, Venezuela, Brasil’ e agora têm uma indústria em Miami, para redes em espanhol como Telemundo. E a ABC, uma das três grandes, já anuncia em inglês ‘I Am Betty, the Ugly’. Aquela, ‘Betty, a Feia’.


CASQUINHA


No ‘JN’, Heloísa Helena questionou Hugo Chávez -e Marco Aurélio Weissheimer fez questão de anotar que ‘até a senadora resolveu ‘tirar uma casquinha’ do presidente venezuelano’, em seu artigo para o site Carta Maior, ‘Por que o ingresso da Venezuela no Mercosul incomoda?’.


Se reagiram à esquerda, do outro lado sobrou elogio. Para Cesar Maia, ele novamente, a senadora foi ‘ hábil e efetiva’ e ‘fala aos nacionalistas’.


PARA INGLÊS


Na manchete do UOL, ‘Alckmin planeja gastar até R$ 85 mi; Lula, R$ 89 mi’. Do Terra, ‘Alckmin limita gastos de campanha em R$ 85 mi, e PT estima gastar 89 milhões na campanha de Lula’.


Foi assim por quase toda parte, mas, na mesma home do UOL, Fernando Rodrigues avisava que ‘não há punição’ para o caso de os candidatos gastarem acima do que o anunciado ontem. Em suma:


– É para inglês ver.’


 


DIPLOMA
Folha de S. Paulo


Senado aumenta funções que exigem diploma de jornalista


‘O Senado aprovou anteontem uma proposta da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) que amplia as funções da categoria de 11 para 23. Como conseqüência, o diploma universitário de jornalista será exigido de repórteres-fotográficos, cinematográficos e comentaristas. O projeto vai agora à sanção presidencial.


‘Quem já está no mercado tem direito adquirido, a lei não retroage’, afirmou o presidente da Fenaj, Sérgio Murilo. A entidade convenceu o deputado Pastor Amarildo (PSC-TO) a encampar a proposta, colocada sob a forma de um projeto de lei.


O caso dos comentaristas deve gerar dúvidas. Para a Fenaj, ex-jogadores que exerceram a função na Copa estão enquadrados na nova legislação. ‘A Associação de Cronistas Esportivos de São Paulo está revoltada’, disse Murillo. Ele afirma, porém, que contribuições esporádicas de especialistas não terão exigência de diploma.


O projeto reserva ainda a jornalistas atividades de professor de jornalismo, editor e coordenador de imagem, e cria funções na internet.’


 


TELINHA
Daniel Castro


Globo vende até em hospital de ‘Páginas’


‘Principal cenário dos dramas de ‘Páginas da Vida’, a próxima novela das oito, o fictício hospital Santa Rita se tornará fonte de receitas publicitárias para a Globo, acredita o departamento comercial da emissora.


No plano comercial da novela, que a Globo começou a enviar para as agências de publicidade na última segunda-feira, o hospital é descrito como um cenário em que ‘produtos podem ser inseridos de forma natural’. No capítulo das oportunidades de merchandising da história de Manoel Carlos, o Santa Rita só perde em importância para o bairro carioca do Leblon.


É no hospital que trabalhará a protagonista de ‘Páginas da Vida’, Helena (Regina Duarte). Em seu centro cirúrgico nascerão os gêmeos que movimentarão a trama central da novela. Nos seus corredores serão discutidos o alcoolismo e o corporativismo entre médicos e se desenvolverá um romance entre um portador de Aids e uma freira (Letícia Sabatella).


A Globo não pretende usar o hospital para atrair anunciantes de remédios ou de produtos hospitalares (que têm um mercado restrito). A emissora não faz merchandising de medicamentos porque teria que interromper a novela para alertar que ‘ao persistir os sintomas, um médico deverá ser consultado’. Mas vislumbra oportunidade de usar o refeitório e os corredores do hospital como vitrines, por exemplo, de máquinas de refrigerantes.


QUEM SABE…


Ana Maria Braga passou por uma saia justa ao abrir o ‘Mais Você’ de ontem, ao vivo, na frente de uma padaria de São Paulo. Um homem entrou diante da câmera que focava a apresentadora e protestou contra um helicóptero, que, segundo ele, ‘fazia barulho’ desde as 7h, ‘uma falta de educação’.


… FAZ AO VIVO


Ana Maria tirou de letra o episódio. E o ‘manifestante’ tinha razão: o helicóptero estava a serviço da Globo.


NOVO CALENDÁRIO


A Record vai mudar os dias de exibição de ‘O Aprendiz’. A terceira edição do ‘reality show’ não irá mais ao ar às terças e quintas _mas em um desses dois dias e aos domingos.


REJEIÇÃO A GALVÃO


Segundo o Ibope, 21% dos telespectadores da Globo mudaram de canal durante as transmissões dos jogos do Brasil na Copa. Mas o ‘índice de fidelidade’ (percentual de telespectadores que não mudam de emissora durante determinado programa) à Globo cresceu de 77% em 2002 para 79% nesta Copa.


CANAL CAMPEÃO


O SporTV divulgará hoje que foi o canal mais visto da TV paga em junho. Desde o início da Copa, 6,2 milhões de pessoas diferentes sintonizaram os três SporTVs durante os jogos.’


 


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O Globo


Quinta-feira, 6 de julho de 2006


CENSURA
Gilberto Scofield Jr.


China endurece tratamento dado à imprensa estrangeira no país


‘PEQUIM. Wang Yongqing, vice-ministro do Escritório de Assuntos Legislativos do Conselho de Estado da China, afirmou que também será estendida às empresas jornalísticas estrangeiras em operação no país a lei que pretende estabelecer multas que variam de 50 mil a 100 mil yuans (US$ 6.250 a US$ 12.500), a partir de outubro, a toda a mídia chinesa que noticiar, sem prévia autorização do governo, ‘emergências de caráter público’.


A lei, que ainda está sendo preparada pelo governo chinês, considera ‘emergências de caráter público’ não apenas desastres naturais, mas grandes acidentes (inclusive ecológicos), epidemias, protestos e qualquer manifestação popular que o governo considere negativa para a imagem do país. Antes, imaginava-se que a lei se aplicasse somente à mídia local, mas Wang Yongqing disse que a lei é para a mídia estrangeira no país.


— A mídia estrangeira deve ser incluída. Da mesma maneira que um repórter chinês vai trabalhar na França ou na Inglaterra e precisa obedecer às leis do país — disse Wang. — A lei busca regular a atividade e se a pessoa vem trabalhar na China, tem que obeceder à lei.


A legislação chinesa já impõe uma série de restrições a jornalistas estrangeiros: proibição de viagens, seleção de quem faz perguntas em entrevistas coletivas e monitoramento regular de matérias. Mas a idéia de multar a imprensa estrangeira causou indignação aos jornalistas, que já estavam insatisfeitos com a restrição à mídia local.


Governo se sente ameaçado, dizem analistas


Curiosamente a entrevista de Wang Yongqing, que reuniu poucos correspondentes de grandes grupos internacionais de mídia, procurou negar a tese de que a medida vá cercear o trabalho da imprensa na China. Segundo ele, o objetivo ‘é dar às autoridades tempo necessário para apurar responsabilidades e comunicar a informação realmente verdadeira e responsável.’


— A lei vai impor às autoridades locais, àqueles que realmente possuem as informações relevantes, mais responsabilidade na administração de emergências — disse Wang, sem explicar, porque a multa terá que ser aplicada sobre a imprensa, e não sobre a autoridade local que der informações erradas.


Wang é o principal responsável pelo texto da lei que está sob análise do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo (CNP), todos sob a influência do Partido Comunista da China (PCC). O governo de Pequim não se cansa de bolar leis que restrinjam a livre circulação de informações. Na semana passada, por exemplo, durante uma conferência, o diretor do Escritório de Informações do Conselho de Estado, Cai Wu, afirmou que o governo prepara novas leis de controle do conteúdo da internet chinesa, sem dar maiores detalhes de como o governo poderá apertar a censura sobre uma mídia já tão censurada.


Para analistas, o visível esforço do governo para aumentar o controle da informação é uma prova do quanto ele próprio vem se sentindo ameaçado pelas novas tecnologias, que permitem a disseminaçào da informação com cada vez mais rapidez.


Às 11h56m de ontem, um terremoto de 5,1 pontos na escala Richter (considerado leve) atingiu uma região na fronteira de Pequim com a província de Hebei, a 90 quilômetros do centro da capital.’


 


PABLO TRAPERO
Rodrigo Fonseca


Face autoral para o cinema argentino


‘Atestam os críticos que análise alguma sobre o novo cinema argentino será pertinente se deixar Pablo Trapero de fora. Festivais do mundo inteiro já perceberam que o diretor de longas-metragens como ‘El bonaerense — O outro lado da lei’ (2002) e ‘Família rodante’ (2004), que acaba de sair em DVD aqui, gera intenso boca a boca a cada novo filme que apresenta. Espera-se o mesmo de ‘Nacido y criado’, que o cineasta de 31 anos finaliza neste momento, com co-produção da Videofilmes de Walter Salles — aliás, o primeiro diretor brasileiro a exaltar Trapero publicamente como grande revelação hispano-americana. E já se fala que o longa estará na disputa pelo Leão de Ouro no 63 Festival de Veneza, de 10 de agosto a 9 de setembro.


— Só vou pensar nessa rota de festivais com ‘Nacido y criado’ devidamente finalizado, o que deverá acontecer nas próximas semanas. Até dá tempo para Veneza — diz o diretor, que, em conversa com O GLOBO por telefone, adiantou a discussão de seu novo longa. — Este é um filme solidário com seu protagonista. Minha ambição é abrir os sentimentos dele, pouco a pouco.


Trapero se refere ao drama existencial enfrentado por Santiago (Guillermo Pfening, de ‘Coração iluminado’), um pai de família que vivia feliz com a mulher e a filha até que um acidente tira dele as coisas que mais ama. Vivendo em uma paisagem gelada, trabalhando em um aeroporto em um fim de mundo do sul argentino, Santiago tenta driblar os fantasmas do passado.


— Não acredito que o cinema precise de discursos formais ou de se bancar como uma testemunha oficial da realidade. Até porque, quando é assim, o discurso supera a narração e não é isso o que eu quero para os meus filmes. O que eu busco é mostrar como histórias aparentemente distantes de nós podem se cruzar com o que acreditamos. Fiz um filme sobre um chaveiro de Buenos Aires que vira policial nos subúrbios de Buenos Aires (‘El bonaerense — O outro lado da lei’) , para ver até quando aquele sujeito está longe de mim — explica.


Ao lado de Lucrecia Martel, diretora de ‘Pântano’ (2001) e ‘Santa menina’ (2004), Trapero é hoje um dos estandartes da autoralidade entre os diretores revelados na Argentina de uma década para cá. Ele é sempre elogiado pelo casamento harmônico que mantém entre engenhosidade narrativa e economia formal.


Sucesso de público sem perder a seriedade


Walter Salles enquadra Trapero em uma geração do continente ‘para a qual a fronteira entre a vida e o cinema não existe’. E ele retribui:


— Walter virou uma referência internacional na medida em que criou uma obra a partir da observação da realidade social do continente. E hoje, o que sobressai no audiovisual da América Latina é a preservação das peculiaridades locais — diz o diretor, que desenvolve seus projetos a partir da produtora Matanza, cujo nome faz alusão ao município da Grande Buenos Aires em que Trapero nasceu e passou a juventude.


Essa escolha apenas ilustra o compromisso do diretor em dialogar com as singularidades das regiões argentinas em seus filmes. Essa parece ser uma marca dos cineasta formados sem o espectro de ‘A história oficial’, o longa de Luis Puenzo que rendeu o Oscar para a Argentina em 1986 e que, durante anos, foi um marco no audiovisual do país.


— ‘A história oficial’ foi um filme importante politicamente para o debate sobre as ditaduras latino-americanas da década de 70. Mas não sei se ele ainda é uma referência. O que eu vejo na Argentina hoje é a eclosão de filmes que conseguem dialogar muito bem com o público e, ainda assim, conservar um olhar sério de seus diretores sobre as questões que abordam.’


 


COPA 2006
Quebrei a cara


João Ubaldo Ribeiro


‘Melancólico fim de carreira. Quando eu já estava pensando em abraçar a futurosa profissão de comentarista esportivo, resolvi me meter a sabido e fiz a previsão de que a Alemanha venceria o jogo de anteontem. Pelo menos isto prova que não menti, quando disse que estava escrevendo antes do jogo e pedi a vocês um crédito de confiança quanto a isso.


Eu tinha acabado de ouvir várias conversas sobre o assunto e, num impulso fatal, decidi tirar o lapetope de onde ele estava quietinho e lá deveria ter ficado. Que a Copa desta vez ficaria na Europa era consenso entre todos desde o começo, mas a história da Alemanha era minoritária. E eu fiquei com a minoria, que era muito eloqüente e parecia cheia de evidências difíceis de ignorar.


Há uma coisinha ou outra em meu favor, embora não faça diferença para a mancada que dei. Tive a chance de substituir o texto por outro, mas não achei que seria honesto. Eu falei e tinha que assumir o que disse, para não seguir exemplos que em outros setores da vida nacional abundam. Houve quem me sugerisse que, hoje, explicasse aos leitores que escrever num trem pode trazer resultados desastrosos, pois o envio de material a partir de trens pode distorcer irreparavelmente o que foi escrito, devido a problemas com o campo magnético criado por composições ferroviárias elétricas. Mentira, claro, que, aliás, seria imediatamente contestada, por se tratar, além de mentira, de uma besteira sem tamanho.


Outra coisinha é que de fato esta Copa tem sido estranha, a começar pela maneira com que a seleção jogou todas as vezes em que foi a campo. Posso estar me metendo a sabido outra vez, mas ouso reafirmar que o Brasil não joga assim, mesmo com a escalação preferida por Parreira. Houve ocasiões em que os nossos (nossos?) jogadores tinham muito mais posse de bola que o adversário, mas ficavam trocando passezinhos para os lados e para trás, como um time que está ganhando de um a zero aos 44 minutos do segundo tempo.


Nem no fim do jogo contra a França houve o que os narradores costumam chamar de desespero, ninguém corria desabaladamente para tentar arrancar um golzinho, ninguém se arriscava, ninguém parecia estar afetado pela derrota final, que viria dentro de poucos minutos. Que eu me lembre agora, só o Robinho, coitado, que entrou quando o jogo já ia acabar e procurava a bola com um empenho que fazia dó, diante dos outros.


Bem, desculpem, de qualquer forma. Como disse na ocasião, receberei eventuais ou inevitáveis gozações com estoicismo. Embora a carreira esportiva tenha ido para o brejo, pelo menos aprendi alguma coisa. Eis as minhas previsões agora: a final vai ser jogada entre a França e a Itália e o terceiro lugar será disputado entre Portugal e Alemanha.’


 


Ancelmo Gois


Fator Zidane


‘A Nike suspendeu os anúncios de TV com Ronaldinho Gaúcho fazendo firula com uma bola.


O espaço de mídia que tinha sido reservado, em horário nobre, foi doado para a Fundação Gol de Letra, que vai colocar no ar a campanha ‘Toca disco’.’


 


ELEIÇÕES 2006
Campanha começa e Planalto teme que disputa vá para segundo turno


Gerson Camarotti


‘BRASÍLIA e FLORIANÓPOLIS. A campanha começa oficialmente hoje, mas os candidatos já decidiram estratégias distintas baseadas principalmente nos índices de pesquisas. Com 46% das intenções de voto, segundo o último levantamento do Datafolha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai tentar finalizar a disputa eleitoral no primeiro turno. A cúpula petista e o núcleo palaciano decidiram que a tática é polarizar com o candidato tucano, Geraldo Alckmin, para evitar uma campanha muito pulverizada. No Planalto, o maior temor é que a disputa vá ao segundo turno, o que criaria desgaste para Lula.


Para evitar o debate sobre denúncias de corrupção que atingiram o seu governo nos últimos 12 meses, Lula vai insistir na comparação de sua gestão com a tucana. Diferentemente dos demais candidatos, Lula só começará sua campanha oficial na próxima semana, quando participa de um jantar de adesão, na quinta-feira, em São Bernardo, berço de sua trajetória política. Antes, Lula vai trabalhar nos bastidores. Ele quer anunciar nos próximos dias um acordo com o bloco majoritário do PMDB. O acerto já está sendo negociado pessoalmente com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP).


Luiz Henrique tenta reeleição em SC fora do cargo


Já o segundo colocado nas pesquisas, o tucano Geraldo Alckmin, com 29% das intenções de votos, tem mais pressa e começa hoje a campanha oficial em Florianópolis. O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira (PMDB), candidato à reeleição, renuncia ao governo pela manhã e à tarde, já oficialmente em campanha, oferecerá o palanque de seu primeiro discurso a Alckmin, num hotel da capital. Luiz Henrique será o único ocupante de cargo executivo a disputar as eleições deste ano fora do poder.


A escolha de Santa Catarina deveu-se ao fato de que, no estado, já está consolidada a aliança entre pefelistas, tucanos e integrantes da ala oposicionista do PMDB, dando um palanque único a Alckmin. À noite, ele volta para São Paulo e participa ao lado do candidato ao governo, José Serra, de um encontro com prefeitos. Na sexta-feira, viaja para a cidade de Barreiras (BA).


Para evitar confrontos regionais entre aliados, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), sugeriu ontem a criação do Movimento Pró-Geraldo Alckmin, para organizar os palanques do candidato do PSDB principalmente nos estados onde existem divergências entre partidos. Ontem as alianças em estados problemáticos, como o Rio Grande do Sul, foram discutidas. Apesar dos problemas regionais, Alckmin acredita que seu principal desafio neste mês é o de popularizar a sua imagem. Segundo o PSDB, ele só é conhecido por 60% dos eleitores. Alckmin se mostra otimista com os números das pesquisas de junho e vai apostar na propaganda eleitoral gratuita no rádio e TV, a partir de agosto, para massificar sua imagem.


— O meu maior desafio é ficar mais conhecido. Mas essa é também uma vantagem, pois ainda tenho potencial para crescer — diz o tucano.


Com 6% das intenções de votos, a candidata do PSOL, senadora Heloísa Helena (AL), optou por uma estratégia de guerrilha para superar a falta de estrutura. Ela inicia hoje a campanha no Rio de Janeiro, com uma caminhada no Centro, saindo da Candelária. A idéia do partido é baratear a campanha com eventos de rua como caminhadas e panfletagens. O principal desafio da candidatura de Heloísa, avalia o PSOL, é transferir para o voto de legenda parte do percentual da presidenciável para que o partido consiga atingir a cláusula de barreira.


Já o candidato do PDT, senador Cristovam Buarque (DF), com 1% das intenções de votos, começa a campanha em Ouro Preto (MG), onde participa hoje de um debate no Congresso Nacional dos Jornalistas. À tarde, participa de uma caminhada pela cidade. Amanhã, ele visitará Ouro Branco, Conselheiro Lafaiete e Barbacena e no sábado vai a Juiz de Fora. Também estão na disputa os candidatos Luciano Bivar (PSL), José Maria Eymael (PSDC) e Rui Pimenta(PCO).


COLABOROU Carlito Costa, especial para O GLOBO’


 


TELINHA
Patrícia Kogut


Bóris Casoy e SBT: negociações


‘Ex-Record, Bóris Casoy está em conversações com Guilherme Stoliar, do SBT. O jornalista poderá comandar um talk-show ou mesmo um telejornal noturno na emissora de Silvio Santos. Antes, ele negociou com a TV Cultura, mas o projeto não vingou.


A cereja do bolo na trilha das 21h


Manoel Carlos fez questão que, além da versão instrumental tocada por Tom Jobim na abertura, ‘Páginas da vida’ tivesse ‘Wave’ cantada. Mariozinho Rocha então sugeriu que Daniel Jobim, neto do compositor, gravasse. Maneco adorou e complementou: por que não também Luísa, filha dele? Os dois então gravaram um dueto na Biscoito Fino. O violão e o arranjo são de Paulinho Jobim, mais um da família.


Prolífico


Silvio de Abreu está acompanhando as últimas gravações de ‘Belíssima’ e fazendo alterações de última hora. Uma delas foi a gravidez de Mônica (Camila Pitanga), decidida anteontem.


Páginas policiais


Paulo César Grande e Cláudia Mauro agitaram a Aristides Spínola na madrugada do Leblon. Uma briga do casal em plena rua, com muita gritaria, deixou as testemunhas preocupadas.


Nada de descanso


Lima Duarte encerra as gravações de ‘Belíssima’ e é aguardado no set de ‘O homem desnudo’. Ele atuará no longa ao lado de José de Abreu e de Kito Junqueira.


Cinema


Depois de ‘Belíssima’, Vera Holtz vai trabalhar no novo filme de Renato Aragão. A filha caçula dele, Livinha Aragão, também estará no longa, produção de Díler Trindade.


Contrato


Irene Ravache, que fez um ótimo trabalho como a Katina em ‘Belíssima’, assinou contrato de prazo longo com a Globo. Ela agora é exclusiva da emissora por três anos.


Descanso


Agora que acabou de gravar ‘Belíssima’, Carolina Ferraz só pensa em férias com a filha, Valentina. Ela veio de uma temporada no teatro com ‘O rim’ e está cansada.’


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 6 de julho de 2006


COPA 2006
Roberto Macedo


Lucros e perdas da Copa


‘Neste frustrado Brasil pós-Copa, gostaria de ver os jornalistas que cobrem o futebol se dedicando aos ganhos e prejuízos da competição e dos que se envolveram nela, de cartolas a jogadores.


Com estádios cheios, ingressos caros e uma infinidade de patrocínios, a Fifa (que reúne a cartolagem internacional) deve ter enchido seu caixa, e a nossa CBF (a dos cartolas nacionais) também, mesmo sem os dois jogos a mais que poderia ter disputado, se muitas coisas não houvessem acontecido.


Essas coisas são o prato predileto dos jornalistas brasileiros. Nas matérias mais recentes: a falta de empenho dos nossos jogadores, a falha de Roberto Carlos no gol francês e as do técnico Parreira na montagem do time e nas substituições que deveria ter feito em momentos cruciais dos jogos e da Copa. Estranhamente, ele disse não ser um técnico, mas apenas um ‘gestor de talentos’. Contudo, sem um bom técnico e com os talentos escondendo o jogo, o naufrágio só não veio antes pela fragilidade de nossos adversários anteriores.


Com tanto dinheiro vindo da Copa, mesmo com custos elevados deve ter vindo um bom ganho para a Fifa e para várias das entidades nacionais do esporte. O caso da Alemanha será mais difícil de avaliar, pois houve pesados investimentos nos estádios. Mas é um custo que não pode ser imputado apenas à Copa, pois seu uso futuro servirá para amortizar esses investimentos. Ademais, a Alemanha ganhou também com o muito que lá gastaram as delegações das seleções nacionais e os turistas do futebol.


Quanto ao nosso caso, gostaria de ver um balanço detalhado das contas da CBF. Esta é um negócio no Rio de Janeiro, misterioso na sua gestão e nas suas finanças, aquela com regras informais de sucessão em que entram até ingredientes locais e familiares. Esse assunto da gestão da CBF vez por outra aparece nos jornais, mas, em geral, de modo superficial. Com os títulos se acumulando, o julgamento pelo bom desempenho sempre predominou. Agora, quando a qualidade da gestão e o empenho dos jogadores são fortemente questionados, deverá haver maior interesse pelo assunto. E há outras questões carentes de elucidação, como as conjecturadas ligações entre contratos de patrocínio e a escalação de jogadores, ou desta com interesses pessoais de cartolas e treinadores.


Pela sua novidade, um tema particularmente interessante é o dano econômico que vários jogadores e Parreira causaram a si mesmos ao mancharem a sua imagem pelo fraco desempenho. Vivemos na sociedade pós-moderna, que valoriza muito o espetáculo e seus ícones, e nunca o valor de seus contratos havia alcançado as cifras que tinham antes da Copa. Vi notícia de que o valor total dos passes dos jogadores titulares chegou então a quase R$ 1 bilhão. O passe não lhes pertence, mas, numa eventual transferência de clube, eles receberão uma porcentagem do valor e o mais provável é que em novas transações depois da Copa esse montante venha a cair, após o fiasco de vários jogadores.


Também nunca houve tantos deles contratados por agências de publicidade para promover os mais variados produtos e serviços. Na esteira do fracasso, o número e o valor desses contratos também deverá diminuir. Que influência terá, por exemplo, Ronaldinho Gaúcho a promover um desodorante, um banco ou um celular? Dependendo da avaliação dos torcedores, essa influência poderá ser até negativa, e não será surpresa se tais anúncios forem interrompidos. Recorde-se que ele já teve uma estátua sua destruída no Brasil e, se não restaurar seu prestígio, pelo menos no Barcelona, sua estátua no Museu do Chocolate dessa cidade também correrá risco.


Hoje, lidar com essas agências e com os patrocinadores ocupa parte considerável do tempo e da mente dos astros maiores, a acertar termos contratuais, viajar para gravações e, então, atuar como garotos-propaganda, o que exige decorar textos e realizar ensaios.


Com tantos ganhos, no futebol e nesses contratos, é provável que alguns jogadores tenham deixado para trás as duas coisas que na maioria dos casos os fizeram sair da pobreza, ou seja, a necessidade de vencer e o empenho em fazer isso no futebol.


A propósito, circulam pela internet fotos do último jogo nas quais Roberto Carlos aparece com as mãos nos joelhos e imóvel enquanto Henry avança para fazer o gol francês, sem a marcação desse nosso zagueiro. Alguns interpretaram seu gesto como o de arrumar a meia. Como muitos já arrumaram o seu pé-de-meia e continuaram ganhando muito, creio que vários menosprezaram o impacto da sua falta de empenho nas próprias carreiras e suas recompensas futuras. No ponto em que estão, talvez não lhes faça grande diferença, mas temos de pensar na próxima Copa e ir a fundo no diagnóstico dos problemas que o Brasil enfrentou nesta que termina.


Quanto a Parreira, seu trabalho não tem o limite de idade que condiciona as dos jogadores. Vendo Zagallo no banco, também não há aposentadoria compulsória. Não sei que rumo o primeiro vai tomar, mas certamente vários de seus projetos pessoais ficarão comprometidos, como o de seu livro Formando Equipes Vencedoras. Aliás, se ainda houver interessados, está em liquidação no site Submarino, a R$ 6,10, com um desconto de 69% sobre o preço de lista, R$ 19,90.


Esse exemplo demonstra que já houve danos e que há aí um interessante veio a ser explorado pelos jornalistas do ramo, inclusive como exemplo para equipes futuras. Para formá-las efetivamente vencedoras será preciso aprender também com as perdedoras, em particular sobre as motivações extracampo que hoje tanto envolvem os atletas, os ‘gestores de talentos’ e seus cartolas.


Roberto Macedo, economista (USP), com doutorado pela Universidade Harvard (EUA), pesquisador da Fipe-USP e professor associado à Faap, foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda’


 


Espaço para o mundial caiu em 50%


Keila Jimenez


‘Você reparou que Fátima Bernardes tem aparecido bem menos esta semana no Jornal Nacional?


Pois a derrota do Brasil na Copa cortou pela metade a cobertura do mundial no noticiário da Globo. Segundo levantamento da Controle da Concorrência, empresa que monitora inserções comerciais e conteúdo de programação para o mercado, o noticiário dedicava, em média, 30 minutos ao assunto com seleção na Alemanha. Foi assim na edição de 26 de junho, em que um dos blocos do noticiário chegou a ter 9 minutos sobre Copa.


Na última segunda-feira, com o Brasil fora do jogo, apenas 11 minutos sobre o mundial povoaram o noticiário. Tudo bem que o interesse do telespectador tenha diminuído, mas no dia seguinte muita gente ainda queria saber sobre os jogadores.


A audiência do JN também sofreu alterações. O noticiário tinha obtido um aumento de cerca de 6 pontos porcentuais em sua média na semana seguinte à estréia do mundial. A média do JN, que vinha passeando pela casa dos 38 pontos, pulou para 44 na semana de 12 de junho. Agora voltou para o patamar dos 38.’


 


O Estado de S. Paulo


‘Não chores, Portugal! A França não foi superior’


‘O jornal português A Bola, em seu site, ressalta a boa campanha da equipe portuguesa no Mundial. ‘Não chores, Portugal! Custa perder assim, mas a França não foi superior (…) Chegar à semifinal é uma proeza só ao alcance dos melhores. Que o digam Inglaterra, Argentina, Brasil…’ O jornal reclama ainda do juiz, que não marcou um pênalti de Sagnol em Cristiano Ronaldo. E analisa: ‘A França foi calculista? Sem dúvida! Arriscou pouco, apenas no contra-ataque, mas venceu graças à boa organização defensiva.’’


 


GOVERNO LULA
Leonencio Nossa


Planalto vai elevar despesas com publicidade


‘O governo estipulou, em duas notas publicadas ontem no Diário Oficial, aumento de R$ 375 milhões nos gastos com publicidade este ano. A Subsecretaria de Comunicação Institucional da Secretaria-Geral da Presidência (Secom) não confirmou os números publicados pela Casa Civil. O valor correto, segundo a subsecretaria, seria de R$ 187,5 milhões, a metade, e só poderia ser usado nos meses de novembro e dezembro.


Embora o dinheiro só possa ser utilizado após a eleição, a autorização de reajuste dos contratos foi oficializada no mesmo dia em que o PT registrou a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice José Alencar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e num período de intensas negociações da cúpula do partido e do Planalto com marqueteiros políticos.


Na tentativa de explicar a confusão, a Secom observou que a Lei Eleitoral proíbe a publicidade institucional nos três meses anteriores às eleições. A única exceção são anúncios que tenham caráter de utilidade pública e apenas em casos de grave e urgente necessidade.


A Secom contou que o aumento dos valores está previsto nos contratos com as agências Matisse Comunicação de Marketing e Lew Lara Propaganda e Comunicação, ‘assinados em meados de 2003, com valor total anual de R$ 150 milhões (na soma das duas agências)’. Explicou ainda que, ‘com o termo aditivo de 25% – equivalente a R$ 37,5 milhões -, celebrado conforme a Lei 8.666/93 (Lei de Licitações), o valor total dos dois contratos, Matisse e Lew Lara, passou para R$ 187,5 milhões (soma das duas agências).’ O Diário Oficial de ontem, no entanto, publicou uma nota para cada agência, cada uma com o valor de R$ 187, 5 milhões.


Em agosto de 2003, o governo repartiu o bolo das verbas publicitárias da Presidência com as agências Duda Mendonça & Associados, Matisse e Lew Lara. Com o escândalo do mensalão e a confissão do publicitário Duda Mendonça de uso de caixa 2 na campanha do PT em 2002, a Presidência deixou de renovar o contrato com a agência do marqueteiro. O dinheiro passou a ser dividido apenas entre a Matisse e a Lew Lara.


Empresa de Campinas, a Matisse tem parceria com o publicitário Paulo de Tarso Santos, que atuou nas campanhas de Lula à Presidência em 1989 e 1994. À época do contrato com as três agências, o setor publicitário considerou, no entanto, que a Matisse e a Lew Lara atendiam a todos os requisitos técnicos para ganhar a verba publicitária da Presidência.


A assessoria de imprensa da Casa Civil informou que os detalhes dos contratos com as agências publicitárias são de responsabilidade da Secom. Até o ano passado, a Secom tinha status de ministério. O órgão era chefiado por Luiz Gushiken, que foi rebaixado a um cargo sem status no governo após denúncias veiculadas na imprensa.


De 2003 a 2005, a Secom gastou R$ 924 milhões em propaganda institucional. No ano passado, as 56 estatais gastaram um total de R$ 1,4 bilhão.’


 


Paulo Moreira Leite


Lula perde assessor de comunicação


‘O jornalista Bernardo Kucinski está fora do governo federal, numa decisão formalizada no fim de semana. Professor de jornalismo da USP, Kucinski era um dos mais próximos e antigos auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e cumpria papel discreto no Palácio do Planalto.


Por determinação do presidente, todos os dias ele elaborava documento de circulação restrita chamado Carta Crítica, texto de duas a três páginas no qual fazia uma análise da mídia e críticas a personalidades do governo.


Para um antigo ministro, Kucinski era uma ‘espécie de livre pensador’: ‘A gente lia seus textos como uma contribuição à discussão, pois refletiam o que ele pensava, mas nem sempre representavam a opinião do governo ou do presidente.’


Adversário da política econômica do governo, Kucinski escreveu textos duros de crítica ao ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que chegou a se incomodar, no início da administração petista, com o que era dito na publicação. Com o passar do tempo, entretanto, Palocci parou de lhes dar importância.


Preocupado em não permitir vazamentos, o próprio presidente Lula definia quem tinha direito a receber as Cartas Críticas, que, por esse motivo, não eram endereçadas a todos os ministros.


Kucinski deixou o governo dizendo que se tratava de uma decisão pessoal, sem maiores conotações políticas. ‘Saio agora, mas posso voltar dentro de alguns meses’, explicou. Embora ele seja menos conhecido do que Frei Betto e o jornalista Ricardo Kotscho, sua saída marca um novo desfalque na velha guarda de assessores do presidente.’


 


BELÍSSIMA
Jotabê Medeiros


Bia Falcão foi cruel e frágil, tipo Maluf comendo esfiha na cela


‘Podem parar de procurar: se há um vilão nessa história, é o autor. Ao longo da trama, para manter sua audiência, ele nos traiu, vilipendiou, garfou, passou a perna. Não hesitou em confiscar a credibilidade duramente conquistada de personagens como Gigi e Ornella, André e Murat.


Gigi (Pedro Paulo Rangel), que era generoso, coração de ouro, bonachão, gostava de Grace Kelly e Kim Novak e de tomar champanhe no quarto assistindo a DVDs, tornou-se um sujeitinho intrigante e mesquinho. Tudo para que seu personagem se tornasse suspeito aos olhos dos caçadores de criminosos.


André (Marcelo Anthony), cujo trunfo era justamente ser ambíguo, dissimulado, entre o homem ideal e o galinha inescrupuloso (a ponto de pegar a filha na mesma cama que pegava a mãe, além de roubar as duas), tornou-se uma Madalena arrependida, chorosa, vagando ao som da melosa The Blower’s Daughter, de Damien Rice.


Saphira (Claudia Raia) se viu obrigada a reciclar sua personagem de Engraçadinha até a exaustão, e chegou um momento em que já não sabíamos se ela era ela ou se era a Maria Paula, a Safadira, que estava em cena.


Rebecca (Carolina Ferraz), exigente e independente no início, foi se deixando dominar pelo calor na bacurinha e virou um mero joguete na mão de qualquer canastrão. Daí, supremo moralismo de escritor de segunda mão, ela foi parar nos braços de uma mulher. Se não dá certo com homem, por que não com uma mulher? Ou seja: o lesbianismo não é opção, é a última alternativa das desesperadas.


A verdade é uma só: Silvio de Abreu desmoralizou os suspeitos, banalizou os insuspeitos. Impôs o DNA do crime a um ex-convicto regenerado, o simpático Seu Quiqui (Serafim González, veterano ator de chanchadas). Uma vez bandido, sempre bandido.


Vitória (Cláudia Abreu) foi uma vítima do autor em todos os sentidos. Depois de vender bala no trânsito e ser esfaqueada na penitenciária, teve de trabalhar em dois restaurantes gregos com a mesma decoração, as mesmas três músicas e as mesmas duas colunas gregas falsas no caminho. E ainda teve o azar de ter de interpretar cenas de romance com Gianecchini e Henry Castelli, dois dos piores atores da Rede. Ao final, de ‘prêmio’, ela herdou o Guma (ou seria o Marcos Palmeira?). Podia ser pior?


Silvio de Abreu pisou na bola. Seguraram sua onda os atores, gente que é boa até em anúncio de lápide de cemitério, como Fernanda Montenegro (embora ela tenha sido uma vilã sem motivação, esquizofrênica; não será nunca uma vilã memorável como Adma ou Nazaré).


Mas Bia Falcão deu medo e fez rir, ao massacrar a secretária gerundista. E soube descer dolorosamente do pedestal para praticamente implorar que lhe deixassem ver a bisneta. Quase um Paulo Maluf recolhendo esfiha pelas grades da cela da PF. Ruim, mas humanamente perversa.


E o Cemil (Leopoldo Pacheco) deu a volta por cima. De mala-mór da novela até sua primeira metade, caiu na vida, tomou uns uísques na boate e acabou retomando a Camila Pitanga e tomando o emprego de Alberto (Alexandre Borges). Quando Alberto o ameaça de fracasso e volta precoce às lides de operário, ele devolve rápido: ‘Não tenho medo, Alberto. É tudo trabalho.’


Silvio de Abreu devia ter aprendido a lição do seu personagem. Do alto de sua audiência gorda, onipotente, ‘inquestionável’, chegou a declarar que a TV é mais importante que o cinema. Se o talento tivesse a ver com o poder do veículo, Abreu deveria explicar como Henry Louis Mencken se tornou tão influente escrevendo a vida toda no modesto Baltimore Sun.’


 


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