Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ali Kamel rebate críticas sobre a
influência da Opus Dei no jornalismo


Leia abaixo os textos desta terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Globo


Terça-feira, 21 de fevereiro de 2006


A OBRA NO JORNALISMO
Ali Kamel


Opus Dei


‘Até bem pouco tempo atrás, eu sabia apenas o trivial sobre o Opus Dei. Hoje, depois das pesadas críticas que alguns lançam contra a prelazia, sei um pouco mais. Viver num país livre é isso: você é atingido por informações parciais e truncadas, que geram outras informações no sentido oposto e, no debate, acaba aprendendo mais e podendo formar uma opinião. A polêmica pegou fogo quando, em resposta à ‘denúncia’ sobre a presença de petistas nas redações, respondeu-se que mais danosa era a influência do Opus Dei entre os jornalistas. Como já disse em outro artigo, acho a polêmica equivocada: é a diversidade de cabeças numa redação que tende a anular qualquer desvio. Buscar uma Redação ideologicamente homogênea é não somente impossível, mas um tiro no pé, pois os jornais deixariam de oferecer informações isentas e se transformariam em panfletos.


O estranho nisso tudo é que, se é fato que há petistas nas redações (e jornalistas de outras tendências, o que é saudável), a influência do Opus Dei não faz o menor sentido. Quem a denuncia diz que ela é decorrência do curso ‘Master em Jornalismo’, do Centro de Extensão Universitária (CEU), e da empresa de consultoria Innovation, que presta serviços a jornais de todo o mundo. O CEU, especializado em cursos de pós-graduação em Direito, Educação, Jornalismo e Medicina, com sede em São Paulo, tem uma ligação explícita com o Opus Dei. Innovation nasceu na Universidade de Navarra que, por sua vez, foi criada por São Josemaría de Escrivá de Balaguer, o fundador do Opus Dei. A partir desses dois fatos, os mais de duzentos editores que fizeram o ‘Master em Jornalismo’ e as empresas de comunicação que contrataram os serviços de Innovation teriam passado, de algum modo, à zona de influência do Opus Dei. Essa suspeita é descabida. É como taxar de católicos fervorosos todos os alunos que saem da PUC-RJ, uma universidade de excelência.


Por duas vezes, fui convidado a dar palestras no ‘Master’, e ali disse o que quis, sem nenhuma restrição. Quem visitar a página do curso verá que entre os conferencistas há pessoas de todos os matizes ideológicos, de todas as crenças religiosas e adeptos dos mais variados estilos de vida. Vi ali colegas ateus, agnósticos, cristãos, judeus e de outros credos. O mesmo posso dizer dos alunos, profissionais já gabaritados, em postos de chefia, numa idade em que não podem mais ser confundidos com chapeuzinho vermelho. De tudo o que sei do ‘Master’ só posso assegurar que é um curso altamente recomendável, que discute os principais aspectos do jornalismo, debate caminhos, mas se exime totalmente de fazer proselitismo religioso de qualquer tipo, seja de forma sutil, disfarçada ou explícita.


Da mesma forma, Innovation é um dos mais criativos grupos de consultoria em jornalismo do mundo. Tem escritórios em Londres, Miami, Pamplona e Milão, e hoje dá consultoria a 26 jornais em 17 países. Já teve entre seus clientes jornais tão díspares como o francês ‘Libération’, o americano ‘USA Today’, o inglês ‘The Observer’, o espanhol ‘El País’ e o argentino ‘La Nación’. No Brasil, atendeu, entre outros, o ‘Estado de S. Paulo’, a Editora Abril e a RBS. Só para ficar num exemplo, querer dizer que o ‘Libération’ é ligado ao Opus Dei é piada. O GLOBO também já contratou os serviços de Innovation, em meados da década passada, e tirou muito proveito disso. Nunca consultor algum tratou de questões morais ou fez qualquer forma de proselitismo religioso. Tratava-se de uma consultoria técnica visando a auxiliar o jornal na análise do mercado e, também, na busca de formas mais ágeis de se chegar às notícias, de se cobrir os assuntos, todos os assuntos, de maneira mais aprofundada e, ao mesmo tempo, acessível aos leitores.


Um dos resultados foi a organização da Redação em times e não mais somente em editorias. Antes, repórteres das editorias Rio, O País ou Jornal da Família, isoladamente, cobriam educação, mas também outros assuntos quando a pauta exigia. Com a criação do time de educação, passaram a atuar juntos e a produzir reportagens sobre o tema para todas as editorias. A especialização tornou o jornal mais ágil, aumentou a rapidez com que certas tendências são captadas e aproximou os repórteres de suas fontes. Muitos times foram criados, alguns fixos, outros temporários, para cobrir uma CPI, por exemplo, quando são necessários repórteres de diversas áreas (política, polícia, economia etc.). Deram origem a muitos furos, a muitos prêmios e a uma relação cada vez mais estreita entre leitores e jornal. Um dos times fixos mais produtivos foi o de comportamento. Graças a ele, o jornal pôde discutir, sem preconceito, com espírito de tolerância e com mais freqüência o dia-a-dia da revolução permanente nos costumes, em reportagens para o Jornal da Família hoje antológicas, como ‘Meu pai é gay’, ‘Os dois pontos G das mulheres (e qual deles produz melhor orgasmo)’, ‘Adultério mantém muitos casamentos’, ‘Viciados em sexo’, ‘Aparelhos para aumentar o pênis não funcionam’, entre tantas outras. Como isso pode ser atribuído ao Opus Dei é uma tarefa que deixo para os críticos de Innovation.


O que mais me chocou em todo esse debate, porém, foi o tom acusatório contra aqueles que vivem a sua fé no Opus Dei. Fazer voto de pobreza, de castidade, de obediência e se impor o uso diário do cilício são atitudes que podem parecer estranhas à maioria de nós. Mas transformar os integrantes da prelazia, cidadãos como nós, numa espécie de atração circense me parece fora de qualquer propósito. Numa reportagem da revista ‘Época’, o professor Carlos Alberto Di Franco, articulista de muitos jornais no país, foi indagado se não seria mais ético ele assinar seus artigos como adepto do Opus Dei. A pergunta é um escândalo. Imagine o absurdo se nós, jornalistas, passássemos a ter de assinar: fulano de tal, jornalista e muçulmano, ou jornalista e judeu, jornalista e cristão, jornalista e budista. Causaram-me constrangimento, sobretudo, as perguntas sobre questões de foro íntimo que a lei, no Brasil não obriga ninguém a responder. Mas a resposta que Di Franco deu a elas, de uma maneira ao mesmo tempo corajosa e tolerante, só o engrandeceu como ser humano.


O Opus Dei, apesar do nome, é uma obra humana e certamente não é imune ao erro. Criticá-la é um direito da imprensa, mas é nosso dever fazê-lo com isenção e sem preconceitos.


ALI KAMEL é jornalista.’


MEMÓRIA / JORGE FERREIRA
O Globo


Jorge Ferreira, jornalista, aos 52


‘Formado em comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF) na década de 70, Jorge Ferreira era chamado pelos colegas de ‘Jorge Apache’ ou ‘Jorge Trovoada’. O primeiro apelido ele ganhou devido ao cabelo comprido que usava na época de faculdade. O segundo pela voz potente, ouvida nas redações dos vários veículos de comunicação do Rio durante os mais de 30 anos em que exerceu as funções de repórter, redator, editor e colunista. Jorge trabalhou nas rádios Nacional e Tupi e foi redator da economia no ‘Jornal do Brasil’ e no GLOBO. No jornal ‘O Dia’, manteve por anos uma coluna sobre pesca. Trabalhou ainda no jornal do Banco Nacional e nos ‘Cadernos do Terceiro Mundo’.


Defensor do meio ambiente, escreveu o livro ‘Meditações sobre a Guanabara’. Casado com Maria Inês Barreto Netto, não tinha filhos. Ele morreu de câncer ontem no Hospital das Clínicas, em Niterói. O sepultamento será hoje às 10h no Cemitério Parque da Colina, em Niterói.’


INTERNET
O Globo


Internet discada mais cara em março


‘BRASÍLIA e RIO. A partir de 1 de março, as empresas de telefonia começarão a implantar o sistema de minutos para medir as ligações telefônicas. Elas têm até o fim de julho para estar com o sistema em funcionamento. Em agosto, conforme determinação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), essa nova modalidade será obrigatória. A medida vai encarecer a conexão discada à internet.


Qualquer tempo de ligação acima de quatro minutos ficará mais caro. Por exemplo: quem paga hoje R$ 30 por meia hora de conexão, passará a pagar R$ 75. Já a conexão de uma hora de duração poderia ficar até 165% mais cara.


Além disso, o sistema de contagem por minuto vai acabar com o horário de tarifa reduzida, que atualmente vale nos dias úteis, entre meia-noite e 6h; nos sábados, entre 14h e 24h; e, aos domingos e feriados, o dia todo. Esse horário beneficiava especialmente os usuários de internet discada, pois permitia longo tempo de conexão por baixo custo.


A Telemar se antecipou um pouco e começa, a partir do próximo sábado, a fazer a medição das ligações em minutos em 11 municípios do Espírito Santo. Isso significa que, em abril, esse consumidor já vai receber a conta telefônica em minutos. Mas para isso ele terá de solicitar à empresa a fatura detalhada. A assessoria da Telemar informou que não tem o cronograma de entrada da nova medição no Rio.


A adoção da contagem por minutos pode, no entanto, baratear as chamadas de curta duração. O custo de uma chamada da Telemar Rio, com duração de um minuto, é de R$ 0,15787 com impostos. Com a mudança, a tarifa será de R$ 0,10162, ou 35,6% a menos.


Chamada com menos de 3 segundos não será cobrada


A primeira via da conta telefônica detalhada solicitada pelo usuário não será cobrada. No entanto, a empresa poderá cobrar a segunda via da fatura. A franquia dos telefones residenciais será de 200 minutos. As ligações abaixo de três segundos não serão cobradas. A contagem do tempo das ligações será feita de seis em seis segundos. E a cobrança mínima de uma ligação, mesmo que o usuário fale pouco, será de 30 segundos.’


Gilberto Scofield Jr.


Comércio eletrônico bate recorde na China


‘PEQUIM. Num país onde a maioria absoluta da população ainda usa dinheiro vivo nas suas operações comerciais diárias, e onde talões de cheque e cartões de crédito são quase uma abstração, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Internet da China afirmou ontem que o volume de operações de comércio eletrônico bateu o recorde histórico em 2005, chegando a movimentar 553,1 bilhões de yuans (US$ 68,7 bilhões).


O maior crescimento foi justamente o do comércio entre pessoas na rede, fortemente influenciado pelo sucesso dos sites de leilão online. Esses sites movimentaram US$ 1,6 bilhão em 2005, o triplo do girado em 2004, diz o governo.


A maior prova do sucesso desses sites está na trajetória do site de leilões chinês Taobao.com, que no ano passado superou o gigante eBay como maior site de leilões da China, girando US$ 1,2 bilhão e abocanhando 70% desse tipo de venda no país.’


POLÍTICA CULTURAL
Alessandra Duarte


Corte na cultura


‘A chegada de Dom João VI ao Brasil, em 1808, está repercutindo até agora na vida cultural do Rio. E não estamos falando das bibliotecas e universidades que a vinda da Corte portuguesa trouxe: em resolução publicada no último dia 15 no Diário Oficial do município, a prefeitura determinou que todos os projetos culturais que queiram receber incentivo fiscal via ISS (Imposto sobre Serviços), este ano e em 2007, têm de falar sobre os 200 anos da chegada da Corte ao país, comemorados em 2008. O ato vem causando polêmica entre artistas e produtores culturais. Enquanto muitos se queixam da restrição de tema, alguns, como a produtora LC Barreto, que começa a rodar este ano uma trilogia sobre a história do Brasil-colônia e a chegada de Dom João, comemoram.


A previsão da prefeitura é de que o edital com as datas de inscrições para os projetos interessados saia até o fim do mês. No fim do ano passado, a prefeitura chegou a pensar em restringir o desconto de ISS (de até 20% mensais do imposto pago pela empresa) àqueles projetos que falassem dos Jogos Pan-Americanos, argumentando que o Pan influenciaria a vida cultural da cidade. Na época, artistas e profissionais do setor reclamaram da restrição.


Projetos do Pan teriam pouco tempo, diz governo


– Mas mudamos para os 200 anos da vinda da Corte porque vimos que, se o tema fosse o Pan, as pessoas não teriam tempo de propor, captar recursos e realizar os projetos até a realização dos Jogos – afirma o secretário municipal das Culturas, Ricardo Macieira. – Além disso, existe a importância para a história da cultura no Brasil da chegada da Corte aqui. E até 2008, quando se comemoram os 200 anos disso, haverá tempo para os projetos serem produzidos.


Para o pesquisador musical Marcelo Fróes, poderia haver outras formas de se homenagear a chegada da Corte:


– A vinda deles mudou muito o país, e estimulou sua cultura. Mas estamos em 2006, e não podemos ficar fazendo cultura do passado. Essa determinação da prefeitura é algo limitador, e que pode provocar uma overdose de projetinhos de Dom João. Só que não sei se as empresas telefônicas e as grandes companhias têm interesse em patrocinar assuntos com pouco apelo para o público e a mídia.


O cineasta Eduardo Coutinho diz que não pretendia tentar incentivos fiscais pelo ISS para projetos seus:


– Mas, se estivesse nessa situação, acho que me mudaria para o Paraguai. Ou para a Turquia, quem sabe? É tão absurdo que não sei o que dizer.


O presidente da Associação de Produtores Teatrais do Rio, Eduardo Barata, afirma que a limitação é ainda pior por se tratar do ISS.


– É uma lei por meio da qual todo mundo gosta de investir, porque praticamente todo mundo paga ISS, por ser uma tributação sobre serviços. Não é como o ICMS, que só as indústrias pagam – diz Barata. – É válido o poder público homenagear a vinda da Corte, mas poderiam, por exemplo, separar uma parte dos recursos via ISS para isso. Da maneira que se fez, seria cômico se não fosse trágico. Vai ser algo muito ruim para o teatro do Rio. Há muito tempo ele não tem sido beneficiado pelos incentivos via ISS, porque nos últimos dois anos o tema para o incentivo foi o audiovisual. O poder público critica tanto a atitude de setores de marketing das empresas cercearem os projetos que aceita, mas está fazendo o mesmo. É como ter um marqueteiro no poder público.


Para o ator Antônio Pitanga, a restrição de projetos para incentivo fiscal é ‘vestir um santo e deixar o outro nu’:


– Todo tipo de provocação cultural é bem-vinda, mas essa idéia, apesar de louvável, atrela a criatividade a um ponto só. A prefeitura poderia, em vez disso, fazer algum concurso com este tema, e os premiados fariam projetos sobre ele. Seria uma ação mais inteligente. Destinar todo o dinheiro de incentivo do ISS a um só assunto é burrice, e um engessamento da cultura.


O artista plástico Luiz Alphonsus diz que o apoio a épocas históricas já é feito pelo meio acadêmico:


– Quando se fala de incentivo fiscal para a cultura, acho que estamos tratando é de arte, porque as outras áreas da cultura, que são a história e a ciência, já têm o apoio acadêmico. Com essa determinação da prefeitura, o que me parece é que estão restringindo a arte a uma questão histórica. E arte precisa de liberdade, principalmente a dos artistas jovens, que necessitam de incentivo.


Outro artista plástico, Thiago Rocha Pitta, lembra o episódio da tentativa da prefeitura de trazer o Museu Guggenheim ao Rio:


– Como o prefeito não conseguiu, passou a se vingar dos profissionais de cultura da cidade. E acho que essa restrição do benefício do ISS segue essa linha. A vinda de Dom João é algo a se comemorar, porque o Rio antes dele era um brejo, mas é um absurdo fazer isso limitando a liberdade de expressão.


Quem gostou da notícia foi a produtora LC Barreto.


– Acho que não deveria haver restrições, mas já que há, por que não esse tema? – diz a produtora Paula Barreto. – Devemos inscrever, para o incentivo pelo ISS, nosso projeto de três longas-metragens baseados nos livros de Eduardo Bueno sobre a história do Brasil.


Com roteiro do próprio Bueno, segundo Paula, e direção de Fábio Barreto, a superprodução falará sobre a chegada dos portugueses (o primeiro filme), a vinda de Dom João e a abertura dos portos (o segundo) e a proclamação da Independência (o terceiro). Nomes estudados para o elenco: Camila Pitanga, Cléo Pires, Letícia Sabatella, Thaís Araújo e Dira Paes para o papel das índias; Matheus Nachtergaele e Marcelo Serrado, para interpretar degredados; os atores portugueses Maria Medeiros e Joaquim D’Almeida (para viver Pedro Álvares Cabral); e Caio Blat, Daniel de Oliveira e Vinícius de Oliveira (o menino de ‘Central do Brasil’) para interpretar os grumetes dos navios.


Segundo Lucy Barreto, também será realizado um documentário sobre o período histórico:


– Devemos começar a filmar os dois projetos no fim deste ano, para estarem prontos no fim do ano que vem.


Outro projeto em que a Corte aparece é ‘Império’, musical que Miguel Falabella quer estrear este ano, com Stella Miranda e Sandro Cristopher.


– O incentivo via ISS deveria ser liberado para todo tipo de tema, mas, já que houve essa limitação, eu estou adorando. É genial se falar sobre a nossa história. E eu estou há quatro anos tentando montar esse musical. Vamos ver se agora vai – diz Falabella.


A diretora Carla Camurati, cujo ‘Carlota Joaquina’, que também trata da vinda da Corte e é o longa-metragem que marca a retomada do cinema nacional, preferiu a postura diplomática de não falar sobre o assunto.’


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 21 de fevereiro de 2006


GUERRA DAS CHARGES
Flemming Rose


Por que publiquei as charges


‘Infantil. Irresponsável. Discurso do ódio. Uma provocação gratuita.


Uma jogada de marketing. Os críticos das 12 charges do profeta Maomé que decidi publicar no jornal dinamarquês Jyllands-Posten não mediram suas palavras. Eles dizem que a liberdade de expressão não implica endossar o insulto aos sentimentos religiosos das pessoas e também que a mídia censura a si mesma todos os dias. Assim, que não lhes ensinemos sobre a liberdade de expressão sem limites. Concordo que a liberdade de publicar coisas não significa publicar tudo. O Jyllands-Posten não publicaria imagens pornográficas ou detalhes explícitos de cadáveres; palavrões raramente entram em nossas páginas. Portanto, não somos fundamentalistas em nossa defesa da liberdade de expressão.


Mas a história das charges é diferente. Aqueles exemplos têm a ver com o exercício do comedimento por causa dos padrões éticos e do gosto; chamem isso de edição. Em contraste, encomendei as charges em resposta a vários incidentes de autocensura na Europa motivados por crescentes temores e sentimentos de intimidação no trato de questões relacionadas ao Islã. E ainda acredito ser este um assunto que nós, europeus, precisamos enfrentar, desafiando os muçulmanos moderados a se manifestar. A idéia não era provocar gratuitamente – e sem dúvida não pretendíamos desencadear manifestações violentas no mundo islâmico. Nosso objetivo era simplesmente repelir limites auto-impostos à liberdade de expressão que pareciam se fechar ainda mais.


No fim de setembro, um comediante dinamarquês disse numa entrevista ao Jyllands-Posten que não teria problemas em urinar sobre a Bíblia diante de uma câmera, mas não se atreveria a fazer o mesmo com o Alcorão.


Este foi o clímax de uma série de exemplos perturbadores de autocensura. Em setembro, um escritor dinamarquês de livros infantis teve dificuldade de encontrar um ilustrador para um volume sobre a vida de Maomé. Três pessoas recusaram o trabalho com medo das conseqüências. A pessoa que finalmente aceitou insistiu no anonimato, o que a meu ver é uma forma de autocensura. Os tradutores europeus de um livro crítico sobre o Islã também não quiseram que seus nomes aparecessem na capa ao lado do nome da autora, uma política holandesa nascida na Somália que também vivia escondida.


Na mesma época, a galeria Tate, em Londres, retirou uma instalação do artista de vanguarda John Latham que retratava o Alcorão, a Bíblia e o Talmude rasgados em pedaços. O museu explicou que não queria causar comoção depois dos atentados a bomba em Londres (poucos meses antes, para evitar ofender os muçulmanos, um museu de Gotemburgo, Suécia, removera uma pintura com um tema sexual e uma citação do Alcorão).


Finalmente, no fim de setembro, o primeiro-ministro dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen, reuniu-se com um grupo de imãs, um dos quais lhe pediu que interferisse na imprensa para obter uma cobertura mais positiva do Islã.


Assim, ao longo de duas semanas, testemunhamos meia dúzia de casos de autocensura, confrontando a liberdade de expressão com o medo de tratar de questões sobre o Islã. Esta era uma notícia legítima a ser coberta, e o Jyllands-Posten decidiu fazê-lo adotando um princípio jornalístico bem conhecido: mostre, não conte. Escrevi a membros da associação dos cartunistas dinamarqueses pedindo que ‘desenhassem Maomé como o viam’.


Decerto não lhes pedimos que ridicularizassem o profeta. De 25 membros ativos, 12 responderam.


Temos uma tradição de sátira quando lidamos com a família real e outras figuras públicas, e isto se refletiu nas caricaturas. Os cartunistas trataram o Islã como tratam o cristianismo, o budismo, o hinduísmo e outras religiões. E, tratando os muçulmanos da Dinamarca como iguais, eles defenderam uma idéia: nós os incluímos na tradição dinamarquesa de sátira porque vocês são parte de nossa sociedade, e não estranhos. As charges incluem, e não excluem, os muçulmanos.


De modo algum os desenhos demonizam ou estereotipam os muçulmanos. Na verdade, eles diferem uns dos outros no modo como retratam o profeta e em seu alvo. Um zomba do Jyllands-Posten, retratando seus editores de cultura como um bando de provocadores reacionários. Outro sugere que o escritor de livros infantis que não conseguia encontrar um ilustrador foi a público só para obter publicidade barata. Um terceiro põe a líder do xenófobo Partido do Povo Dinamarquês, em formação, como se fosse suspeita de um crime.


Uma das caricaturas – retratando o profeta com uma bomba no turbante – motivou as críticas mais severas. Segundo vozes indignadas, a charge diz que o profeta é um terrorista ou que todo muçulmano é terrorista. Leio o desenho de outro modo: alguns indivíduos transformaram a religião islâmica em refém cometendo atos terroristas em nome do profeta. São estes que abalam a reputação da religião. O cartum também faz referência à fábula sobre Aladim e a laranja que caiu em seu turbante e fez sua fortuna. Isto sugere que a bomba vem do mundo exterior e não é uma característica inerente do profeta.


Ocasionalmente, o Jyllands-Posten recusou-se a publicar cartuns satíricos de Jesus, mas não porque siga um duplo padrão. De fato, o mesmo cartunista que desenhou a imagem de Maomé com uma bomba no turbante desenhou uma charge mostrando Jesus na cruz com notas de dólar nos olhos e outra exibindo a estrela de Davi ligada a um pavio de bomba. Não houve, contudo, incêndios de embaixadas ou ameaças de morte quando publicamos estas. O Jyllands-Posten insultou e desrespeitou o Islã? Certamente, ele não pretendia. Mas o que significa respeito? Quando visito uma mesquita, mostro meu respeito tirando os sapatos. Sigo os costumes, como faço numa igreja, sinagoga ou outro local sagrado. No entanto, se um fiel exige que eu, como infiel, observe seus tabus no domínio público, não está pedindo meu respeito, e sim minha submissão. E isto é incompatível com uma democracia secular.


É exatamente por isso que Karl Popper, na obra seminal A Sociedade Aberta e seus Inimigos, insistiu que não se deve ser tolerante com os intolerantes. Em nenhum outro lugar tantas religiões coexistem pacificamente como numa democracia onde a liberdade de expressão é um direito fundamental. Na Arábia Saudita, você pode ser preso por usar uma cruz ou levar uma Bíblia na mala, enquanto os muçulmanos na Dinamarca secular podem ter suas próprias mesquitas, cemitérios, escolas e estações de TV e rádio.


Reconheço que algumas pessoas se ofenderam com a publicação das charges, e o Jyllands-Posten se desculpou por isso. Mas não podemos nos desculpar por nosso direito de publicar materiais, até mesmo ofensivos.


Não se pode editar um jornal paralisado por temores sobre todos os insultos possíveis. Sou ofendido todo dia por coisas no jornal: transcrições de discursos de Osama bin Laden, fotos de Abu Ghraib, pessoas insistindo que Israel deveria ser eliminado da face da Terra, pessoas dizendo que o Holocausto nunca aconteceu. Mas isso não me impede de publicá-las, contanto que respeitem os limites da lei e do código de ética do jornal.


Como ex-correspondente na União Soviética, sou sensível a pedidos de censura por razões de insulto. Este é um truque popular dos movimentos totalitários: rotular qualquer crítica ou defesa do debate como um insulto e punir os transgressores. Foi o que aconteceu com ativistas de direitos humanos e escritores como Andrei Sakharov, Vladimir Bukovski, Alexander Soljenitsyn, Natan Sharanski, Boris Pasternak. O regime os acusou de propaganda anti-soviética, do mesmo modo como alguns muçulmanos rotulam 12 charges de um jornal dinamarquês como antiislâmicos.


A lição da guerra fria é: se você cede a impulsos totalitários uma vez, novas exigências se seguem. O Ocidente prevaleceu na guerra fria porque mantivemos nossos valores fundamentais e não nos curvamos a tiranos totalitários.


Desde a publicação das caricaturas, em 30 de setembro, temos um debate construtivo na Dinamarca e na Europa sobre a liberdade de expressão, a liberdade de religião e o respeito aos imigrantes e às crenças das pessoas. Nunca tantos muçulmanos dinamarqueses haviam participado de um diálogo público – em reuniões em câmaras municipais, cartas a editores, colunas de opinião e debates no rádio e na TV. Não tivemos distúrbios antimuçulmanos, êxodo de muçulmanos do país ou muçulmanos praticando atos de violência. Os imãs radicais que informaram de modo equivocado seus colegas no Oriente Médio sobre a situação dos muçulmanos na Dinamarca foram marginalizados. Estes não falam mais em nome da comunidade muçulmana da Dinamarca porque os muçulmanos moderados tiveram a coragem de se manifestar contra eles.


Em janeiro, o Jyllands-Posten publicou três páginas inteiras de entrevistas e fotos de muçulmanos moderados afirmando não serem representados pelos imãs. Eles insistem que sua fé é compatível com uma democracia secular moderna. Uma rede de muçulmanos moderados comprometidos com a Constituição foi estabelecida e o Partido do Povo conclamou seus membros a distinguir entre muçulmanos radicais e moderados, isto é, entre muçulmanos que propagam a lei da sharia e muçulmanos que aceitam o domínio da lei secular. A face muçulmana da Dinamarca mudou e está ficando claro que este debate não é entre ‘eles’ e ‘nós’, e sim entre aqueles que são comprometidos com a democracia na Dinamarca e aqueles que não são.


Algumas das corajosas defesas de nossa liberdade de expressão foram inspiradoras. Mas manifestações trágicas no Oriente Médio e na Ásia não era o que esperávamos e muito menos desejávamos. Além disso, o Jyllands-Posten recebeu 104 ameaças registradas, dez pessoas foram presas, cartunistas foram obrigados a se esconder por causa de ameaças a suas vidas e a sede do jornal foi esvaziada várias vezes graças a ameaças de bomba. Este dificilmente é um clima para atenuar a autocensura.


Ainda assim, creio que os cartuns agora têm lugar em duas histórias separadas, uma na Europa e outra no Oriente Médio. Nas palavras da política holandesa de origem somali Ayaan Hirsi Ali, a integração dos muçulmanos nas sociedades européias foi acelerada em 300 anos graças aos cartuns; talvez não precisemos travar mais uma vez a batalha pelo Iluminismo na Europa. A história no Oriente Médio é mais complexa, mas isso pouco tem a ver com os cartuns.


* Flemming Rose, editor de Cultura do jornal dinamarquês ‘Jillands-Posten’, escreveu este artigo para ‘The Washington Post’. O diário da Dinamarca publicou originalmente as 12 charges sobre o profeta Maomé em setembro, causando a violenta reação da população de praticamente todos os países muçulmanos.’


O Estado de S. Paulo


Afegãos ameaçam aderir à Al-Qaeda


‘REUTERS, EFE, AFP E AP, CABUL – Centenas de universitários afegãos ameaçaram ontem ingressar na rede terrorista Al-Qaeda, de Osama bin Laden, durante ruidoso protesto contra a publicação de caricaturas de Maomé pela imprensa européia. ‘Morte à Dinamarca’, ‘Morte à França’, ‘Morte à América’, gritavam eles no câmpus da Universidade de Jalalabad, leste do Afeganistão.


Ao contrário de outras manifestações que deixaram pelo menos dez mortos, a de ontem ocorreu de forma pacífica. Os estudantes exaltaram as figuras de Bin Laden e seu lugar-tenente, Ayman al-Zawahri. ‘Longa vida a Osama’, ‘Longa vida a Zawahri’, cantavam. Pediam a demissão do presidente afegão, Hamid Karzai, que definiam como títere da América: ‘Morte a Karzai.’


Alguns manifestantes portavam cartazes, exigindo o rompimento de relações diplomáticas com Dinamarca, França e Estados Unidos e a expulsão das tropas estrangeiras do país. ‘Vamos ingressar na Al-Qaeda se continuarem os abusos contra o profeta’, ameaçaram, por fim, os manifestantes.


As caricaturas foram publicadas pela primeira vez em setembro do ano passado por um jornal dinamarquês e republicadas recentemente pela imprensa européia, em nome da liberdade de imprensa.


Os protestos violentos alastraram-se pelo mundo muçulmano como rastilho de pólvora. No fim de semana, 28 pessoas morreram em graves distúrbios que eclodiram em dois Estados islâmicos da Nigéria – Borno e Maiduguri. A Cruz Vermelha Internacional informou ontem que o total de mortos pode crescer porque o estado de alguns dos 207 feridos é muito grave. Os manifestantes atacaram várias igrejas cristãs, saquearam 200 lojas e 50 casas e destruíram 100 veículos.


No Paquistão, o principal movimento islâmico, o Muttahida Majlis-i-Amal (MMA), anunciou ontem ontem uma ampla campanha para intensificar os protestos que deixaram cinco mortos na semana passada. Qazi Hussain Ahmed, presidente do MMA, foi preso no fim de semana para evitar que comandasse um protesto em Islamabad, capital do país, no domingo. Libertado ontem, ele classificou a publicação das caricaturas de Maomé pela imprensa ocidental como parte de um choque de civilizações liderado pelo presidente americano, George W. Bush. E confirmou o patrocínio de novos protestos em todo o país na sexta-feira e no domingo.


‘Nosso movimento será contra Bush e contra Mush’, insistiu ele, numa referência ao presidente americano e seu colega paquistanês, Pervez Musharraf. O líder paquistanês é um aliado chave de Bush na luta contra o Taleban e a Al-Qaeda na região.


Ahmed convocou ainda uma greve geral para o dia 3. ‘Estamos organizando também manifestações para Karachi (maior centro comercial do Paquistão)’, adiantou.


Os protestos podem coincidir com a visita do presidente Bush ao Paquistão, esperada para o início de março.


Ontem, o governo da Dinamarca condenou a decisão de um clérigo paquistanês que ofereceu prêmio de US$ 1 milhão pela cabeça do ‘cartunista dinamarquês’ responsável pelas caricaturas. ‘Isso é assassinato e assassinato é proibido pelo Alcorão’, reagiu o chanceler dinamarquês. Per Stig Moeller.


Também o papa Bento XVI condenou a explosão de violência, pedindo, no entanto, respeito aos símbolos religiosos.’


PROPAGANDA INDEVIDA
O Estado de S. Paulo


Deputado usa papel oficial em publicidade


‘O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), pediu à Corregedoria que investigue a conduta de Gonzaga Patriota (PSB-PE), que usou papel timbrado da Casa para fazer propaganda de sua gráfica. Na semana passada, Patriota enviou a colegas uma correspondência, sugerindo que usassem serviços de sua gráfica. Ontem, ele entregou carta a Aldo em que pede desculpas e se dispõe a restituir o material. No texto, afirma que redigiu a correspondência e pediu a uma pessoa de sua confiança que mandasse imprimi-la em papel sem timbre. ‘Infelizmente essa pessoa, por equívoco, o fez em papel timbrado do gabinete.’’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


SBT tira mais um da Band


‘Depois de Carlos Nascimento, quem faz o percurso Morumbi-Anhangüera agora é o diretor de teledramaturgia Herval Rossano. Com tanto artista desempregado por aí, parece ter sido bem a falta de atores um dos motivos que motivaram a troca da Band pelo SBT.


Na quinta-feira, Herval comunicou sua saída da Band diante de uma proposta que recebeu de Silvio Santos por meio de um telefonema em sua casa, na noite anterior. Rossano, que havia trocado a Record pela Band em 2005, vinha, havia meses, tentando engrenar o setor de dramaturgia da emissora do Morumbi, em vão. Um dos maiores problemas do diretor seria a escalação de elenco para Amor de Perdição, novela inspirada na obra de Camilo Castelo Branco, que a Band quer produzir com a portuguesa NBP. Desde a contratação de Herval, a produção vem sendo adiada, o que teria irritado o diretor.


A alegação é que, com o crescimento das novelas da Record, as investidas do SBT no setor e a luta da Globo para manter seu cast, está difícil de a Band contratar um elenco para a novela.


No fim do ano passado, Herval teve seu primeiro desentendimento na Band com a suspensão da produção de especiais de fim de ano, que seriam comandados por ele. O argumento foi: contenção de despesa. Como o contrato dele com a Band não havia chegado ao fim, há multa a ser paga.


No SBT, a contratação pegou muita gente de surpresa. O diretor, que ontem visitou a emissora, assumiu o posto de Davi Grinberg, que será deslocado para outro cargo.


As conversas de Silvio Santos com o diretor teriam se iniciado em 2005, quando o SBT comprou os direitos do livro que deu origem à novela Dona Beija, dirigida por Herval na extinta Manchete. Uma das idéias de SS é fazer um remake da trama no SBT.’


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 21 de fevereiro de 2006


RELIGIÃO & MÍDIA
Fábio Amato


Jornal do Vaticano será impresso em São Paulo


‘A edição destinada ao público brasileiro de ‘L’Osservatore Romano’, jornal oficial do Vaticano, será impressa no Brasil a partir de março. A responsável pela impressão, atualmente feita em Roma, será a editora Santuário, ligada ao Santuário Nacional de Aparecida (SP), por meio de um convênio assinado na semana passada com a editora Vaticana.


Publicação semanal destinada aos católicos, o ‘L’Osservatore Romano’ tem cerca de 3.000 assinantes no Brasil. O jornal é encaminhado para o país por correio, já traduzido para o português.


Segundo o arcebispo de Aparecida, d. Raymundo Damasceno Assis, o convênio possibilitará uma redução entre 15% e 20% no valor da assinatura mensal, que hoje custa US$ 120, além de uma entrega mais ágil aos assinantes.


‘Apesar de o Brasil ser um país de maioria católica, ainda temos poucos assinantes deste que é o jornal do Vaticano e do papa. Esperamos com essa medida aumentar o número de leitores’, disse d. Raymundo.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Governo adia nova classificação indicativa


‘Prometida pelo Ministério da Justiça para entrar em vigor em março, a nova classificação indicativa de filmes e programas de TV será adiada. O ministério fala agora que o decreto com as mudanças deverá ser enviado à Casa Civil ‘ainda neste semestre’.


As redes de TV são contra maior rigor na classificação indicativa, o que pode pesar em um ano de eleições. Defendem a adoção de um chip que bloqueie programas indesejados pelos pais.


A nova classificação indicativa terá como principal novidade um conjunto de símbolos comuns para todas as redes de TV informarem aos telespectadores sobre o conteúdo dos programas. Os símbolos trarão as faixas etárias para os quais os programas foram classificados (hoje são livres ou impróprios para menores de 12, 14, 16 e 18 anos, respectivamente inadequados para antes das 20h, 21h, 22h e 23h/24h) e suas impropriedades (sexo, violência e drogas).


No ano passado, o Ministério da Justiça fez uma consulta pública e instituiu um grupo de trabalho para nortear as mudanças. Atualmente, segundo o ministério, esses resultados ‘estão sendo apresentados a especialistas da área’.


Na consulta pública, 62% responderam que deveria ser criada uma faixa de programas impróprios para menores de 10 anos. O ministério informa que ‘isso será incluído no decreto’, mas ainda não está definido qual será o horário correspondente.


OUTRO CANAL


Mudanças 1 Ex-Globo e Record, Herval Rossano, 70, assinou contrato com o SBT e assumiu ontem a direção de teledramaturgia da emissora, no lugar de David Grimberg. Sua primeira ação foi contratar um iluminador -que tentará acabar com aquelas sombras de novelas mexicanas nas produções de Silvio Santos.


Mudanças 2 Rossano continuará fazendo adaptações de textos mexicanos, mas tentará produzir alguns títulos brasileiros, como ‘Dona Beija’. Por enquanto, trabalhará com apenas um horário de novelas. ‘Cristal’, que já está sendo gravada, sofrerá intervenções.


Darlene 1 Deborah Secco participará de um dos oito episódios de ‘Minha Nada Mole Vida’, série estrelada por Luiz Fernando Guimarães e Maria Clara Gueiros (a do bordão ‘Vem cá, eu te conheço?’, de ‘Zorra Total’), que a Globo exibe a partir de 8 de abril, às sextas-feiras, após o ‘Globo Repórter’.


Darlene 2 A atriz fará uma mulher desesperada para aparecer na TV. A série, dos mesmos autores e diretor de ‘Os Normais’, será ‘uma crônica do mundo das pseudo-celebridades’. Guimarães será um colunista social eletrônico, inspirado nos ‘Amaury Jr.’ da TV.


Metade Deu 27 pontos de média o show dos Rolling Stones na Globo. Foi bom para um evento musical na TV, mas 53% dos televisores ligados estavam sintonizados em outros canais.’


POLÍTICA CULTURAL
Silvana Arantes


Alckmin quer ‘pontas no cinema’


‘O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que afirma ser ‘pré-candidato’ à Presidência da República pelo PSDB, lançou-se na manhã de ontem em outra campanha – por um lugar de figurante no cinema.


‘Sendo um apaixonado pelas artes, especialmente o cinema, se tiverem uma ponta em algum filme, podem convidar o governador’, disse. Alckmin falava para uma numerosa platéia de artistas, não apenas cineastas.


Os convidados do governador acompanharam a assinatura da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, na Sala São Paulo. Ao lado de Alckmin no palco, além do cineasta João Batista de Andrade, secretário de Estado da Cultura, estava a atriz Regina Duarte, que na campanha presidencial de 2002 gravou depoimento contrário à candidatura de Lula da Silva.


Em seu discurso, o governador citou o investimento previsto para este ano -de R$ 45 milhões por meio da lei- e afirmou que ‘o mundo mudou. Cultura hoje é emprego, renda, trabalho, atividade econômica e, acima de tudo, visão de mundo’.


A lei ainda depende de regulamentação para ser aplicada. O secretário Andrade, que classificou o instrumento de ‘uma conquista histórica’, estima que o governo comece a aceitar ‘no fim de maio’ a inscrição de projetos a serem avaliados pelos critérios da lei.


Há dois mecanismos de patrocínio distintos previstos. O Estado poderá fazer investimento direto, priorizando ‘atividades que mais necessitem de apoio’, segundo a Secretaria de Cultura. Nesse caso, os projetos apoiados serão escolhidos por concurso (edital).


Outro mecanismo previsto pela lei é o de renúncia fiscal, pelo qual empresas ficam autorizadas a destinar até 3% de seu ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) para patrocínio cultural. A renúncia do ICMS pelo Estado fica limitada a 0,2% da arrecadação anual.


Para obter esse tipo de patrocínio, produtores de projetos previamente aprovados segundo os critérios da lei devem convencer empresas a investir. É o procedimento em prática também nas leis federais de incentivo à cultura, que deu origem ao neologismo ‘captação de recursos’.


A criação de uma lei de incentivo à cultura em São Paulo vinha sendo discutida há anos na Assembléia Legislativa. O deputado Vicente Cândido (PT), autor de uma das propostas apresentadas, faz críticas ao texto sancionado ontem pelo governador.


Cândido se diz ‘temeroso’ em relação ao fato de não haver um valor fixo do orçamento previsto para a lei. O montante deverá ser fixado por decreto, a cada ano.


O deputado afirma que a edição da lei representa ‘um avanço muito tímido’ e reflete o modo como ‘o PSDB trata a cultura, que é o de achar que cultura é coisa da classe média e que a classe média tem dinheiro para comprar’.


Em relação às críticas, Andrade afirma que ‘a lei não é tímida’, diz que é resultado de ‘um consenso’, mas que ‘ele [Cândido] pode fazer outra lei, se quiser’.


A Secretaria de Cultura divulgou que ‘o já existente Fundo Administrativo de Cultura’ será ‘um dos instrumentos da lei’, a ser usado complementarmente aos recursos do Tesouro destinados para editais (investimento direto do Estado em projetos aprovados segundo a lei).


Entre as fontes do fundo citadas pela secretaria está a Loteria da Cultura. O secretário Andrade admitiu ontem que o mecanismo ‘não está gerando recursos’, mas afirmou que a secretaria está ‘reestruturando a Loteria e se preparando para relançá-la’.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Kudos


‘E tome Bono Vox. Para além da histeria coletiva dos telejornais da Globo, aos quais não faltaram nem imagens do vocalista só de toalha, na janela, o show do U2 ecoa pela reunião de espetáculo e política.


De Bono e Lula. Estavam lá, no site de ‘Washington Post’ e em dezenas de outros, a notícia e as menções ao biodiesel e ao Zero Hunger, ‘programa que busca garantir que todos os brasileiros tenham três refeições’.


Lula foi parar até nas páginas on-line da revista ‘New Music Express’, das mais influentes publicações de música pop:


– O par [Bono e Lula] discute a luta contra a pobreza.


Num site de jornal americano, o título do despacho da agência AP, sobre a doação da guitarra do popstar para o Zero Hunger, trocou o enunciado:


– Bono doa ‘kudos’ a Lula.


A palavra, uma ironia corrente no jornalismo americano, quer dizer ‘fama’ -ou, sem ironia, ‘expressão de louvor’.


Se um megashow tende mais ao governo Lula, o outro, pelo jeito, tende à oposição.


O blog de Jorge Moreno, no Globo Online, se vangloriava ontem de seu ‘acesso exclusivo aos camarins dos Stones’:


– Não me perguntem como cheguei lá… De repente, me vejo na porta dos camarins, levado pelas pessoas que trouxeram a banda, entre elas a simpática Daniela, filha de Cesar Maia, que convenceu o pai a patrocinar a vinda dos Rolling Stones.


Sem muito detalhar, afirmou ter trocado ‘algumas palavras com cada um dos Stones, eles são simpáticos’. Ele encontrou Aécio Neves, Michel Temer e Garotinho, Moreira Franco:


– Na varanda do Copa, fiquei depois entre Clarissa Garotinho e Verônica Serra, filhas de dois pré-candidatos. Depois conto.


A BOLHA DOS BLOGS


Mal ela chegou ao Brasil e, nos EUA, já se fala em estouro da ‘bolha dos blogs’. A revista on-line ‘Slate’, o ‘Financial Times’, as revistas ‘New York’ (ilustração ao lado) e ‘Weekly Standard’ soltaram longas reportagens duvidando da viabilidade financeira da blogosfera que só faz crescer.


Os maiores blogs independentes, Daily Kos, Gawker, The Huffington Post, Boing Boing e outros, já teriam consumido quase toda a publicidade disponível -e o que resta seria ocupado, a partir de agora, pelos blogs dos sites da mídia tradicional.


Na manchete da ‘Slate’, ‘O crepúsculo dos blogs: eles acabaram como negócio?’. No título do ‘FT’, no sábado, ‘Chegou a hora do último post’.


Mas ‘Slate’, ‘New York’ e demais são todos MSM, ‘mídia mainstrem’, como gostam de descrever os blogs independentes. Foi a defesa imediata dos blogueiros. Dan Gillmor, sempre à frente, admitiu que ‘o hype tem sido maior do que seria saudável’, mas respondeu que Time Warner e outros ‘podem montar quantos blogs sugadores quiserem, que não vão a lugar nenhum’ se mantiverem a mediação de sempre.


Parte da controvérsia é efeito da divulgação do ‘estado da blogosfera’, relatório do serviço de busca Technorati que apontou o crescimento dos blogs de MSM -e ao mesmo tempo a chegada dos blogs independentes à lista dos sites noticiosos mais acessados.


Lá do Olimpo


Franklin Martins, exilado do ‘Jornal Nacional’, registrou na CBN seus comentários sobre ‘aquele jantar no restaurante chique, Massimo’, dos três ‘lá do Olimpo’. E acrescentou:


– Ungir um candidato, sem fórum que dê legitimidade para a escolha, cria um espaço para o ressentimento. Não será fácil.


Alckmin estaria ‘se mexendo nos bastidores’, cobrando ouvir os governadores -e vai ‘bater de frente com o triunvirato, com a santíssima trindade’.


De frente


Já não está fácil. A manchete da Folha Online, para ‘post’ do blog de Josias de Souza:


– Maioria dos governadores tucanos prefere Alckmin.


E a do Globo Online, para ‘post’ do blog de Jorge Moreno:


– Lila Covas: José Serra que fique no seu lugar.


Grande decepção


Se Lula vai bem entre os mais pobres, perde terreno entre os empresários, relatou o ‘Valor’, em várias reportagens.


O petista ‘mantém o apoio de empresários como o industrial Ivo Rosset ou o pecuarista José Carlos Bumlai’, mas ‘perdeu Eugênio Staub, da Gradiente’. Mais significativo, ainda conta com Lawrence Pih, do Moinho Pacífico, mas não vai ter mais Oded Grajew, do Instituto Ethos, em sua campanha. Dele:


– Vou votar no Lula porque este governo é bem melhor do que o anterior na diminuição da pobreza e da desigualdade, na geração de emprego, na balança comercial, na dívida interna e externa. Não há comparação, mas na questão ética o governo é vulnerável. Realmente, o PT foi uma grande decepção.’


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