Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ancelmo Góis

‘O site Primeira Leitura, que tem posição critica em relação ao governo Lula, corre perigo de fechar por razões financeiras.

Um dos sócios é o ex-ministro e ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros.’



MÍDIA & PRIVACIDADE
Míriam Dutra

‘Até onde vai a privacidade?’, copyright Blig do Noblat, 1/09/04

‘No momento, essa é a grande questão na Espanha. Um país que saiu do script e criou um verdadeiro fenômeno: a imprensa do coração, a chamada ‘prensa Rosa’. Qualquer sociólogo europeu ou psicólogo admite que a Espanha supera os demais países quando abre espaço para falar dos chamados famosos, gente que não trabalha, que não se sabe de onde vem, mas que está nas páginas de todas as revistas e é comentada nas tvs diariamente.

São filhos, namorados, ex-maridos, ex-mulheres – não há um critério que predomine. Quem por um segundo fez sucesso na Espanha ou apareceu num jornal ou na tv pode ter certeza que no dia seguinte terá um paparazzi no seu pé. Nos países europeus, até por conta das casas reais, da nobreza enfim, isso sempre fez parte do cotidiano. Mas na Península Ibérica, a fofoca se transformou numa loucura!!! Avançou todos os sinais.

Exatamente nesta época, final de verão, quando revistas e tvs atraem grandes audiências oferecendo fotos coloridas e entrevistas exclusivas, o povo que tudo consume com indisfarçável avidez começa a se perguntar ao mesmo tempo até onde vai a privacidade, até onde se pode invadir de todas os modos possíveis e impunemente a vida de uma pessoa.

O debate pegou fogo desde que morreu há um mês Carmen Ordoñez, uma socialite filha de toureiro, ex-mulher de toureiro e mãe do toureiro Francisco Rivera. Morreu de overdose. Vivia de drogas, anfetaminas e soníferos, e freqüentava o jet set. Seu corpo não agüentou estilo de vida tão explosivo. O mais interessante, contudo, era que ela já não tinha mais dinheiro para sustentar seus prazeres e caprichos. Vivia de vender entrevistas exclusivas sobre sua vida. Por aqui, nenhuma entrevista de celebridade é concedida de graça. Todas são pagas e muito bem pagas.

A indústria do coração movimenta pelo menos um milhão de dólares por ano em entrevistas ou fotos. E o pior: a cada dia tem mais gente vivendo disso.

Outro fato que mexeu com a indústria do ‘corazon’ foi a fotografia do primeiro-ministro Jose Luiz Rodrigues Zapatero de férias com a família na ilha de Menorca. Tradicionalmente, os governantes posam para os fotógrafos com as famílias (mulher, filhos e agregados) quando entram de férias. Depois são deixados em paz. Dessa vez não foi assim. Zapatero acabou fotografado com a família dele (duas filhas de oito e dez anos) num barco. Ficou furioso ao ver a foto das filhas estampadas em várias revistas e jornais.

Mandou um protesto formal a todos os meios de comunicação: a privacidade da sua família deve ser preservada de todas as maneiras, alertou. Mas como preservar a intimidade da família Zapatero num país onde a Duquesa de Montoro, Eugenia Mzartinez de Irujo, é internada vítima de um ataque de ansiedade causado pelo assédio dos paparazzis – fotógrafos free-lancers que vendem o que fazem a quem lhes paga mais?

Alguns críticos da legislação espanhola dizem que ela é muito boazinha com casos como esses. Os juízes se enrolam com os argumentos de uns e de outros e no fim não sabem dizer quem tem razão.

No Japão, jornalistas reconhecidamente teimosos e insistentes são punidos até com demissão. Os Estados Unidos estudam uma mudança em suas leis que regulam o assunto para torná-las mais severas.

O fato é que os excessos da imprensa em toda parte incomodam cada vez mais a políticos, atores, atrizes, famosos em geral e aspirantes à fama. Ocorre-me, porém, uma pergunta: quando você decide sua vida já não sabe o que enfrentará? Claro, isso não significa que sua vida terá de ser um livro permanentemente aberto e acessível a todo mundo. Mas creio que cada um sabe ou deve saber até onde quer ir. Quem se entrega à mídia se arrisca a ser destruído.

Ah, sim, tem mais um fato que não posso deixar de contar. Os ‘famosos’ daqui quando não têm dinheiro ou bastante dinheiro ‘criam uma situação’. Um casamento, por exemplo, um divórcio, uma briga e até uma falsa gravidez. Só para ganhar algum em troca de uma entrevista exclusiva.

É assim que muita gente vive ou tenta viver bem na Espanha ! Olé !! (*) Míriam Dutra é jornalista e vive em Barcelona’



ROSSI PREMIADO
Folha de S. Paulo

‘Clóvis Rossi é premiado pelo conjunto da obra’, copyright Folha de S. Paulo, 1/09/04

‘O jornalista e colunista da Folha Clóvis Rossi, 61, recebeu ontem na cidade de Monterrey, no México, o Premio Nuevo Periodismo Cemex-FNPI 2004 pelo conjunto de sua obra. A Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano (FNPI), criada em 1994 pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez, premiou Rossi na categoria ‘homenagem’.

‘É super prazeroso para mim receber esse prêmio, por se tratar do reconhecimento do conjunto de uma obra, algo que foi definido por uma banca de conceituados jornalistas e escritores. Não foi algo que eu busquei’, disse Rossi, do México, ao classificar a premiação como uma das mais importantes de sua carreira.

O colunista -o primeiro jornalista brasileiro a ser premiado pela FNPI na categoria conjunto da obra- citou ainda o Prêmio Maria Moors Cabot, da Faculdade de Jornalismo da Universidade Columbia (EUA), em 2001, e o Prêmio Ayrton Senna de jornalismo político, em 2002, como premiações importantes de sua carreira.

Rossi também é integrante do Conselho Editorial da Folha. Foi correspondente em Montevidéu (Uruguai), acompanhou o golpe de Estado no Chile (1973), a Revolução dos Cravos em Portugal (1974) e a redemocratização da Espanha (1977). Afirmou que um dos períodos que mais marcaram sua trajetória profissional, em seus 41 anos de carreira, foi o de correspondente em Montevidéu.

Rossi ressaltou a premiação do brasileiro Maurício Lima, 28, da agência ‘France Presse’, na categoria fotografia. Seu trabalho ‘Esperança sem teto’ mostra a ocupação de um terreno da Volkswagem por membros do MTST, em São Paulo. Na categoria texto, o trabalho premiado foi o da jornalista argentina Josefina Licitra, 29. Publicada na versão da local da revista ‘Rolling Stone’, a reportagem é sobre uma adolescente de 15 anos acusada de liderar uma quadrilha de seqüestradores.’



RACISMO PUNIDO
Fernanda Reche

‘Jornalista de RS é condenado em primeira instância’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 2/09/04

‘Na semana passada, saiu a condenação em primeira instância do jornalista e advogado Paulo Gilberto da Silva Corrêa, colunista há cinco anos do Jornal Cassino, da cidade de Rio Grande (RS). Corrêa foi acusado do crime de racismo contra a cultura indígena em ação penal movida pelo Ministério Público Federal e recebeu uma pena de dois anos e quatro meses de reclusão, além de multa, conforme decisão da Justiça Federal do município. Segundo o previsto na Lei número 9.714/98, a pena privativa de liberdade poderá ser transformada em prestação de serviços à comunidade, em entidade assistencial, e prestação pecuniária no valor de dez salários mínimos, caso a sentença seja definitiva.

A Procuradoria da República do Ministério Público Federal no município de Rio Grande denunciou Corrêa em função de manifestações do jornalista publicadas em três edições do Jornal Cassino, entre 14/03 e 27/06/ 2003, na coluna ‘Bom dia, amigos!’ (confira, abaixo, trechos da coluna). O réu foi enquadrado no artigo 20 da lei número 7.716/89, que considera crime ‘praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional’. O fato foi agravado pelo parágrafo segundo da mesma lei, por ter sido ‘cometido por intermédio dos meios de comunicação social’.

A decisão judicial afirma que Corrêa abusou das prerrogativas de liberdade de expressão e pensamento que lhe são conferidas ao veicular por três vezes matéria jornalística discriminatória da raça indígena, praticando, induzindo e incitando à discriminação racial. E conclui afirmando que ‘a pretensão do autor era de causar nos leitores um sentimento de repulsa à qualquer população indígena que se estabeleça no Balneário do Cassino e, em virtude dessa repulsa social, fazer comoção social de repulsa àquele povo fizesse com que as autoridades não permitissem o acesso de indígenas àquela localidade’.

Paulo Corrêa explica que os comentários que escreveu no veículo foram contrários à sugestão da Procuradoria Federal para estabelecer uma área no camping municipal exclusivamente para os índios: ‘Apenas critiquei a idéia da Procuradoria, pois não concordo com a instalação de uma área específica para os índios, assim como não concordaria se fosse com qualquer outro grupo, porque o camping municipal é da atividade de todas as pessoas, não pode haver uma área reservada, no meu ponto de vista’. O réu conta, ainda, que não se conformou com a sentença e que vai tentar todos os recursos cabíveis: ‘Felizmente não é uma sentença definitiva, acredito que essa posição possa ser revertida. Confio na justiça e não tenho nenhum espírito racista, mas o juiz entendeu diferente’.

A Procuradoria afirma que ingressou com apelação tentando aumentar a pena e que também há outra ação tramitando contra o Jornal Cassino, por co-responsabilidade. O diretor do veículo, Orlando Fernandes, conta que ficou surpreso com a sentença de Corrêa: ‘Não houve nenhuma intenção de denegrir a imagem dos índios caingangue. Nós sempre demos todo o apoio aos índios’.

Coluna ‘Bom dia, amigos!’, edição de 14/03/2003 do Jornal Cassino:

‘Precisamos é corrigir, o quanto antes, o erro de todos os anos aceitar os índios aqui, com tudo pago. A primeira vez vá lá, era novidade, talvez fosse alguma atração turística. Mas depois que se viu que muitos índios não têm nenhum hábito de higiene, que fazem cocô e xixi em qualquer lugar, que raramente tomam banho, que pedem esmolas nas esquinas do Cassino, era para enviar a tribo a outro local, não mais para cá, pelo menos até que a Funai pagasse a estadia e os ensinasse a se comportar na civilização. (…)’

Coluna ‘Bom dia, amigos!’, edição de 6/06/2003 do Jornal Cassino:

‘(…) como alguns índios não são chegados ao banho, os forasteiros acampados cheirarão fedores, verão bugigangas de camelôs vendidas como se fossem artesanato indígena, desprestígio ao lugar aprazível que é nosso (…)’

‘(…) Chega de importar pobrezas e fedores: já temos demais.’

Coluna ‘Bom dia, amigos!’, edição de 27/06/2003 do Jornal Cassino:

‘(…) Já tivemos outros medos e o mais recente é o fedor dos índios no Cassino. Se desse para evitar mais esses medos, a região ficaria agradecida…’ (*) Da equipe do site Bem Informado.’