Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

ANJ quer veto de lei que limita trabalho jornalístico

Leia abaixo os textos desta quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


************


Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 13 de julho de 2006


SÃO PAULO
Folha de S. Paulo


Novos ataques


‘O PERÍODO eleitoral tem prejudicado a tarefa de identificar causas e estabelecer linhas de ação apropriadas para enfrentar a crise na segurança pública no Estado de São Paulo. Políticos envolvidos no episódio têm se lançado a um esgrimismo retórico que os afasta cada vez mais da realidade; que confunde, frustra e ofende a opinião pública.


Na terça-feira, durante o dia, o governador Cláudio Lembo disse que a facção criminosa PCC ‘não domina mais’ os presídios paulistas. A seguir, uma nova onda generalizada de ataques, iniciada na noite daquele dia, veio mostrar que a realidade não se harmoniza com suas palavras.


Mais triste foi notar a permanência da atitude truculenta e avessa à prestação de contas que tem marcado a atuação do secretário da Segurança Pública, Saulo Abreu. Agora chegou ao desplante de insinuar, sem qualquer evidência, que este jornal, ao publicar uma lista de presos a serem transferidos para um presídio federal, tenha tido responsabilidade na nova crise -embora esta tenha começado antes de a notícia ter sido publicada.


De sua parte, diante da nova rodada de agentes de segurança covardemente assassinados, ônibus queimados, supermercados alvejados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reincidiu na demagogia e se esforçou em vender a falsa impressão de que seu governo tem uma saída emergencial para a crise -o envio da insondável Força Nacional de Segurança e/ou do Exército-, mas esbarra na recusa das autoridades paulistas. Sejamos claros: nem o Exército nem a força federal estão em condições de fazer diferença na luta contra a ofensiva dos bandidos em São Paulo.


Não tem se saído melhor que Lula o seu adversário tucano. Como escreveu Elio Gaspari, ontem nesta Folha, Geraldo Alckmin se esmera em tergiversar quando confrontado com as conseqüências de um problema que cresceu sob sua gestão -deixou há menos de quatro meses o governo de São Paulo, após cinco anos de exercício do cargo.


Todos pensam apenas nos votos que poderão perder ou ganhar dando esta ou aquela declaração, evitando este ou aquele tema. Incapazes de ler o presente, ignoram a necessidade imediata dos paulistas: confiar em que as principais autoridades públicas restabelecerão a ordem e não permitirão que os autores da selvageria fiquem impunes.


Ninguém deve esperar milagres. Ataques genéricos como os perpetrados pelo PCC são difíceis de evitar em qualquer parte do mundo -o problema foi o PCC ter chegado à dimensão atual. Ondas de atentados, por outro lado, oferecem oportunidades à polícia: a quadrilha se expõe e seus integrantes podem ser identificados e presos.


É nesse ponto que a ação emergencial se encadeia com outra, mais longa, cujo objetivo é impor uma derrota definitiva à organização delinqüente. Nesse ponto se deve adensar, e muito, a articulação de instituições nas esferas estadual e federal, no Executivo, no Legislativo, no Judiciário e no Ministério Público. Basta de demagogia eleitoreira.’


 


Clóvis Rossi


O crime e as atitudes


‘MADRI – O presidente da República descobriu a pólvora, como é de seu costume. ‘Temos de tomar atitudes’, declarou todo solene em Salvador, a propósito da nova onda de ataques em São Paulo.


Sim, cara pálida, temos. Mas faz ao menos 20 anos que atitudes deveriam ter sido tomadas por sucessivos governos, inclusive aqueles comandados por gente que agora é sua aliada incondicional desde criancinha, caso de José Sarney.


Mas se o Maranhão, feudo dos Sarney há meio século, está sob ataque do beribéri, mal do século 19, o que se pode esperar desse pessoal? Se respondeu nada, acertou.


Vale idêntica resposta para os que foram governo a vida inteira e agora estão na oposição a Lula, caso de Cláudio Lembo, governador de São Paulo.


Lembro-me de que, na sabatina que a Folha fez com ele logo após a primeira onda de ataques, estava todo cheio de pose, ao contrário do habitual, certo de que ‘sua’ polícia (ele é que usou essa expressão, tomando posse do que não é dele) era dona da situação.


Vê-se agora que não é. Chegou-se ao inacreditável ponto de se criar um ‘SOS telefônico’ para que agentes do Estado peçam proteção ao Estado quando ameaçados pelos criminosos que o Estado não consegue detectar nem muito menos prender.


A falta de atitude de TODOS os governantes dos últimos 20 ou 25 anos levou a uma situação em que polícia tem medo de bandido, mas bandido não teme a polícia. Acaba qualquer vestígio de vida civilizada. São Paulo (o Estado, não só a cidade) está sitiado pelo crime. No Rio, candidatos ao governo do Estado precisam de licença dos criminosos para fazer campanha em certas áreas.


Pois é, presidente, passou da hora de tomar atitudes. Tome-as. Se souber quais. Duvido.’


 


Demétrio Magnoli


As ‘trezentas famílias’


‘JOSÉ DIRCEU, o grande operador, escreveu no ‘Jornal do Brasil’ um artigo intitulado ‘Os inimigos do povo’, que investe contra a ‘elite’, definida como ‘a oposição e grande parte da mídia’. Pouco depois, num jatinho do empresário Eike Batista, viajou para a Bolívia, onde dedicou-se a sigilosa missão de tráfico de influência.


Cláudio Lembo, o governador substituto, improvisou uma furiosa invectiva contra a ‘elite branca’ para desviar a atenção da negociação que promovia com Marcola, o chefão do PCC. Em seguida, sua polícia decretou a pena de morte e promoveu um massacre de centenas de ‘suspeitos’, executados com tiros na nuca, na cabeça ou nas costas.


Paulo Paim, o senador petista que elaborou o Estatuto Racial, enfureceu-se com a existência de vozes discordantes e, protegido pela armadura da imunidade parlamentar, qualificou de ‘laranjas’ (a serviço da ‘elite branca’, é claro) os integrantes de movimentos negros signatários da carta pública contrária a seu projeto de lei. Paim fala qualquer coisa: em 2003, prometeu votar contra a reforma previdenciária de Lula até a véspera da votação, na qual alinhou-se com o Planalto.


Edward Telles, o sociólogo americano que defende a classificação racial oficial dos cidadãos, usou um boletim internacional para falsificar o título da carta pública contra as cotas raciais, denominando-a ‘Manifesto da Elite Branca’. Ontem, escreveu na Folha um artigo no qual ‘justifica-se’ sob o ‘argumento’ de que recebeu uma mensagem eletrônica com esse título na linha de assunto. É uma curiosa defesa do ‘direito’ à falsificação que tem a óbvia finalidade de reiterar o epíteto que atribuiu à carta pública.


A filósofa Hannah Arendt identificou a conexão entre os movimentos totalitários e uma modalidade específica de degradação da linguagem política. ‘O que inspirava os manejadores da história não era o materialismo dialético de Marx, mas a conspiração das trezentas famílias; não o pomposo cientificismo de Gobineau e de Chamberlain, mas os ‘Protocolos dos Sábios do Sião’; não a influência da Igreja Católica e o papel do anticlericalismo, mas a literatura clandestina sobre jesuítas e maçons. A finalidade das mais variadas e variáveis interpretações era expor uma esfera de influências secretas, das quais a realidade histórica visível era apenas uma fachada externa construída com o fim expresso de enganar o povo.’


Em José Dirceu, os ‘traidores do proletariado’ e ‘agentes da CIA’ de Stálin renascem nos ‘inimigos do povo’. Em Lembo, Paim e Telles, as ‘trezentas famílias’ adquirem nova figuração histórica na ‘elite branca’. Tempos difíceis…’


 


Laura Mattos e Daniel Castro


Após acusação de exagero, TV adota tom ‘light’


‘As TVs, acusadas pela polícia de ajudar a criar o clima de pânico em São Paulo nos ataques de maio do PCC, adotaram ontem um tom mais ‘light’ na cobertura da nova onda de atentados. Desta vez, não alteraram suas programações para manter repórteres ao vivo horas a fio.


A Record decidiu cancelar em cima da hora um programa especial sobre os atentados que seria levado ao ar no fim da tarde. A emissora também aderiu a uma prática que a Globo já vinha adotando: tirar a sigla PCC do noticiário. Apresentadores e repórteres falavam ontem em ‘a mais importante facção criminosa de SP’.


Na Globo, o PCC foi ‘rebaixado’ de ‘facção criminosa’ para ‘quadrilha’. A determinação veio em um comunicado da direção de jornalismo na última segunda-feira. Usar ‘facção criminosa’ não é proibido, mas deve-se dar preferência a ‘quadrilha’ ou ‘bando’.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘Manda tirar’


‘José Luiz Datena fez de novo, no ‘Brasil Urgente’. Deu enquete no ar sobre a ‘troca’ do secretário Saulo de Castro, questionou-o por se esquivar e acusar ‘a imprensa’, por fim saiu-se com esta:


– Ligaram para cá da secretaria, ‘manda o Datena tirar a enquete que o [chefe da Polícia Civil] fala com ele’… Eu não aceito esse tipo de barganha! Agora é que eu não tiro mesmo a enquete.


O número de ‘sim’ para a troca, no fim da enquete, foi dez vezes superior ao de ‘não’.


A certa altura, registre-se, o apresentador cobrou de um assessor da polícia a exclusividade dada à Globo, no dia anterior, na cobertura do fim de um seqüestro.


Datena, na Band, ‘se eles querem fazer acordo, vão fazer com outra!’


Na Record e demais, ‘câmera de segurança’ transmite um ataque


PCC OU NÃO PCC


Na Globo não se fala em PCC faz tempo. Mas desta vez a Record também mandou tirar. Na primeira, a tradução é ‘bandidos’, como na manchete do ‘JN’:


– Bandidos voltam a fazer ataques coordenados em SP.


Na segunda, PCC virou ‘uma facção criminosa’.


A ordem não chegou ao ‘SBT Brasil’, que deu como manchete ‘Os novos ataques do PCC em SP’. Nem ao ‘Jornal da Band’, com ‘O PCC volta a aterrorizar SP’.


DE PORTAS ABERTAS


O apresentador da Globo Chico Pinheiro, que não é o mesmo de outros tempos, até pelo contrário, surgia sério e pausado durante os intervalos da tarde e no primeiro bloco do ‘JN’, relatando:


– Os bandidos voltaram a atacar… Os bandidos fizeram disparos…


Num dos intervalos, final do dia, outra apresentadora saiu dizendo:


– Ninguém se feriu nos 23 ônibus incendiados. As frotas circulam normalmente. E o comércio de São Paulo está de portas abertas.


ALVOS CIVIS


Por outro lado, da mesma Globo:


– Os alvos civis foram dez bancos e três supermercados. Dos ataques em São Paulo, 70% foram contra alvos civis -ônibus, supermercados, concessionárias de veículos e agências bancárias.


Até no ‘JN’:


– As ações atingiram pelo menos 53 alvos no Estado. A maioria, civis.


TERROR


Pela manhã, sob o impacto, o ‘Bom Dia Brasil’ chegou até a falar em ‘terror’. Mas não se ouviu mais a expressão, no resto do dia.


ESTARRECIDA


O alarme, registre-se, foi dado desde cedo nas rádios, com a Bandeirantes abrindo com ‘três ônibus incendiados na zona oeste’.


Depois veio a Jovem Pan, com os assassinatos no litoral e a contagem crescente dos ônibus incendiados. A certa altura, observou:


– A população se mostra estarrecida com os atentados promovidos pelo Primeiro Comando da Capital.


+ LIDOS


Na internet, os atentados estavam em todo lado, desde cedo também. Nos ‘+ lidos’ da Folha Online, às 14h30, a lista não tinha outro assunto, da primeira à última notícia dos internautas.


Até onde foi possível ler, dos portais, só o Globo.com evitou ‘PCC’.


‘MELHOROU’


Além de uma coletiva com o secretário, aqui e ali surgiam entrevistas de ‘especialistas’ como o ex-secretário de FHC para segurança.


Num enunciado no Terra, ‘Ação da polícia melhorou, diz especialista’. Na conversa do ex-secretário, ‘a falta de coordenação demonstra que a ação da polícia melhorou’. Ele também não vê PCC.’


 


TELINHA
Daniel Castro


‘Eu queria sair correndo’, diz Vanucci


‘O vídeo em que o jornalista Fernando Vanucci, 55, começa a apresentar o ‘Bola na Rede’ falando mole e desarticulado, como se estivesse bêbado, virou uma febre na internet. Até as 13h de ontem, já registrava mais de 500 mil acessos no site You Tube _uma audiência que seu programa na Rede TV! não consegue alcançar na Grande SP (onde dá 2 pontos no Ibope, cerca de 110 mil domicílios).


Vanucci jura que não bebeu uma única gota de álcool no último domingo. Reafirma que sofreu o ‘apagão’ porque tomou duas comprimidos de 2 mg cada de Lorax, um calmante que dá sono e que causa dependência. Ele passou a usar o medicamento (eventualmente, diz) há cerca de um ano, para reduzir o excesso de ansiedade comum a quem pára de fumar.


‘Eu não sou irresponsável [de beber antes de entrar no ar]. Do contrário não teria 33 anos de profissão’, diz. Vanucci conta que no último domingo, ao sair do almoço na casa de um amigo, teve ‘uma contrariedade familiar’ _uma discussão por telefone, que durou meia hora, com um de seus filhos.


‘Tenho pressão alta e fiz, em 2001, uma cirurgia no coração para corrigir um problema congênito. Tomo remédios fortes todos os dias. O telefonema foi muito estressante, minha pressão ficou alta’, conta. Ao chegar em casa, ele tomou ‘uma dose alta’ de Lorax, uma hora e meia antes do início do programa.


‘Isso me deu uma relaxada. Por azar, o pico do efeito ocorreu quando entrei no ar. Eu sentia que ia cair. Tinha visão dupla, por isso fechava um olho para tentar enxergar com o outro. Foi me dando um pânico, eu queria sair correndo.’


‘O pior é que não tomei [álcool]. No domingo procuro [não beber]. No sábado eu tomei um vinhozinho. Talvez tenha a ver com isso’, diz Vanucci, que foi advertido verbalmente pela Rede TV! e voltou a trabalhar anteontem.


Segundo o psiquiatra Dartiu Xavier, da Universidade Federal de São Paulo, o que ocorreu com o jornalista não é comum a quem já toma calmantes _a não ser que se misture com álcool, porque o medicamento potencializa o efeito da bebida.


TCHAU, CULTURA Com apenas um mês como apresentador titular do ‘Jornal da Cultura’, o jornalista Celso Zucatelli recebeu convite da Record, onde irá reforçar a cobertura de eleições. Ele fica só mais uma semana no principal telejornal da TV Cultura.


CURVA A audiência do segundo capítulo de ‘Páginas da Vida’ caiu para 46 pontos. O primeiro marcou 50.


É PRA ONTEM A assessoria de Luciana Gimenez está telefonando para VIPs e pedindo endereços para mandar o convite de seu casamento com Marcelo de Carvalho, vice-presidente da Rede TV!. O casal quer marcar a cerimônia para o segundo final de semana de agosto, mas a data depende dos ‘fornecedores’.’


 


FOTOGRAFIA CUBANA
Gabriela Longman


Mostra revê imagens da Cuba revolucionária


‘Alguns acontecimentos carregam consigo um registro quase mitológico. Do mesmo modo que a pintura ilustrou infinitas batalhas da Revolução Francesa, a fotografia esteve presente como forma de documentação diária e por excelência da Revolução Cubana, em 1959.


Alberto Korda, Raúl Corrales e Roberto Salas são alguns dos nomes que seguiram com a lente a investida socialista de Fidel Castro e Che Guevara num momento marcado pela polarização ideológica. A partir de hoje, a galeria Senac, em São Paulo, recebe 69 imagens pertencentes à Fototeca de Cuba e que registram os acontecimentos da década de 1960 sob o olhar de oito fotógrafos.


Co-curadora da mostra e diretora da Fototeca, Lourdes Socarrás veio ao Brasil para montar a exposição, embora organize simultaneamente, em Havana, uma mostra comemorativa dos 80 anos de Fidel Castro – já sem o glamour dos anos que se seguiram à Revolução.


‘Num país em que grande parte da população era analfabeta, a fotografia foi o grande instrumento de mobilização das massas, de convocação para a luta diária’, diz Socarrás sobre a importância das imagens naquele momento.


Diversidade


Além de seu caráter histórico, as fotos têm como trunfo o rigor estético. Se Oswaldo Salas (1914-1992) se dedica com mais ênfase aos retratos, as fotos de Corrales (1925-2006) primam por um olhar mais plástico, com enquadramentos audaciosos.


A carreira como fotógrafo de moda e publicidade deixou marcas no estilo de Korda (1928-2002). É justamente dele, aliás, a emblemática imagem de Che Guevara (‘El Guerrillero Heroico’, foto presente na exposição) hoje estampada em camisetas, biquínis, chaveiros e toda espécie de badulaque da era pós-industrial.


‘Por conta do embargo, os fotógrafos cubanos tiveram de aprender a economizar fotogramas. Não dava para clicar 20 vezes a mesma cena (…) desenvolveram um perfeccionismo’, teoriza a co-curadora cubana. Filho de Oswaldo, Roberto Salas é um dos poucos fotógrafos da mostra ainda vivos. Como o pai, seguiu de perto os passos dos revolucionários e contribuiu para a documentação iconográfica do período. Problemas familiares o impediram de vir ao Brasil, mas nove de suas imagens integram a exposição gratuita.


Intercâmbio


A montagem da mostra é a primeira parceria entre o Senac e a Fototeca cubana, mas a idéia de ambas instituições é implementar o intercâmbio entre a produção fotográfica dos dois países. A Fototeca prepara-se para trazer no ano que vem uma segunda mostra – de fotógrafos contemporâneos-, e o Senac ajuda a mapear nomes brasileiros para uma coletiva em Havana, marcada também para 2007.


Amanhã o Senac realiza um debate sobre fotografia épica com Socarrás e membros da instituição. O evento acontece às 15h e as inscrições podem ser feitas pelo site www.institutomidiaeartes.com.br/epicacubana.


A ÉPICA REVOLUCIONÁRIA CUBANA


Quando: abertura hoje, às 19h30; de seg. a sex., das 9h às 21h; sáb., das 9h às 16h; até 18/8


Onde: galeria Senac Lapa Scipião (r. Scipião, 67, SP, tel. 0/xx/11/3866-2500)


Quanto: entrada franca’


************


O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 13 de julho de 2006


DITADURA NA IMPRENSA
José Maria Mayrink


ANJ pede veto a lei que limita trabalho na mídia


‘A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e o Conselho Federal dos Profissionais de Relações Públicas (Conferp) vão sugerir ao presidente da República que vete no projeto de lei complementar (PLC 79/2004), sobre a regulamentação da profissão de jornalista, os artigos que restringem a essa categoria funções hoje exercidas por outros profissionais.


O texto do projeto, que foi apresentado na Câmara pelo deputado Pastor Amarildo (PSC-TO), aprovado pelo Senado e enviado para sanção presidencial, amplia de 11 para 23 as funções a serem exercidas por jornalistas com diploma universitário e registro profissional. Entre as novas funções, estão as de comentarista, de processador de texto, de assessor de imprensa e de professor de jornalismo.


‘Vejo com grande preocupação a aprovação desse projeto de lei que modifica substancialmente as regras vigentes das relações de trabalho dos jornalistas com as empresas de comunicação e demais setores’, disse o diretor executivo da ANJ, Fernando Martins. Num estudo a ser enviado ao presidente Lula, pedindo a o veto parcial do texto, a entidade argumenta que, ao alterar dispositivos do Decreto-Lei 972, de 1969, ele ameaça o princípio constitucional de liberdade de expressão.


A nova lei estabelece como atividade privativa do jornalista o exercício de uma série de atividades por meio de processos gráficos, radiofônicos, fotográficos, cinematográficos, eletrônicos, informatizados ou quaisquer outros, por quaisquer veículos , da comunicação de caráter jornalístico.


De acordo com esse critério, as 23 funções a serem desempenhadas por jornalistas profissionais são as seguintes: editor responsável, editor de jornalismo, subdiretor de jornalismo,coordenador de reportagem, pauteiro, coordenador de revisão, coordenador de imagens, editor, coordenador de pesquisa, redator, noticiarista, repórter, comentarista, arquivista-pesquisador, revisor, repórter-fotográfico, repórter-cinematográfico, diagramador, processador de texto, assessor de imprensa, professor de jornalismo, ilustrador e produtor jornalístico. Também serão privativas de jornalista profissional as funções de confiança e outras chefias relacionadas com essas atividades.


‘A pretexto de proteger o mercado de trabalho, essa lei está implantando a ditadura do jornalismo’, disse o diretor do Arquivo Nacional, Jaime Antunes, para quem o trabalho de jornalista deve ser interdisciplinar. ‘Sou favorável à desregulamentação’, afirmou.


Antunes enviará hoje ofício à Casa Civil da Presidência da República, à qual o Arquivo Nacional é subordinado, sugerindo que sejam vetados os incisos que incluem o arquivo entre as atividades a serem exercidas por jornalistas. ‘Essa definição entra em conflito com uma legislação de 1978 sobre a profissão de arquivista’, argumenta.


O presidente do Conferp, João Alberto Ianhez, considera inconstitucional o texto enviado à sanção de Lula. ‘Tentamos alertar deputados e senadores para isso, mas não fomos ouvidos, pois o projeto de lei acabou sendo aprovado a toque de caixa’, disse Ianhez.


‘Minha maior preocupação é a defesa da liberdade de expressão, ameaçada em vários artigos, mas o Conferp vai apontar, particularmente, dois pontos que nos interessam de modo especial – os incisos que tratam do comentarista e do assessor de imprensa’. São funções que costumam ser exercidas por profissionais de relações públicas e seus clientes.


Se o comentarista tiver de ser jornalista profissional, como pretende o texto, jogadores ou ex-jogadores de futebol, como Tostão e Casagrande, não poderão mais escrever crônicas em jornais ou participar de programas de rádio ou televisão.


‘Médicos, engenheiros e profissionais de qualquer outra área que falam sobre sua especialidade também seriam cortados, se não tivessem registro de colaboradores’, alerta Ianhez, prometendo usar de todos os recursos jurídicos possíveis contra a lei.’


 


O Estado de S. Paulo


Para Federação dos Jornalistas, texto aprovado no Congresso é ‘democrático’


‘A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que apoiou a aprovação do projeto de lei, afirma em nota oficial, divulgada ontem em seu site na internet, que o texto é democrático, ‘porque foi amplamente debatido nas diversas instâncias de discussão e deliberação da categoria dos jornalistas em todo o País’, antes de ser levado à Câmara e ao Senado.


‘Por isso, apesar dos ataques injustos e inverdades, os jornalistas do Brasil inteiro que lutam pela valorização da sua profissão e pela qualificação do jornalismo têm a certeza de que o presidente Lula sancionará o projeto’, acrescenta a nota.


A Fenaj acusa as empresas de comunicação de serem contra a regulamentação da profissão de jornalista, porque ‘querem profissionais mal pagos, intimidados e submissos’. A entidade investe particularmente contra o Estado, que anteontem publicou um editorial com o título ‘Novo golpe da Fenaj’, no qual afirmava que o projeto de lei corresponde a uma parte da proposta de criação do Conselho Federal de Jornalismo, apresentado há dois anos e também de iniciativa da entidade.


‘Vamos continuar defendendo a profissão de jornalista e denunciando a prática de veículos de comunicação como o Estadão e seus assemelhados’, diz a nota.’


 


LITERATURA
O Estado de S. Paulo


Conhecidos finalistas do Prêmio Jabuti


‘Saíram os finalistas do 48º Prêmio Jabuti. Dez autores disputam em cada uma das 19 categorias. Em Romance, concorrem Milton Hatoum , Rubem Fonseca, Moacyr Scliar, Godofredo de Oliveira, Edgard Telles, Domingos Pellegrini, Marcelo Mirisola, Marcia Tiburi, Marçal Aquino e Fernando Molica . Os jornalistas do Estado Bruno Paes Manso e Daniel Piza disputam em Reportagem (Bruno, com O Homem X) e Biografia (Piza, com Machado de Assis, Um Gênio Brasileiro).’


 


CINEMA
Tonica Chagas


MoMA exibe 11 filmes brasileiros em Nova York


‘A produção cinematográfica brasileira tem, todos os anos, uma bela vitrine garantida no Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York – cidade onde há pelo menos meia centena de festivais de cinema por ano. A partir de hoje e até dia 23, o museu vai exibir 11 filmes, entre longas, curtas e documentários, na quarta edição do seu Première Brazil.


Os destaques são 2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira, que ganhou uma semana inteira de exibição, e uma recém-restaurada cópia de Orfeu Negro, de 1959, dirigido por Marcel Camus.


‘O cinema brasileiro é muito rico e tem uma certa energia, uma maneira própria de tratar os temas que o faz imediatamente reconhecível’, diz Jytte Jensen, curadora do Departamento de Filme e Mídia do MoMA, que produz a mostra em parceria com o Festival do Rio. O nome do evento vem justamente da mostra competitiva realizada durante o festival carioca.


Maior bilheteria no ano passado no Brasil, a trajetória dos irmãos cantores Zezé Di Camargo e Luciano, revivida em 2 Filhos de Francisco, abre o Première do MoMA. A mostra também terá os longas Crime Delicado, de Beto Brandt, Se Eu Fosse Você, de Daniel Filho, Quanto Vale ou É por Quilo?, de Sérgio Bianchi, Sonhos e Desejos, de Marcelo Santiago, que faz sua estréia mundial , e a nova cópia de Orfeu Negro. Este último, embora seja uma versão brasileiríssima inspirada na história grega de Orfeu e Eurídice, ganhou em 1959 a Palma de Ouro e o Oscar de melhor filme estrangeiro como produção francesa.


Joel Pizzini terá dois trabalhos exibidos entre os documentários escolhidos para essa Première: o longa 500 Almas, considerado o melhor da categoria no Festival do Rio no ano passado, e o curta Dormente. Ainda entre os documentários estão Vinícius, de Miguel Faria Jr., e Moacir – Arte Bruta, de Walter Carvalho. Completa a seleção de filmes o curta Vinil Verde, de Kleber Mendonça Filho.’


 


ELEIÇÕES NA BAND
Keila Jimenez


Estréia atração com Franklin Martins


‘Sai a programação especial de Copa, entra a de eleições na Band. A emissora, que acabou de fechar uma parceria com o instituto de pesquisa Vox Populi, estréia no dia 31 o Canal Livre Eleições. A atração será semanal, das 22h50 à meia-noite e entrará no lugar do Apito Final, que só existia em função da Copa.


Ancorado ao vivo por Franklin Martins, com a participação do diretor de jornalismo da Band, Fernando Mitre, e sempre mais um jornalista, o novo programa não substituirá o tradicional Canal Livre, mesa de debates que continuará indo ao ar aos domingos.


A edição de eleições será totalmente voltada para a cobertura eleitoral, trazendo uma entrevista com um candidato importante ou programas temáticos sobre problemas que afligem o eleitorado.


Toda semana serão utilizados dados das pesquisas Vox Populi especialmente feitas para a Band, além da participação na atração de Marcos Coimbra, do instituto, detalhando os resultados.


O dia-a-dia dos candidatos também será abordado no Canal Livre Eleições, além de planos de governo.’


 


DESENHO
O Estado de S. Paulo


Anima Mundi, na 14.ª edição, traz 433 filmes


‘Como adolescente, o festival Anima Mundi abre caminhos em sua 14ª edição. O panorama da produção brasileira e mundial está nos 433 filmes de 40 países, distribuídos em 11 mostras, nas oficinas de animação e nos papos com especialistas que fizeram e farão história. O evento começa amanhã no Rio e se transfere para o Memorial da América Latina, em São Paulo, no dia 26. Mas a preocupação de firmar o mercado para o gênero está cada vez mais presente, nos fóruns de debates e no Anima Expo, que acontece em São Paulo, para empresas e profissionais mostrarem novidades e fazerem negócios.


‘Em 1992, queríamos formar público, pois quase não havia animação brasileira e a de fora pouco era exibida aqui. Hoje temos demanda das tevês, da telefonia celular e da publicidade e uma produção grande e de qualidade. Falta unir as duas pontas’, diz Aída Queiroz, que dirige o festival com César Coelho, Léa Zagury e Marcos Magalhães. Se há 14 anos eles tentavam viver de animação no Brasil, hoje têm um mercado. ‘Na primeira edição, não havia filmes brasileiros para exibir. Hoje temos mostras específicas e dois longas metragens, Wood & Stock: Sexo Orégano e Rock1n Roll, de Angeli, para adultos, e Brichos, de Paulo Munhoz e Tadao Miaqui, para crianças.’


Além desses, tem o non sense de Mr. Scwartz, Mr. Hazem e Mr. Holocher, do alemão Stefan Mueller; o lírico Uma História Trágica com Final Feliz, da portuguesa Regina Pessoa; a crônica alucinada de Dreams and Desires – Family Ties, da inglesa Joanna Quimm, e o chapliniano Guide Dog, do americano Bill Plimpton. ‘Uma tendência é a mistura de várias técnicas de animação, computação, desenho ou stop motion (massinha) e até fotografia’, adianta Marcos Magalhães. ‘Há ainda documentários, como o vencedor do Oscar, The Moon and the Son, em que o autor, John Canemaker, cria um diálogo com o próprio pai. Ele vêm para falar também de sua experiência nos estúdios Disney.’


Os convidados são uma atração cada vez mais popular. ‘Escolhemos nomes das novas tendências ou que têm história na animação, sempre em função da demanda do público’, explica Léa Zagury, que mora em Los Angeles. Os brasileiros deste ano são Célia Katunda e Kiko Mistrorigo, da TV Pinguin, que faz vinhetas e programas para as emissoras brasileiras. De fora, virão ao Rio e São Paulo o canadense Richard Reeves (que dará um curso sobre animação em película), o já citado John Canemaker, Kihachiro Kawamoto (que mistura massinha com técnicas japonesas) e o israelense Gil Alkavbetz (sucessos de edições anteriores com Morir de Amor). O inglês IanMackinnon (que fez os bonecos de A Noiva Cadáver)vem só ao Rio.


Aqui, o Anima Mundi tem seu quartel general entre o Centro Cultural Banco do Brasil, a Casa França Brasil e o Centro Cultural dos Correios, mas espalha-se também por outros cinemas da cidade. Em São Paulo, concentra-se no Memorial da América Latina e, nas duas cidades, tem patrocínio da Petrobrás que investe R$ 2 milhões pela Lei Rouanet.’


 


ZIDANE
O Estado de S. Paulo


Mamãe Zizou, orgulhosa da cabeçada do filho na final


‘Ao menos uma pessoa apoiou publicamente a cabeçada que Zinedine Zidane desferiu no peito de Marco Materazzi, na final da Copa do Mundo entre França e Itália: Malika, mãe do jogador francês.


Ela foi um dos destaques da edição de ontem do jornal alemão Bild, conhecido por notícias sensacionalistas e por rechear suas páginas com mulheres nuas.


Sobre uma montagem com fotos dos jogadores e de dona Malika, o jornal estampou em seu site: ‘Mamãe Zidane, enfurecida: ‘Sirvam-me os ovos de Materazzi numa bandeja’.’


A leitura do texto, porém, contextualiza a raivosa declaração de Malika, que se enfureceu ao acreditar que o jogador italiano teria xingado Zidane de ‘filho de uma p… terrorista’.


Segundo o Bild, a reação da mulher foi imediata e colérica: ‘Se ele realmente disse isso, então cortem suas bolas e me sirvam numa bandeja.’


Segundo a imprensa alemã, a mãe do jogador sentiu-se orgulhosa pelo gesto do filho, aprovando-o prontamente, em especial por defender sua origem argelina. ‘Amo Zidane por isso, pela forma como defendeu a honra de sua família’, disse ela.


O que o jornal alemão preferiu ignorar foram notícias divulgadas pela imprensa francesa de que a mãe de Zidane sentiu-se mal no dia da decisão, a ponto de ter sido hospitalizada.


Zidane, segundo os franceses, teria exibido um dom sensitivo ao, mesmo não sabendo da provável enfermidade materna naquele exato momento, ter reagido tão violentamente e ter dado a cabeçada em Materazzi, vingando-a de forma enfática e pouco se importando com a repercussão que isso teria nos dias seguintes.’


 


Cabeçada vira sucesso musical na França


‘‘Coup de Boule’ (‘Cabeçada’), música inspirada no gesto de Zidane na final da Copa, será o sucesso do verão na França, diz o jornal ‘Libération’. Foi composta na segunda pelos irmãos Emmanuel e Sébastien Lipszyc e Franck Lascombes. Logo que a terminaram, os três a enviaram a 50 conhecidos e um deles a mandou para a rádio Skyrock, que a colocou no ar. Três gravadoras se interessaram e o clipe já está sendo gravado.


A letra diz: Attention (Atenção)/c’ést la danse du coup de boule (esta é a dança da cabeçada)/coup de boule à droite (cabeçada à direita)/ coup de boule à gauche (cabeçada à esquerda)/allez les bleus (vai seleção francesa)/Zidane il a frappé (Zidane bateu)/ Zidane il a tapé (Zidane acertou).’


************