Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Arquivistas rejeitam
projeto da Fenaj


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Globo


Terça-feira, 18 de julho de 2006


PROJETO DA FENAJ


Mariza Louven


Arquivistas: ‘O Congresso errou’


‘RIO e BRASÍLIA. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados falhou na identificação dos impactos do projeto de lei que altera as regras para o exercício da profissão de jornalista, de autoria do deputado Pastor Amarildo (PSB/TO), segundo o presidente da Associação de Arquivistas do Estado do Rio de Janeiro (Aaerj), Daniel Beltran. Ele disse acreditar que os deputados e senadores foram induzidos a erro e que o presidente Lula deveria vetar o texto, já aprovado pela Câmara e pelo Senado.


O presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), Paulo Nassar, enviou ontem pedido formal para que Lula não sancione a chamada Lei Amarildo. Segundo ele o projeto ameaça 200 mil profissionais que atuam na área de comunicação empresarial.


– Além de criar injustificada reserva de mercado e ameaçar mais de 200 mil postos de trabalho, ocupados por comunicadores das mais diferentes qualificações, representa um violento golpe contra a liberdade que só encontra precedentes na censura imposta nos idos do regime autoritário – afirma Nassar.


O projeto de lei amplia a exigência do diploma de jornalista de 12 para 23 funções exercidas por profissionais de comunicação. Entre as profissões atingidas está a de arquivista, regulamentada por lei desde 1978. Beltran teme que, se a lei for sancionada, arquivistas formados desde então tenham que rasgar seus diplomas.


– Houve falha no assessoramento aos deputados. Se eles fossem devidamente informados sobre o impacto em outras profissões poderiam ter revisto sua posição. Contamos agora com o bom senso do presidente Lula para que vete, ao menos parcialmente – afirmou.


Para a Aberje, a união de profissionais de origens e experiências distintas é a base do diálogo construtivo da sociedade democrática. Para Nassar, qualquer tentativa de estabelecer um monopólio do exercício profissional para uma das muitas categorias profissionais atuantes na área provocará o desemprego em vasta proporções.


Presidente só deve decidir na próxima semana


O presidente Lula só deve decidir na próxima semana se vetará ou sancionará o projeto que amplia o número de funções em que seria obrigatório o diploma de jornalista.


O vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), disse acreditar que a discussão sobre o tema ganhará peso nesta semana em Brasília:


– Até o momento as discussões estão sendo técnicas. O governo deverá se reunir esta semana para analisar a viabilidade da sanção do projeto, que está dividindo a categoria.


A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgou ontem uma nota na qual informa que a entidade, seus sindicatos e filiados estão intensificando a campanha pela sanção presidencial do projeto. Já a Associação Nacional dos Jornais (ANJ) é contrária ao projeto por acreditar que ele cria reserva de mercado, engessa a profissão e pode pôr em risco a liberdade de expressão.’


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 18 de julho de 2006


ELEIÇÕES 2006
O Estado de S. Paulo


TRE multa Rede TV! e mais três candidatos


‘O Tribunal Regional Eleitoral condenou os candidatos a deputado Jadson Mendes (PSC), Paulo Mansur (PP) e Gilberto Marques (PP) a multa de R$ 21.282, cada um, por propaganda eleitoral antecipada. Em junho, Mendes, pré-candidato a deputado estadual, participou de programa da Rede TV!, que foi multada no mesmo valor. Para o TRE, houve promoção de sua candidatura. Também em junho, Mansur fez promoção ao cargo de deputado federal em propaganda de rádio. Marques, candidato a deputado estadual, distribuiu camisetas com seu nome e o número do partido. A campanha só foi liberada no dia 6.’


TELEVISÃO
Cristina Padiglione e Keila Jimenez


Globo passa a censurar depoimentos reais


‘Os depoimentos reais que encerram os capítulos da novela Páginas da Vida passam a sofrer censura interna na Globo. Em razão do relato exibido no último sábado, em que uma senhora contou como descobriu o orgasmo, a direção da casa resolveu que todos os episódios serão submetidos à Central Globo de Qualidade, ou seja, a uma instância acima do autor Manoel Carlos e do diretor Jayme Monjardim.


‘A TV Globo reconhece que houve um excesso’, informou a Central Globo de Comunicação ao Estado, após consultar o diretor-geral da Rede Globo, Octávio Florisbal. Também procurado pelo Estado, o autor Manoel Carlos pediu desculpas aos telespectadores que se incomodaram com o depoimento.


NA REDE


Na cena, que já está disponível no portal youtube.com, uma senhora de 68 anos conta que só soube o que era gozar aos 45 anos. ‘Pra mim era tudo normal, o homem terminava e eu também’, disse. Fala que dormiu ao som de Côncavo e Convexo, de Roberto Carlos, e, ao acordar estava com ‘as pernas suspensas, a calcinha na mão e toda babada’. ‘Homem pra mim não faz falta, eu mesma dou um jeito’, conclui.


Manoel Carlos explica que ‘os depoimentos atendem a um desejo nosso (meu e do Jayme Monjardim) de aproximar a voz das ruas da novela’. ‘São feitos espontaneamente, as pessoas autorizando a divulgação, como é de praxe. Temos vários gravados e nem sequer sabemos se vamos continuar com eles até o fim da novela. É uma experiência que estamos fazendo.’


E continua: ‘O de sábado deveria ter sido editado, com cortes em algumas palavras, mas acabou passando sem que fizéssemos esses cortes. Lamento muito que algumas pessoas tenham se chocado e ficado constrangidas. Entendo perfeitamente as razões que elas apresentam.’


Sobre a repercussão, o autor fala que ouviu opiniões contrárias. ‘Mas muitas manifestações de aprovação também me chegaram, de pessoas que admiraram a coragem de uma mulher do povo, dona de casa humilde, dar aquele testemunho. Afinal, não era uma mocinha jogando charme, e sim uma mulher de quase 70 anos.’


E conclui: ‘Os que protestaram merecem, neste momento, mais atenção do que aqueles que eventualmente gostaram. E a eles, portanto, peço desculpas pela falta involuntária.’’


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 18 de julho de 2006


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Caixeiro-viajante


‘No dizer da BBC Brasil, on-line de São Petersburgo, ‘Comércio retoma negociações, como queria Brasil’. As novas conversas foram ‘recebidas com surpresa’ em meio à reunião do G8, pois o tema ‘não fazia parte da agenda oficial’. O NYT.com e outros deram que a representante dos EUA viajou às pressas, com Celso Amorim e os demais, depois que ‘George W. Bush deixou claro que quer uma rodada robusta’.


Para o site de ‘O Estado de S. Paulo’, porém, ‘Lula volta da Rússia com uma vitória: elogio à silhueta’. Foi depois de Bush ‘observar a cintura do brasileiro’.


Como notou o ‘JN’, Lula não se restringiu às negociações comerciais com Bush, Tony Blair e demais.


Falou sem parar em etanol, biodiesel, H-Bio. Na observação da BBC Brasil, ‘Lula entregou a Bush uma brochura sobre os combustíveis e, um pouco sem jeito, o americano posou para fotos’.


Sempre o caixeiro-viajante, Lula já havia publicado no ‘Wall Street Journal’ o artigo ‘Combustível para o pensamento’, destacado no blog de Sérgio Dávila e outros.


O texto fala da ‘esperança’ de redução na tarifa sobre o etanol do Brasil, mas sublinha que a parceria em energia não depende do corte. E que ‘todo mundo tem a ganhar’.


Também às vésperas do G8, lá estava Lula em longa entrevista ao concorrente do ‘WSJ’, o ‘Financial Times’, na primeira página.


O correspondente do ‘FT’, que não esconde a simpatia pelo oposicionista Geraldo Alckmin, bem que tentou questionar Lula, mas:


– Pressionado, o presidente desvia para um dos seus temas preferidos: o papel do Brasil no desenvolvimento de combustíveis alternativos. ‘Ninguém pode competir com o Brasil em etanol.’


TÃO ELEGANTE


Nem comércio nem etanol. Na cobertura da Rússia, o que importava era ‘shit’ ou ‘merda’, expressão de Bush para descrever a situação no Líbano. O ‘JN’ se saiu com ‘sinônimo de porcaria’; à tarde, a Globo acrescentou que ‘o termo, na verdade, não foi tão elegante’.


Nos EUA, a polêmica on-line era publicar ou não. Num bate-papo, o colunista de mídia do ‘Washington Post’ respondeu com humor, ‘m…, eu não sei’. Segundo o site de mídia E&P, ‘NYT’, ‘WP’ e outros jornais já publicam desde 1973. E o porta-voz de Bush relatou que, ao saber, ‘o presidente revirou os olhos e riu’.


Sem imagens, os portais apelaram ao ‘minuto a minuto’ do futebol


HORÁRIO NOBRE


Ontem no ‘JN’, ‘Daniel diz que Suzane teria contado que o pai tentou violentá-la quando era pequena’.


No UOL, ‘Daniel diz que Suzane não perdeu virgindade com ele’. No Terra, depois, ‘Suzane diz que seu pai era ‘maravilhoso’ e não tinha amantes’. E no iG, ‘Advogado de Suzane acusa réu de maconheiro’.


O depoimento sobre masturbação na novela das oito (‘mais informação do que eu precisava’, segundo o blog de humor Kibe Loco) ganhou concorrência.


DIAGNÓSTICO


O Blog do Nassif, de Luis Nassif, não desiste da cobertura programática, ontem com ‘o diagnóstico da equipe de José Serra sobre o Estado de São Paulo’. Educação e saneamento não estariam bem, foi tudo o que o blogueiro conseguiu levantar:


– O candidato tem receio de ser plagiado pelos demais.


REALIDADE


No Blog do Emir, de Emir Sader, também no UOL, consternação com ‘o Líbano de seu Nahul’, seu pai, nascido perto de Beirute:


– Aquele passado, que parecia que não retornaria, volta a ser realidade… Impunemente, sem que nenhuma mediação internacional pare com o massacre dos libaneses.’


TELEVISÃO
Valdo Cruz


Já pra cama!


‘BRASÍLIA – Num dia, Ana Paula Arósio, na pele da personagem Olívia, se despe na frente de Edson Celulari. Tudo termina numa cena de sexo não-explícito.


No seguinte, uma mulher de 68 anos faz apologia da masturbação, diz que aprendeu o que é ‘gozar’ e que não precisa de homem.


São passagens da nova novela global ‘Páginas da Vida’. A continuar nessa trilha, poderia mudar seu nome para ‘Páginas da Apelação’.


Longe de mim defender qualquer tipo de censura, seria um retrocesso. Mas as últimas cenas da novela mostram que é preciso cobrar responsabilidade das TVs.


Dizer que a de Arósio e Celulari foi ao ar depois das 22h é um truquinho para enganar a classificação indicativa, que libera a novela para o horário das 21h.


As crianças que começaram a assistir ao capítulo não vão dormir antes do seu término. E a cena, que começa como quem não quer nada, de repente mostra dois corpos nus sugerindo sexo.


Não creio que elas, as crianças, estejam preparadas para presenciar esse tipo de sugestão. Como também não estão para ouvir uma mulher dizer como descobriu os prazeres da masturbação.


Por sinal, sobre esse depoimento, o próprio autor da novela, Manoel Carlos, reconhece que foi forte demais e vai sugerir mais rigor.


O fato é que, enquanto na TV paga há opções de controle, na aberta é muito difícil selecionar o que nossos filhos podem assistir -a não ser a velha proibição. Daí a maior responsabilidade das emissoras.


Se não deve, nem pode, censurar, o Ministério da Justiça tem a obrigação de acompanhar a programação para notificar os excessos. Aí, cabe ao Ministério Público acionar as TVs. E deve fazê-lo. Agora, o autor já obteve o que queria: polêmica para seu produto. Tomara que fique por aí. Se não, melhor dizer: ‘Crianças, já pra cama’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Autor pede desculpas por ‘gozo’ na novela


‘Autor de ‘Páginas da Vida’, novela que promete provocar algumas dezenas de polêmicas nos próximos nove meses, Manoel Carlos admite que ele e Jayme Monjardim, diretor-geral da produção, falharam ao permitir a exibição, no final do capítulo de sábado, do depoimento de uma mulher de 68 anos que contava como fora seu primeiro orgasmo, aos 45.


O relato, veiculado dois dias após Ana Paula Arósio ter aparecido nua, gerou protestos.


A mulher iniciava o depoimento falando que ficara ‘sem gozar dos 14 aos 45 anos’.


Até que um dia tudo mudou, graças a Roberto Carlos: ‘Botei na vitrola a música ‘O Côncavo e o Convexo’ e fui dormir. Quando acordei, estava com a perna suspensa, a calcinha na mão, toda babada. Comentei com as amigas, que disseram: ‘Você gozou’. Aí vim saber o que era gozo. Moral da história: sou uma mulher de 68 anos que homem pra mim não faz falta. Eu mesma dou meu jeito’.


Para Manoel Carlos, alguns termos poderiam ter sido evitados. ‘Os depoimentos são espontâneos. Quem faz a triagem do que deve ou não ir ao ar sou eu e/ou o Jayme [Monjardim]. Depois, revendo o depoimento, achei que poderíamos ter cortado algumas palavras, a fim de torná-lo menos pesado. Falha nossa. Peço desculpas a quem possa ter desagradado. Não era nossa intenção criar polêmica e, menos ainda, de escandalizar quem quer que seja’, disse.


AEROPORTO 1 O Discovery Channel vai gravar até o final do ano um documentário sobre o aeroporto de Guarulhos (SP). ‘Aeroporto São Paulo 24/7’ mostrará os bastidores de Cumbica durante 24 horas, sete dias por semana (por isso o ‘24/7’ do título).


AEROPORTO 2 O programa terá o formato de minissérie, em seis ou oito episódios de 30 min. cada um. Custará R$ 674 mil e será produzido pela Rex, com recursos da Ancine. Vai ao ar em 2007.


TUBARÕES DO RECIFE Bem antes, em 9 de agosto, o Discovery exibe ‘Rebelião dos Tubarões’, em que Lawrence Wahba mostrará por que estão ocorrendo ataques de tubarões em Recife. O documentário, que irá ao ar em 110 países, estréia primeiro nos EUA (3/8).


HORÁRIO ELEITORAL A Globo não vai esperar o final do ano para lançar o DVD de ‘JK’, exibida no início de 2006. A minissérie, que conta a história de Juscelino Kubitschek, chega às lojas em setembro _a tempo de ser revista no horário da propaganda política.


TESTE GELADO A Record diz que foi só um teste a exibição de filme anteontem no horário do futebol. Apesar de o primeiro ‘A Era do Gelo’ ter dado 12 pontos (o dobro do que registra com o futebol), domingo que vem a Record volta a dividir o Campeonato Brasileiro com a Globo.


SÉRIE CURTA O episódio de ‘NY-Lon’ exibido na última quinta-feira pelo GNT foi o último do seriado. O canal promete reprisá-lo a partir de agosto.’


ECOS DA COPA
Bernardo Carvalho


A cabeçada de Zidane


‘NINGUÉM MAIS deve agüentar ouvir falar da cabeçada de Zidane. Assisti à final da Copa do Mundo numa pequena cidade do sul da França, entre 20 torcedores bem-humorados e nada chauvinistas, ao contrário dos adolescentes bêbados que, orgulhosos da reação violenta e, em princípio, ‘anti-racista’ do craque, saíram gritando pelas ruas depois do jogo, prontos a ‘enrabar’ o primeiro brasileiro, português ou italiano que lhes passasse pela frente.


Mal dava para distinguir a ação na pequena tela cheia de interferências do velho televisor que nos restou, já que os meus anfitriões zelavam por uma vida alternativa da qual a televisão não faz parte. Seguiam fazendo uma gracinha atrás da outra. Mas as piadas foram diminuindo, conforme também se alongava a partida, e desapareceram de vez com a cabeçada de Zidane. Era difícil acreditar. Todos ficaram perplexos. Não tinha mais graça. Era difícil conceber um final de jogo que os tivesse deixado mais tristes.


Nos dias seguintes, passado o choque e a estupefação, e contrariando o resto da mídia internacional, os jornais franceses buscaram uma explicação para o que lhes parecia tanto mais inexplicável pelo silêncio de Zidane. E o mais terrível é que, na contramão do resto do mundo, começaram a esboçar uma justificativa, que se manifestou em grande parte nos editoriais, nas páginas de opinião e nas seções de cartas. Zidane tinha afinal reagido ao insuportável, ao racismo contumaz dos europeus (que tanto Le Pen como a Liga Norte exprimiram com precisão ao desdenhar da seleção francesa, formada por ‘negros e islamitas’), o que não apenas o tornava humano aos olhos de seus compatriotas mas o cobria de razão.


Na edição de terça-feira passada do ‘Libération’ (ainda considerado um jornal de esquerda), falava-se, sem coragem de assumir uma posição mais categórica, de um possível ato ‘sublime’ (no sentido de exprimir o inexprimível) que vinha responder a anos de humilhações racistas e à corrupção do esporte.


Em vez de abaixar a cabeça e respeitar as regras de um mundo corrompido e hipócrita, o craque a teria perdido, reagindo como um herói trágico à provocação de um vilão no último ato. Não havia propriamente um juízo de valor, mas a tentação fácil de idealizar a violência como transgressão, como ato heróico e verdadeiro contra a hipocrisia e a injustiça.


Dois dias depois, o mesmo jornal publicava o artigo de um escritor israelense que exaltava a liberdade do gesto violento como afirmação humana do indivíduo. E outro de uma diretora de teatro que elogiava o ato como um grito contra o racismo ao qual estão submetidos em silêncio os jogadores em solo europeu. O próprio Zidane terminou por conceder que não foi o eventual racismo dos comentários que o fez perder a cabeça mas a referência a sua mãe e a sua irmã. Alegou que existem ‘palavras mais duras do que qualquer gesto’, uma inversão à qual costumam se agarrar os censores e os paladinos da moral. A declaração, no entanto, era um contra-senso, pois se fosse verdadeira mais valeria ter respondido pela palavra e não pelo gesto.


Depois da entrevista do jogador à televisão, quando se desculpou sem se arrepender, o tom da opinião pública começou a mudar. Antes disso, porém, houve tempo para o presidente Chirac recebê-lo de braços abertos, sem nenhuma reserva, e a provável candidata socialista à Presidência da República, Ségolène Royal, sempre tão zelosa da moral familiar, declarar sua admiração pelo respeito que Zidane demonstrava pela mãe e pela irmã, aparentemente as principais atingidas pelas injúrias de Materazzi.


Ninguém põe em dúvida os horrores do racismo e das injustiças sociais (muito menos aqueles que os promovem). Infelizmente, é possível que às vezes só a violência dos atos seja capaz de mudar esse estado de coisas. Mas há uma grande hipocrisia e um oportunismo irresponsável em fazer a exaltação da violência contra a palavra injuriosa, como se houvesse palavras mais duras do que qualquer ato. O que justificaria a violência, segundo a parte da opinião pública francesa assombrada pelo racismo em seu próprio país, seria a humilhação de um jogador que cresceu sofrendo as piores injúrias por conta de sua origem. Por essa mesma lógica, se a violência for a resposta, o que nos resta, num país injusto, racista e escravocrata como o Brasil, a não ser justificar a nossa própria morte nas mãos daqueles que de tanto ser humilhados e oprimidos teriam todas as razões para nos matar?’


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