Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Artur Xexéo

‘A notícia me pegou de surpresa. Chegou sem aviso prévio no meu correio eletrônico. ‘Bianca Rinaldi, protagonista da novela ‘A escrava Isaura’, entrou em 2005 com muita disposição.’ Não é sensacional? A atriz não ganhou prêmio, não estreou uma peça de teatro, não assinou contrato para estrelar um filme. Ela é notícia porque entrou em 2005 com muita disposição. E a incrível informação continua: ‘Sem tempo para freqüentar academia por conta das gravações, a atriz contratou o personal trainer Fernando Marques para cuidar de seu condicionamento físico.’

Tô pasmo! A atriz é notícia porque não tem tempo para freqüentar academia! Parem o mundo que eu quero descer. Mas quem será que a nota quer divulgar? A atriz ou o personal trainer ? Sim, porque estas notas que chegam no correio eletrônico, sem aviso prévio, sempre têm uma intenção prioritária: divulgar algo ou alguém. Hoje em dia, celebridade não é quem protagoniza novela, ganha um prêmio de teatro, arrasa num papel no cinema. Para ser celebridade, a primeira condição é contratar um assessor de imprensa. E é o assessor de imprensa quem passa para os jornalistas notas relevantes como a disposição com que a atriz Bianca Rinaldi entrou em 2005. Há mais detalhes sobre as atividades de Bianca: ‘A sala de musculação do prédio onde mora foi o local escolhido para a prática dos exercícios. Apesar de privilegiada por natureza, Bianca acredita que deve ficar em plena forma, recarregar as energias e adquirir maior resistência mental e corporal para cumprir inúmeros compromissos profissionais.’

Pois é. Atriz de hoje não precisa de curso de arte dramática ou laboratório para desenvolver o talento. Talento? O importante é um personal trainer para adquirir resistência mental e corporal.

Torçamos para que Bianca mantenha-se privilegiada pela natureza e vamos em frente. Outra nota:

‘Nasceu ontem, dia 11 de janeiro, no Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo, às 19h37m, Arthur Félix Pereira de Almeida, filho de Agatha Félix e do estilista Ricardo Almeida. O parto foi conduzido pelo ginecologista e obstetra Renato Kalil. O bebê nasceu de parto normal, pesando 3,6630 quilos e medindo 48 centímetros. Mãe e filho passam bem e terão alta na sexta-feira, dia 14 de janeiro.’

Deu para entender o que eu queria dizer? Esta notícia foi apurada com desvelo. Perceba a precisão nos dados sobre o peso e a altura do bebê e, principalmente, no horário em que se deu o nascimento: 19h37m cravados. Não foi às 19h38m, nem às 19h36m. Mas a dúvida permanece, quem está sendo divulgado? A maternidade? O bebê? A mãe? O estilista? O obstetra? Fica a pergunta que não quer calar. Já sabemos que mãe e filho passam bem. Mas e o ginecologista? Como passa o ginecologista? Pensando bem, a nota não foi tão bem apurada assim. Passemos para outra:

‘Zé Henrique e Gabriel começaram o ano de 2005 a todo vapor.’ Hummm… Há algo estranho aqui. Bianca Rinaldi, Zé Henrique e Gabriel não têm o mesmo assessor de imprensa, mas há uma semelhança nas notas. Bianca, como vocês se lembram, entrou em 2005 ‘com muita disposição’. Zé Henrique e Gabriel, estamos sabendo agora, começaram o ano de 2005 ‘a todo vapor’. Já dá para perceber um estilo próprio nas notas dos assessores de imprensa. Mas vamos ao que interessa. O que aconteceu com Zé Henrique e Gabriel? ‘No último sábado, a dupla lotou a casa Porteira Paulista, em Sumaré.’ Uau! Só fiquei com uma dúvida: afinal, quem são Zé Henrique e Gabriel?

Às vezes, a celebridade nem precisa contratar um assessor de imprensa particular, ou um personal assessor de imprensa, para usar a linguagem dessa gente. É o caso de Wanessa Camargo, que conseguiu divulgação gratuita através da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Vejam só:

‘Com intuito de incentivar o prazer pela leitura, a Secretaria de Estado da Cultura, dentro do programa São Paulo: Um Estado de Leitores, lança uma campanha publicitária em parceria com a agência DM9 e apoio da empresa General Optical. A jovem cantora popular Wanessa Camargo emprestou, sem qualquer custo, sua imagem para a iniciativa.’

Vem cá, imagem de Wanessa Camargo para incentivo à leitura? Tem alguma coisa errada aí. Acho que não vai dar certo. Mas isso pouco importa. O importante é divulgar. Wanessa tá divulgada.

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Meu erro: não sei de onde tirei que Lan era uruguaio, como escrevi aqui há uma semana. Lan nasceu na Itália. Mas, como todo mundo sabe, na verdade, o genial cartunista é brasileiríssimo.’



Alexandre Werneck

‘Elas são demais’, copyright Jornal do Brasil, 21/1/05

‘Modelos, atrizes, agentes e pesquisadores discutem se o bombardeio de aparições em revistas, comerciais e programas de TV pode desgastar a imagem de mulheres maravilhosas

Gisele Bündchen, Alinne Moraes e Daniella Cicarelli são constantemente chamadas de deusas. Para além da inegável beleza, pelo menos uma característica de divindade essas mulheres maravilhosas têm: onipresença. Elas estão em todo lugar. É quase impossível hoje sair de casa e não encontrar com elas, em capas de revistas e outdoors. Ao chegar em casa, você liga a TV e dá de cara com Gisele em um comercial de filtro solar; muda de canal e ela aparece em uma matéria sobre o Fashion Rio (encerrado no sábado) ou na São Paulo Fashion Week; muda de novo, e a vê em outra propaganda, agora de celular. Há bem pouco tempo, você podia até estar chegando do cinema, depois de ver o filme Táxi, em que a supermodelo viveu uma ladra, e ligaria a TV para vê-la numa campanha de sandália, dançando no sambódromo, além de vislumbrá-la na campanha de uma loja de roupas.

Já Alinne é a menina dos olhos do mercado imagético nacional hoje. Na Globo, da qual é contratada, emplacou três novelas seguidas: Mulheres apaixonadas, em 2003, novela das oito que a revelou e em que vivia uma adolescente que namorava outra menina; Da cor do pecado, a das sete que estreou logo depois do fim de Mulheres, e em que fez par romântico com Reinaldo Gianecchini; e, agora, disputa com Mel Lisboa em Como uma onda, a das seis, o amor do galã português Ricardo Pereira. Entre um papel e outro, virou garota-propaganda da Globo.com, estrelou campanha de celular e fez comercial de isotônico. Em novembro, foi eleita pelos leitores da revista Vip ‘a mulher mais sexy do mundo’ e posou para um ensaio sensual em suas páginas. No final do ano, participou do especial Programa novo, estrelado por Lázaro Ramos, Wagner Moura, Lúcio Mauro Filho e Bruno Garcia. Ela, caso o humorístico entre na grade de 2005, será, metalingüisticamente, a mulher no programa feito só por homens vestidos de mulher.

Daniela Cicarelli, por sua vez, passou 2004 dividindo seu tempo entre seus dois programas na MTV, Dance o clipe e Daniela no país da MTV, pelos quais é muito elogiada, aliás. Ao mesmo tempo, fez comercial de tênis e outros tantos, além de participar de desfiles nas semanas de moda. Mas também viveu um ano em que as publicações de celebridade não a deixaram em paz, graças às trapalhadas de seu noivado com o craque Ronaldo.

Tudo isso leva à inevitável (e aparentemente estranha) pergunta: será que tanta exposição de moças que, lindas, usam como ferramentas de trabalho suas imagens, não acaba por desgastar essas mesmas imagens e, no limite, não faz as pessoas se cansarem de tanta beleza?

– Faço o meu trabalho e tenho consciência de que trabalho com a imagem. Trabalhar não desgasta. O que me irrita, e isso sim desgasta minha imagem, é essa enorme quantidade de publicações de segundo escalão que acham que minha vida pessoal é mais importante que minha vida profissional. Não peço para aparecer – diz Gisele Bündchen.

Talvez temendo a superexposição, Alinne e Daniela não quiseram dar entrevista. Alinne limitou-se a dizer, por meio de sua assessoria de imprensa, que não acha que o fato de estar em tantos trabalhos ao mesmo tempo signifique que ela esteja superexposta.’



ANCELMO DENUNCIA
O Globo

‘Cartas dos leitores – Que presteza!’, copyright O Globo, 22/1/05

‘Na quarta-feira, dia 19, a coluna do Ancelmo mostrou a foto de um automóvel abandonado há quase um ano, em cima de uma calçada da Rua Mary Pessoa, na Gávea. No mesmo dia, à noite, constatei que o automóvel tinha sido retirado. Funcionários da VI Região Administrativa seguramente viram o veículo nesses meses todos e eu, há quase dois meses, comuniquei o fato a eles; mas, nada foi feito. Pelo jeito, a prefeitura só funciona — e com que presteza! — quando órgãos de imprensa respeitados se manifestam (parece que só se preocupam com denúncias que influenciam votos…). Para ficar no mesmo bairro, a VI RA et alli nada fazem em relação às bandalhas de ônibus, kombis e vans nem contra a expansão de favelas e o surgimento de uma nova (Rio Rainha). Talvez se o Ancelmo denunciar…

CARLOS GABAGLIA PENNA

(por e-mail, 20/1), Rio’