Wednesday, 17 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Bia Abramo

‘De um lado, uma senhora de cabelos oxigenados, cuja história se confunde com a da TV brasileira. De outro, uma mulher negra que está entre as pessoas mais ricas do mundo. Na verdade, Hebe Camargo e Oprah Winfrey não estão nesses dois lados criados para efeitos retóricos. No fundo, são mais semelhantes -guardadas todas as proporções necessárias- do que diferentes. Só que, embora sutis, as diferenças são decisivas.

Elas são as rainhas, cada uma em seu país e língua, do ‘talk show’ feminino -sim, porque pode-se falar em um estilo feminino e um estilo masculino de ‘talk show’. Não que isso signifique que os do primeiro grupo sejam única e exclusivamente apresentados por mulheres e os do segundo, por homens. À falta de termo melhor, usamos aqui feminino e masculino para caracterizar uma maneira inclusiva, mais próxima de uma idéia de intimidade, que revela por acolher; e outra, mais incisiva, mais próxima da competição, que provoca para mostrar. Há uma terceira maneira, que é a da questionamento franco, mas essa está quase ausente da TV brasileira, a não ser em versão caricata.

Ambas conseguem levar o espectador para algum lugar que é visto, entendido e apreciado como a intimidade daqueles que entrevistam, mas também delas mesmas. É evidente que não é de fato a intimidade -essa, muitas vezes, é simplesmente inacessível, até mesmo para o próprio sujeito-, mas algo que, por vezes, pode chegar bem perto disso. Ambas têm uma postura que diz: ‘Pode vir que eu agüento, que eu topo’. Ambas medem tudo de acordo com uma escala de valores que é a um tempo própria, mas tem o poder de se comunicar com as do público. Ambas reduzem as experiências e personalidades que passam por seus palcos à domesticidade.

Funciona que é uma beleza, tanto para Hebe quanto para Oprah. Agora, por que a Hebe parece mais caseirinha, menos espetacular, mas também menos submissa ao marketing da indústria do entretenimento? Além das diferenças óbvias de personalidade, talvez haja na brasileira uma curiosidade de fato mais autêntica, que escapa -ou que talvez seja impossível- à norte-americana. Enquanto para Hebe a intimidade do outro é um valor em si mesmo, que pode e deve ser fruída com o público -não em todos os casos, mas muitas vezes e de forma veemente, como ficou patente na ótima entrevista que fez com Maria Bethânia em sua reestréia de 2005-, em Oprah aquilo que é revelado tem um caráter mais instrumental, quase técnico. É uma habilidade, antes de tudo, que ela vende caro no mercado.

Quaisquer especulações sobre caráter nacional são arriscadas, mas sempre uma tentação: será que é por que há menos espaço na sociedade americana para ver o outro sem categorizar, pensar qual é a contrapartida? Será que é por que, na falta de estabilidade moral, os brasileiros se aferram à afetividade como bem supremo?’



TV PAGA
Daniel Castro

‘TV venderá apostas pelo controle remoto’, copyright Folha de S. Paulo, 24/02/05

‘A TV paga passará a oferecer neste ano serviço de apostas pelo controle remoto. O primeiro será em corridas de cavalos do Jockey Club de São Paulo, transmitidas pelo canal TV Jockey.

O canal estará disponível, a partir de hoje, aos assinantes da base digital da TVA. A Net Brasil, que compra conteúdo para as operadoras Net e Sky, negocia a renovação da TV Jockey na Net e a entrada do canal na Sky.

O plano de Sky, Net e TVA é ter, em futuro próximo, receitas adicionais com o serviço de apostas em corridas, usando apenas o controle remoto. Uma possibilidade seria o assinante interessado se cadastrar previamente e usar um sistema de pagamento de apostas pelo cartão de crédito.

O serviço, dizem executivos da TV paga, é legal, mas faltam acertos jurídicos e técnicos. É necessário transmitir em tecnologia digital (a Sky já é 100% digital) e ter plataformas de interatividade.

A Globosat, programadora de canais da Globo, prepara-se para lançar em junho ou julho sua plataforma de interatividade.

Essa plataforma irá dispor de ferramentas de votações em ‘paredões’ de ‘Big Brother Brasil’ pelo controle remoto. Campeonatos de futebol também serão explorados. O assinante deverá pagar pelo uso da interatividade, mas terá recompensa por isso, como participação em promoções (sorteios, por exemplo) atreladas ao Campeonato Brasileiro.

OUTRO CANAL

Riso Terceira maior bilheteria do cinema nacional em 2003, ‘Os Normais – O Filme’ (3 milhões de espectadores) será a atração da ‘Tela Quente’ de 25 de abril, comemorativa dos 40 anos da Globo.

Batismo O nome do programa de Xuxa Meneghel vai mudar. Deverá se chamar ‘TV Xis’. Será dirigido a crianças de até 13 anos e terá duas horas de duração, com desenhos e quadros. O novo formato, desenhado por Jorge Fernando, será submetido à aprovação de Xuxa na semana que vem.

Carteirada 1 O governo criou, em decreto assinado pelo presidente Lula e publicado na última sexta, a figura da retransmissora institucional de TV. O plano por trás disso é montar uma rede de retransmissoras abertas, em UHF, de estações da União, como os canais TV Câmara e TV Senado.

Carteirada 2 Especialistas ouvidos pelo noticiário ‘Pay TV News’ apontam ilegalidade: não existe lei prevendo a figura da geradora institucional (só comercial e educativa), portanto, não pode haver retransmissora institucional. Retransmissoras são canais que apenas repetem o sinal de geradoras. Uma depende da outra.

Exportação Uma equipe da CTI TV, canal de Taiwan, está no Brasil fazendo um documentário que promete mostrar o que o país tem de mais conhecido no mundo, como novelas e programas de TV.’

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‘Net prepara lançamento da HBO em abril’, copyright Folha de S. Paulo, 26/02/05

‘Novela que se arrasta desde 1997, a entrada dos canais HBO, os melhores de cinema, nas operadoras Net e Sky deve finalmente ocorrer neste ano. A Folha apurou que pelo menos a Net já se prepara para lançar um pacote de canais HBO (variações da própria HBO e do Max) em abril.

Os canais deverão ser oferecidos como um pacote ‘top’ opcional _compra o assinante que quiser.

Executivos da Net e da Sky apenas confirmam que há negociações. A Folha levantou, no entanto, que as partes já estão discutindo cláusulas contratuais, ou seja, estão finalizando negociações.

Não é a primeira vez que a trama HBO na Net e na Sky chega aos últimos capítulos. Já se chegou a ter contrato pronto, mas, na última hora, não foi assinado.

A entrada da HBO na Net e na Sky seria muito representativa. Marcaria o fim da exclusividade de canais, polarizada entre dois blocos: Net e Sky, com os canais Globosat e Telecine, e TVA e DirecTV, com HBO. Se a HBO se render à Net e à Sky, é provável que o Telecine, também de cinema, seja oferecido às outras operadoras. Mas isso não ocorreria com o SporTV, que continuaria como trunfo da Net e da Sky.

A HBO, uma das mais fortes da TV paga mundial, é de difícil negociação. Ela exige que a operadora se empenhe em vender seus canais, costuma cobrar em dólar e é cara _seu principal canal já chegou a custar US$ 12.

OUTRO CANAL

Buraco Aguinaldo Silva, que na quinta colocou um ponto final em ‘Senhora do Destino’, acordou ontem se sentindo ‘vazio’. ‘São 8h10, o dia mal começou e _coisa mais estranha!_ não tenho mais nada pra fazer. É a terrível síndrome de final de novela’, contou.

Recheio Silva se dedica agora a contar números da novela, que está batendo na casa dos 50 pontos de média (desde o primeiro capítulo). ‘Foram 10.780 páginas escritas de setembro de 2003 a fevereiro de 2005. Mais do que Tolstói e Dostoiévski [escritores russos], que tinham muitíssimo mais talento, escreveram durante a vida inteira.’

Literal Vai se chamar ‘O Maior Perdedor’ a versão brasileira do ‘reality show’ ‘The Biggest Loser’ que o SBT estréia em abril.

Mais um O Ministério das Comunicações abriu ontem consulta pública para ocupação do canal 45, em Itapecerica da Serra, na já congestionada Grande São Paulo, como retransmissor de TV.

Areia A operadora Vivo dificilmente será patrocinadora da segunda edição de ‘O Aprendiz’, com estréia marcada para 28 de abril na Record. A emissora já negocia com uma montadora e um banco.

Platéia O Canal Universitário de São Paulo inicia hoje, à 0h30, a transmissão do debate sobre a reforma universitária promovido pela Folha.’



TV GLOBO
Daniel Castro

‘Globo bate o martelo na grade de 2005’, copyright Folha de S. Paulo, 25/02/05

‘Em reunião na última terça, a cúpula da TV Globo definiu a programação dos 40 anos da emissora e a grade de abril até novembro deste ano.

Na programação de 2005, a principal novidade é ‘Carandiru -¤Outras Histórias’, de Hector Babenco, que será apresentada em dez episódios a partir de junho, às sextas, após uma temporada de ‘Carga Pesada’, que volta em agosto e, em outubro, cede lugar a ‘Cidade dos Homens’.

A Globo também confirma mudança na programação infantil. ‘TV Globinho’ passa a ser exibido apenas aos sábados. De segunda a sexta, será substituído pelo novo programa de Xuxa, das 10h às 12h, que irá representar uma estação de televisão.

Dos especiais testados no final de 2004, nenhum está previsto até novembro. ‘Sob Nova Direção’ (domingos), ‘A Diarista’ (terças) e ‘A Grande Família’ (às quintas) retornam em abril.

A faixa festiva dos 40 anos ficará assim: ‘Os Normais – O Filme’ (segunda, 25 de abril), show de gala (terça), amistoso da seleção (quarta), especial de teledramaturgia (quinta), ‘Globo Repórter’ sobre a Globo (sexta) e especial de humor (sábado). Todos entrarão após a novela das oito.

O show será ao vivo no Claro Hall, com todo o elenco e 2.000 convidados. Misturará musicais (interpretações de clássicos de novelas) e esquetes de humor e dramaturgia. Terá duas horas.

OUTRO CANAL

Legenda A transmissão do Oscar na Globo terá tradução simultânea, opção de som original (SAP), som estéreo e ‘closed captions’ (legendas ocultas para surdos) em português. A Globo ainda tenta viabilizar o recurso também em inglês _o que é muito complicado, principalmente em programa ao vivo.

Caixa cheia A Record está dando a seu superintendente comercial, Walter Zagari, tratamento que a Globo não dispensa nem a suas estrelas. Anteontem, renovou até 2012 o contrato com o executivo _venceria em 2007. Zagari andou sendo sondado pelo SBT.

Vem aí O SBT começou ontem a receber, em seu site, inscrições para a versão do ‘reality show’ ‘The Biggest Loser’, no ar em abril. O programa, em que gordos competirão para perder peso, vai pagar R$ 300 mil ao vencedor.

Dilbert Adalberto Vianna, executivo do SBT responsável pelo relacionamento com afiliadas (que andam descontentes), deixou a emissora anteontem.

Rebatismo Vai se chamar ‘Ratinho Late Show’ o programa que Carlos Massa apresentará no SBT a partir da próxima quarta. Mas, apesar do nome, não será um ‘talk show’ _está mais para ‘game show’. Entrará às 22h15, mais tarde que o ‘extinto’ ‘Programa do Ratinho’, apenas às quartas, quintas e sábados.’



MISS BRASIL NA TV
Daniel Castro

‘Por glamour, Miss Brasil retorna ao Rio’, copyright Folha de S. Paulo, 23/02/05

‘O concurso Miss Brasil de 2005 será realizado no Golden Room do Copacabana Palace, não mais em São Paulo, como nos últimos dois anos. A escolha do Rio e do hotel faz parte da tentativa da Band, exibidora do evento, de resgatar o glamour que o concurso tinha nos anos 50 e 60 _quando foi sediado em Petrópolis (1954/ 57) e no Rio (1958/72).

O Miss Brasil perdeu prestígio a partir de 1973, quando foi para Brasília, com a TV Tupi.

Nos anos 80, ficou com o SBT. Depois, ficou vários anos sem TV, passou pela Record (1996) e Rede TV! (2002, no Rio), até chegar à Band em 2003. Na emissora, deu média de nove pontos em 2004.

Será a primeira vez que o Miss Brasil será realizado no Copacabana Palace. O concurso está marcado para o dia 14 de abril.

A atriz Suzi Rego, contratada pela Band para ser a vilã da novela ‘Floribella’, participará da transmissão. Em 1984, Suzi, representando Pernambuco, ficou em segundo lugar no Miss Brasil.

A Band prepara para abril duas novas estréias (além de ‘Floribella’, no dia 4). Uma será o programa de Otaviano Costa, o ‘Fã Clube’, que irá ao ar às 17h30. Outra será um telejornal local, às 12h30, voltado para a Grande São Paulo e para a defesa da cidadania. Fernando Vieira de Mello, jornalista de rádio, está sendo testado como âncora do jornal, há anos adiado.

OUTRO CANAL

Abertura O desenhista Mauricio de Sousa finalmente deverá ter espaço na programação da Globo, que o contratou em 1999, mas o deixou na ‘geladeira’. A rede estuda exibir, no final do ano, um projeto educativo da ‘Turma da Mônica’, voltado para crianças de quatro a sete anos, que tem o apoio do governo federal.

Marcas A Record estréia na segunda semana de março um programa sobre recordes do ‘Guinness Book’. Com apresentação da jornalista Maria Cândida, será diário, às 21h, e se chamará ‘Guinness: O Mundo dos Recordes’.

Demitido O consultor José Tolovi está fora da segunda edição de ‘O Aprendiz’, que estréia em 28 de abril na Record. Tolovi, que na primeira versão foi assessor do apresentador Roberto Justus, alegou estar com a agenda cheia, mas acha que fez papel de ‘fantoche’.

Nova língua O canal Telecine Premium estréia em 1º de março uma sessão de filmes (‘Cyber Movie’) antenada com os adolescentes. As legendas trarão a ‘linguagem’ usada em chats e e-mails, como ‘vc’ (você), ‘kd’ (cadê) e ‘kra’ (cara). Os primeiros títulos serão ‘+ Velozes + Furiosos’, ‘8 Mile – Rua das Ilusões’, ‘Jackass’ e ‘Por um Fio’.

Ironia Em um dos programas que Daniella Cicarelli apresentará na MTV neste ano, ela será uma ‘invasora autorizada’ de festas.’



CHICO BUARQUE NA TV
Isabelle Moreira Lima

‘‘Desconhecedor da alma feminina’, Chico fala de mulheres em Paris’, copyright Folha de S. Paulo, 23/02/05

‘‘Eu me considero um grande desconhecedor da alma feminina.’ A declaração não causaria espanto na boca de qualquer homen, não fosse de autoria de Chico Buarque. Afinal, além de ser paixão número um de 11 de cada dez mulheres brasileiras por causa dos seus belos olhos, o compositor e escritor soube, em suas canções, traduzir muitos segredos das mulheres.

Hoje, às 12h, assinantes da DirecTV ouvem a declaração na estréia de ‘À Flor da Pele’, segundo episódio da série sobre a vida e a obra do artista produzida pela empresa. No programa, Chico passeia por Paris e pára em um café, onde fala e canta sobre o universo feminino. ‘Há sempre, para mim, um grande mistério. Sou um espectador das mulheres. Gosto de ver como se movem.’

A escolha da capital francesa como cenário foi fundamental. Foi na França, quando ainda era criança, que viu, pela primeira vez, uma mulher nua, ‘peitos e bundas’. ‘Aquilo foi uma grande revelação, um alumbramento.’

‘À Flor da Pele’ mostra os efeitos desse ‘alumbramento’, com imagens de arquivo de diversas fases da carreira de Chico e das muitas mulheres e de suas dores de amores cantadas por ele. Desde a primeira, a Amélia de ‘Com Açúcar com Afeto’, encomendada por Nara Leão, até ‘As Atrizes’, canção inédita de Chico composta na última semana em Paris especialmente para a série.

À FLOR DA PELE. Quando: hoje, às 12h, 13h30, 15h, 16h30, 18h, 19h30, 21h, 22h30, 0h e 1h30, no Canal 605 da DirecTV.’



Luiz Zanin Oricchio


‘O enigma da mulher, segundo Chico Buarque’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/02/05


‘Há sempre algo de ausente que me atormenta. A frase é da escultora Camille Claudel e está gravada em placa comemorativa numa das ruas de Paris. Chico Buarque, no segundo programa da série levada ao ar pelo canal 605 da DirecTV, pára e olha a inscrição. A frase poderia servir, e de fato serve, de epígrafe a este segundo episódio, denominado À Flor da Pele, e que fala do Chico autor de canções femininas. O que lhe valeu fama de grande conhecedor do mistério feminino, que ele se apressa em desmentir: ‘Na verdade, sou um grande ‘desconhecedor’ da alma feminina.’


O quadro para a declaração é um café parisiense, onde Chico pousa seu chapéu em cima da mesa, olha para a câmera e fala da relação com a cidade e com a tal da alma feminina. Todos sabemos que Chico mantém um apartamento em Paris e vai para lá quando quer um pouco de sossego, quando deseja escrever e caminhar em paz pelas ruas.


Chico conta que esteve em Paris pela primeira vez em 1954, com os pais, quando tinha 10 anos. Tem duas lembranças dessa época. O tempo gasto nos bares jogando fliperama, novidade que ainda não havia chegado ao Brasil. E, mais importante, as mulheres. ‘Não conhecia mulher nua. Vim a conhecê-las em Paris, em revistas e, ao vivo, em Pigalle, onde as moças se exibiam. Foi um alumbramento.’ Numa psicanálise selvagem, poderíamos dizer que esse alumbramento, essa epifania diante do corpo feminino, está na origem do extraordinário cancioneiro feminino produzido por Chico ao longo da vida. ‘Sou um voyeur, um ‘vedor’ de mulher’, diz. ‘Gosto de observar como se movem, como raciocinam, como reagem, como falam.’ É esse gosto que define um homme à femmes e não o cafajestismo conquistador com o qual Chico, definitivamente, nada tem a ver.


O programa se constrói desse jeito – há a entrevista central no café, em Paris. E as remissões ao material de arquivo, mostrando Chico cantando ou conversando com amigos. Por exemplo, com Caetano Veloso, com quem canta Tatuagem e Esse Cara. É de Caetano, nesse encontro, a frase que ficou famosa: ‘As mulheres que você tem dentro de você são lindas.’ Depois ele canta Cotidiano e assiste a Milton Nascimento interpretar uma emocionante À Flor da Pele, música que dá título ao programa e melhor define a inquietação de Chico (e de qualquer homem que se preze) diante do mistério feminino, aquele ‘algo ausente’ que incomodava a pobre Camille e talvez a tenha levado ao relacionamento complicado com Rodin e às obras atormentadas.


Chico conta também que muitas das músicas femininas foram feitas sob encomenda, por amigas. Compôs Com Açúcar, com Afeto para Nara Leão e Olhos nos Olhos para Maria Bethania. Mas nem sempre foi unanimidade entre as mulheres, como se supõe. Lembra, divertido, que Mulheres de Atenas foi considerada obra de machão pelas feministas, pois a letra, irônica, queria dizer exatamente o contrário do que dizia: ‘Não se mirem no exemplo das mulheres de Atenas.’ Mas as feministas a tomaram literalmente. Ironia no Brasil é um perigo e até Chico foi vítima dela, o que nos conforta a todos. O final do programa é muito bonito, com Chico Buarque voltando às ruas de Paris ao som de Joana Francesa.


O crítico pode se queixar de certa falta de organicidade no programa dirigido por Roberto de Oliveira. Queremos sempre mais, em se tratando de Chico Buarque. Mas, de qualquer forma, o material é tão rico e tão emocionante que, mesmo o pouco que o programa nos traz, acaba parecendo muito, ou pelo menos suficiente.’