Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Bia Abramo

‘O ‘Casseta & Planeta’ da última terça-feira estava ótimo. Há tempos que não via uma edição tão equilibrada entre o escracho e a inteligência, que são, digamos assim, os elementos mais essenciais desse programa humorístico.

Pode-se pensar que é mais um caso em que a ‘culpa’ de o programa estar bom é mais a realidade que estaria dando motivos de sobra para fazer piada do que um episódio -ou uma fase-de mais acertos que erros.

Mas, apesar de estarmos imersos num furacão de acontecimentos que tangenciam a caricatura de extremos que são, o que acontece com o ‘Casseta’ parece ser um fenômeno de outra ordem. Desde os tempos do ‘Planeta Diário’, o humor produzido pela turma do ‘Casseta’ tem a característica de fazer graça apelando simultaneamente para a agilidade mental, o trocadilho esperto e a rapidez de raciocínio quanto ao que há de mais primitivo e instintivo. Em outras palavras, combinando baixaria num nível mais ou menos aceitável com piadas inteligentes.

Ou ainda, numa terceira formulação, o ‘Casseta’ criou um território quase único onde eles poderiam se aproximar tanto do nonsense verbal de Woody Allen quanto do pastelão muito físico dos Trapalhões, com uma boa dose de provocação subversiva ao politicamente correto. O ‘quase’ da frase acima vai por conta de uma certa semelhança entre as concepções de humor dos Cassetas e do colunista desta Folha José Simão.

Só que os limites dessas fronteiras todas são extremamente imprecisos, tanto para quem está dentro quanto para quem está de fora, ou seja, tanto para quem produz quanto para quem é o destinatário. Soma-se a essa dificuldade uma mão às vezes pesada para tratar de questões mais sensíveis, e o resultado é que o programa fica perigosamente bem próximo do mau gosto, do ofensivo e até, nos momentos mais extremos, da pouca inteligência.

É o preço da radicalidade -e, recentemente, o ‘Casseta & Planeta’ andava mais do lado do abuso ofensivo do que do humor impiedoso.

Nesta última terça-feira, entretanto, eles parecem ter descoberto de novo os contornos e estavam em plena forma. ‘Amerréca’, a sátira que fazem à quente de ‘América’, estava simplesmente genial -e Bussunda como a Lurdinha do mundo bizarro não poderia ser mais irônico.

Pode até ser que a razão disso seja uma espécie de reação saudável e a necessidade de marcar uma diferença com o ‘Pânico na TV’. O quadro que fizeram com a participação especial de Carolina Dieckman, atriz que foi assediadíssima para calçar as tais ‘sandálias da humildade’ do programa concorrente, só reforça a suspeita de que o tom excessivo, bem além do limite da chatice, do pessoal do ‘Pânico’, tenha servido de alerta.’



LIMINAR DO GUGU

Daniel Castro

‘Gugu se livra de ser ‘fichado’ pela polícia’, copyright Folha de S. Paulo, 17/09/05

‘O apresentador Gugu Liberato conseguiu evitar o ‘constrangimento’ de ser ‘fichado’ pela Polícia Civil de São Paulo e de ser interrogado, ontem de manhã, na 2ª Vara Criminal de Osasco (Grande São Paulo), onde responde a processo criminal pela exibição de entrevista com falsos membros da facção criminosa PCC, exibida pelo SBT em setembro de 2003, em que dois encapuzados faziam ameaças a jornalistas e políticos.

Liberato obteve na quinta-feira uma liminar no STJ (Superior Tribunal de Justiça) que suspende o processo penal em Osasco até o julgamento do mérito de seu pedido de habeas corpus no órgão.

Em despacho publicado no ‘Diário Oficial’ de terça, o ministro do STJ Arnaldo Esteves Lima já havia concedido liminar suspendendo o indiciamento de Liberato _ele teria que ir à polícia, fornecer todos os seus dados e seu nome entraria no cadastro de antecedentes criminais. Isso ocorreria ontem, não fosse a liminar.

O indiciamento de Liberato não ocorreu durante o inquérito policial porque ele conseguiu uma liminar na Justiça, depois cassada pelo Tribunal de Justiça (TJ-SP).

Adriano Salles Vanni, advogado de Liberato, tentou no TJ-SP e no STJ (sem sucesso) excluir seu cliente da ação penal. Argumentou que Liberato é inocente e que não existe prova de que participou da produção da falsa entrevista. Vanni não respondeu ao recado deixado pela Folha.

OUTRO CANAL

Bis 1 Apesar das baixíssimas repercussão e audiência, a TV Cultura planeja repetir no ano que vem seu festival de música popular, encerrado na última quarta sob vaias da platéia, que reprovou a música vencedora, ‘Contabilidade’.

Bis 2 A Cultura nega rumores de que seu festival teria sido também um fracasso contábil, dando prejuízo. Diz que o evento custou R$ 2 milhões e que deu lucro de R$ 200 mil.

Injusto 1 A Globo usou um artifício para divulgar que a novela ‘América’ já empatou no Ibope da Grande SP, em 48 pontos, com ‘Senhora do Destino’, considerados os 157 primeiros capítulos.

Injusto 2 Segundo Aguinaldo Silva, autor de ‘Senhora do Destino’, sua novela marcava até o 157º episódio média de 48,46 pontos. ‘América’ tem 47,52 pontos. A Globo arredondou ambos os números para 48 pontos, em artifício válido, mas que gera distorção. ‘Fiquei chateado. A diferença é de quase um ponto’, diz Silva.

Torcida Aguinaldo Silva, a propósito, duvida que ‘América’ chegará ao final com média de 50,5 pontos, como ‘Senhora’.

Azedou Vildomar Batista, que não vinha se entendendo com Tom Cavalcante, deixou anteontem a direção do ‘Show do Tom’, na Record. Foi substituído por José Amâncio (‘O Aprendiz’).’



MEMÓRIA / WALTER AVANCINI

Beatriz Coelho Silva

‘‘O Último Artesão’ resgata as ousadias de Avancini’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/09/05

‘Walter Avancini foi um dos inventores da televisão brasileira, em produções como Selva de Pedra (versão 1 e 2), Gabriela Cravo e Canela, Xica da Silva (ora em reprise no SBT) e Grande Sertão: Veredas. Descobriu atores como Elizabeth Savalla e Murilo Rosa (o Dinho, de América) e redirecionou a carreira de outros, como Toni Ramos (como o jagunço Riobaldo) e Ney Latorraca (que amadureceu sob seu comando). Mas seu método de trabalho se perderia não fosse o livro Walter Avancini – O Último Artesão (Editora Gryphus, R$ 49) que será lançado hoje, no Rio, e depois de amanhã, em São Paulo, na Livraria da Vila Madalena.

Foi escrito pela repórter e atriz Ângela Britto, que o conheceu nos corredores da extinta TV Manchete, ele a elogiou e ficaram amigos. ‘Bom rosto para dramaturgia’, dizia. Mas só às vésperas da morte dele, em 2001, ela aceitou a sugestão. ‘Estudando para ser atriz, percebi que ele é referência na arte de representar na televisão. E não havia deixado nada escrito sobre seu método’, conta Ângela, ‘Fui atrás de quem trabalhou com ele para recuperar seus ensinamentos.’

Foi uma pesquisa exaustiva, que levou dois anos, em que a autora ouviu 52 longos depoimentos, a maioria de atores. Não poderia ser de outra forma, pois sua impressão digital está nos grandes momentos do veículo que moldou em 47 anos de atuação, como reconhece José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que apostava nas ousadias do diretor. No prefácio, ele define Avancini como ‘um belicoso de plantão. Brigava contra o lugar-comum, contra o óbvio e a mesmice. Só aceitava aquilo que realmente acreditasse. Tinha fé na possibilidade de melhorar o seu semelhante, coragem de denunciar a injustiça e ânimo para protestar contra a opressão’.

Mas não era de trato fácil, como atestam os atores que faziam fila para trabalhar com ele. Ney Latorraca conta que se frustrou, no início dos anos 70, quando Avancini chamou atores do elenco do musical Hair para a Rede Globo, mas o ignorou. Mas confessa saudades do amigo com quem tinha discussões ferrenhas. ‘Todos deveriam ter a disciplina de Avancini’, disse o ator a Ângela. ‘Era mais que isso’, afirma a autora. ‘Para ele, era preciso amar o que se faz, chegar com o texto decorado, o personagem na alma e dentro do horário. Nisso era rígido. Cinco minutos de atraso significava bronca na certa.’

Por isso, realizou mais de 60 no títulos, alguns inovadores como a novela Beto Rockefeller (que dirigiu com Lima Duarte, em 1968), ou a minissérie Grande Sertões: Veredas (de 1985), que traduziu visualmente o universo de Guimarães Rosa, ou Brida (de 1998), malsucedida tentativa de adaptar o romance de Paulo Coelho (que só permitiu o uso de sua obra em audiovisual desta vez). Era sua quarta novela na TV Manchete, mas a emissora, já falida, nem sequer pagava os salários dos atores e equipes técnicas.

O livro cobre uma lacuna na dramaturgia televisiva. Mas, se tem depoimentos fundamentais, como o de Regina Duarte e Nívea Maria, descobertas quando eram garotas-propaganda (nome que se dava às modelos nos anos 60)faltam outros importantes como o de Daniel Filho (companheiro e chefe dele em épocas diversas e também um dos inventores da TV brasileira) e dos filhos de Avancini, Andréia e Alexandre. ‘Eles pensam em escrever um biografia do pai e acho que guardaram seu depoimentos para essa oportunidade’, explica a autor. ‘Eu preferi ouvir atores porque queria saber como Avancini os levava a desempenhos. Acho que consegui.’’



TV GLOBO

Keila Jimenez

‘Novelas da Globo terão legendas’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/09/05

‘Novelas com legendas. A Globo começa a implantar em sua teledramaturgia o closed caption, sistema que permite a leitura do que é dito por atores e apresentadores na TV em tempo real. Uma boa para os portadores de deficiência auditiva.

A primeira trama a ganhar o sistema será na verdade uma reprise, Força de Um Desejo, que em breve será exibida no Vale a Pena Ver de Novo. A emissora, que já conta o serviço em programas como Jornal Nacional, Zorra Total e a Grande Família, pretende colocar o closed caption também em suas novas novelas. Belíssima, próxima trama das 9 da emissora, deve ganhar o sistema.

Acionado por um simples controle remoto, o closed caption só funciona quando as emissoras transmitem o sinal da programação para um local onde ficam estenotipistas, profissionais capazes de digitar cerca de 220 palavras por minuto. Quase simultaneamente, o sinal codificado é repassado para a casa dos telespectadores, captado por um processador instalado em cada televisor. A Globo, no caso, envia o seu sinal para Centeio Informática que produz os textos e a Voicer Caption utiliza um software desenvolvido pelo emissora para exibi-los. A rede foi a primeira a investir na tecnologia, disponibilizando o JN em closed caption a partir de 1997.

O processo para passar uma novela já pronta para o closed caption é demorado. Cada capítulo demanda em média 10 horas para ser traduzido e revisado antes de entrar no sistema. A intenção da emissora é, em breve, disponibilizar o serviço em toda sua programação.

O SBT ensaia há muito utilizar o sistema em suas transmissões e fez seu primeiro teste da tecnologia no ano passado, disponibilizando a maratona televisiva Teleton em closed caption.’



O Estado de S. Paulo

‘Globo é condenada a indenizar 3 pelo caso Escola Base’, copyright O Estado de S. Paulo, 17/09/05

‘A TV Globo foi condenada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a indenizar por danos morais o casal Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada e o motorista Maurício Monteiro de Alvarenga, por conta da divulgação do caso Escola Base, em 1994. Cada um deve receber 1.500 salários mínimos (R$ 450 mil). O TJ confirmou o entendimento de primeira instância, que foi contestado pelas duas partes – os autores da ação queriam aumentar o valor da indenização e a ré queria diminuí-lo. O advogado da TV Globo, Luiz de Camargo Aranha Neto, disse que vai recorrer da decisão.’