Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Bia Moraes

‘A PBS (Public Broadcasting Service), rede pública de TV dos EUA, passa por uma crise sem precedentes, devido à falta de recursos do governo combinada à mentalidade conservadora que toma conta dos EUA na administração Bush.

Em matéria publicada esta semana no New York Times – na seção que analisa o mercado de mídia e jornalismo – os repórteres John Tierney e Jacques Steinberg mostram a situação da emissora, financiada pelo governo norte-americano. O caso da PBS é emblemático porque a rede tem feito lobby incessante nos corredores do Congresso – ao que parece, sem sucesso. Pat Mitchell, presidente da PBS, dá sinais de cansaço e deve renunciar ao cargo em 2006.

A reportagem do NYT está repercutindo entre estudantes e profissionais que buscam emprego no mercado de jornalismo norte-americano. Simone Delgado, jornalista brasileira que cursa pós-graduação em Mídia em uma universidade dos EUA, diz que a matéria foi amplamente discutida entre alunos e professores. ‘O texto mostra a realidade do mercado americano. Temos falado muito sobre isso nas aulas, e a situação não está fácil, principalmente pra quem quer fazer jornalismo mais independente’, afirma a jornalista.

Um dos motivos da crise da PBS é a concorrência, cada vez mais acirrada, com as TVs a cabo. Mas o cerne da questão tem sido que, durante o governo Bush, empresas tem demonstrado menos interesse em patrocinar programas da TV pública. Com isso, a PBS vem, cada vez mais, dependendo de financiamento de Washington – mas os deputados republicanos, atualmente em maioria no Congresso norte-americano, criticam a programação da rede dizendo que é ‘elitista e por demais liberal’.

Essa postura vai ao encontro do projeto de lei, aprovado nesta quarta-feira (16/02), que aumenta as multas a artistas e meios de comunicação que exibam conteúdo ‘indecente’.

Bustergate

A ala conservadora do Congresso se mostrou especialmente melindrada, recentemente, com um programa infantil que mostrou um coelho (Buster)

visitando um casal de parentes – que eram lésbicas.

Por causa desse episódio, a secretária de Educação, Margaret Spellings, ameaçou retirar verbas públicas do programa. O caso ficou conhecido na mídia dos EUA como ‘Bustergate’. Diante da polêmica, o programa foi retirado do ar, em decisão tomada pela presidente da PBS, Pat Mitchell. Ela declarou, no entanto, aos repórteres do NYT, que não tem sido pressionada pelos congressistas republicanos que decidem a verba destinada às emissoras públicas a mudar a programação. Mas admitiu que tem trabalhado junto aos executivos da PBS indicados pela Casa Branca em projetos de novos programas – incluindo um talk show com o apresentador Tucker Carlson, conhecido por sua posição conservadora.

Alberto Ibarguen, chairman da PBS e também editor do jornal Miami Herald, disse ao NYT que a estrutura da rede é deficiente. ‘Ela depende de muita

verba do governo, enormes gastos com a divulgação da imagem corporativa e não prevê concorrência. Mas no mundo em que vivemos, com cada vez menos dinheiro do governo e crescimento das tevês a cabo, esse modelo de administração tornou-se um grande problema’, analisou Ibarguen.

Atualmente, 85% dos norte-americanos possuem TV a cabo ou por satélite. A PBS, que veicula programas infantis, dramas históricos e documentários, está competindo com canais como History Channel, Discovery, National Geographic, Nickelodeon e outros.

Congressistas democratas trabalham em um projeto que pode tornar a PBS mais independente, obtendo recursos de outra forma – através da criação de ‘trust fundings’.

O grupo Media Resarch Center já se posiciona contrário à iniciativa, dizendo que o que se pretende é tornar a TV pública ‘que não precise responder nem ao Congresso nem ao povo norte-americano. O cidadão conservador não quer dar dinheiro de seus impostos para uma emissora de TV que ataca suas posições e idéias’, declarou o porta-voz do grupo.’



EUA vs. OBSCENIDADES
O Estado de S. Paulo

‘EUA aprovam medidas mais severas contra obscenidade’, copyright O Estado de S. Paulo, 17/02/05

‘A Câmara de Representantes dos Estados Unidos aprovou ontem – por 389 votos a favor e 38 contra – um projeto de lei que aumenta as multas a artistas e meios de comunicação que exibam programas de conteúdo obsceno.

A medida, respaldada pela Casa Branca, é similar a uma em discussão no Senado. Ambas terão de ser unificadas antes de o presidente George W. Bush poder promulgá-la.

O governo Bush elogiou a aprovação da lei porque ‘fará com que os programas de rádio e TV sejam mais aptos para as famílias’, disse a Casa Branca em uma declaração por escrito.

O projeto de lei aumenta de US$ 32.500 para US$ 500 mil as multas a empresas de comunicação que exibam material obsceno. E de US$ 11.000 para US$ 500 mil para artistas ou apresentadores envolvidos.

Os detratores da medida afirmam que esta é uma ofensa à liberdade de expressão. Para quem a defende, já era hora de a Comissão Federal de Comunicações (FCC) ter autoridade de impor maiores sanções contra os que divulgam material ‘obsceno, indecente e profano’.

O projeto também permite que, depois da terceira advertência, a FCC revogue a licença de difusão dos meios envolvidos.’



IRAQUE CONFLAGRADO
O Estado de S. Paulo

‘Jornalista suplica por sua vida, mas Itália não se retira do Iraque’, copyright O Estado de S. Paulo, 17/02/05

‘A RAI – rede pública de rádio e televisão italiana – divulgou ontem um vídeo com dramático apelo da jornalista italiana Giuliana Sgrena, seqüestrada há 12 dias no Iraque por um grupo islâmico armado. ‘Me ajudem, minha vida depende de vocês (italianos), façam pressão sobre o governo para que retire as tropas italianas do Iraque’, suplicou ela em italiano e francês com mãos postas. ‘Devem acabar com a ocupação; é a única forma de sair desta situação’, insistiu.

Algumas horas depois, porém, a maioria conservadora do Parlamento italiano aprovava pedido do primeiro-ministro Silvio Berlusconi para a manutenção em território iraquiano de 3 mil soldados. A oposição de centro esquerda votou contra.

E a chancelaria italiana, por sua vez, assegurava que continua trabalhando para libertar Giuliana, enviada a Bagdá pelo jornal comunista Il Manifesto em 30 de janeiro para realizar a cobertura jornalística das eleições legislativas iraquianas, ‘sem mudar a política diplomática e a estratégia de inteligência’ de Berlusconi.

Repórter de 56 anos, Giuliana vestia uma blusa verde. As imagens exibiam também a denominação do grupo que a seqüestrou no dia 4 quando entrevistava estudantes da Universidade de Bagdá, perto de uma mesquita: ‘Mujahedin Sem Fronteiras.’ Os seqüestradores ameaçam executar a refém se suas exigências não forem atendidas.

A jornalista pediu também à família dela que interceda junto a Berlusconi. ‘Rogo a minha família e a todos aqueles que, como eu, opuseram-se à guerra e à ocupação… Todos devem retirar-se do Iraque. Ninguém mais deve vir aqui, porque todos os estrangeiros, e todos os italianos, são considerados inimigos. Por favor, façam alguma coisa por mim…’

No Vaticano, o papa João Paulo II renovou apelo feito domingo na Praça de São Pedro em favor da imediata libertação da jornalista.

Pierre Scolari, um colega de Giuliana, disse que se unirá a ela e pedirá a retirada dos soldados italianos do Iraque. ‘Farei isso não apenas para livrá-la da morte, mas para salvar os iraquianos que têm mais necessidade disso (da retirada).’

O Jornal Il Manifesto está organizando para sábado uma grande manifestação em Roma pela libertação de Giuliana.

Desde a queda de Bagdá, em 9 de abril de 2003, oito italianos já foram capturados em território iraquiano por grupos rebeldes. Entre eles, figura outro jornalista, Enzo Baldoni, que foi executado em agosto do ano passado.

Em setembro, Simona Torreta e Simona Pari, duas funcionárias italianas da ONG Ponte para Bagdá, foram seqüestradas e libertadas várias semanas depois. Em 5 de janeiro, rebeldes capturaram a jornalista francesa Florense Aubenas, do jornal esquerdista Libération, que permanece em cativeiro. Isso embora a França tenha rejeitado categoricamente a guerra liderada pelos Estados Unidos e não mantenha tropas em território iraquiano.

Mais de 120 estrangeiros foram seqüestrados no ano passado. Pelo menos um terço deles foi executado.’



Folha de S. Paulo

‘‘Por favor, me ajudem’, suplica refém italiana’, copyright Folha de S. Paulo, 17/02/05

‘Aos prantos e com as mãos unidas em sinal de súplica, a jornalista italiana Giuliana Sgrena, 56, seqüestrada há 12 dias no Iraque, apareceu ontem em um vídeo no qual pede que as tropas estrangeiras deixem o país. Horas depois, o Senado italiano aprovou a manutenção dos soldados no país até o final de junho.

‘Vocês devem acabar com a ocupação, é o único jeito de sairmos dessa situação’, disse Sgrena. O vídeo, o primeiro desde o seqüestro, foi entregue à TV da agência de notícias Associated Press. Não é possível determinar quando as imagens foram feitas.

Balançando o corpo e fazendo esforço para conter as lágrimas, a jornalista aparece sozinha no vídeo. No canto da imagem foi escrita digitalmente a frase ‘Mujahidin [guerreiros santos] sem fronteiras’, mas nenhum grupo se apresentou. ‘Eu peço ao governo da Itália, ao povo italiano que foi contra a ocupação, peço ao meu marido, por favor, me ajudem’, disse Sgrena.

‘Saiam do Iraque, este povo não deve continuar sofrendo.’ Metade das declarações foi feita em francês, e metade, em italiano. ‘Imploro para que minha família me ajude, minha vida está nas mãos de vocês. Pressionem o governo’, disse. No vídeo, ela aparece mais magra e bastante ansiosa. ‘Todos devem ser retirados do Iraque. Ninguém mais deve vir ao país porque todos os estrangeiros, todos os italianos, são considerados inimigos’

Parentes e amigos sentiram um misto de alívio, por ela ainda estar viva, e horror, ao ver sua agonia. O marido da italiana, Pierre Scolari, disse que ela aparentava estar ‘razoavelmente bem’, considerando as horríveis circunstâncias. Já o pai da refém, Franco Sgrena, disse estar ‘preocupado porque ela parecia desesperada’.

A jornalista do diário italiano de esquerda ‘Il Manifesto’ foi seqüestrada por um grupo de homens armados no dia 4 de fevereiro, perto da Universidade de Bagdá, na periferia da capital. Desde então, informações conflitantes foram divulgadas. Diferentes grupos assumiram a ação em sites da internet. Um disse que ela havia sido morta, outro afirmou que ela seria libertada, outro exigiu a saída das tropas italianas do Iraque.

Na semana passada, o jornal informou que tinha indícios de que ela estava viva. O premiê Silvio Berlusconi disse que estava otimista. ‘O governo está trabalhando… E os serviços de inteligência estão operando, como já operaram no passado, então temos razões bem fundamentadas para otimismo’, disse referindo-se à libertação das italianas Simona Torretta e Simona Pari.

No entanto a Itália não pretende deixar o país tão cedo. O Senado decidiu estender a presença dos cerca de 3.000 soldados que estão no Iraque até dia 30 de junho. A decisão ainda precisa ser confirmada pela Assembléia Legislativa.

Mais de 190 estrangeiros foram seqüestrados no Iraque no último ano. Ao menos 13 ainda estão sob poder de seqüestradores, 30 foram mortos e o restante foi libertado. A jornalista francesa Florence Aubenas, 43, do diário ‘Libération’, está desaparecida desde 5 de janeiro -junto com o guia iraquiano Hussein Hanoun.

Por ora, ninguém fez exigências. O mesmo silêncio marca o seqüestro do engenheiro brasileiro João José de Vasconcellos Jr., desaparecido desde o dia 19 de janeiro. Dois libaneses, os irmãos Hassan e Ghazi Haydar, seqüestrados em 29 de dezembro, foram soltos. Com agências internacionais’