Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Blogueira cubana não pode receber prêmio no exterior

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.

 

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Folha de S. Paulo

 

Terça-feira, 6 de maio de 2008


CUBA

Folha de S. Paulo

 

Blogueira é impedida de sair, diz jornal

 

‘A cubana Yoani Sánchez -criadora do blog ‘Generación Y’ (www.desdecu ba.com/generaciony/) – não poderá ir a Madri para receber amanhã o prêmio Ortega e Gasset de Jornalismo, disse ontem o ‘El País’, que há 25 anos promove a premiação.

 

Todos os esforços para conseguir autorização de viagem para Sánchez foram recebidos com ‘silêncio administrativo das autoridades’, afirma o diário espanhol. A blogueira, vencedora na categoria jornalismo digital e citada neste mês pela revista ‘Time’ na lista das cem pessoas mais influentes do mundo, escreve textos bem-humorados e críticos sobre o regime cubano.

 

Em fevereiro, Sanchéz disse à Folha que não tinha sido vítima de intimidações: ‘Vamos ver até quando dura isso’. Em março, quando a página ultrapassou 4 milhões de visitas mensais, ela denunciou a censura velada, com instalação de filtros que retardavam o acesso. A mais recente atualização do blog criticou no sábado a ‘infância cívica’ dos cubanos e as dificuldades para conseguir viajar.’

 

 

 

OCTAVIO FRIAS DE OLIVEIRA

Luiz Roberto Barradas Barata

Ousadia e empreendedorismo

 

‘‘TIVE ALGUM êxito como empresário. Consegui dar minha modesta contribuição no grande trabalho coletivo de criar riquezas, gerar empregos, fortalecer empresas e lançar novos produtos. Atribuo esse êxito ao trabalho perseverante e a alguma sorte’.

 

A frase de Octavio Frias de Oliveira, extraída da biografia escrita por Engel Paschoal, não traduz integralmente tudo o que o publisher da Folha, morto em 29 de abril de 2007, aos 94 anos, representou e ainda representa para o Brasil contemporâneo. Perseverante, sim. Mas também ousado e empreendedor, como poucos, na construção de um país, na consolidação da democracia.

 

Ousar, evidentemente, é fundamental em qualquer área, mas na administração pública tem se tornado um verbo imperativo. Na saúde, especialmente. Assim fizeram os sanitaristas nos últimos 20 anos, promovendo a implantação do SUS (Sistema Único de Saúde). Assim faz o governo do Estado de São Paulo ao entregar, neste 6 de maio de 2008, o Instituto do Câncer de São Paulo ‘Octavio Frias de Oliveira’, na capital paulista, o maior hospital especializado em oncologia da América Latina.

 

Trata-se do último prédio inacabado de hospital público estadual existente em São Paulo em 1995. O governo estadual entendeu, corretamente, que era necessário dar prioridade à conclusão das outras 15 unidades, situadas em regiões carentes de leitos, como Taboão da Serra, Diadema e Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, Pedreira, Grajaú, Vila Alpina e Itaim Paulista, na capital, além de Bauru e Sumaré, no interior.

 

Em 1998, esses hospitais começaram a ser entregues, representando, hoje, um acréscimo de mais de 4.000 leitos à rede pública do Estado.

 

Em 2003, após a inauguração do hospital estadual de Sapopemba, foram aceleradas as obras do edifício localizado na movimentada avenida Doutor Arnaldo, no chamado quadrilátero da saúde, que inclui os seis institutos do Hospital das Clínicas e o Instituto de Infectologia Emílio Ribas e totaliza nada menos que 2,5 mil leitos. Tamanha concentração de leitos em um só local foi determinante para que o instituto fosse a última obra a ser concluída pelo governo do Estado.

 

Foi decisão da atual administração alterar o perfil do instituto, que havia sido reprojetado em 2003 para oferecer atendimento em câncer, transplantes e saúde da mulher. Com o aumento constante da expectativa de vida de brasileiros e paulistas e a conseqüente maior incidência de doenças crônico-degenerativas, é imprescindível ampliar a quantidade de leitos para o tratamento dos mais diversos tipos de câncer, segunda maior causa de óbito no Estado e no país.

 

Com o novo hospital, a cidade de São Paulo terá maior oferta de leitos públicos em oncologia, para atender a crescente demanda.

 

O atendimento oncológico às mulheres será uma das prioridades do novo hospital, com cerca de 200 dos 580 leitos reservados exclusivamente para cuidados com o câncer ginecológico. Do total de leitos, 360 serão de apartamentos com duas camas, 84 de UTI e terapia semi-intensiva e 30 de hospital-dia, além de vagas específicas de recuperação pós-anestésica, observação e cuidados paliativos.

 

O instituto foi planejado para ser referência nacional e internacional no atendimento de casos de alta complexidade, desde a prevenção até a reabilitação. Será também importante centro de pesquisa e ensino da Faculdade de Medicina da USP, para a disseminação do conhecimento técnico e científico em oncologia no Brasil e no mundo.

 

O treinamento e a capacitação de médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde pela USP permitirá ao Estado melhorar ainda mais o atendimento dos pacientes vítimas do câncer em todo o Brasil.

 

Os números impressionam e não economizam na assistência que será prestada aos paulistas. Até o fim de 2009, o novo hospital estará totalmente implantado, com capacidade para cerca de 1.500 internações, 33 mil consultas, 1.300 cirurgias, 6.000 sessões de quimioterapia e 420 de radioterapia por mês. Para isso, serão necessários cerca de R$ 190 milhões anuais, ou seja, mais do que o custo total da obra física do instituto, que foi de R$ 170 milhões.

 

Mais do que o atendimento hospitalar de ponta, o novo instituto já nasce como o mais moderno hospital do Brasil, com infra-estrutura de edifício inteligente e sistemas automatizados que são controlados por uma grande central informatizada, proporcionando comodidade ao usuário e otimização de recursos.

 

A população paulista ganha, a partir de hoje, um forte aliado na luta contra o câncer. O Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira é fruto de um trabalho ousado, perseverante e empreendedor e certamente promoverá um salto de qualidade sem precedentes à saúde pública nacional, com atendimento integrado, eficiente e humanizado a todos os que dele precisarem.

 

LUIZ ROBERTO BARRADAS BARATA , 54, médico sanitarista, é secretário da Saúde do Estado de São Paulo.’

 

 

 

INTERNET

Cíntia Acayaba

Vídeo com Cunha Lima cai no YouTube

 

‘Um vídeo que mostra Cássio Cunha Lima, 45, tocando percussão e beijando uma mulher loira, virou sensação no site YouTube. Em apenas três dias, o vídeo, dividido em duas partes, registrou ao menos 46 mil acessos.

 

Segundo a Secretaria de Comunicação do governo, as imagens foram feitas em um evento da Fundação Cultural de João Pessoa, ligada à prefeitura da cidade, no último dia 26.

 

Na primeira parte do vídeo, de um minuto e 11 segundos, sob o título ‘Cunha Lima Raparigueiro’, ele aparece tocando um surdo ao som de um grupo de pagode. Na seqüência, abandona o instrumento, toma um copo de cerveja, olha para a câmera e senta à mesa. Ao seu lado, está uma loira, que aparenta ter cerca de 20 anos.

 

Ele olha para a câmera, faz um sinal de positivo e, então, beija a mulher na boca. Cunha Lima é casado há mais de 20 anos e tem três filhos.’

 

 

 

TODA MÍDIA

Nelson de Sá

A ascensão do resto

 

‘A Bovespa passou dos 70 mil pontos, nas manchetes de Folha Online, UOL. Jornais como o ‘Independent’ anunciam ‘tempo de Carnaval’ para o Brasil. ‘Ninguém segura este país’, soltou Lula ontem, segundo o site de ‘O Estado de S. Paulo’.

 

Já nos EUA a nova ‘Newsweek’ (acima) traz a Estátua da Liberdade de costas e anuncia ‘O mundo pós-americano’ ou, no título interno do longo ensaio de capa, ‘A ascensão do resto’ (The Rise of the Rest). Por resto, entenda-se China, Índia e Brasil, ‘os verdadeiros gigantes’, que enfim acordaram. Império em declínio, o papel dos EUA no século seria abrir caminho para os três e alguns outros países, em sua ‘missão histórica’ -a globalização.

 

DIPLOMACIA BRIC

 

O ‘Hindu’ destacou que no próximo dia 14 os ministros de relações exteriores de Brasil, Rússia, Índia e China, os Brics, ‘se reúnem exclusivamente pela primeira vez, na cidade russa de Ekaterinburg’. Diz o jornal que, ‘embora o conceito Bric tenha sido articulado no setor privado, os quatro acharam prático adotá-lo na diplomacia’. Vão tratar, precisamente, da ‘promoção do conceito’.

 

‘ESTÁ MUDANDO’

 

O chanceler Celso Amorim deu longa entrevista a Luiz Carlos Azenha, que estreou ontem no Terra Magazine, desde Washington. Declarou que já ‘está mudando’, mas na política externa ‘o maior risco para o Brasil era o ceticismo que os brasileiros ou pelo menos uma parte dos brasileiros tinha sobre as possibilidades do próprio país, porque isso limitava a nossa ação internacional’.

 

EM BOLLYWOOD

 

A BBC Brasil contou e sites de jornais ecoam a trajetória de Bruna Abdalah, 21, brasileira que ganhou projeção na superprodução ‘Cash’, de Bollywood. Ela ri que pensou, dois anos atrás, ‘Índia? O que eu vou fazer na Índia?’

 

LULA CONTINUA

 

Prossegue o eco da contracampanha de Lula, em defesa do etanol de cana. Ontem foi o ‘Christian Science Monitor’, de Boston, que sublinhou a safra recorde como um pano de fundo da reação brasileira. E anteontem foi o chinês ‘Diário do Povo’, com despacho da agência Xinhua estranhando que o Brasil mantenha a produção ‘em meio à crise dos alimentos’.

 

E A TARIFA TAMBÉM

 

Já o ‘Miami Herald’ e outros da rede de jornais McClathy deram longa reportagem sobre a tarifa que dificulta a exportação aos EUA, um dos maiores alvos do contra-ataque brasileiro.

 

JOHN MCCAIN FORA

 

O ‘Guardian’, um dos maiores críticos do etanol, deu ontem que o presidenciável se uniu a outros 23 republicanos para cobrar da Casa Branca que adie as normas de mistura de etanol à gasolina. Mas o lobby é forte, diz o jornal, e o estímulo deve continuar, bem como, ‘certamente, a tarifa sobre o barato etanol de cana do Brasil’.

 

E OBAMA BALANÇA

 

Em entrevista à NBC no domingo, o presidenciável democrata, que é senador por Illinois e sempre apoiou o etanol de milho, admitiu sob pressão ‘fazer mudanças na política de etanol’ para garantir ‘comida às pessoas’.

 

JAGUNÇOS VS. FLECHAS

 

A notícia surgiu no site da estatal Agência Brasil, sobre dez índios baleados por ‘jagunços de um líder arrozeiro’ invasor da reserva em Roraima. Ele que por sua vez, escudado no Supremo e em outras partes, declarou ter sido tão-somente um ‘revide às flechadas’. Os enunciados avançaram pelas manchetes on-line -e chegaram aos telejornais, sem, porém, a mesma atenção.’

 

 

 

FUSÃO

Folha de S. Paulo

Ações do Yahoo! caem 15% após desistência da Microsoft

 

‘As ações do Yahoo! caíram 15% ontem, após o anúncio, no último sábado, de que a Microsoft desistiu de adquirir a concorrente. Os papéis da empresa chegaram a se desvalorizar mais de 20%, mas, segundo analistas, investidores ainda acreditam que a rival possa fazer uma nova investida.

 

Com a desvalorização, o Yahoo! perdeu US$ 6 bilhões do seu valor de mercado e suas ações valem cerca de 26% menos do que a última proposta da Microsoft, de US$ 33 por papel -avaliando a companhia em US$ 47,5 bilhões. A cotação atual, no entanto, está mais de 27% acima da de 31 de janeiro, um dia antes de a Microsoft anunciar a sua primeira oferta.

 

Uma das grandes dúvidas agora é qual rumo irá tomar o presidente-executivo do Yahoo!, Jerry Yang, que defendeu um preço de pelo menos US$ 37 para que as negociações prosseguissem (quase o dobro da cotação do final de janeiro).

 

Uma das hipóteses cogitadas é que ele possa fazer um acordo com o Google no setor de publicidade on-line, mas essa parceria deve enfrentar sérias dificuldades para ser aprovada pelas autoridades regulatórias americanas, já que as duas companhias são as principais desse mercado.

 

Outra possibilidade para a Yang, que perdeu mais de US$ 200 milhões com a queda das ações ontem, é uma fusão com a AOL, mas, segundo o jornal britânico ‘The Times’, a Microsoft já estaria negociando um acordo com essa empresa.

 

Yang já enfrentava forte pressão dos acionistas antes mesmo de a Microsoft anunciar o interesse pela empresa e ela deve crescer ainda mais agora que a proposta foi recusada. Alguns dos principais acionistas, de acordo com a rede de TV CNBC, estudam apoiar medidas para derrubar a diretoria.

 

Os resultados financeiros do Yahoo! têm ficado muito atrás dos do Google, e a empresa parece não acompanhar o ritmo da rival na conquista do mercado publicitário on-line -um dos setores que mais crescem na internet e que é o principal interesse da Microsoft. Steve Ballmer, o presidente-executivo da Microsoft, afirmou na semana passada que a empresa é capaz de se tornar competitiva nesse mercado mesmo sem a aquisição do Yahoo!.

 

Com agências internacionais’

 

 

 

MÍDIA

Folha de S. Paulo

Slim adquire participação em grupo do ‘Independent’

 

‘O mexicano Carlos Slim, o segundo homem mais rico do mundo, de acordo com a revista ‘Forbes’, comprou uma participação de cerca de 1% no Independent News & Media, que, entre outros, publica o jornal britânico ‘The Independent’.

 

O principal interesse de Slim com o negócio, segundo os jornais britânicos, é uma disputa com Denis O’Brien, um dos principais acionistas do grupo de comunicação e com quem o mexicano compete pelo mercado de telefonia no Caribe.’

 

 

 

TELEVISÃO

Daniel Castro

Record já tem 53% do ibope da Globo em SP

 

‘Pela primeira vez na história, a Record registrou em um mês mais de 50% da audiência diária da Globo na Grande SP.

 

A rede fechou abril com 9,8 pontos de média diária (das 7h à 0h) na região, contra 18,4 pontos da rede líder. Isso equivale a 53,3% da audiência da Globo. Um ano antes, a audiência da Record (7,3 pontos) representava apenas 38% do público diário da Globo (19,2 pontos). Cada ponto na Grande SP equivale a 56 mil domicílios.

 

O desempenho foi muito comemorado ontem na Record. Com o arredondamento, a emissora finalmente alcançou os dois dígitos (dez pontos).

 

A Record vem em uma escalada impressionante de crescimento neste ano. Tinha média diária de 7,6 pontos em janeiro. Subiu para 8,2 em fevereiro e para 8,8 em março. De março para abril, cresceu um ponto. A Globo também cresceu, mas numa escala maior. Subiu de 17,8 em janeiro para 18,1 em fevereiro e para 18,3 em março. Em abril, com a nova programação, cresceu apenas 0,1 ponto em relação a março.

 

O crescimento da Record foi maior durante a manhã (45%) e à tarde (40%). À noite, a surpresa foi ‘Amor e Intrigas’, que vem dando 13 pontos concorrendo com o principal produto da Globo, a novela das oito.

 

O SBT fechou abril com seis pontos de média diária, queda de 13% em um ano. A Band teve 2,7 pontos (alta de 21%) e a Rede TV!, 1,9 (+ 5%).

 

BOX OFFICE Agora livre das gravações de ‘Desejo Proibido’, Daniel de Oliveira, que viveu Cazuza no cinema, se prepara para virar apresentador. A partir de 2 de junho, o ator estará à frente do ‘MovieBox’, novo programa sobre cinema do Telecine, com duas edições semanais de dez minutos cada uma, veiculadas às segundas e quintas, às 20h.

 

NOVA CARA Se fechar com a Record, a ex-moça do tempo Fabiana Scaranzi será apresentadora do ‘Domingo Espetacular’, no lugar de Tina Roma. A jornalista cansou da vida de repórter da Globo. Quer ser apresentadora.

 

PAISAGEM Deu 29 pontos na Globo e sete na Band a final do Campeonato Paulista. Audiência boa, mas nada excepcional.

 

LADEIRA Depois de perder para Marcos Mion o topo do ranking dos mais acessados do portal BlogLog (blogs de celebridades), Aguinaldo Silva foi ultrapassado por Carolina Dieckmann. Seu blog sobre ‘Duas Caras’ agora está em terceiro lugar.

 

QUASE HD A TVA começou a distribuir conteúdo em um padrão de qualidade intermediário entre a TV standard e a de alta definição. Chamado de ‘high quality’, o serviço é ideal para quem tem TV com definição de 1.320 por 720 linhas.

 

BOMBETA Exibida pelo site Overdrive, a versão banda larga da MTV, a série de ficção ‘Johnny Bombeta’ teve mais de 500 mil views em três meses e deve virar programa de TV.’

 

 

 

Sérgio Rizzo

 

Menos espetacular, ‘Exterminador’ chega à TV

 

‘Esqueça tudo o que ocorreu em ‘O Exterminador do Futuro 3 – A Rebelião das Máquinas’ (2003), principalmente o fato de que a mãe de John Connor -ele é o futuro líder da resistência humana contra os ‘cybervilões’ que tentaram acabar com a humanidade- já está morta.

 

Na série ‘Terminator – The Sarah Connor Chronicles’, que estréia hoje no Warner Channel, a ação regride até o final de ‘O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final’ (1991), quando a ameaça de controle do planeta pelas máquinas parecia enterrada com a morte de um cientista e a destruição de chips.

 

Parecia, apenas. Em ‘Chronicles’, Sarah (a britânica Lena Headey) e John (Thomas Dekker), agora um adolescente pacato, vivem anônimos em uma pequena cidade americana onde ninguém os conhece.

 

O instinto de sobrevivência, no entanto, a faz levantar acampamento com o filho. Tarde demais: um novo exterminador enviado pelas máquinas (Garret Dilahunt) já está em seu encalço. Adivinhe quem vai lhes salvar a pele? Um exterminador ‘do bem’ em forma de garota (Summer Glau), enviado do futuro pelos rebeldes.

 

Repete-se, portanto, o mesmo jogo de gato e rato que sustentou as três versões para cinema, mas sem o mesmo investimento em efeitos especiais e seqüências espetaculares, muito menos um astro com o peso de Arnold Schwarzenegger para funcionar como chamariz.

 

No final do episódio-piloto de ‘Chronicles’, há um salto no tempo, de 1999 para 2007, e a perspectiva de novidades em função de novos inimigos: a corporação Skynet, transformada em protagonista da tomada de poder pelas máquinas, e o FBI, que investiga as supostas maluquices de Sarah.

 

Quarto longa da série

 

Inaugurada como produção independente em 1984, com James Cameron (‘Titanic’) como diretor e Schwarzenegger ainda no papel de vilão, a bem-sucedida franquia ‘O Exterminador do Futuro’ poderá celebrar em 2009 seu 25º aniversário com mais um produto, o quarto longa da série, que leva o título provisório de ‘Terminator Salvation: The Future Begins’ (a salvação do exterminador: o futuro começa).

 

Com direção de McG, que firmou prestígio em vídeos musicais e levou a franquia de TV ‘As Panteras’ para o cinema, ‘Exterminador 4’ trará Christian Bale como John Connor, às voltas com o legado da Skynet: uma guerra nuclear em que a maior parte da população humana do planeta morreu.

 

Boa notícia: Josh Brolin (‘Onde os Fracos Não Têm Vez’) é cotado em Hollywood para o papel de exterminador.

 

Má notícia: dois dos três roteiristas, John D. Brancato e Michael Ferris, escreveram ‘O Exterminador do Futuro 3 – A Rebelião das Máquinas’, precária tentativa de ressuscitar a série sem o envolvimento de Cameron.

 

TERMINATOR – THE SARAH CONNOR CHRONICLES

 

Quando: estréia hoje, às 22h

 

Onde: Warner

 

Avaliação: regular’

 

 

 

Bruna Bittencourt

 

Snoop Dogg mostra sua vida em família

 

‘Enquanto Coolio mostra seus dotes culinários em ‘Cookin’ with Coolio’, programa on-line exibido no www.mydamn channel.com, e Flavor Flav, que ficou famoso na linha de frente do Public Enemy, procura uma namorada em ‘Flavor of Love – Os Sabores do Amor’, transmitido no Brasil pelo VH1, mais um rapper chega à frente das câmeras.

 

Um dos maiores nomes do gangsta rap, Snoop Dogg, também conhecido por dirigir filmes pornôs sob o pseudônimo de Snoop Scorsese, reservou à TV sua versão mais carola. ‘Snoop Dogg’s Father Hood’, que estréia amanhã no E!, acompanha o cotidiano de Snoop, sua esposa e prole.

 

No primeiro episódio, a empregada pede demissão -com direito a depoimento e justificativa- e as crianças conseguem deixar a casa ainda mais bagunçada, enquanto a esposa de Dogg se queixa da balbúrdia na pedicure. Achando que sua saúde não vai bem, o rapper magrelo procura a ioga e a acupuntura por sugestão de sua médica, já que se recusa a tirar sangue por medo da agulha.

 

Apesar do talento dramático de Snoop, que já fez participações em seriados como ‘Monk’ e ‘Entourage’, o rapper deixa a desejar se comparado a Ozzy e seu ‘The Osbournes’. Em ‘Snoop Dogg’s Father Hood’, o roteiro e as falas marcadas ficam mais evidentes do que deveriam.

 

SNOOP DOGG’S FATHER HOOD

 

Quando: estréia amanhã, às 22h30

 

Onde: no E!’

 

 

 

ARTE


Silas Martí

Grupo enfrenta pane e público escasso

 

‘Sob o sol de 34C, uma fila se forma em frente à rádio Grande Rio de Petrolina (PE). É assim toda manhã de sábado, quando moradores cercados por bodes do lado de fora esperam a hora de entrar no estúdio, decorado com um retrato de Roberto Carlos, para tocar o instrumento que conhecem. Mas desta vez o roteiro foi diferente.

 

O locutor interrompe a gincana, que sorteia discos de forró a quem acertar o canto de um pássaro, e anuncia a chegada de uma expedição de artistas de São Paulo, destacando a primeira mulher a passar pela cidade de olhos vendados -voluntariamente, frisou. Ela é a atriz Luísa Nóbrega, 23, que, junto com os artistas plásticos Julio Meiron, 26, Deyson Gilbert, 23, Márcia Vaitsman, 35, e o biólogo Nabor Kisser, 34, deixou a capital paulista para percorrer em duas semanas o leito do rio São Francisco, de Januária (MG), perto da nascente, até a foz no litoral alagoano. A Folha acompanhou a última parte do trajeto, de Petrolina, onde se juntou ao grupo, até o mar.

 

São todos artistas jovens, com inserção mínima no mercado e poucas exposições no currículo, que fizeram a viagem com verbas da Petrobras.

 

Durante a excursão, Meiron e Gilbert embrulhavam o que viam pela frente com uma espuma sintética amarelo brilhante. Vaitsman gravou vídeos e fez flutuar sobre o rio três balões brancos de látex, que simulavam luas cheias. Nóbrega, a mulher vendada, fez do percurso uma performance: deficiente auditiva, decidiu tapar também os olhos para construir memórias com sentidos minimizados. Kisser fotografou e escreveu um diário.

 

A idéia era levar arte contemporânea a um cenário inóspito e fazer contato com um público alheio ao circuito dos museus paulistanos, a exemplo do tipo de expedição que, assim como residências e intercâmbios artísticos, prolifera nas artes plásticas (leia ao lado).

 

Eles teriam ficado mais tempo na água não fossem as barragens que impedem a navegação e uma pane que quase abortou o projeto. Perto de Carinhanha (BA), a hélice do barco quebrou -incidente atribuído ao temido caboclo d’água, entidade lendária que atormenta pescadores-, e o grupo navegou um dia à deriva até ser resgatado por um velho negro que criava porcos à beira do rio.

 

Meiron e Gilbert então revestiram o chiqueiro do amigo ribeirinho com a espuma que usam para acolchoar pedaços da paisagem do rio e do sertão.

 

‘É trazer a noção de macio, de conforto, ao inóspito, lidar com a aspereza’, diz Meiron, que embrulhou com espuma até o motor do barco.

 

Decepção

 

De Bom Jesus da Lapa (BA), onde o barco quebrado por fim atracou, viajaram dez horas de carro por estradas esburacadas até Petrolina. Numa noite de lua cheia e céu pesado de estrelas, dois homens carregaram o cilindro de ferro com gás mais leve que o ar para fazer subir ao céu as esferas de Vaitsman.

 

Com o vento, uma delas caiu e estourou no choque com os pedregulhos da orla. Apesar da entrevista na rádio e de os artistas terem estampado a capa da ‘Gazeta do São Francisco’, ninguém apareceu para ver. Só crianças que brincavam perto dali vieram ver curiosas o que estava acontecendo.

 

‘Arte não é teoria, é essa experiência’, disse Vaitsman horas depois de desmontar as luas. Ninguém estranhou um bote de pesca enrolado em espuma, de Meiron e Gilbert, nem os balões de látex.

 

Agora o grupo quer montar uma exposição com os resultados da viagem. ‘Nosso público não é daqui, é de São Paulo’, admite Meiron, sem esconder a decepção com a mostra na orla.

 

‘Estaria vazio mesmo que a gente estivesse esquartejando um cavalo’, arrematou Kisser. Com ou sem cavalo, fica claro que esse tipo de trabalho, à revelia da proposta, só funciona no circuito contestado pelos artistas. Seja qual for a força das obras, interessa que elas sejam vistas em São Paulo, onde ganham o verniz exótico do atrito entre natural e industrial.

 

Depois de atravessar a paisagem esturricada, de casas de pau-a-pique que parecem brinquedo perto das barragens faraônicas, o grupo chega à eclusa de Sobradinho (BA). Lá em cima, Nóbrega e Gilbert estendem um pano negro entre si, amarrando cada ponta na cabeça. Eles se jogam para trás e se equilibram por uns instantes, entre o rio represado e uma queda livre de 70 m.

 

A performance se repetiu nas dunas da foz e outros pontos. O drama, que pode parecer até frívolo no sertão, aparece nas fotografias inchado pela vista agreste e sedutora ao redor. Difícil, no entanto, sustentar que tudo isso não desmorona longe do São Francisco.

 

Imensidão seca

 

Segue monótona a paisagem da caatinga. Paulo Afonso (BA), Canindé do São Francisco (SE) e Piranhas (AL) formam uma imensidão seca de cactos e bodes que culmina em explosões verdes às margens do rio. Um aqueduto inacabado, parte da polêmica transposição das águas, esconde a cruz de um operário que morreu na construção. A quebrar o traço do horizonte, só colunas densas de nuvens que fundem céu e terra: tempestades sertanejas.

 

Em Penedo (AL), à beira do rio, o grupo alugou o último barco que usou no trajeto. Nas margens, pescadores enrolam suas redes e mulheres lavam roupas. Entre dois braços de areia fina, o São Francisco deságua no mar azul. A mulher vendada descobre os olhos e se joga do barco para enxergar ali uma certeza só dela.

 

O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da Petrobras.’

 

 

 

***

 

Busca pelo ‘distante’ resulta irregular

 

‘Virou moda viajar a lugares distantes, beber a água dos nativos, participar dos rituais, documentar tudo e expor a aventura legitimada pelo exotismo no cubo branco.

 

A última Bienal de São Paulo mandou artistas para Acre e Pernambuco. Na mesma mostra, Jarbas Lopes mostrou o resultado de uma expedição pela Amazônia. A Bienal do Mercosul fez o mesmo na Tríplice Fronteira, e a Faap trouxe a São Paulo italianas que plantaram flores na praça da Sé.

 

Nas artes plásticas, com instituições que, com dinheiro, influenciam cada vez mais o discurso dos artistas, há uma verdadeira explosão de residências e expedições artísticas.

 

Todas buscam amparar obras de arte -algumas boas, outras ruins- no discurso politicamente correto da arte em contato com um povo simples, numa mistura de ingenuidade e oportunismo.

 

Certo que pode haver um resultado plástico interessante e a tentativa de redimensionar fronteiras para a arte contemporânea. E o mercado em expansão permite isso.

 

Mas muitos trabalhos fracos são montados no meio do nada para ninguém ver, restando depois só um vago registro.’

 

 

 

 

 

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O Estado de S. Paulo

 

Terça-feira, 6 de maio de 2008

 

CUBA

O Estado de S. Paulo

Governo não permite viagem de blogueira

 

‘O jornal espanhol ?El País? informou ontem que o governo cubano ainda não autorizou a saída da blogueira Yoani Sánchez, que iria a Madri receber o Prêmio Ortega y Gasset de Jornalismo. Ela venceu na categoria jornalismo digital pelo seu blog ?Generación Y?, sobre o cotidiano na ilha. O prazo para conceder a permissão de viagem termina hoje.’

 

 

 

FUSÃO

O Estado de S. Paulo

Ação do Yahoo despenca 15%

 

‘As ações da companhia de internet Yahoo despencaram 15% ontem na bolsa eletrônica Nasdaq, no primeiro pregão após a Microsoft ter anunciado oficialmente que desistia da oferta de compra da empresa. Os papéis caíram de US$ 28,67 para US$ 24,37. Antes da oferta da Microsoft, de US$ 31 por ação – o equivalente a mais de US$ 40 bilhões -, feita no início de fevereiro, as ações do Yahoo estavam na casa dos US$ 19.

 

Além da queda no valor de mercado, o Yahoo pode ainda enfrentar uma série de processos na Justiça de acionistas descontentes com o rumo das negociações. No final do processo, a Microsoft sinalizou que poderia até elevar a proposta para US$ 33 por ação, mas o Yahoo disse que só venderia a US$ 37. ‘Eu creio que é muito difícil para o conselho do Yahoo rejeitar uma oferta de US$ 33 quando eles não mostraram nenhuma capacidade em recuperar o preço da ação’, disse Stuart Grant, diretor da Grant & Eisenhofer, escritório da advocacia especializado em processos de acionistas. ‘Haverá processos por falha em deveres fiduciários.’

 

O Yahoo já enfrenta, desde fevereiro, pelo menos sete processos contra sua atuação durante a oferta de compra da Microsoft. Mark Lebovitch, sócio da Bernstein, Litowitz, Berger & Grossmann, representa dois fundos de aposentadoria de funcionários públicos de Detroit em um processo contra o Yahoo e seu conselho de administração. O processo diz que o Yahoo explorou alianças com companhias como Google e AOL somente para afastar um acerto com a Microsoft.

 

CAMINHOS

 

Para analistas do setor, depois de desistir da compra do Yahoo, a Microsoft deve se concentrar agora na aquisição de outras companhias, em acordos possivelmente muito menores, mas capazes de ajudar a revitalizar seus negócios de internet. ‘O Yahoo não é uma estratégia, é parte de uma estratégia’, disse na sexta-feira o presidente da Microsoft, Steve Ballmer, em reunião com seus funcionários.

 

O grupo pôs bilhões de dólares em sua divisão de internet, mas todo esse esforço não conseguiu trazer a reboque outros acordos, como o do Yahoo, nem fazer com que se aproximasse do líder do setor, o Google. A divisão de atividades na internet da Microsoft perdeu US$ 745 milhões nos três primeiros trimestres de seu atual ano fiscal. Enquanto isso, o Google ganhou US$ 1,3 bilhão só nos três primeiros meses de 2008.’

 

 

 

MILLÔR

Ubiratan Brasil

Identidade nada secreta

 

‘Algumas são coloridas, outras em preto-e-branco, há também em 3-D; não faltam também as inspiradas em Miró e até mesmo em linguagens de sinais para surdo-mudo – ao longo de sua carreira, Millôr Fernandes transformou em hábito algo que segue na contramão das artes visuais: jamais repetir a mesma forma de assinar seus trabalhos. ‘Nos seus auto-retratos em forma de nome, Millôr não se espelha nem se disfarça nem se amputa. Ele se propaga e se reitera. Seus nomes não têm rosto definido. Eles escancaram um nome e reinventam um homem’, escreve Mario Sergio Conti no prefácio de Um Nome a Zelar, livro que sai pela Desiderata, em seu primeiro lançamento como um selo da Editora Agir (112 páginas, R$ 50), e que reúne diversas assinaturas criadas por Millôr, exibindo não apenas seu ecletismo como também um estilo único nas artes gráficas.

 

No caso de Millôr, a importância e a preocupação com o nome trazem particularidades. Afinal, foi aos 16 anos que o rapaz que até então acreditava se chamar Milton observou sua certidão de nascimento e descobriu que um escrivão de má caligrafia havia transformado o ‘T’ em um ‘L’ e que o o traço do corte do ‘T’ mais parecia um acento circunflexo. Ou seja, ‘ele abandonou o nome comum, um prosaico Milton, e se tornou Millôr, primeiro e único’, ainda segundo Conti, que não acredita que sua obra não seria única se tivesse mantido o nome original. ‘Um Milton encontra, no máximo, um paraíso perdido’, sustenta. ‘Já Millôr fez uma obra paradisíaca num país perdido, inventou sua felicidade numa Ipanema cuja identidade ele ajudou a definir, na longínqua metade do século passado.’

 

Ao longo de mais de 60 anos de carreira, Millôr não apenas se tornou um dos mais finos pensadores brasileiros com sua prosa, como também demarcou um espaço próprio na história das artes gráficas. Foram talentos desenvolvidos em paralelo – já em 1956 dividiu a primeira colocação na Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires com o desenhista norte-americano Saul Steinberg, e em 1957 ganhou uma exposição individual de suas obras no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

 

Steinberg, aliás, consagrado por suas ilustrações para a The New Yorker, é apontado por Millôr como sua principal influência. ‘O maior artista do século 20’, afirma ele na conversa que manteve, por e-mail, com o Estado (veja ao lado). Inicialmente encantado por pintores renascentistas, depois passando por Degas, Van Gogh e Paul Klee, e até chegar aos humoristas modernos, Millôr desenvolveu uma técnica que busca essencialmente a comunicação visual.

 

Foi assim desde o início, quando, aos 16 anos, utilizava a informação cotidiana como munição para seção Post-Scriptum-Poste Escrito, que mantinha na revista carioca A Cigarra e, em seguida, em O Cruzeiro, na qual utilizou pseudônimos (Emmanuel Vão Gôgo é o mais conhecido deles). Passando por Pif-Paf, O Pasquim e até chegar às atuais revistas semanais, Millôr aprimorou um estilo, reescrevendo, redesenhando e remontando seu nome milhares de vezes, como comprova Um Nome a Zelar. ‘Todos são Millôr: no traço propositalmente imperfeito ou ingênuo, na delicada mescla de cores, na justaposição de elementos, nas alusões líricas e, sobretudo, na graça’, conclui Conti.’

 

 

 

TELEVISÃO

Shaonny Takaiama

R$ 50 mi vendidos

 

‘A quinta temporada de O Aprendiz estréia hoje e a Record já prepara uma nova versão do programa, desta vez com celebridades, mas sem abrir mão de Roberto Justus no comando.

 

‘Estamos trabalhando a idéia de fazer, por volta de maio do ano que vem, o The Celebrity Apprentice, selecionando celebridades das mais variadas categorias’, revela Walter Zagari, vice-presidente comercial da emissora.

 

Enquanto o novo projeto não vem, O Aprendiz 5 vai bem, obrigado. Todas as cotas de patrocínio e merchandisings foram fechadas, no valor total de R$ 50 milhões. Este ano, os patrocinadores são Fiat, HSBC, Sky e Campari. ‘Estamos planejando faturar R$ 118 milhões, valor que representa 20% acima do (faturamento do) Aprendiz 4’, diz Zagari.

 

A aposta do crescimento se reflete na audiência. Como este ano houve 43 mil inscritos, 15 mil a mais do que no ano passado, a Record espera que os índices do ibope também subam. ‘Pelo número de inscrições ter batido o recorde, a nossa expectativa é que a audiência seja no mínimo 20% superior à do último O Aprendiz’, torce Zagari. A edição de 2007 rendeu 11 pontos de média.’

 

 

 

ALMANAQUE

Francisco Quinteiro Pires

Uma década povoada de descobertas

 

‘Os anos 1990 foram uma válvula de escape no Brasil. Após mais de 20 anos de repressão política, os brasileiros sentiram o gosto da democracia e se entregaram ao humor: era um período de descobertas e transformações. Um novo leque de possibilidades se abria. O politicamente incorreto imperaria: era um modo desejado e interessante de encarar as coisas. A cultura jovem, dividida em tribos, veio para o primeiro plano – a adolescência parecia ter-se esticado. No mundo, as utopias caíram por terra, o fim da história foi declarado com a queda do Muro de Berlim e a popularização da tecnologia – computador pessoal, celular, internet – deu um salto inédito. Um ídolo norte-americano do rock mostrava: a essência vale tanto quanto a aparência; o que você diz é o que você faz. Esse é o retrato que o jornalista Silvio Essinger compõe em Almanaque Anos 90 – Lembranças e Curiosidades de Uma Época Plugada (Agir, 304 págs., R$ 49,90).

 

‘As tecnologias foram decisivas para tudo o que se viveu pela primeira vez nos anos 90’, ele lembra. A quantidade de informações a que as pessoas poderiam ter acesso nunca foi tão grande, para o bem e para o mal. Segundo Essinger, a década atual só confirma a passada. Hoje, percebe-se a consolidação de uma nova forma de expressão e relacionamento na internet, que também pôs a indústria fonográfica em uma sinuca de bico, com a facilidade de difusão de músicas. E fez a revolução do CD ser algo do tempo das cavernas, assim como são o VHS, a fita cassete, o fax e o mimeógrafo. Ele lembra que o programa televisivo Big Brother só foi possível por conta das mudanças tecnológicas, cada vez mais aceleradas. O que aconteceu na área da tecnologia entre janeiro de 1990 e dezembro de 1999 parece não caber no espaço de uma memória de dez anos.

 

O humor se liberou. As pessoas aprenderam a rir de si mesmas. As sátiras perderam seus freios: South Park, Casseta & Planeta, Mamonas Assassinas, entre outros, podiam exercer uma certa crueldade cômica sem condenações. O trash e o brega viraram cult. ‘A baixa cultura seria consumida sem culpa.’ Segundo Silvio Essinger, isso se perdeu na década seguinte. ‘Houve um retrocesso: depois do 11 de Setembro o politicamente incorreto deixou de ser cultivado.’ As pessoas se retraíram nos anos 2000 – ‘ninguém pode brincar com ninguém’.

 

Kurt Cobain apareceu com o Nirvana para dizer: ser diferente é normal. Enquanto a United Colors of Benetton exaltava na moda e na publicidade a diversidade – sexual, cultural e social -, Cobain fazia da rebeldia impulso para a alta vendagem de discos. Ele desbancou o grande símbolo do mainstream – Michael Jackson -, diz Essinger, ao mesmo tempo que não sabia fazer o jogo da indústria; no fim ele se tornou um mártir ao se matar. ‘O seu grande fracasso é a sua grande vitória’, afirma.

 

O vocalista do Nirvana pôs em xeque aquilo que chamavam de sucesso. ‘Quem era o loser, o verdadeiro perdedor, quem faz tudo certo para subir na vida ou quem age de acordo com a consciência? Ele mostrou que não.’ Cada um devia buscar a afirmação da sua identidade. No Brasil, o discurso a favor de uma aparência que traduzisse de modo visceral a essência se fazia presente nos ecos do exemplo de Cazuza, apesar de ele ter morrido – vítima do vírus HIV – no começo da década, em julho de 1990.

 

Na área comportamental, Essinger diz que houve um avanço em relação ao entendimento sobre a aids: o tabu de que ela era doença de homossexuais foi decisivamente questionado. ‘Qualquer um pode pegar aids desde que não se cuide’, ressalta Essinger. No Brasil e no mundo, haveria a necessidade de encarar com mais compreensão a doença, depois da morte de famosos e pessoas públicas. Numa peça publicitária sobre o uso da camisinha, em 1995, o dito cujo seria batizado de Bráulio. Com as drogas, a abordagem também se modificou. ‘A aparição da banda Planet Hemp mostra essa mudança.’ Sexo, violência e drogas seriam temas no cinema e na televisão, a provar o bem-sucedido Pulp Fiction, de Quentin Tarantino. Era chegada a hora de libertar-se dos preconceitos.

 

Almanaque Anos 90 aparece na esteira do sucesso dos almanaques dedicados aos anos 70 e 80. ‘O formato funciona porque as pessoas se reconhecem no que vêem’, diz. Essinger garante que os leitores não querem analisar o que passou, mas encontrar pedaços de memórias guardados nas suas gavetas internas.’

 

 

 

 

 

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