Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Boletim Fenaj


‘Os dados do Censo do Ensino Superior divulgados pelo Inep no dia 11 de agosto apontam um crescimento de 70% no número de cursos de jornalismo no país em quatro anos. No entanto, tais dados carecem de uma leitura mais crítica, pois incluem diversas habilitações.


De acordo com dados do Censo do Ensino Superior, divulgados no Boletim nº 101 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – Inep, o número de cursos de Jornalismo passou de 260, em 2000, para 443, em 2003, sendo 74 públicos e 369 privados. O levantamento, no entanto, inclui como ‘Jornalismo’ todos os cursos de graduação em Cinema e Vídeo, Jornalismo, Noticiário e Reportagem, Radialismo, Rádio e Telejornalismo, Comunicação Social, Produção Editorial e Publicação.


Na verdade, o curso que alavancou todo o crescimento detectado pelo INEP foi o de Comunicação Social, que passou de 220 em 2000 para 423 em 2003, um incremento de 92,3%. Os dados precisam, no entanto, ser tomados com precaução, pois pode ter havido confusão na hora de classificar os cursos. É possível que nas listas de Comunicação Social tenham sido contabilizadas outras habilitações que não as de Jornalismo. Essa dúvida vem do fato de que atualmente, segundo dados do próprio site do Inep, existem 312 cursos de Jornalismo ou Comunicação Social com habilitação em Jornalismo no país.


Outro cuidado deve ser tomado ao considerar os cursos de Cinema e Vídeo, Noticiário e Reportagem, Radialismo, Rádio e Telejornalismo, Produção Editorial e Publicação. Embora não representam nem 5% dos cursos pesquisados pelo INEP, nenhum deles permite ao egresso fazer o Registro Profissional de Jornalista no Ministério do Trabalho.


Estes números reforçam a solicitação que a FENAJ encaminhou ao MEC, em outubro de 2004, de uma moratória na abertura dos cursos de jornalismo e da inclusão da entidade nas comissões de avaliação das condições de oferta de tais cursos.’



CASO JEAN MENEZES


Rafael Gomes


‘Parentes querem prisão’, copyright O Globo, 18/08/05


‘A imagem de Jean Charles de Menezes logo após ele ser morto por policiais ingleses dentro de um vagão do metrô de Londres revoltou ainda mais a família do brasileiro, que ontem pediu a prisão perpétua para os agentes envolvidos no assassinato.


A imagem foi divulgada pela imprensa britânica e mostrada com destaque por meios de comunicação do mundo inteiro. A família considera que a foto só reforça a versão que Jean Charles foi vítima de um erro da polícia inglesa, após ser confundido com um terrorista.


Na imagem, o corpo de Jean Charles aparece meio de lado vestindo calça jeans e jaqueta de brim. Segundo Alex Alves Pereira, primo de Jean que estava em Londres no dia do assassinato, a família reagiu mal às novas informações.


– Nós já sabíamos disso, pelo tipo de roupa que Jean costumava usar. A confirmação da mentira revoltou ainda mais os pais, familiares e amigos próximos – afirma ele.


Maria Beatriz de Figueiredo, tia de Jean Charles, reforça:


– Nunca acreditamos naquela versão, a gente sabia que eles estavam mentindo – disse.


Alex, que está em Gonzaga, cidade natal de Jean Charles desde seu sepultamento no dia 29, também contesta a informação das autoridades britânicas de que as câmeras de vigilância da estação Stockwell, onde o mineiro foi morto, não estariam funcionando.


– Não tem como as câmeras de uma das maiores e mais movimentadas estações da cidade estarem desligadas logo após os ataques. Eles tentam ganhar tempo, mas não têm como fugir. As fitas existem. Será que eles desligariam as câmeras e deixariam os terroristas andarem livremente? – contesta Alex.


Tios e primos de Jean Charles, de Gonzaga, tentaram evitar que os pais do brasileiro, Matosinhos da Silva e Maria de Menezes, vissem as fotos ou soubessem da notícia, mas não foi possível.


– Falei para eles não ligarem rádio e ou a TV, mas eles não resistiram e assistiram os noticiários da noite. Choraram muito. Ainda não aceitaram. – conta Alex.


O irmão de Alex Pereira, Alessandro, está em Londres, onde acompanha as investigações junto com advogados da família. Ainda não há previsão de quando os advogados vão entrar com o pedido de indenização contra o governo inglês.’



O Globo


‘Pressão cerrada sobre Blair e a Scotland Yard’, copyright O Globo, 18/08/05


‘No dia seguinte à revelação do canal ITV de que eram falsas as informações das autoridades britânicas de que o brasileiro Jean Charles de Menezes usava casaco suspeito, correu da polícia e pulou uma roleta do metrô antes de ser assassinado por agentes policiais à paisana, a Scotland Yard e o governo do Reino Unido se viram sob uma barragem de críticas e cobranças ontem. Imprensa, advogados da família e ativistas de direitos humanos voltaram à carga para pedir o esclarecimento do caso e até a instauração de um inquérito público.


O escritório de advocacia que representa os parentes de Jean Charles pediu a demissão do comissário da polícia londrina, Ian Blair, que sustentara a versão desmentida pela ITV, que teve acesso a um relatório policial ainda em elaboração sobre a execução de Jean Charles no dia 22 de julho na estação de Stockwell.


O jovem eletricista mineiro foi atingido por oito tiros – sete deles na cabeça – dentro do metrô, no dia seguinte aos atentados fracassados de 21 de julho em Londres. Imagens de seu corpo exibidas anteontem contradiziam a versão da polícia de que ele usava um casaco pesado no qual poderia esconder explosivos e que levava uma mochila: não havia qualquer mochila e Jean Charles estava como uma jaqueta de brim. Além disso, ele não pulou a roleta em fuga: passou tranqüilamente e até parou para pegar um jornal gratuito distribuído no metrô, só correndo quando viu o trem na plataforma.


– Mostrou-se que a versão da polícia não somente era incorreta, mas que o público foi deliberadamente enganado. É evidente que nos contaram mentiras e meias-verdades sobre como Jean morreu – criticou Asad Rehman, porta-voz da campanha Justiça para Jean em Londres.


Rehman classificou a morte de Jean Charles de ‘execução ilegal’ e pediu a suspensão da política de atirar para matar adotada pela polícia britânica após os atentados de 7 de julho, quando 52 pessoas foram mortas por terroristas no metrô e num ônibus em Londres. Ele também pôs na linha de tiro o comissário da polícia londrina, que inicialmente afirmara que o brasileiro não obedecera a ordem de parar dada pela polícia. O jovem na realidade foi agarrado quando já entrara no vagão e estava sentado num banco, levantando-se ao ouvir um agente gritar ‘polícia’. Já imobilizado, ele foi morto. Um ex-comandante do Esquadrão Voador, uma unidade especial da Scotland Yard, disse que a posição do comissário Blair se complicou.


– Se os procedimentos normais tivessem sido seguidos, com um aviso sendo dado e oficiais usando roupas especialmente marcadas, esse jovem poderia não ter sido morto – comentou John O’Connor.


A advogada Harriet Wistrich, que representa a família do eletricista, disse que o importante agora é obter respostas para esclarecer por que informações errôneas sobre a morte do brasileiro foram divulgadas pelas autoridades.


– Sabemos claramente agora que Jean Charles não estava fazendo absolutamente nada para levantar qualquer suspeita, ele só teve a infelicidade de estar morando num prédio sob vigilância e de ser levemente moreno – argumentou a advogada.


Segundo o relatório da Comissão Independente de Reclamações da Polícia vazado para a ITV, uma das coisas que deram errado no fatídico dia foi que o oficial encarregado de identificar os suspeitos no prédio em Tulse Hill onde Jean Charles estava fora ao banheiro justo quando o brasileiro deixou o local. A Scotland Yard e o Ministério do Interior se recusam a comentar o relatório até que ele seja concluído.


E não foi só a polícia que ficou no centro do furacão com as revelações de anteontem: uma das testemunhas, que contara uma versão parecida com a das autoridades, também foi desmentida. Procurado ontem pela imprensa, Mark Whitby, de 47 anos, preferiu não se pronunciar.


A imprensa britânica adicionou novas interrogações. O ‘Guardian’ assinalou a ‘enorme discrepância entre os relatos iniciais e a realidade’ e chama a atenção para as falhas na comunicação entre os agentes de inteligência envolvidos. Já o ‘Daily Mail’ pergunta em sua manchete: ‘Como erraram tanto?’.


Ontem, o ‘Financial Times’ disse que a polícia confundiu Jean Charles com o etíope Hamdi Issac, identificado no Reino Unido como Hussain Osman, suspeito dos atentados do dia 21 cuja extradição já foi concedida pela Itália.’



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‘Sob suspeita’, copyright O Globo, 18/08/05


‘PERDEM FORÇA a justificativa do estresse, que teria levado agentes à paisana a confundirem o brasileiro com um terrorista; e a desculpa de que ele, com sua reação suspeita, foi parcialmente responsável pelo trágico equívoco.


À BRUTALIDADE dos policiais soma-se, ao que tudo indica, a manipulação dos fatos pela Scotland Yard – prática corrente nas corporações mais corruptas do mundo.


AS AUTORIDADES britânicas continuam devendo não só ao Brasil mas à opinião pública internacional uma investigação profunda e isenta do assassinato de um homem pacífico e inocente.’



O Estado de S. Paulo


‘TV revela novos detalhes sobre morte de Jean ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 18/08/05


‘A ITN revelou ontem novos detalhes sobre a operação policial que resultou na morte de Jean contidos nos documentos do inquérito independente. Um deles é crucial, pois pode explicar como a polícia teria concluído que o brasileiro era um dos suspeitos dos ataques.


O policial que vigiava o prédio onde Jean residia, na Scotia Road, era na verdade um militar do Exército a serviço da Scotland Yard. No momento que o brasileiro saiu do prédio, às 9h30 da manhã, esse agente estava urinando e não conseguiu gravar sua imagem. O policial usava uma câmera de vídeo portátil tinha uma bateria de vida curta e que não podia ficar ligada permanentemente. O agente avisou seus superiores de que não tinha certeza se o homem que havia saído do prédio era Hussein Osman, um dos autores do atentado do dia anterior e cuja foto já estava em poder da polícia. E sugeriu que nova checagem fosse realizada.


Os documentos obtidos pela ITN mostram também que três agentes à paisana entraram no mesmo vagão do trem onde Jean havia sentado. Com a chegada da equipe de policiais armados, um deles se aproximou para identificá-lo aos colegas armados e o imobilizou. Em seguida o brasileiro foi alvejado. Ou seja, os documentos indicam que os policiais que mataram o brasileiro conheceram seu alvo poucos segundos antes de disparar contra ele.


As revelações sobre a morte ocuparam as primeiras páginas dos principais jornais britânicos e foram destaque nos telejornais, que questionaram se a política de ‘atirar para matar’ da Scotland Yard poderá ser alterada. Por enquanto, as pesquisas de opinião mostram que a maioria dos britânicos apóia essa estratégia. Mas analistas acreditam que os erros do caso de Jean forçarão mudanças. ‘Essa foi uma grande falha’, disse o Daily Mail, em editorial. ‘Isso não augura bem para a guerra ao terror. E um homem inocente pagou com a sua vida.’’



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‘Erro mancha história de uma polícia lendária ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 18/08/05


‘A reputação da Scotland Yard foi muito abalada com a morte de Jean Charles de Menezes. Considerada uma das polícias mais eficientes e éticas do mundo, ela cometeu um dos maiores erros de sua lendária história ao confundir o brasileiro com um terrorista.


Mais grave ainda para a reputação da polícia britânica são os indícios de que ela tentou abafar o caso. A avaliação é do ex-oficial dos serviços de inteligência antiterrorismo da Scotland Yard e atualmente analista de segurança Charles Shoebridge. Ele foi um dos primeiros a levantar suspeitas de que a polícia tinha matado um inocente na estação de metrô de Stockwell no dia 22 de julho.


‘Segundo as informações que temos até o momento, os erros cometidos na operação que resultou na morte de Menezes são muito constrangedores para a polícia’, disse Shoebridge ao Estado.


‘Mas o mais sério dano para a imagem da Scotland Yard vem da percepção da opinião pública britânica e internacional de que ela teria tentado abafar o caso. Isso terá um impacto negativo de longo prazo sobre ela.’


Segundo o ex-policial, uma operação para tentar esconder o erro da Scotland Yard não seria uma novidade na história da corporação. ‘Isso já ocorreu no passado’, disse. ‘É até bem possível que se uma câmera de vídeo da estação de metrô não tivesse gravado Menezes caminhando tranqüilamente para o trem a verdade sobre o caso nunca viria à tona’, acrescentou.


Segundo Shoebridge, o erro crucial na morte de Jean ocorreu no processo que o levou a ser confundido com um terrorista. ‘Na Grã-Bretanha, a polícia não pode atirar numa pessoa porque talvez ela seja um terrorista suicida, mas apenas se ele for realmente um homem-bomba’, disse.


‘Pelo que sabemos das informações que vazaram do inquérito, os policiais armados que receberam a ordem de alvejá-lo tinham a convicçáo de que ele era um terrorista que poderia estar prestes a detonar uma bomba. Tudo indica que o erro fatal ocorreu, na identificação do suspeito.’ Shoebridge afirma que a Yard estava bem preparada para a onda de ataques terroristas que ocorreu contra a capital em julho.


‘Ela deu uma resposta muito eficiente aos ataques’, disse. Ele considera a política de atirar para matar necessária no combate ao terrorismo. ‘Mas essas revelações no caso Menezes mostram uma série de erros na aplicação dessa estratégia’, disse. ‘A Scotland Yard, diante do que aconteceu, não terá outra escolha a não ser revisar os procedimentos dessa política.’’