Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Bruno Yutaka Saito e Thiago Stivaletti

‘Eles bem que tentaram. O sonho dos moços da foto ao lado era ter o rosto do cobiçadíssimo Brad Pitt. Conseguiram? A julgar pelo resultado, pode-se dizer que a cirurgia plástica ainda não é tão eficiente quanto a imaginação de seus adeptos. A dupla pode não despertar os sonhos de fãs, mas alimenta o circo de aberrações do mundo dos ‘reality shows’.

Com a estréia de ‘I Want a Famous Face’ (MTV), dos ‘irmãos Brad Pitt’, sobe para três o número de atrações no ar que mostram cenas explícitas de intervenções cirúrgicas, na maior naturalidade. Completam o quadro ‘Extreme Makeover’ (Sony) e a novela ‘Metamorphoses’ (Record).

‘São pessoas que vivem num mundo de fantasias. Às vezes, aparecem clientes assim no meu consultório, pedindo para ficar parecidos com famosos’, diz o cirurgião plástico Sérgio Aluani, 43.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o Brasil só perde para os EUA em números de operações -50% são estéticas, e 50%, reparadoras.

Profissionais da área dizem que os americanos ultrapassam mais os limites na hora de usar a moda das plásticas nos programas de entretenimento. ‘Se alguma emissora tentasse lançar um ‘reality’ como ‘Famous’ por aqui, teria uma grande dor de cabeça com a comunidade médica e a sociedade’, diz Álvaro Mesquita, diretor da clínica Perfect, que trabalha com plásticas há 15 anos. Opinião semelhante tem o também cirurgião Ewaldo Bolivar, um dos idealizadores de ‘Metamorphoses’.

O diferencial de ‘Famous’ é o fato de levar às últimas conseqüências a lógica dos ‘reality shows’: nele, não há pudores. Produzido pela MTV americana, o programa funciona como um documentário sobre pessoas que já tinham operações marcadas.

Cris Lobo, diretora de produção da MTV Brasil, diz que ‘Famous’ foi a fórmula que a matriz americana encontrou para adaptar um formato de programa muito em voga ao seu público cativo. Mas diz que não produziria uma versão nacional. ‘A MTV Brasil não é tão radical assim e prefere apostar em fórmulas mais seguras e que privilegiam o bom humor.’

Fórmula nem tão segura, mas que tem chamado a atenção pelos bastidores, é ‘Metamorphoses’. Agora um ‘reality show’ assumido sobre plásticas, a produção fez o concurso ‘Garota Metamorphoses’. A contemplada, Tânia de Oliveira, 25, recebeu como prêmios uma participação no programa e uma cirurgia plástica. ‘Penso em ter seios parecidos com os de Scheila Carvalho.’

Aqui, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a influência de personalidades públicas é o terceiro motivo que leva alguém a uma clínica. Isso explica o surgimento de ‘frankensteins’ locais, como confirmam os profissionais entrevistados pela Folha. ‘São comuns clientes que desejam certas partes da anatomia de celebridades em seus próprios corpos’, diz Farid Hakme, 63.

Entram na lista de ‘pedidos’ os seios de Gisele Bündchen, Syang e o ‘clássico turbinado’ de Pamela Anderson; o bumbum de Scheila Carvalho e o nariz de Xuxa. O ranking segue, portanto, quem está na moda. ‘Há uns três anos, todas as mulheres que vinham aqui queriam ter os seios da Danielle Winits. Hoje ela está meio caidinha, então todas pedem os seios da Deborah Secco.’ Na esteira de ‘Celebridade’, o bumbum de Juliana Paes tem lugar de honra.

Um dado que espanta os cirurgiões é o aumento de homens nos consultórios. Há dez anos, eles representavam cerca de 5% do total de clientes. Hoje, já são cerca de 30%. A faixa etária diminui cada vez mais, e eles também têm seus referenciais: o queixo e o nariz de Luciano Szafir e Reynaldo Gianecchini, o rosto de Marcello Antony e os hollywoodianos de sempre, Tom Cruise e Brad Pitt.

‘As pessoas que me procuram nunca admitem que querem ficar parecidas com alguma celebridade, costumam trazer uma revista, que tenha a foto de algum famoso, e dizem que desejam um nariz daquele tipo’, diz o cirurgião Ovídio Costa Ramos, 58.

Quem não tem vergonha não se acanha. O dr. Bolivar relata o caso de uma cliente que chegou com um desejo nada modesto: ficar igual a Vera Fischer. ‘Era uma moça baixinha, com rosto redondo e nariz de passarinho. Fiz uma simulação no computador. Conclusão: era mais fácil ela nascer de novo.’ Bolivar afirma que, quando acontecem situações assim, ele conta a verdade ao paciente. ‘Desempenho o papel de psicólogo’, diz. Não são poucas pessoas que se revoltam com o diagnóstico. ‘Imagino que esses indivíduos vão, em seguida, procurar médicos picaretas, que prometem milagres, já que, às vezes, recebo pessoas que sofreram as conseqüências de operações malsucedidas.’

Já o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica -°Regional de São Paulo, Ithamar Stocchero, 53, diz que um profissional ético nunca faz uma operação do tipo. ‘Esses indivíduos jamais vão encontrar a felicidade, já que o sonho delas é ser outra pessoa, e isso elas nunca vão conseguir’, diz. ‘Veja só esse rapaz, o Michael Jackson. Ele fez tantas operações que se tornou uma pessoa extremamente desagradável.’’



Keila Jimenez

‘Record prepara seu primeiro reality show’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/06/04

‘Já está em fase de produção o primeiro reality show da Record, Sem Saída – nome provisório – formato comprado pela rede da distribuidora Fox. A emissora pretende seguir à risca o formato do programa original, batizado de Captive nos Estados Unidos. Nele, cinco participantes ficam confinados em uma casa e respondem a perguntas sobre conhecimentos gerais. Resumindo, é mix de Big Brother com quiz show. É a primeira aposta no gênera feita pela rede, que já investiu na produção de outros formatos comprados, como o game show Roleta Russa, da Sony.

Em vez de comida, o grande alvo de disputa dos participantes do novo reality show são livros de assuntos variados, que irão ajudá-los nas questões. Uma vez por semana, a porta da casa se abrirá e os participantes serão sabatinados pelo apresentador. A cada resposta correta, o participante soma uma quantia em dinheiro e pontos. O jogador com o pior desempenho no período é eliminado.

Uma das primeiras provas do programa é uma gincana física, em que o vencedor ganhará os primeiros livros que entrarão na casa. Ele é quem decide se fica com todos os livros ou se divide com os demais participantes. Esse ganhador da gincana também ficará conhecendo os assuntos a serem abordados no primeiro quiz: famosos, política, esporte….

O vencedor de cada etapa pode escolher entre sair com o dinheiro que já ganhou, ou permanecer no jogo para faturar mais. Se ficar, também corre o risco de perder tudo. Cada vez que um participante sai do jogo, um novo pode ser colocado em seu lugar.

Quem ficar com menos pontos é obrigado a deixar o programa. Detalhe: sem nenhum dinheiro. Tudo o que ele conquistou até ali será confiscado.

O problema é que quanto mais tempo alguns concorrentes permanecem na casa, menores são as chances de um novo participante se integrar ao grupo. O que acontece muito na versão americana é tramóia entre alguns integrantes para prejudicar um novo concorrente nos dias de sabatina.

No site da Fox, fica claro que o programa é um sucesso nos países onde é exibido, como na Nova Zelândia.

Sem Saída deve estrear em agosto na Record, com edições diárias. A emissora ainda não escolheu o horário em que o programa será exibido, nem o principal: quem será o apresentador. Otaviano Costa foi cogitado para a vaga, mas alguns diretores da emissora acreditam que o perfil do programa não tenha a ver com ele. O apresentador da versão original é sarcástico, com ares de carrasco. Por isso a vaga ainda está aberta.

A emissora pretende abrir em julho as inscrições para quem quiser participar do reality show.’