Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Cade libera a compra
da TVA pela Telefônica


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 26 de abril de 2007


LIBERDADE DE IMPRENSA
Plínio Fraga


À moda albanesa


‘COM A GREVE de transportes públicos convocada pelas centrais sindicais para defender os direitos dos trabalhadores, o jovem jornalista trabalhador, sem dinheiro para o táxi, chegou muito tarde, mas muito tarde mesmo, à redação. Os jornais hoje fecham suas edições cedo, e pouco depois da meia-noite só havia meia dúzia de repórteres e redatores -e também algumas almas penadas.


O jovem jornalista se assustou.


Mais com os repórteres e redatores do que com as almas penadas; com estas até conversou. Tarso de Castro aconselhou o jovem jornalista a ir para o bar, porque notícia não havia mais. Atordoado, o jovem jornalista pôs-se a caminho, mas deparou com I.F. Stone -outra alma que andava por ali, sabe-se lá por quê.


Astuto, o jovem repórter pediu ao jornalista americano, morto em 1989, conselho que lhe fosse valioso por toda a carreira. ‘Os governos mentem’, respondeu Stone, evanescente. ‘E os governantes que querem se perpetuar -que são todos eles- mentem muito mais.’


Esses são parágrafos de ficção.


Seria sorte de principiante um jovem jornalista, se encontrasse, reconhecer e dar ouvidos a Isador Feinstein Stone, formado em filosofia e ‘jornalista radical’.


Se santa Clara é a padroeira da televisão, I.F. Stone tem de ser elevado a padroeiro dos blogueiros.


Em 1953, criou seu próprio jornal político, ‘I.F. Stone’s Weekly’, um panfleto solitário, como um blog, que chegou a ter 70 mil assinaturas e com o qual desafiou presidentes durante 18 anos, até fechá-lo, em 1971. Só deixou de escrever ao morrer, em 1989, mas sem precisar ter se corrigido: os governos continuavam mentindo.


Anteontem, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, defendeu que é preciso controlar o ‘poder dos meios de comunicação no processo eleitoral’. Teve o apoio do deputado federal José Genoino, também ex-presidente do PT, que alegou que ‘algumas instituições encarnam o bem e fazem um julgamento preconceituoso e elitista do que consideram o mal, numa tentativa de tirar-lhe a legitimidade política’.


Berzoini e Genoino reavivam assim o fantasma do ‘controle social da mídia’. Para os dois, imprensa boa deve ser a da Albânia. Como se sabe, jornalismo à moda albanesa, sutilmente apregoado pelos petistas, tem lado e mesmo lado -outro, só no paredão.


No fundo, são pífios seguidores do general Costa e Silva (outro fantasma), que ao menos tinha a virtude da sinceridade ao se dirigir a uma nobre dona de jornal: ‘Não é crítica construtiva o que quero. É elogio mesmo’.


Os fantasmas, como provam Berzoini e Genoino, estão à solta e ainda se divertem.


PLÍNIO FRAGA é coordenador da Sucursal do Rio.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Mais duas


‘De volta às CPIs -e à blogosfera política, a começar de Ricardo Noblat, agora em seu terceiro portal, ele que surgiu independente. Ontem, fez ‘live-blogging’, um minuto-a-minuto da votação do Supremo. Mas o placar era esperado, como ele mesmo postou, com a previsão do jornalista Kennedy Alencar de que ‘a maioria, se não a totalidade’, votaria pela CPI. Desde cedo, aliás, o blog de Fernando Rodrigues avisava que outro resultado seria ‘enorme surpresa’. E que ‘seria péssimo para o Planalto, que quer instalar de uma vez’, se um ministro pedisse vista e adiasse a coisa.


E até a manchete do ‘JN’ soou cansada: ‘Supremo autoriza a instalação de uma CPI na Câmara sobre a crise do setor aéreo. O Senado decide abrir outra’.


DISTENSÃO


De um lado, Lula se encontra com Tasso Jereissati, nomeia Mangabeira Unger ministro etc., no que Eliane Cantanhêde chamou na Folha Online de busca da ‘unanimidade’, que no caso ‘não tem nada de burra’. De outro, Boris Casoy recebe José Dirceu na JBTV (esq.) e em seguida FHC. E Alexandre Machado, na Cultura, recebe até João Paulo Cunha (dir.).


ATRASO


A reportagem de Laura Mattos, sobre a liminar de um ministro do Superior Tribunal de Justiça às redes, contra a obrigatoriedade de exibir programas nos horários dados pelo governo, foi a manchete e a ‘+ lida’ na Folha Online ao longo do dia -e ecoou pela blogosfera. No Blue Bus, Luiz Eloy Oliveira desabafou, em comentário destacado, ‘desculpe a comparação, mas este juiz está parecendo aquele dos bingos’. Na própria Folha Online, o professor Laurindo Lalo Leal Filho descreveu a resistência das TVs como ‘demonstração pública do atraso cultural do país’.


MYSPACE VEM AÍ


No enunciado da Reuters, ‘rede social MySpace testará site para brasileiros e latinos’. É o serviço da gigante News Corp., de Rupert Murdoch, dominante nos EUA, que ameaça afinal o Orkut, da Google, dominante no Brasil. A versão Beta, de teste, entra no ar em ‘meados’ do ano.


MENTIRA VIRTUAL


O Interney, referência da blogosfera e que participou de um evento com o criador do Orkut dias atrás, questiona não só o serviço e seu criador, mas a confusão reinante entre vida real e virtual. Avisou que é uma só, real, sem a desculpa ‘virtual’ que permite a menor de idade abrir perfil no Orkut.


ATRAENTE


Lula, noticiam sites pela América Latina, está no Chile. No encontro do Fórum Econômico Mundial, a notícia de ontem era o relatório da organização, que deu os mesmos Chile e Brasil como os ‘mais atraentes para investimento privado em infra-estrutura’ na região. Na Argentina, que ficou num distante nono lugar, foi manchete no site do ‘La Nación’, ‘A Argentina, pouco atraente para investir’.


GUERRA BIOPOLÍTICA


Andres Oppenheimer, o colunista de América Latina do ‘Miami Herald’, surgiu ontem também no espanhol ‘El País’, com a análise ‘A guerra biopolítica’. No texto, ‘surpresa!’, como ele mesmo anuncia, desta vez apóia as críticas feitas por Fidel Castro e Hugo Chávez ao programa de etanol de milho dos EUA.


Mas ele defende o álcool de cana feito no Brasil, inclusive a derrubada da tarifa cobrada nos EUA sobre a importação.


PEDRO MALAN LÁ


Em campanha aberta pela derrubada do americano Paul Wolfowitz do Banco Mundial, o ‘Financial Times’ publicou ontem uma longa carta do economista Colin Bradford, da Global Governance, de Washington, com uma lista de eventuais substitutos. São, como descreveu, ‘líderes’.


Encabeça a lista ninguém menos que ‘Pedro Malan, o ex-ministro de finanças do Brasil’. Ele era diretor do Bird até a convocação por FHC.’


TV PAGA
Folha de S. Paulo


Cade não aceita barrar compra da TVA pela Telefônica por ora


‘O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) não aceitou o pedido da ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura) para barrar temporariamente a compra da TVA, que atua na área de televisão por assinatura, pela operadora Telefônica.


O conselho entendeu que a operação não oferece risco de dano irreparável à concorrência. Para a associação, a intenção da Telefônica ao comprar a TVA é acabar com as concorrentes que ameacem os interesses da operadora nos mercados de voz e internet banda larga.


O conselheiro relator do caso, Ricardo Cueva, avaliou que, além de a operação necessitar de aprovação prévia da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), não há impedimento para a reversão do negócio no futuro, caso o conselho entenda que a parceria deva ser desfeita.


Em seu despacho, o conselheiro ainda afirmou que as empresas informaram que suas plataformas continuarão operando separadamente e independentemente até o julgamento final do caso.


Para a Telefônica e a TVA, a convergência tecnológica é fato no Brasil, mas tem sido até agora privilégio de apenas uma TV por assinatura.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo monta estúdio de vidro para o papa


‘A Globo vai montar um estúdio de vidro, semelhante aos usados nas transmissões de Carnaval, só para Ana Maria Braga ancorar, ao vivo, uma edição do ‘Mais Você’ no Campo de Marte (zona norte de São Paulo), onde o papa Bento 16 rezará uma missa, no próximo dia 11, em sua visita ao Brasil.


O estúdio terá 81 m² de área e estará a três metros do chão, no meio da multidão. Ficará próximo de um ponto por onde o papa passará, antes de rezar a missa, prevista para começar às 9h30, horário de encerramento do ‘Mais Você’. Uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, que chega de Portugal na semana que vem, fará parte do cenário do estúdio de vidro da católica TV Globo.


Na véspera, dia 10, o programa de Ana Maria Braga também será religioso, dedicado a frei Galvão, que será canonizado pelo papa na missa do dia 11.


A produção do ‘Mais Você’ acabará fazendo parte do pool de emissoras, lideradas pela Globo, para a cobertura da visita do papa. Material produzido pelo programa, eventualmente, poderá ser reproduzido por outra TV. Os profissionais do ‘Mais Você’ ficarão encarregados da cobertura emocional e comportamental do evento.


No dia 11, a Globo apresentará flashes do Campo de Marte já na madrugada, mostrando a chegada dos fiéis. A missa do papa, que será transmitida ao vivo após o ‘Mais Você’, dominará os telejornais.


NINHO TUCANO 1 Albino Castro foi afastado anteontem do cargo de diretor de jornalismo da TV Cultura. O profissional foi demitido por Marcos Mendonça, atual presidente da Fundação Padre Anchieta, mas a decisão teve o aval de Paulo Markun, futuro comandante da instituição.


NINHO TUCANO 2 O jornalista Alexandre Machado será interinamente o substituto de Albino Castro. Machado apresentou uma edição do programa eleitoral de José Serra, em 2002.


OBRA MINISTERIAL O ministro da Cultura, Gilberto Gil, deu OK, e a Globo vai produzir uma edição ‘Som Brasil’ sobre ele. O programa traz medalhões e novos nomes da MPB em releituras de sucessos de grandes compositores.


SANGUE NA REDAÇÃO 1 A Globo grava hoje um ‘Linha Direta – Justiça’ que reconstituirá o assassinato de Roberto Rodrigues, irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues. O crime, cometido na redação do jornal ‘Crítica’, em 1929, foi testemunhado por Nelson, e marcou sua obra.


SANGUE NA REDAÇÃO 2 No ‘Linha Direta’, Letícia Spiller interpretará Sylvia Thibau, a mulher que atirou em Roberto Rodrigues porque o jornal noticiara sua separação.


QUALQUER NOTA Jô Soares precisa selecionar melhor seus entrevistados. Anteontem, seu programa, que só tinha desconhecidos, perdeu no Ibope durante sete minutos (e empatou em outros 23) para o ‘Acredite Se Quiser’, da Record, que exibe bizarrices.’


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 26 de abril de 2007


CONCESSÕES / TV
Gerusa Marques


Câmara reavalia aval à TV de Jader


‘A Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara quer analisar a autorização dada pelo Ministério das Comunicações, neste mês, para que o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) pudesse fazer a transferência de titularidade de uma TV que está em seu nome, a RBA em Belém, para o Sistema Clube do Pará, do qual Jader também é dono. Se ficar comprovado que houve danos ao setor público, deputados da comissão podem entrar com ação na Justiça contra a transferência.


O assunto esquentou o debate entre o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e o deputado Vic Pires Franco (DEM-PA), em audiência pública realizada ontem na comissão para discutir as regras de concessão e renovação de outorgas de rádio e televisão.


O deputado disse que a empresa de Jader, que detinha a concessão, tem dívida de R$ 80 milhões com Receita Federal, INSS e FGTS e que, portanto, não poderia ter a transferência aprovada. Costa respondeu que a discussão proposta por Franco era paroquial. ‘Eu entendo sua indisposição com o deputado Jader Barbalho’, disse o ministro, referindo-se à inimizade política entre eles no Pará.


Ele explicou que a transferência de titularidade é um processo diferente da renovação de outorgas e não tem que passar pelo Congresso. Quando é solicitada a transferência de uma outorga de rádio e TV, disse Costa, cabe ao ministério analisar se a empresa que está transferindo e a empresa que está assumindo a concessão estão em dia com as exigências legais. ‘Para o Ministério das Comunicações, todos os procedimentos foram cumpridos’, afirmou.


Ele disse que havia uma dívida de R$ 154 mil com o Fundo de Fiscalização das Telecomunicações, ‘paga integralmente’, e uma dívida com a Previdência, que foi reescalonada.


Franco reagiu dizendo que a questão não é paroquial e o ministro das Comunicações estava desinformado. ‘Minha preocupação é de que isso abra porteira para as outras 224 emissoras’, disse Franco, acrescentando que a TV de Jader consta entre os 225 processos que tramitavam no Congresso e que foram retomados pelo governo no ano passado, quando ele era presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia. Segundo informação da época, algumas emissoras eram de políticos e corriam o risco de não ter as concessões renovadas por apresentarem irregularidades e, por isso, o governo teria mandado recolher os processos.


Costa disse que os 225 processos foram retomados pelo governo, a pedido do ministério, e 46 deles já foram devolvidos ao Congresso. ‘Quem não apresentar a documentação vai perder a concessão’, disse.’


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Google se torna o site mais visitado do mundo


‘O Google ficou pela primeira vez na frente de seu rival Microsoft como a página de internet mais visitada do mundo, com 528 milhões de acessos no mês de março, segundo os dados da comScore Networks. A Microsoft ocupa o segundo lugar, com 527 milhões, seguido do portal Yahoo, o gigante de mídia Time Warner e o portal de leilões eBay.’


TV PAGA
Isabel Sobral e Nilson Brandão Júnior


Cade rejeita medida contra união da TVA e Telefônica


‘O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) negou ontem o pedido da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA) para que fosse adotada uma medida cautelar impedindo o acordo comercial entre a Telefônica e a TVA para venda de pacotes com serviços de acesso à internet por meio de banda larga, telefonia e TV a cabo (triple play) em São Paulo.


No final do ano passado, a Telefônica comprou a TVA e a ABTA questionou o início da parceria comercial antes do julgamento final dessa fusão, com o argumento que levaria a decisões irreversíveis, dando como ‘fato consumado’ o negócio antes mesmo da análise da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e do próprio Cade.


O conselheiro relator da operação, Ricardo Cueva, afirmou, em seu despacho, que existem questões concorrenciais importantes a serem consideradas na análise desse negócio, mas não viu urgência para adoção de uma cautelar. ‘Não vislumbro risco de dano irreparável à concorrência que justifique a adoção de tal medida’, afirmou.


A diretora-geral da TVA, Leila Loria, comemorou a decisão do Cade. Na prática, diz a executiva, não estava sendo contestada a venda de participação acionária que era do Grupo Abril na TVA para a Telefônica.


‘Do ponto de vista regulatório a operação (de venda) foi construída em cima de todo o marco regulatório do País. Do ponto de vista regulatório o risco de não ser aprovada praticamente não existe. É muito semelhante à operação da Net com a Telmex’, disse Leila.’


TELEVISÃO
A Globo vai à China


Cristina Padiglione


‘Programada para ser a próxima reprise do Vale a Pena Ver de Novo, a novela Da Cor do Pecado foi a isca para a visita de executivos de três canais chineses ao Projac, complexo de estúdios da Globo em Jacarepaguá, na semana passada.


A novela de João Emanuel Carneiro foi vendida para um distribuidor na China e estréia por lá em junho. A exportação foi obra da participação da emissora brasileira na feira Shangai TV Festival, em outubro do ano passado, em Pequim.


A perspectiva da Globo é que essa venda reaproxime a emissora do mercado chinês – o maior marco da Globo naquele território continua sendo A Escrava Isaura, de 1976. Agora, há contatos em andamento com vários canais.


A excursão dos chineses pelo Rio reuniu três canais: Hubei, Guanzhou e Shenzen. Em maio, mais dois canais virão ao Projac. Para os visitantes, aquilo é a ‘Hollywood Brasileira’.


Da Cor do Pecado, primeiro folhetim de João Emanuel, foi ao ar em 2004. Para a Globo, era a primeira novela da casa com uma protagonista negra, Taís Araújo, que já havia protagonizado em Xica da Silva na extinta Manchete.’


Etienne Jacintho


Dexter chega em julho ao canal Fox


‘A série Dexter, que causou furor quando estreou nos EUA no ano passado, tem previsão de estréia no Brasil para julho. O grupo Fox havia programado a série para o canal FX, mas decidiu colocá-la na programação da Fox – para a sorte dos espectadores, uma vez que a Fox tem maior alcance. Baseado nos livros de Jeff Lindsay – Darkly Dreaming Dexter e Dearly Devoted Dexter -, a série de suspense conta a história de Dexter, um investigador da perícia de Miami que, apesar de trabalhar para a polícia, tem seu lado de serial killer.


entre-linhas


A série Dexter, com foco num detetive de perícia de Miami, foi furor nos EUA quando lá estreou e chega ao Brasil em julho. O grupo Fox havia programado a série para o canal FX, mas decidiu colocá-la na Fox, seu canal de maior alcance.


A 4.ª temporada de O Aprendiz estréia no dia 8, às 23 h, mas no dia 3, uma edição especial mostrará o processo de seleção dos candidatos.


A Grande Chance, novo show de Gilberto Barros, atingiu 7 pontos de pico em sua estréia na Band, na terça, e 4,5 de média, das 21h59 às 23h37.’


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Revista Consultor Jurídico


Quinta-feira, 26 de abril de 2007


ISTOÉ CENSURADA
Rodrigo Haidar


Juiz dá liminar que proíbe circulação da revista IstoÉ


‘O juiz Sérgio Jorge Domingos, da 22ª Vara Cível de Curitiba, concedeu liminar nesta sexta-feira (20/4) proibindo a circulação da revista IstoÉ. O pedido para impedir a circulação da semanal foi feito pelo ex-prefeito de Curitiba Cássio Taniguchi – hoje deputado federal pelo DEM e secretário de Desenvolvimento Urbano do Distrito Federal.


O pedido, contudo, foi atendido com certo atraso. Parte das revistas já pode ser encontrada em bancas em São Paulo e já foi despachada para os assinantes. A capa de IstoÉ traz uma longa entrevista com a empresária Silvia Pfeiffer, na qual ela descreve um esquema complexo de corrupção na Infraero.


Na chamada de capa, a revista anuncia que a empresária ‘descreve em entrevista como os diretores da Infraero agiam para desviar dinheiro’ e traz ‘os nomes, as cifras e os recibos de depósitos que mostram o esquema’.


Na entrevista, a empresária cita o nome de diretores da empresa que controla os aeroportos no país, de políticos e pessoas próximas ao poder: entre eles, Duda Mendonça e Cássio Taniguchi, que obteve a liminar. A revista IstoÉ vai recorrer da decisão.


Leia a reportagem e a entrevista de IstoÉ


A empresária paranaense Silvia Pfeiffer, 47 anos, diz que foi expulsa de sua própria empresa, a Aeromídia, assim que levou para lá, como sócio, o então secretário de Desenvolvimento Urbano de Curitiba Carlos Alberto Carvalho, em 2003. Ele tinha relações com o prefeito Cássio Taniguchi (DEM), hoje secretário de Desenvolvimento Urbano do Distrito Federal, e passou a controlar toda a contabilidade da Aeromídia. A partir daí, segundo Silvia, uma ‘verdadeira máfia’ começou a utilizar a empresa como fachada para desviar dinheiro público para fins privados. Entre esses negócios, polpudos contratos com a Infraero, que ultrapassaram os interesses iniciais de Cássio Taniguchi e permaneceram com o governo Lula.


Conhecedora dos caminhos dessas fraudes, Sílvia é hoje uma importante testemunha para quem estiver efetivamente interessado em saber como a estatal que administra os aeroportos brasileiros alimenta milionários dutos de corrupção, alguns deles já detectados pelo Tribunal de Contas da União. Em mais de dez horas de entrevista, Silvia detalha como tal esquema se espalhou e criou tentáculos para promover lavagem de dinheiro, caixa 2 de campanhas políticas e propinas às autoridades. Na quarta-feira 18, depois de ter concedido entrevista a ISTOÉ, Silvia recebeu ameaças de morte e alguns pedidos para que nada mais falasse e para que negasse o que já havia dito.


Boa parte do que ela sabe já foi escrito e entregue à Polícia Federal em outubro de 2005, mas ela jamais foi chamada para um depoimento formal. Ou seja, apesar da gravidade, tudo indica que suas denúncias ficaram engavetadas, embora parte do que ela diz seja comprovada por documentos como depósitos bancários.


ISTOÉ – Por que só agora a sra. Decidiu tornar público tudo o que sabe sobre corrupção na Infraero?


Silvia – Eu não estou fazendo isso agora. Em 2005 entreguei uma notícia-crime à Polícia Federal, mas, depois, ninguém me procurou para falar sobre isso.


ISTOÉ – Como é desviado o dinheiro da Infraero?


Silvia – A chave inicial do esquema é o superfaturamento das obras, que o TCU mesmo já disse que chega a 375% do valor. São números absurdamente altos. Essas obras eram todas negociadas.


ISTOÉ – Por quem?


Silvia – Os empresários que tinham contratos com a Infraero repassavam dinheiro para Carlos Wilson, que era o presidente da empresa, e para diretores, como a Eleuza Therezinha Lopes, o Eurico José Bernardo Loyo e o Fernando Brendaglia. E também para políticos que faziam todo o meio de campo. Ia dinheiro para a campanha do Carlos Wilson e não tenho dúvida que dali também saiu dinheiro para a campanha de reeleição do presidente Lula.


ISTOÉ – Como provar isso?


Silvia – Basta quebrar o sigilo das empreiteiras, dos diretores da Infraero, dos superintendentes. A Aeromídia mesmo fez depósitos para alguns diretores.


ISTOÉ – Alguns nomes de diretores que a sra. Menciona já apareceram em outras denúncias contra a Infraero, como Eleuza Therezinha, mas permanecem em seus cargos.


Silvia – Ela é da equipe do Lula, do Carlos Wilson. Essa aí, acho que vai ser meio complicado. O Mário Ururahy, que recebia mensalão da Aeromídia no Paraná, hoje é assessor da Eleuza.


ISTOÉ – Como era pago esse mensalão?


Silvia – Os valores variavam entre R$ 5 mil e R$ 20 mil. Havia também presentes: carros, festas, jantares.


ISTOÉ – Outros diretores da Infraero também recebiam mesada?


Silvia – Luiz Gustavo Schild, diretor de Logística e Carga. Ele foi superintendente na sede. Conduzia as negociações para as lojas Duty Free. Depois, foi afastado, transferido para superintendente de Cargas, porque estava para explodir todo este bafafá da Brasif.


ISTOÉ – Que bafafá?


Silvia – A Brasif ganhava todas as concorrências para os free shops nos aeroportos.


ISTOÉ – O que há de concreto nessa denúncia que a sra. faz de que o presidente Lula possa ter sido beneficiado nesse esquema?


Silvia – A proposta que me fez certa vez um dos maiores amigos de Lula, o empresário Valter Sâmara.


ISTOÉ – Que proposta?


Silvia – Encontrei Valter Sâmara em um vôo de Curitiba para Brasília, em 2004. Nesse vôo, ele insistiu que eu fosse falar com a secretária de Lula, Mônica, no Palácio do Planalto. Ele me falou que qualquer coisa que eu quisesse na Infraero a Mônica seria capaz de resolver para mim. E que ela, então, receberia 10% de comissão para o partido, o PT.


ISTOÉ – Ele disse que o dinheiro seria para a campanha do Lula?


Silvia – Não ficou claro. Disse que era para o PT.


ISTOÉ – E a sra. Chegou a procurar Mônica?


Silvia – Não. Eu não fui. Apesar da grande insistência dele. Ele me procurou no hotel várias vezes. Em um dia só, ele ligou várias vezes no hotel para que eu fosse lá.


ISTOÉ – Esse foi o único encontro que a sra. teve com Valter Sâmara?


Silvia – Houve uma outra vez, em que ele foi a Brasília almoçar com Lula, dona Marisa e uns chineses que estavam no Brasil, fazendo negociações com o governo federal. O Sâmara está sempre em Brasília. Ele inclusive comprou uma chácara em Goiás para encontros políticos. Se não me engano, tem até pista de pouso.


ISTOÉ – Como é que a sua empresa se envolveu com esse esquema?


Silvia – No início, quando Carlos Alberto Carvalho me procurou pela primeira vez, era para fazer arrecadação de dinheiro para a campanha de reeleição de Cássio Taniguchi para prefeito de Curitiba. Às vezes em dólar. Os políticos do Paraná, ligados a Taniguchi, reuniam-se freqüentemente na Aeromídia para discutir a formação desse caixa 2. O que eu nunca entendi bem era por que, já naquela ocasião, o Padre Roque (deputado do PT do Paraná) aparecia nas reuniões.


ISTOÉ – O que se discutia nessas reuniões?


Silvia – Eles instruíam como as pessoas deveriam se comportar na polícia, se alguma coisa acontecesse. Um dia, chegou a aparecer na empresa uma mala grande de dinheiro. Parte de US$ 7 milhões.


ISTOÉ – Esse esquema continua ativo?


Silvia – Com certeza está vivo. O homem do Cássio hoje na prefeitura é o Beto Richa. Um dos homens dele, o advogado Domingos Caporrino, me ligou hoje me mandando calar a boca.


ISTOÉ – O que a sra. denuncia começou com o Taniguchi e permanece até hoje. Que outros nomes estão envolvidos?


Silvia – Com certeza o Marcos Valério e o José Dirceu.


ISTOÉ – Qual seria o envolvimento de Dirceu?


Silvia – Ele tem contatos com o diretor comercial da Infraero, Fernando Brendaglia. Quando Dirceu esteve em Portugal naquelas negociações com a Portugal Telecom, Brendaglia estava com ele. E Emerson Palmieri, que estava em Portugal com Dirceu, também tem contatos no esquema da Infraero. Ele seria mesmo uma espécie de link entre Brendaglia, Dirceu, Marcos Valério e Cássio Taniguchi. Emerson Palmieri esteve várias vezes nas reuniões na Aeromídia.


ISTOÉ – Em troca do pagamento desse mensalão, o que ganhou a Aeromídia?


Silvia – Contratos nos aeroportos. Muitas vezes irregulares. Um dos contratos envolve o Duda Mendonça. Um contrato que não poderia acontecer. O pessoal do aeroporto de Brasília me respondeu que era impossível eu fazer publicidade naquela área. No entanto, foi feito sem licitação.


ISTOÉ – E qual era o envolvimento de Duda Mendonça?


Silvia – Eu veiculava um anúncio que era feito pela agência dele. A questão do Duda ali é que ele não roubava essas migalhas. O contrato era a desculpa para que a agência dele fosse contratada para fazer o anúncio. O que ele pegava em dinheiro grosso mesmo vinha da Brasil Telecom, a anunciante.


ISTOÉ – E a sua participação, qual era?


Silvia – Eu negociava com a Zilmar Fernandes (sócia de Duda Mendonça). Esse contrato é ilegal com a Infraero. O Fernando Brendaglia é quem autorizou a colocação da publicidade antes de ter o contrato.


ISTOÉ – A Zilmar tinha consciência de que era contrato irregular?


Silvia – Tinha. Quando houve um problema num contrato anterior, que foi fechado, nos fingers de 1 a 7, chegou a haver uma ordem para arrancar todos os adesivos que já estavam colocados. Foi quando a Zilmar entrou. Fizeram alguns acertos e os adesivos continuaram. Um contrato de três anos, sem licitação. Um contrato que ele entrou no aeroporto antes mesmo de sair em Diário Oficial da União, antes de assinar o contrato. Deu um rolo, os concorrentes reclamaram. O Brendaglia chegou a chamar uma dessas empresas que protestavam: ‘Fique quieta, vou te dar outro espaço, mas deixa esse contrato aqui, nãomexe com isso não.’


ISTOÉ – Além da Aeromídia, que empresas fecham contratos irregulares com a Infraero?


Silvia – Todas. Absolutamente todas. Kallas, Codemp, Via Mais. A SF3, que, na verdade, é do Brendaglia. E do Carlos Wilson. Porque eles são sócios em tudo, até em uma fazenda de frutas em Petrolina. Frutas para exportação. Há um contrato que envolve a empresa de um filho de Reinhold Stephanes.


ISTOÉ – O ministro da Agricultura?


Silvia – Esse. Me tiraram da jogada. Era um contrato enrolado. Um contrato no Rio, para um consórcio, Ductor, do qual participava a Cembra, empresa de Marcelo Stephanes, filho do ministro.


ISTOÉ – O TCU tem encontrado irregularidades também nas obras de ampliação dos aeroportos.


Silvia – É verdade. Tudo é superfaturado. A Odebrecht, por exemplo, no aeroporto de Recife. A Andrade Gutierrez no aeroporto de Curitiba, OAS no aeroporto de Salvador. Uma empresa de São Paulo ganhou a obra de Brasília e furou o esquema. Eles então trataram de tirar a empresa da obra. A corrupção ali é muito grande. A Infraero investiu mais de R$ 3,2 bilhões em obras. Se quebrar o sigilo bancário dos diretores da Infraero, dos superintendentes, na engenharia, que cuida das obras, se encontrará um absurdo.


ISTOÉ – Como a sra. pode dizer isso com tanta convicção?


Silvia – Eu vi tudo isso por dentro. Eu presenciei uma reunião com a construtora DM aqui em Curitiba. Um arquiteto chamado Ricardo Amaral vendeu por R$ 200 mil um projeto para cada empreiteira. Ele entregou antecipado o projeto, para construir o edifício-garagem do aeroporto, cobrou R$ 200 mil e não saiu a obra. A Eleuza sabia disso. A Eleuza esteve dentro do escritório dele, em reunião com os grandes empreiteiros. OAS, Odebrecht, CR Almeida e Andrade Gutierrez.


ISTOÉ – O novo presidente da Infraero, o brigadeiro José Carlos Pereira, há algum envolvimento dele com esses casos de corrupção?


Silvia – Não. Mas ele não consegue demitir os diretores porque o esquema montado no passado permanece rendendo muito.


ISTOÉ – No Paraná, dizem que a sra. possui dois CPFs.


Silvia – Depois de ter feito a denúncia na PF, minha bolsa e meus documentos sumiram misteriosamente. Posteriormente, soube que emitiram CPFs em meu nome. Mesmo que tentem me desqualificar, vou levar minhas denúncias até o fim.’


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