Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Carlos Chaparro

‘O XIS DA QUESTÃO – A sociedade é hoje protegida por instituições que cumprem a função de zelar pela realização dos fins próprios da democracia. Exemplo: o Ministério Público, os Procons, as CPIs, as Forças-Tarefa, as Agências reguladoras, e tantas outras entidades. De uma forma ou de outra, todas essas instituições se apropriaram de funções e ações que em outros tempos o jornalismo acreditava serem suas. Daí, a crise de identidade que nos afeta. E a questão, que urge discutir: que papel, funções e ações cabem ao jornalismo, não na ditadura, mas na democracia, em sua atual configuração?

1. A crise e seu contexto

Debates de intensidade crescente colocam o jornalismo de hoje em estado de crise. Ao contrário, porém, do que muitos pensam, acredito ser essa uma boa crise – e digo por quê: o jornalismo tradicional perdeu funções, em um mundo que se caracteriza pela capacidade institucional, particular, de produzir e difundir aquilo a que simbolicamente chamamos de notícia. Entretanto, no próprio cenário das pressões a que está submetido, o jornalismo – por seus profissionais e seus estudiosos – começa a tomar consciência disso, o que pode ajudar a delimitar um novo lugar próprio, nos contextos e processos democráticos em que atua.

Cimentado em ideários elaborados para regimes e sociedades que não existem mais, o jornalismo chegou a se auto-proclamar a voz vigilante do povo, e a assumir-se como ‘quarto poder’, nas lutas por liberdade, igualdade e justiça, em épocas e realidades que a cultura política e as práticas democráticas superaram.

A democracia assenta hoje em eficazes mecanismos de auto-sustentação, afirmando-se e aperfeiçoando-se não apenas nos seus aspectos formais (como a delegação do poder pelo voto popular e a relação equilibrada entre poderes independentes), mas, principalmente, pela ação vigilante de instituições que cumprem a função de zelar pela prevalência das leis referentes aos fins próprios da democracia. São exemplo de tais instituições o Ministério Público, os Procons, as CPIs, as Forças-Tarefa, Agências reguladoras, e tantas outras, com responsabilidades especificas em áreas como os direitos fundamentais (individuais e coletivos), a proteção às minorias e a execução orçamentária.

De uma forma ou de outra, e com eficácia jurídica, todas essas instituições se apropriaram de funções e ações que em outros tempos o jornalismo acreditava serem suas.

Ao mesmo tempo, a sociedade organizada ampliou e sofisticou sua capacidade de realizar intervenções diretas na realidade político-social, por meio de Ongs e de uma infinidade de entidades, em todos os campos do agir humano. Com um detalhe, que alterou profundamente a identidade do jornalismo: o que caracteriza o poder de ação dos sujeitos institucionais da contemporaneidade é a capacidade e a competência para o uso da notícia como forma de intervenção. Ou seja: capacidade e competência para gerar e difundir conteúdos noticiosos que antigamente pareciam propriedade das redações.

2. Debate aberto

Quem, entre nós, jornalistas, não reconhece a nova fisionomia do mundo da notícia, ou não gosta dela, perdeu a passada do tempo. É surpreendente que entre nós, jornalistas, ainda haja quem ache que seria preferível termos uma sociedade sem essas instituições, às quais cabe hoje zelar pela substância da democracia, e que, em vez delas, houvesse um jornalismo com funções até de polícia, o tal ‘quarto poder’, suposto guardião dos ideais democráticos – como se isso fosse possível e desejável.

Já li coisas espantosas, como lamentações pelo fato de a Polícia e o Ministério Público chegarem à descoberta de corruptos e outros criminosos antes dos jornalistas – e tomando-se isso como evidência do fracasso do jornalismo. Temos aí, como argumento, a presunção de que, ao jornalista e às suas lutas, convêm mais os regimes autoritários do que os sistemas democráticos.

Não é essa, porém, a discussão que interessa fazer. Não vale a pena venerar saudosismos de um tempo que não voltará ou de um modelo de jornalismo que, na verdade, nunca foi como os saudosistas pensam. O que interessa discutir é o seguinte: que papel, funções e ações cabem ao jornalismo, não na ditadura, mas na democracia, em sua atual configuração?

Na busca de respostas e propostas, voltarei ao tema na próxima semana. Mas o debate fica desde já aberto.’



MERCADO DE TRABALHO
Eduardo Ribeiro

‘Mudanças que animam’, copyright Comunique-se, 25/8/04

‘A briga entre Veja e IstoÉ, que levaram também ao ringue Luís Costa Pinto (Lula) e Paulo Moreira Leite, onde a perda da serenidade foi a principal característica, felizmente não ofusca algumas boas notícias do mercado. Uma delas está sendo divulgada na edição impressa deste Jornalistas&Cia, que circula nesta quarta-feira: a saída de Dora Kramer do Jornal do Brasil, após 20 anos de casa e nove de coluna. Dora disse a esta coluna que chegou o momento da mudança e que quer respirar outros ares, embora ainda deva ficar mais alguns dias no JB. A mudança não afeta seu relacionamento com o Estadão e com as dezenas de outros jornais do País que compram sua coluna através da Agência Estado, pois isto será mantido. Dora já vem sendo namorada pelo jornal O Dia e deve fechar nos próximos dias (sem pressa, como ela diz) com algum novo jornal no Rio e em Brasília, as duas praças que passam a ficar sem seu trabalho, com a decisão.

Outra mudança de grande repercussão, particularmente no mercado carioca, é a ida de Chico Santos, profissional que esteve por 16 anos na Folha de S.Paulo e que foi um dos atingidos pelo corte do jornal, para o Valor Econômico, a partir desta próxima segunda-feira, 31 de agosto. Chico vai entrar na vaga de Marta Barcellos, que na última sexta-feira desligou-se abrir sua própria empresa de conteúdo e ser colaboradora de algumas revistas. Marta tem 18 anos em redação, três deles no Valor, quatro na Gazeta Mercantil, nove em O Globo (Rio e em São Paulo), além de dois anos na TVE, no início da carreira. Seu escritório já está até montado: Rua Visconde de Pirajá 608/sala 902, Ipanema, Rio, CEP 22410-002. Telefone: (21) 2239-6705. Fax: (21) 2512-3439.

Ainda no Rio de Janeiro, após exílio das redações – período em que tocou seu próprio negócio, o bar Devassa -, Cláudio Henrique começou na Selulloid, uma empresa de conteúdo especializada na produção das chamadas publicações customizadas. Cláudio é mais conhecido no mercado carioca, mas basta olhar seu currículo para ver sua dimensão profissional: ele esteve por cinco anos na Domingo do JB e outros cinco chefiando a sucursal de Época no Rio de Janeiro, e agora será diretor de Conteúdo de uma empresa que tem, em seu portfólio, clientes como Oi, Petrobras e Cia Vale do Rio Doce.

Na Capital Federal, não é apenas a saída de Dora Kramer que está agitando, positivamente, o mercado. Ribamar de Oliveira, por exemplo, outro colega muito conhecido na imprensa brasiliense, aceitou convite para voltar ao Estadão, jornal onde anteriormente havia trabalhado por uma década. Ao aceitar, ele deixou a equipe do Valor Econômico, onde estava desde a fundação e para o qual escrevia semanalmente uma coluna, além de reportagens especiais sobre política e economia. E é exatamente isso o que ele vai continuar a fazer na sucursal do Estadão. Não é a única novidade por lá: Denise Crispim, que cobre o Itamaraty, vai se casar e muda-se para Madrid. Deixa a sucursal do jornal no início de setembro mas negocia a possibilidade de continuar como colaboradora em terras espanholas.

Várias novidades também no Valor, além da saída de Ribamar. Mônica Izaguirre, que acompanhava BC, vai cobrir políticas e contas públicas e para a sua vaga chega Alex Ribeiro, vindo da Gazeta Mercantil, onde esteve até a última sexta-feira (20/8). Henrique Gomes Batista, que cobria Legislação, está indo para Política e seu substituto deve ser conhecido nos próximos dias. Ainda por lá, Daniel Rittner, que esteve de licença por um ano, retorna na vaga deixada por Leila Coimbra, que já começou esta semana na redação, em São Paulo, no caderno Empresas.

Também a Folha Online, um dos veículos atingidos de forma intensa no corte de um mês atrás, promovido pelo Grupo Folha, vai, aos poucos, recompondo-se (sabe-se lá em que patamares salariais, mas vai). Janaína Lage, por exemplo, que cobria Câmbio e Juros em São Paulo, muda-se em setembro para o Rio (ela é carioca). Substituirá Ivone Portes, que regressa à capital paulista para cobrir Bancos e Inflação – ela estava temporariamente no Rio, na vaga de Ana Paula Grabois, que saiu no último corte. Na sucursal Brasília, registro para a contratação de Rose Ane Silveira, ex-diretora da Sucursal do iG, para cobrir Congresso e Planalto, no lugar do Ricardo Mignone, que está agora na assessoria da Anamatra, a associação dos magistrados; e para a transferência de Ana Paula Oliveira, que deixa a Agência Folha, em São Paulo, para cobrir, na Capital Federal, Fazenda e Banco Central. Ana substituirá Sandra Manfrini, que já está de trabalho novo, na Agência Sebrae de Notícias.

Até o estável telejornal de Boris Casoy – o Jornal da Record – sofreu uma baixa, por demissão voluntária, coisa difícil de acontecer. Sérgio Santos deixou a equipe para regressar à Chefia de Reportagem da Rádio Eldorado. E em seu lugar, na pauta do Jornal da Record, entrou Yara Passos. Outra novidade por lá, no jornal do Boris, foi a efetivação de Cláudia Alguin, após temporada cobrindo férias.

Como se vê, estamos começando a ver aquele saudável movimento de profissionais mudando de emprego por conta de melhores opções salariais e condições de trabalho, coisa que já não vinha acontecendo com intensidade nos últimos dois anos.

Há, além disso, nos principais veículos de comunicação, muitos projetos sendo gestados e que muito brevemente deverão ganhar o mercado. Um deles é a Revista do Estadão, projeto capitaneado por Daniel Piza e Laura Greenhalgh (ele na direção e ela na edição, na linha de frente), que depende de uma decisão do Conselho para ser lançada.

Claro que não dá para ser feliz totalmente e mesmo embalados por essas boas notícias temos uma péssima: o Jornal de Londrina demitiu, na tarde desta última segunda-feira, 16 jornalistas, reduzindo em praticamente 50% sua equipe de redação. Felizmente é um ato isolado, que não tem correspondência com a realidade.

Mudar de emprego por opção, para ganhar mais, trabalhar num lugar que dá mais prazer, com maiores desafios, é sempre um alento. Tomara que os bons tempos estejam efetivamente chegando (ou ao menos a caminho).’



RACISMO NA WEB
Léo Gerchmann

‘Ministério Público gaúcho tenta tirar site racista argentino do ar’, copyright Folha de S. Paulo, 28/8/04

‘O Ministério Público gaúcho, com o apoio do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, está tentando tirar do ar o site racista e anti-semita argentino Valhalla após pedido do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra e da Federação Israelita do Rio Grande do Sul.

Sob sigilo e com pedido formal de ajuda à Interpol (polícia internacional), o rastreamento está se utilizando do mesmo método que costuma ser usado para desvendar casos de pedofilia na internet.

‘Não queremos passar ainda detalhes das investigações porque de certa forma isso pode prejudicá-las. Mas sabemos que o responsável pelo site é argentino e cliente da Telefônica da Argentina’, declarou o promotor Renoir Cunha, da Promotoria Estadual de Direitos Humanos e Cidadania do Rio Grande do Sul.

‘Também estamos fazendo um estudo aprofundado da legislação argentina para sabermos como proibir esse site, como eles podem nos ajudar. Será solicitado um pedido oficial, possivelmente por parte do Ministério das Relações Exteriores. O caso é grave. O Valhalla prega contra judeus e negros, é uma referência do neonazismo na América Latina.’

O site define-se abertamente como nacional-socialista e utiliza até mesmo a expressão ‘Heil Hitler’, saudação em alemão ao líder nazista Adolph Hitler quando ele era o premier da Alemanha e provocou o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial.

Bloqueio de acesso

Cunha disse que o bloqueio do site é uma forma de tentar diminuir a possibilidade de serem fomentados crimes que podem ter influência de apologias racistas. Não se referiu especificamente às recentes mortes de moradores de rua em São Paulo.

Uma primeira medida prática foi a adesão de provedores gaúchos de acesso à internet, que, após uma reunião, assinaram um termo de compromisso para bloquear o site -todos os provedores do Estado estão sendo notificados do acordo.

‘Pretendemos ter a adesão de todos os provedores gaúchos em breve. Nosso próximo passo será pedir a adesão dos provedores em nível nacional. Desse jeito, pelo menos, estaremos bloqueando o site no Brasil’, disse o promotor.’