Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Carlos Heitor Cony


‘RIO DE JANEIRO – Há mais de um mês, a mídia vem se dedicando aos escândalos provocados pelo PT, escândalos provados e não supostos, mas com supostas responsabilidades e supostas tramas. Um barulho real que não é suposto mas que talvez resulte num suposto nada.


Não é de hoje a desproporção entre grandes causas e pequenos efeitos. Há exceções, é claro. O crime de Toneleros, em 1954, provocou barulho e terminou no suicídio de um presidente da República. Anos mais tarde, um irmão que denunciou o irmão, entre outras coisas por se julgar ameaçado na vida conjugal, acabou no impeachment de outro presidente.


São exceções, repito. Prevalece o abismo entre o escândalo e a sua solução. E, mais freqüentemente ainda, a diluição do escândalo na normalidade de nossa vida pública.


Atribuir a culpa desta rotina de esquecimento ao povo, que facilmente se cansa de qualquer assunto por mais emocionante que seja, é parte da explicação. A outra parte, a maior parte por sinal, é da própria mídia, que busca assuntos espetaculares e, quando encontra um, deita e rola, cansando o consumidor e ela própria, mídia, perdendo o rumo central, desviando-se da linha principal e esmiuçando detalhes que nem sempre têm a ver com o caso, além de não serem sequer emocionantes.


Há também o critério editorial que geralmente revela o interesse de determinado veículo, jornal, rádio ou TV, em acusar ou defender alguém ou determinada causa. Não faz muito, um jornal abriu oito páginas compactas sobre um caso em Campos que envolvia dois políticos fluminenses. Parecia que o mundo vinha abaixo. Pouco depois, uma liminar da Justiça reduziu a dimensão do suposto escândalo a uma nota de dez linhas perdidas no noticiário banal da cidade. O Brasil merece que os escândalos dos Correios e do mensalão não tenham final parecido.’


 


Cora Rónai


‘Síndrome de Poliana ou o lado positivo da crise’, copyright O Globo, 21/7/05


‘Ler jornal não tem sido exatamente uma alegria nos últimos tempos, pelo contrário. Tudo é deprimente, a começar pelo fato de que está cada vez mais difícil distinguir o que é política e o que é polícia no noticiário. Em vez dos grandes temas que deveriam nos preocupar, como educação ou saúde, tome Zé Dirceu, Delúbio, Marcos Valério… Um elenco de quinta, em que cada personagem é pior do que o anterior, mais safado, mais cínico, mais grotesco.


Mas é preciso reconhecer que, apesar da podridão geral, pelo menos para algumas coisas boas a crise serve. A primeira, e mais evidente, é mudar o PT e, quem sabe, mudar a mentalidade petista. Confrontado com o fato inegável de que não é o dono da moral e da ética, pode ser que, daqui para a frente, o partido deixe de ser tão arrogante e autoritário.


Também é possível que, descobrindo que seus dirigentes são políticos iguaizinhos aos demais, os petistas passem a ser mais tolerantes com o pensamento alheio, e mais desconfiados em relação a si próprios. Não acredito, sinceramente, que isso venha a acontecer, embora torça para que aconteça: uma mudança assim faria bem a todo mundo.


Outro aspecto positivo da crise é revelar à nação a verdadeira natureza dos seus representantes. Zé Dirceu nunca enganou os que tinham olhos para ver — e, sobretudo, para ler. Não faltam sinais na sua biografia indicando uma pessoa nefasta. Se o resultado de todo este imbróglio for única e exclusivamente o seu afastamento do poder, já estaremos no lucro.


Mas nada como os holofotes da TV Senado em tempos interessantes para nos mostrar quem são, de fato, os políticos que achávamos que conhecíamos. Acredito que os vídeos mostrando os piores momentos de cada um servirão lindamente ao longo dos anos a seus adversários; e acho que, neste fogo cruzado, muito poucos vão se salvar.


Nas próximas eleições vamos ter repeteco de todo o festival de baixarias, de Jorge Bittar (quem diria!) espezinhando a secretária a Arthur Virgílio xingando o presidente. Afinal, uma coisa é o que se diz numa mesa de botequim ou num fórum da internet, e outra, bem diferente, é o que se diz, ou se deveria dizer, na tribuna do Senado. Por pior que seja o presidente, há um simbolismo no cargo que não pode ser desrespeitado nas altas esferas — ainda que o próprio presidente seja o primeiro a fazê-lo. Se um senador da república não se dá ao respeito e não entende este princípio básico, o que se pode esperar dele?!


Mas há mais coisas boas nisso tudo que aí está. Ao escancarar a maneira como se financiam campanhas e jogar no ventilador as cifras monumentais da corrupção, o deputado Roberto Jefferson prestou um grande serviço ao país. Que corrupção existe no Brasil desde sempre todos nós já sabíamos; o que ignorávamos é como acontecia, por quais desvãos se infiltrava, de que gavetas saía.


De repente, o país está tendo uma Aula Magna sobre o assunto, dada por um de seus principais expoentes.


Não é pouco não.


Ficamos todos mais espertos, mais atentos, mais desconfiados.


***


Este poderia até ser o primeiro passo para um grande processo de moralização do país; mas, infelizmente, a crise revelou também que há um enorme vazio no governo — lá, exatamente, de onde deveria partir o principal exemplo.


Lula pode ser um sucesso na França, mas até hoje não descobriu que o papel de um presidente não é rodar o mundo numa nuvem de glória, e sim, se preciso for, pisar na lama para tirar o país do atoleiro.


Com exceção do caso da Gamecorp, que não podia ignorar por estar dentro da sua própria casa, acho que ele de fato não sabia o que estava acontecendo. Ou, por outra: sabia, mas fazendo não saber, exatamente como tanta gente faz na vida amorosa —- sem ter noção, portanto, da real extensão do estrago.


A verdade é que, enquanto a gente faz de conta que ignora, não precisa tomar providências; mas, por outro lado, fica a reboque dos fatos e refém de suposições que nem sempre refletem a realidade. Posição cômoda, mas extremamente perigosa: uma mulher fiel que desconfia que está sendo traída mas prefere não tomar conhecimento da traição corre o risco de só descobrir a verdade quando pegar Aids do marido —- e aí já é tarde.


***


O que nos resta é torcer para que, com o susto, Lula ponha os pés no chão, tome uma atitude e comece a governar o país como prometeu fazer, e não como ‘rotineiramente’ se fazia. E que todos nós, agora devidamente alertados, passemos a exigir mais clareza, mais serviço e menos lero lero daqueles que, afinal, são nossos funcionários.’


 


Folha de S. Paulo


‘Escárnio à nação’, copyright Folha de S. Paulo, 21/7/05


‘Vai ficando cada vez mais claro que os desvios praticados pelo Partido dos Trabalhadores não dizem respeito a um esquema pelo qual irregularidades seriam cometidas em nome de uma causa política -o que, de qualquer forma, caracterizaria corrupção e crime. O depoimento do ex-secretário-geral petista Silvio Pereira à CPI serviu para alimentar ainda mais as suspeitas de que também o enriquecimento pessoal tem sido uma ‘causa’ dos burocratas ou ‘apparatchiks’ (para usar o termo russo) do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Orientado por seus advogados e protegido por um habeas corpus preventivo, Pereira sintomaticamente negou-se a responder questões relativas a seu patrimônio pessoal. Com efeito, seria muito difícil o depoente esclarecer como o construiu sem se ver obrigado a mencionar algumas operações heterodoxas.


Salvo fatos desconhecidos, as propriedades do secretário são incompatíveis com seus vencimentos. Seu automóvel, um Land Rover que custou R$ 75,5 mil, teria sido pago à vista pela empresa vencedora da concorrência para reformar a plataforma P-34 da Petrobras.


Também os dados sobre saques de contas das empresas do publicitário Marcos Valério -feitos por pessoas ligadas a variadas instituições e partidos, entre os quais o PT, como é o caso da mulher do deputado João Paulo Cunha- indicam que o dinheiro não servia apenas para financiar ou saldar dívidas de campanhas, mas para complementar salários.


Perplexos, os brasileiros que acompanham o desenrolar dos depoimentos e das revelações da imprensa vão assistindo ao desvelamento de um amplo esquema de apropriação da máquina pública e movimentação irregular de recursos orquestrado pela cúpula do PT, com evidentes ramificações no governo federal.


Tudo aquilo que os antigos campeões da moralidade política condenaram ao longo de anos de militância oposicionista foi posto em prática -e as justificativas apresentadas, com o concurso do próprio presidente Lula, vão se mostrando um verdadeiro escárnio à nação.’


 


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‘‘Mensalão’’, copyright Folha de S. Paulo, 20/7/05


Carta de Léia Rabelo, assessora de Comunicação Social do Ministério da Justiça (Brasília, DF), publicada em 20/7/05:


‘‘A Folha publicou ontem reportagem da Sucursal de Brasília intitulada ‘Ministro da Justiça orientou Delúbio a falar ao procurador’ (Brasil, pág. A5). Cumpre-nos esclarecer alguns pontos: 1. O advogado do sr. Delúbio Soares, dr. Arnaldo Malheiros Filho, procurou o ministro da Justiça dizendo que seu cliente gostaria de retificar o depoimento que havia prestado à Polícia Federal. Haja vista o interesse da sociedade brasileira no esclarecimento célere de todos os fatos que vêm sendo discutidos pela opinião pública, o ministro disse que o novo depoimento poderia ser prestado à Polícia Federal ou, para que as investigações avançassem mais rapidamente, diretamente à Procuradoria Geral da República. O telefonema do ministro ao procurador-geral visou apenas pôr o advogado em contato com a procuradoria. Ao contrário do que insinua o título da reportagem, não houve nenhuma orientação sobre o conteúdo do depoimento. 2. O ministro da Justiça encontrou-se com o dr. Arnaldo Malheiros Filho, seu amigo pessoal há mais de 30 anos, na quinta-feira, e não na sexta-feira, como informa a reportagem. 3. O ‘chapéu’ da reportagem, ‘Escândalo do ‘Mensalão’/Governo & Partido’, e a fotografia do ministro da Justiça ao lado do presidente do PT, ministro Tarso Genro, e do secretário-geral do partido, deputado Ricardo Berzoini, sugerem que não haja uma divisão clara nas atribuições de função dos servidores públicos e dos membros do Partido dos Trabalhadores. A idéia parece ser, especialmente neste caso, equivocada. Fazer com que as vias institucionais e processuais auxiliem no esclarecimento dos fatos não é desejo apenas do governo e do PT mas de toda a sociedade brasileira. O ministro da Justiça, que não possui filiação partidária, agiu imparcialmente como chefe da Polícia Federal, como tem feito há dois anos e meio. 4. O último intertítulo da matéria relata uma ‘análise’ que a ‘suspeita oposicionista’ faria do que seria a ‘estratégia’ de ‘distribuição de denúncias’ do governo ‘por todos os demais partidos brasileiros’. Tal ‘estratégia’, ainda segundo a reportagem, estaria sendo elaborada pelos ministros da Justiça, da Fazenda e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Essa afirmação sem nenhuma confirmação, fonte ou propósito claro não apenas não tem procedência como não foi perguntada ao Ministério da Justiça.’’


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‘Nota da Redação – Ver seção ‘Erramos’, abaixo.


ERRAMOS


Diferentemente do publicado na reportagem ‘Ministro da Justiça orientou Delúbio a falar ao procurador’, na edição de ontem (Brasil, pág. A5), o ministro Márcio Thomaz Bastos se encontrou com o advogado Arnaldo Malheiros na quinta-feira, 14/7/05, e não na sexta-feira passada.’


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Reportagem em questão (‘Ministro da Justiça orientou Delúbio a falar ao procurador’), publicada em 19/7/05 na Folha de S. Paulo:


‘Foi o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, quem orientou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares a prestar depoimento diretamente ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Nesse depoimento, que aconteceu na última sexta-feira, Delúbio deu a nova versão de que todos os petistas têm ‘caixa dois’ de campanha.


Thomaz Bastos falou duas vezes com o advogado de Delúbio, Arnaldo Malheiros. Numa das vezes, por telefone. A outra foi pessoalmente, em São Paulo, na sexta-feira passada.


Na versão oficial, Malheiros procurou o ministro, que é seu amigo, para dizer que Delúbio pretendia retificar seu depoimento do último dia 8 à Polícia Federal, em que negou o pagamento do suposto ‘mensalão’ para parlamentares sob o argumento de que o PT estava cheio de dívidas de campanha.


Thomaz Bastos sugeriu a Malheiros que, em vez de voltar à PF -que é subordinada ao Ministério da Justiça-, Delúbio deveria ir direto ao procurador-geral da República. O próprio ministro teria telefonado ao procurador para intermediar o encontro, que foi na própria sexta-feira.


Nova versão


A nova versão do tesoureiro do PT para os recursos milionários do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, de que serviam para pagar o ‘caixa dois’, foi dada para a Procuradoria na mesma sexta-feira em que o próprio Valério foi à TV Globo dizer que os recursos vinham de ‘empréstimos bancários’ e eram repassados por ‘orientação do Delúbio’.


Um dia antes, na quinta-feira, Marcos Valério já tinha falado à Procuradoria Geral da República.


Por causa da coincidência de datas e de versões, a oposição suspeita que tudo isso seja uma armação, a exemplo da Operação Uruguai, que tentou, sem sucesso, justificar milhões de reais de origem duvidosa durante o governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello (1989-1992).


Para aumentar a suspeita oposicionista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também deu entrevista, que foi ao ar no domingo, corroborando a tese de que ‘o que o PT fez do ponto de vista eleitoral é o que é feito no Brasil sistematicamente’.


Estratégia


A análise é a de que há uma estratégia do governo para distribuir as denúncias que hoje são contra o PT por todos os demais partidos brasileiros.


Por trás dessa estratégia estaria o ministro da Justiça, que é advogado criminalista e que se reuniu até de madrugada, na quarta-feira passada, com os dois outros principais articuladores políticos do governo: os ministros Antonio Palocci Filho, da Fazenda, e Jaques Wagner, que acumula a coordenação política com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.’


 


Frédi Vasconcelos


‘Um novo agosto com outros fortunatos’, copyright Revista Fórum (www.revistaforum.com.br), 2005


‘A Rede Globo muda o enfoque da crise. A cobertura, até então ‘econômica’, passa a dedicar mais de 10, 15 minutos por dia de cada telejornal à crise do PT. Diferente de outros veículos de comunicação, como a Folha de S.Paulo, o Estado, Veja e TV Bandeirantes que sempre foram claros de que lado estavam, agora a TV Globo também assume o discurso da ‘moralidade’.


Quem conhece a história do Brasil e sabe como golpes são articulados que ponha seu cachecol e enfrente o frio e as desgraças de agosto.


Se falar em golpe parece exagero, vamos à tática. Bate-se nos partidos aliados, no partido do presidente, em ministros próximos. Todos caem, por suas próprias culpas ou não, em ritos sumários. As cabeças na guilhotina para saciar a sede de sangue. Depois, como num passe de mágica, o foco é o próprio presidente. Dá-lhe Jornal Nacional e Veja na mesma semana insistindo que ele sabia de tudo e que o dinheiro público foi usado para financiar o partido.


Falta ainda o cadáver ou as manifestações de rua, as senhoras católicas em defesa da moralidade. Em breve, senhoras e senhores da Daslu pregarão limpeza ética, em nome dos seus ‘bons negócios’.


Depois da morte do PT o país será melhor. Toda a corrupção acabará e nosso servilismo à pátria mãe América voltará a ser com dantes, na terra de FHC Abrantes… Todos dormirão em paz no país mais injusto no mundo.


Esse grito não terá efeito. Os donos do poder já decidiram e contaram com a ajuda de diversos idiotas e corruptos no PT e no governo. Mas mais uma vez tenta-se prender Gregório Fortunato para derrubar Getúlio, ninguém de verdade preocupado com o crime.


E bastam pequenas comparações. Peguem os 90, 100 milhões de reais dos quais idiotas petistas teriam se servido para aumentar seu poder. Mesmo assim não dá nada por cento de comissão dos mais de 100 bilhões movimentados nas privatizações. E nada perto dos R$ 800 bilhões (bi com B) que o governo anterior aumentou na dívida pública, deixando o país de quatro para o FMI e refém dos desígnios de Bush e Clinton e qualquer um que pela Casa Branca passar. Se quiserem comparar com outro, tudo que se diz que esses espúrios petistas fizeram é um quinto do que foi achado em só uma das contas da família Maluf.


Mas não importa. Roubou, cadeia. Agora, fazer com que o ladrão de galinha redima a roubalheira geral é patifaria pura. As elites nojentas não têm dignidade moral para exigir nada. São eles que fizeram o Brasil ser o rei da injustiça social. São eles que roubam a maioria desde sempre. Daqui um tempo, derrubado Lula, por que eles, junto com certos intelectuais de carteirinha suja do organismo golpista-institucional e com seus aparelhos midiáticos fizeram esses serviço.


Talvez descubram que o novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, John Danilovich, amigo pessoal de Bush, não esteja aqui só de passagem, como não estava Lincoln Gordon, que ajudou a arquitetar o golpe de 1964. Danilovich, indicado para suceder uma embaixadora reconhecidamente democrata e com boas relações no governo Lula, trouxe em suas grandes malas muitos agentes da CIA, o que foi declarado na ajuda para realizar as investigações da morte de Dorothy Stang. Aliás, por coincidência, antes mesmo de apresentar suas credencias ao atual governo, o tal Danilovich foi a um encontro com FHC Abrantes, em 3 de agosto de 2004, no instituto fundado pelo ex-presidente com contribuição milionária de empresários. Aliás, dinheiro absolutamente insuspeito.


O mesmo FHC Abrantes que declara pouco meses antes das denúncias de Jefferson que não seria mais candidato a presidente, ‘a não ser em caso de crise’.


Podem ser só coincidências e Danilovich não ter nada a ver com Lincoln Gordon; Roberto Jefferson não possuir nenhum parentesco com o Cabo Anselmo, o agente que se infiltrou entre os comunistas nos meios militares próximos a 64 para depois entregá-los; e nem Arthur Virgilio ter a mesma verve de Carlos Lacerda, mas que o roteiro atual parecece o de um filme antigo, parece.


Agora, que se danem os fortunatos. Lula não foi eleito por eles. E não se pode aceitar que as dasluzetes de hoje, reedição das senhoras católicas, derrotem um projeto popular. Todos devem se preparar para um outro agosto.


Frédi Vasconcelos é jornalista e colaborador da Fórum e não recebeu nenhum mensalão.’


 


ENTREVISTA DE LULA


Ricardo Noblat


‘Ser e parecer imparcial’, copyright Blog do Noblat (www.noblat.com.br), 20/7/05


‘Pegou mal, muito mal dentro da própria TV Globo o modo como foi aproveitada no Fantástico do último domingo a entrevista fajuta de Lula à graciosa e amigável Melissa Monteiro, produtora free-lancer em Paris – aquela da pergunta sobre se há males que vêm para o bem. No caso, o aparente bem fez mal à Lula porque o empurrou para o meio da crise.


A ordem reforçada dentro da Globo é: não basta ser imparcial. É preciso também parecer imparcial.


Assim ela tem procurado se comportar desde anteontem.’


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘Siga o dinheiro’, copyright Folha de S. Paulo, 21/7/05


‘Entrou às 18h22, após mais um dia de transmissão de depoimento tedioso nos canais de notícias, rádios e sites. Foi no Blog do Moreno:


– Nelson Jobim acaba de deferir o pedido de bloqueio das contas da mulher de Valério. Ela tentou sacar quase R$ 2 milhões de sua conta. O procurador-geral da República, Antônio Fernando, levou pessoalmente o pedido de bloqueio ao presidente do Supremo.


Demorou para o restante da cobertura, a começar da Globo Online, que hospeda o blog, acordar da letargia.


No que se conseguiu acompanhar, foi a Jovem Pan a primeira a repercutir. Daí para outros blogs, rádios e a escalada do ‘Jornal Nacional’:


– Mulher de Marcos Valério tenta sacar dinheiro do banco e o Supremo bloqueia.


Na falta de notícia, a Globo carregou na retórica ao retratar o interminável -e acintoso- depoimento do ex-tesoureiro Delúbio Soares.


Apelou para a juíza/deputada Denise Frossard, que julgou e condenou, no ar:


– O senhor tem consciência de que os crimes que eu lhe imputei aqui o senhor estará respondendo lá fora? Que é integrante de uma quadrilha que trafica influência, que praticava crimes de corrupção e que lavava dinheiro. O senhor conhece uma prisão?


Não adianta, o escândalo não está mais nas palavras, mas nas contas bancárias.


No enunciado dos canais de notícias, a partir da tarde, ‘adiado o depoimento de Valério’, programado para hoje. Foi depois da submanchete do jornal ‘Valor’, sobre saques nas contas do publicitário:


– CPI revela pagamento de Valério a políticos do PT, PP, PL e PSDB.


O ‘adiamento’ sem nova data de Valério havia sido solicitado por dois parlamentares do PSDB.


E a relação dos que tiravam das contas só faz aumentar. Era a manchete do UOL, ontem no final da tarde, e abriu depois o ‘Jornal da Record’:


– Lista dos que recebiam dinheiro de Marcos Valério já tem 46 nomes.


A novidade então eram o PFL e mais petistas. Não demorou e os 46 saltaram para mais de cem, no Blog do Moreno:


– Fechado o cerco. Supremo e Procuradoria Geral já têm os mais de cem nomes autorizados a fazer saques.


DA DEMOCRACIA


Na Globo, campanha para ‘tirar o título de eleitor, só até sábado’


Foi parar no ‘Jornal da Globo’, longe do ‘JN’, a porção mais chocante do novo Ibope. ‘Lula é o favorito’, dizia o telejornal na madrugada, mostrando Geraldo Alckmin e FHC, com esforço, empatando com Garotinho.


E mostrando que, sem Lula, Garotinho leva.


Na reportagem da Reuters, intitulada ‘Economia e pesquisa ancoram Lula’ e destacada no UOL, ‘o governo Lula completa dez semanas sob bombardeio, mas nem as pesquisas nem a oposição indicam articulação para julgar o presidente e derrubar o governo’.


Não foi bem o que se viu, ouviu e leu, na cobertura. Do blog tucano E-Agora, de linha fernandista:


– Por mais que alguns setores da oposição ainda estejam tentando poupar Lula agora, quem está razoavelmente informado já sabe o que deve ser feito.


À Reuters, o pefelista Jorge Bornhausen afirmou que ‘está diminuindo dramaticamente o limite de presunção legal da inocência do presidente’. ACM, à Globo Online, acrescentou que ‘defender Lula é impossível’.


Tem mais. Em nota postada pelo Blog do Noblat ainda pela manhã, ‘Jorge Bornhausen embarcou para o Rio, onde almoça com o manda-chuva das Organizações Globo’. Antes, o presidente do PFL ‘recebeu em seu apartamento o deputado Roberto Jefferson’.


Agressiva como nunca desde que exibiu a entrevista de Lula que caiu do céu, a Globo mantém certo otimismo institucional. Por exemplo, ao avisar que termina nesta semana o prazo para tirar o título e votar no referendo sobre desarmamento. Tainá, 16, entre outros entrevistados, disse que ‘quer contribuir com o voto’:


– A gente participa da sociedade, da democracia.


Escalpo


Para o espanhol ‘El País’, ‘a economia brasileira não dá o menor sinal de perceber os golpes que estão levando a classe política à lona’.


Para o britânico ‘Financial Times’, na coluna Lex, ‘até aqui os mercados financeiros têm se mostrado audaciosos’ com o Brasil, apesar do escândalo que ‘ainda pode tirar o escalpo do presidente Lula’.


Fim de era


O ‘FT’ até celebrou, ontem em reportagem:


– Marcando o fim de uma era para os mercados emergentes, o governo brasileiro está trocando seu famoso C-bond, que por anos foi o título mais líquido, por nova dívida.


Segundo o jornal, o título ‘não vai deixar saudades’.’