Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Carlos Heitor Cony

‘Reclamam dos jornais que só publicam atos ou fatos extraordinários. Quem sai de casa para o trabalho e volta, sem ser assaltado, assassinado, roubado ou seqüestrado, não merece notícia nem comentário.

Na semana passada, junto ao meu escritório, aqui no Rio, um senhor grisalho foi assaltado por dois rapazes. Reagiu como pode, mas pode pouco: um dos jovens deu-lhe um tiro na cabeça, morte fulminante. O corpo ficou na calçada durante horas. Nenhuma nota nos jornais ou nos noticiários das rádios e das TVs. Não foi um ato nem um fato que merecesse notícia. O corpo ensangüentado na calçada era tão natural como a própria calçada.

No mesmo dia, indo a São Paulo, tomei um táxi em Congonhas e reparei que o motorista estava trêmulo, sem condições de dirigir. Quis mudar de carro, mas ele me tranqüilizou, pediu um tempo, garantiu que logo estaria bem.

Durou pouco a crise do motorista. Levou-me para o hotel, mas me contou. Momentos antes, numa das ruas próximas ao aeroporto, ele escapara por pouco de um tiroteio que deixou dois mortos no asfalto. Sem que eu pedisse, desviou-se do itinerário habitual, passou novamente pela tal rua e me mostrou: os dois corpos lá estavam, cobertos por jornais. Desconfiei que ele queria provar que não mentira, que não inventara aquelas mortes.

Nenhuma notícia. É evidente que as delegacias da jurisdição anotaram os dois crimes, solicitaram a remoção (certamente tardia) para o Instituto Médico Legal. Tudo rotina.

Bem verdade que, nos dois casos, havia pessoas em volta dos corpos. Brevemente, nem isso. Olharão por olhar, mas sem escândalo ou pasmo. Logo seguirão caminho, que a vida é assim mesmo, uns morrem e ficam na calçada, outros vão para o trabalho e, se não tombarem em outra calçada, voltarão para casa.

Sim, mas até quando?’



MÁ INFLUÊNCIA DA TV
Folha de S. Paulo

‘Duas crianças morrem ao imitar a execução de um criminoso exibida na TV’, copyright Folha de S. Paulo, 26/8/04

‘A exibição, pela TV, da execução de Dhananjoy Chatterjee, 41, ocorrida na semana passada, teria provocado a morte de duas crianças na Índia.

Elas tentaram imitar o enforcamento de Chatterjee -o primeiro condenado a morte a ser executado na Índia em 13 anos.

No domingo, Prem Gaekwad, 14, morreu ao tentando repetir de brincadeira o enforcamento do criminoso em sua casa em Bombaim.

O pai do menino disse que seu filho era muito curioso e havia feito muitas perguntas sobre a execução de Chatterjee.

Na semana passada, uma outra menina, de 12 anos, já havia morrido no leste do país tentando explicar para seu irmão mais novo como Chatterjee foi enforcado, segundo relatos de jornais indianos.

Um outro menino indiano, de dez anos, está em estado grave. Junto com os amigos, ele tentou simular o enforcamento.

Tanto a execução do criminoso quanto as mortes subseqüentes das crianças reacenderam o debate sobre a aplicação da pena de morte no país.

‘As crianças tem uma curiosidade natural sobre qualquer coisa que não seja ordinária’, afirmou o psiquiatra indiano Anjali Chhabria.

‘Além disso, alguns jornais e TVs deram detalhes sobre como foi feita a execução por enforcamento. Isso tornou fácil a imitação’, acrescentou.’



FESTIVAL
Daniel Castro

‘TV Cultura decide fazer festival de música’, copyright Folha de S. Paulo, 26/8/04

A TV Cultura planeja promover no ano que vem um festival de música popular. A emissora encomendou um projeto ao produtor Solano Ribeiro, que em 1965 realizou, na Excelsior, o primeiro evento do gênero, vencido por Elis Regina, com ‘Arrastão’.

‘Há uma decisão de fazer o festival, para dar espaço à música, mas há ainda uma questão fundamental, que são os recursos’, diz Marcos Mendonça, presidente da Cultura. Segundo ele, os custos serão bancados por patrocinadores privados. ‘A gente vai fazer agora uma prospecção de mercado. Acho muito viável’, diz.

De acordo com Solano Ribeiro (que também coordenou o último festival da TV, na Globo, em 2000, que foi um fiasco artístico), as inscrições para o festival da Cultura devem começar ainda neste ano. A idéia é que o evento vá ao ar, durante dois meses, a partir de maio. Serão um programa com a história dos festivais, quatro eliminatórias, duas semifinais e uma final.

Todas as etapas serão realizadas em São Paulo. A idéia da Cultura é realizar um evento bem mais modesto do que os da Globo _o festival de 2000 custou R$ 20 milhões, mas deu lucro à emissora.

Ribeiro quer inovar. Planeja uma competição paralela de videoclipes gravados pelos 12 finalistas. ‘Vamos dar uma atualizada na linguagem’, diz. Ele promete abertura a todos os gêneros, inclusive rap. ‘Mas o que vai determinar é a qualidade da música.’’



PLÁGIO
Folha de S. Paulo

‘Imprensa inglesa destaca pecado do plágio ‘debaixo do Equador’’, copyright Folha de S. Paulo, 26/8/04

Chegou à imprensa inglesa a polêmica do suposto plágio feito pelo jornalista australiano Peter Robb no livro ‘A Death in Brazil’ (Uma Morte no Brasil), revelada pela Folha, em junho passado.

O jornal ‘The Guardian’ traz reportagem, na edição de terça, afirmando que ‘um dos mais eminentes jornalistas latino-americanos [Mario Sergio Conti] acusa um dos principais escritores australianos [Robb] de agir como ‘um grande ladrão, um predador colonial, um pirata certo de sua impunidade’.

Conti afirma que ‘A Death in Brazil’ copia várias passagens de seu ‘Notícias do Planalto’ (Companhia das Letras, 1999). Ambos tratam da morte, em 1996, do ex-tesoureiro de Fernando Collor de Mello, Paulo César Farias.

O ‘Guardian’ diz que Robb ‘não está falando’ sobre o assunto e cita declarações de um editor, não-identificado, da Bloomsbury, de que o australiano ‘não acredita que seja plágio, já que o livro de Conti está citado como fonte’ e que ‘essa prática é aceita em não-ficção não-acadêmica’. À Folha, Robb afirmou que ‘[as acusações] são ridículas num sentido e muito sérias legalmente falando’.

O ‘Guardian’ lembra ‘a famosa frase brasileira de que ‘não existe pecado do lado debaixo do Equador’ e conclui: ‘Mas isso não significa que possa ser importado’.’



NET E TELMEX
Folha de S. Paulo

‘Net deve abrir capital; Telmex será sócia’, copyright Folha de S. Paulo, 28/8/04

‘A Net Serviços, maior operadora de TV por assinatura da América Latina, reiterou ontem que deve pedir, no próximo mês, o registro na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para a emissão de ações que permitirá a reestruturação de sua dívida e a entrada do grupo mexicano Telmex no capital da companhia.

A previsão foi dada ontem pelo diretor de relações com investidores, Leonardo Pereira, na reunião com analistas, na sede da Apimec (Associação dos Profissionais de Investimento e do Mercado de Capitais), em São Paulo.

Entre abril e junho, a Net teve um prejuízo de R$ 76,7 milhões, após contabilizar lucro de R$ 31,454 milhões em igual período do ano passado. O resultado negativo foi creditado ao efeito da alta do dólar na sua dívida, estimada em R$ 1,4 bilhão.’