Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Carlos Orsi

‘Que tal rachar a internet, criando uma ‘rede paralela’, administrada apor países em desenvolvimento? A idéia foi aventada por um dos membros da delegação brasileira numa reunião sobre sociedade da informação realizada em Genebra, na Suíça. O encontro de Genebra é preparatório para a segunda fase da Cúpula Mundial da sociedade da informação, marcada para novembro na Tunísia. Um dos pontos ‘quentes’ da discussão é a governança da internet – em outras palavras, quem manda neste barraco.


Trata-se, curiosamente, uma pergunta bem difícil de responder. Por exemplo, padrões técnicos são definidos pela internet Engineering Task Force (Força-Tarefa de Engenharia da internet, ou IETF), um grupo aberto, de participação voluntária e bastante informal.


Já a administração de endereços e nomes de domínios – responsável por garantir que os endereços na internet correspondam aos websites corretos – fica a cargo da ICANN, sigla em inglês para Corporação para Nomes e Números Designados na internet. A ICANN é bem menos informal que a IETF: trata-se de uma corporação (ainda que sem fins lucrativos) contratada para desempenhar sua tarefa pelo Departamento de Comércio dos EUA. Essa vinculação contratual com o governo americano gera um certo incômodo no resto do mundo: muita gente preferiria ver a ICANN, ou alguma outra organização com o mesmo papel, atuando sob os auspícios da ONU, por exemplo. Outro problema que costuma ser apontado por políticos e diplomatas é que a internet não tem um instrumento de coordenação política. A IETF, a ICANN e outras organizações têm caráter estritamente técnico: ninguém tem poder ou autorização para baixa leis, decretos ou assina tratados ‘da’ internet ou ‘pela’ internet. Nesse aspecto, a rede existe numa espécie de vácuo. Uma resposta comum a essa questão é outra questão: o que há de mau nisso? Os burocratas já não estão felizes infernizando a vida da gente no mundo físico, agora querem também o ciberespaço?Claro, essa objeção pode ser ingênua. Alguém pode argumentar que, dada a vinculação da ICANN com o governo dos EUA, já há burocratas por trás da rede – os americanos – prontos para dar o bote a qualquer momento.


Nesse ponto de vista, a ‘internet paralela’ teria o mérito de acabar com a ilusão da neutralidade política da rede. Mas a idéia de uma internet sustentada por – como se disse em Genebra – Brasil, Índia, África do Sul e China também não seria livre de problemas. Afinal, quem iria querer entrar numa internet controlada pela China, onde mandar um e-mail falando mal do governo pode dar cadeia?E aqui chegamos ao ponto central da questão: a vontade do usuário. A idéia da ‘internet do B’ ainda é muito especulativa para que se possa saber exatamente do que se trata, mas logo de cara corre o risco de se transformar em mais um tipo de incompatibilidade tecnológica artificial – como entre PAL-M e NTSC, ou as quatro regiões do mercado de DVDs – que os cidadãos de sociedades abertas e democráticas sempre dão um jeito de contornar. Se for assim, a ‘rede paralela’ só funcionará, mesmo, na China.’


RÁDIO DIGITAL
André Mermelstein


‘Governo não definirá padrão de rádio digital’, copyright PAY-TV News, 22/09/2005, 12h31


‘O governo não definirá um padrão único de rádio digital. A opção tecnológica poderá ser feita individualmente pelas emissoras, a exemplo do que acontece com os celulares. Segundo Ara Apkar Minassian, superintendente de Comunicação de Massa da Anatel, a única exigência é que o padrão escolhido use tecnologia que faz as transmissões em cima da mesma banda usada hoje pelas transmissões analógicas. Isto porque, explica Minassian, não há freqüências disponíveis fora das faixas atuais. Atualmente, dois padrões funcionam desta forma: o DRM e o iBiquity IBOC (In Band One Channel), sendo que o segundo vem sendo o preferido das emissoras por trabalhar em AM e FM.


Sem liberação


Está marcado para a próxima segunda-feira, 26, o início dos testes de rádio digital no Brasil, autorizados pela Anatel. Em entrevista à rádio CBN na manhã desta quinta-feira, 22, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, elogiou as emissoras e disse que a digitalização proporcionará liberação de freqüências e permitirá a entrada de novos serviços, como canais dedicados exclusivamente a notícias, informações de trânsito, clima etc. Também disse que o rádio será um instrumento de inclusão digital.


A realidade é um pouco diferente. Como os testes serão feitos na plataforma IBOC, que utiliza a mesma banda atual para as transmissões digitais, não serão liberadas novas faixas. Isto acontecerá somente quando forem desligadas as transmissões analógicas, processo que pode levar décadas.


Receberam autorização da Anatel as emissoras do Sistema Globo de Rádio, Itatiaia, RBS e Eldorado. A Bandeirantes também pretende fazer testes e deve entrar com o pedido de autorização ainda esta semana.


A princípio, a idéia das emissoras é, a partir dos testes (e caso estes tenham sucesso), começar a transmitir permanentemente em digital (mantendo o analógico paralelamente por tempo indeterminado). Segundo Ara, não será necessária nenhuma nova autorização para isso.




APPLE
Bobbie Johnson


‘Steve Jobs nada na maré positiva da Apple’, copyright O Estado de S.Paulo, 23/9/05


‘Num mundo paralelo, Steve Jobs poderia ser um jogador de pôquer com reputação de um apostador sortudo. Depois de três décadas no topo da tecnologia, todas as habilidades necessárias estão lá – paciência, auto-suficiência, coragem. E, o mais importante, a capacidade de nadar numa onda de sorte.


‘Algumas pessoas acham que tivemos sorte com o iPod, e realmente tivemos’, diz Jobs. Mas, acrescenta, os verdadeiros vencedores não apenas desfrutam das oportunidades. Eles as exploram. É preciso continuar no topo, principalmente quanto todo mundo está querendo pegá-lo. ‘Temos concorrentes de primeira linha tentando acabar conosco.’


Até agora, a concorrência não está fazendo um grande trabalho. O domínio da Apple no mercado de computadores domésticos pode ser fraco, mas a empresa detém todas as cartas na música digital. Graças às vendas fenomenais do iPod no decorrer nos últimos anos, a Apple está na sua maior alta de todos os tempos e seu domínio sobre o downloading de música é quase total. Mais de 6 milhões de iPods foram vendidos nos últimos três meses, alicerçados por uma campanha de marketing penetrante e pela crescente percepção do consumidor. Não é de estranhar, portanto, que Jobs esteja num estado de espírito confiante.


Ele está otimista em relação ao futuro da Apple, a empresa que fundou há quase 30 anos na garagem da casa dos pais. Acredita que o fundamental para o sucesso da empresa é a visão da Apple – a visão dele – de simplificar a tecnologia. ‘Há um DNA muito forte na Apple que diz respeito a pegar tecnologia de ponta e facilitá-las para as pessoas’, diz. A meta de Jobs são consumidores modernos e ocupados, ‘pessoas que não querem ler manuais, pessoas que levam vidas muito agitadas’.


Certamente há um grande número de pessoas que compram por causa desse conceito. E muitos são estimulados pelo próprio Jobs, um vendedor excepcional, que atinge seu ápice em um palco e com uma grande platéia à sua frente.


Mas, apesar do seu sucesso no palco, Jobs não fez o discurso principal na exposição anual da Apple em Paris no início desta semana. E por um único motivo: não havia nada novo para anunciar. A empresa já tinha divulgado seu produto da primavera, o nano iPod, duas semanas antes. A outra grande notícia, o telefone ROKR da Motorola compatível com o iTunes, está sendo realinhado como pouco mais de um teste.


Fora o nano, o armário da Apple está bem vazio. É um momento de baixa no ciclo de produtos, com grande parte do trabalho nos bastidores concentrado nos computadores baseados em Intel que devem sair no próximo inverno. Mas novos iPods estão em andamento, e Jobs promete ‘muitas coisas novas que estão sendo planejadas’.’




GOOGLE
Folha de S. Paulo


‘Fundadores do Google sobem 27 posições em lista de bilionários’, copyright Folha de S. Paulo, 23/9/05


‘Os fundadores do Google, Sergey Brin e Larry Page, subiram 27 posições no ranking da revista ‘Forbes’ das 400 pessoas mais ricas dos EUA, após a oferta inicial de ações da empresa. Em 16º lugar empatados, Brin e Page têm fortuna de US$ 11 bilhões cada um, contra US$ 4 bilhões individualmente em 2004, diz a ‘Forbes’.


Bill Gates, presidente da Microsoft, liderou a lista da revista pelo 11º ano consecutivo, com sua fortuna de US$ 51 bilhões. Na vice-liderança está Warren Buffett, da empresa de investimentos Berkshire Hathaway, com US$ 40 bilhões. Em terceiro lugar está Paul Allen, co-fundador da Microsoft, seguido por Michael Dell, presidente da Dell, e Lawrence Ellison, presidente da Oracle.


O restante dos dez mais ricos dos EUA são membros da família Walton, que fundou o Wal-Mart -Jim, Christy, Robson, Alice e Helen, cada um com mais de US$ 15 bilhões.’


REALITY SHOW
Andrew Gumbel


‘Avião que fez pouso de emergência exibiu notícias durante o vôo’, copyright Folha de S.Paulo / The Independent, 23/9/05


‘Tudo começou como um rumor durante a tarde. ‘Ouviu falar do avião?’, perguntavam.


Em menos de uma hora, quase todos ouviram -e assim começou quiçá o maior evento de mídia que Los Angeles viu desde a perseguição a O.J. Simpson, mais de 11 anos atrás.


Um avião da companhia Jet Blue se deu conta de que não podia recolher o trem de pouso.


A aeronave sobrevoou Los Angeles por três horas, sempre monitorada pela imprensa.


Numa nação atacada de ansiedade por conta da guerra no Iraque, da ameaça de ataques estrangeiros e do poder destrutivo da natureza, ali havia um drama em escala íntima o bastante para ser entendida por todos.


O avião explodiria ao tocar o solo? O piloto manteria a calma? Os passageiros não apenas pensavam nisso: eles acompanhavam o que se passava pelos televisores do avião, sintonizados num canal de notícias em que especialistas discutiam animadamente cenários possíveis como ferimentos, mutilação e morte.


‘Foi arrepiante assistir a nós’, disse mais tarde o passageiro Matthew Ash ao ‘Los Angeles Times’. ‘Inimaginável. Ouvimos pessoas especulando sobre isso e aquilo. Foi estranho.’ Diversos passageiros foram tomados por um senso de humor negro e não paravam de rir.


A televisão não quis dizer, pois estragaria o drama, mas pousar um avião nesse estado é relativamente simples. Mesmo descer sem roda nenhuma é algo a que se pode sobreviver, pilotos disseram mais tarde.


Todos os olhos dirigiam-se ao vôo 292 quando o piloto Scott Burke fez a descida. Os passageiros foram mandados para o fundo do avião, por razões de distribuição de peso e para maximizar sua segurança. A televisão que os distraíra foi desligada. A tripulação pediu enfim que todos ficassem na posição que praticaram.


O avião tocou o chão primeiro com as rodas traseiras e conseguiu um pouso perfeito. Os passageiros o saudaram com abraços. No ar, o piloto estava tão calmo que se preocupava mais com a mídia do que com cometer um erro fatal. ‘Quero que os lobos da mídia fiquem longe de mim’, disse à torre de controle.’