Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Carta Capital


PIRATARIA
Felipe Marra Mendonça


A pirataria doméstica desafia a indústria, 11/7


‘Um em cada três consumidores nos Estados Unidos e no Reino Unido fez cópias de DVDs no últimos seis meses. Este é o principal resultado de um estudo divulgado pela consultoria inglesa Futuresource Consulting, disponível no endereço http://www.futuresource-consulting.com/ press/2008-07_HomeCopyingWhitePaper.pdf.


Foram entrevistados mais de 5,3 mil usuários nos dois mercados. As perguntas tinham como foco principal o que a consultoria chama de ‘pirataria doméstica’. O tom do relatório parece condenar os cidadãos pela prática, embora a maioria a faça de modo legal, para uso pessoal.


Os números são quase idênticos nos dois países. Entre os norte-americanos, 32% fizeram uma cópia de DVD nos últimos seis meses, um pouco menos do que os 36% de britânicos. Os cidadãos dos EUA preferem piratear filmes e os do Reino Unido, seriados de tevê.


A escolha dos consumidores entre comprar um DVD ou copiar conteúdos para uso pessoal é outro dado relevante da pesquisa. À pergunta: ‘Se você não tivesse conseguido uma cópia, você teria feito uma compra legal?’, o consumidor norte-americano optaria por um DVD legítimo em 77% dos casos, mais do que os 63% de britânicos. Os pesquisados, porém, não precisaram responder se comprariam todos os títulos que não conseguissem copiar. Essa falha dificulta a análise do impacto que a prática tem na indústria de entretenimento. Ainda assim, os entrevistados afirmaram que só comprariam um DVD legítimo se estivesse em promoção.


Quanto ao processo de cópia, a maioria não distingue entre o método analógico e o digital. O mais utilizado é conectar um tocador comum de DVD a um gravador, enquanto os que se consideram mais sofisticados preferem usar um programa de computador para fazer novas cópias.


A consultoria concluiu que o declínio nas vendas de DVDs deve-se ao fato de que há mais piratas hoje do que em 2007. Também argumentou que permitir ao consumidor piratear em casa, em vez de comprar títulos em lojas, mostra que ‘níveis significativos de receita são perdidos por causa de cópias domésticas’.


Embora a preocupação com a teórica perda de faturamento seja compreensível, colocar a culpa no avanço da tecnologia é um ponto discutível. A pesquisa repete seguidas vezes que as cópias foram feitas a partir de DVDs originais, comprados legalmente, e que serviram apenas para uso pessoal. O usuário não obteve nenhum lucro nem vendeu um produto similar a preço mais baixo. Talvez fosse mais justo que as distribuidoras analisassem os preços cobrados, quase extorsivos, mesmo em países de renda elevada, como os EUA ou o Reino Unido.’


DANIEL DANTAS
Mino Carta


Passado o Rubicão, alea jacta est, 11/7


‘Hugo Chicarone, professor na gangue do Opportunity, disse: O problema para nós está na primeira instância, no STF e no STJ a gente tem vida fácil. A frase é recente, e certamente apressada. Confiante demais. Inegável, porém, é que a situação de Daniel Dantas na 6ª Vara de São Paulo está destinada a um desfecho fatal, enquanto o habeas corpus concedido pelo presidente do Supremo, Gilmar Mendes, não passou de paliativo. O banqueiro já voltou à prisão.


O Rubicão foi transposto. O disco rígido retirado pela PF da sede do Opportunity há quatro anos finalmente foi aberto e a nação tem o direito de conhecer seu conteúdo. Altíssima figura da República, em fins de 2005, quando perguntei em off por que o disco continuava fechado, respondeu textualmente: ‘Se for aberto, o Brasil pára por dois anos’. Outra personagem de primeiro plano foi além: acaba a República.


CartaCapital permite-se vaticínios opostos. A nação abre os olhos e a República se fortalece. Sempre convém botar pingos nos is e dar o nome aos bois. Graças às façanhas do banqueiro do Opportunity, o Brasil tem a chance de uma mudança real, profundíssima. DD não é Sansão. Está habilitado, porém, a levar para o inferno um número expressivo de filisteus.


Houve até quem supusesse que o homem tem uma abnorme orelha direita e acusasse CartaCapital de sublinhar-lhe o defeito físico. Mas o banqueiro deve seu desmesurado ouvido a uma caricatura fotográfica produzida pelo computador, de sorte a caracterizar alguém tão obsessivamente inclinado a ouvir a conversa alheia.


CartaCapital, desde a época de quinzenal, faz mira insistente no orelhudo porque sabe dos seus poderes daninhos. Foi pioneira na identificação de um esquema de corrupção montado há muitos anos e de proporções e capilaridade extraordinárias, e logo ganhou a companhia de outra revista, a Teletime de Rubens Glasberg, e de dois jornalistas acostumados a remar contra a corrente, Paulo Henrique Amorim e Luis Nassif.


Autor da primeira reportagem dantesca de CartaCapital foi Giancarlo Summa. Depois o então redator-chefe Bob Fernandes escreveu várias e, ao deixar a revista, manteve a mesma linha de atuação em seu freqüentadíssimo blog. Feitas as contas, trata-se de uma armata brancaleone empenhada em atirar pedrinhas sobre a avenida do império midiático nativo. O enredo é conhecido e se repete em todos os quadrantes da atividade jornalística. Os praticantes do espírito crítico, prontos a fiscalizar o poder onde quer que se manifeste, pagam caro por isso.


No caso de CartaCapital, tivemos de enfrentar anos a fio a pecha de cultivar preconceitos, quando não ódio descabido, sem contar o comportamento de algumas agências de publicidade que descobriram um bom motivo para nos negar anúncios. Nem por isso recuamos. Hoje aqui estamos sem a vontade de celebrações retumbantes. Podemos ter apenas a certeza do dever cumprido.


De resto, a questão ainda não chegou ao ponto de fervura. Esta operação batizada em sânscrito tende a ser, entretanto, o começo de uma mudança capital na história do País. Assim seria se o Estado provasse sua disposição e sua capacidade de debelar a corrupção e a sociedade a mesma determinação para afastar quem a envergonha. Envergonha?


Cautelas e dúvidas sempre cabem. Nem tanto em relação ao governo do presidente Lula, que age agora com insólita firmeza depois de muitas tergiversações, abençoadas pela ministra do Supremo Ellen Gracie, e a despeito de claras divergências dentro da própria corporação policial. As dúvidas maiores dizem respeito ao establishment, a viver no momento entre o espanto e o pânico, na percepção de que o entrecho é muito maior e mais complexo do que parece.


Não causa surpresa, pelo contrário, a reação imediata do império midiático, porta-voz dos graúdos do Brasil, dos senhores, dos barões. Está claro o empenho em conter a situação dentro dos limites do passado próximo e do presente, como se a origem da investigação remontasse apenas e tão-somente ao chamado mensalão. No entanto, é do conhecimento até do mundo mineral que o fio da meada está no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, na infame marmelada das privatizações, quando o Opportunity se tornou o banco do tucanato, depois de ter prestado inestimáveis serviços ao PFL.


Longo período de mazelas e falcatruas, cujo fruto de recente maturação é a celebradíssima BrOi, a fusão apresentada como indispensável aos interesses do Brasil. Quanto ao valerioduto, não passa de um capítulo da história, e nem mesmo significativo. Ainda assim, a tentativa de turvar as águas, de engodar os ingênuos e os aspirantes ao privilégio em geral está em pleno andamento, com a contribuição de jornalistas (?), editorialistas, colunistas e quejandos, que até ontem tocaram seus violinos a favor do orelhudo. Do orelhudo e da sua turma, aconselhada e defendida por um exército de advogados e até por um pelotão de jornalistas (?), ou melhor, mercenários da imprensa escrita e falada.


Já houve tempo em que Dantas tentou corromper CartaCapital, por meio de uma campanha publicitária. Veio a equipe do Comercial: ‘Aceitamos?’ Por que não, se os anúncios não forem politicamente incorretos? Tudo não foi além de duas inserções. Logo saímos com mais uma reportagem de capa sobre as façanhas do orelhudo. A campanha foi cancelada, e a gente riu muito.


O banqueiro moveu dois processos contra o acima assinado. O primeiro no Cível, e perdeu. O segundo, no Criminal, está em curso. Quem advoga a causa de Daniel Dantas é o escritório de Márcio Thomaz Bastos, e a ação foi iniciada durante o primeiro mandato do governo Lula. Bastos desligara-se da atividade advocatícia pelo tempo em que ocupasse a pasta da Justiça. Não engulo, contudo, este pormenor da história, decerto secundário. Bem como não engulo outro, muito mais importante: o encontro do então ministro da Justiça com Dantas, para um jantar na casa do senador Heráclito Fortes, graças à intermediação de dois deputados petistas.


Pois infinitos foram os caminhos do orelhudo, para a vergonha do Brasil.’


Luiz Gonzaga Belluzzo


Exemplar sr. Dantas, 11/7


‘‘Preferi a tranqüilidade do silêncio ao ruído das propagandas falazes; não suportei afetações; as cortesias rasteiras, sinuosas e insinuantes, jamais encontraram agasalho em mim; em lugar algum pretendi subjugar, mas ninguém me viu acorrentado a submissões; – dentro de uma humildade que ganhei no berço, abominei a egomania e a idolatria; não me convenceram as aparências, e para as minhas convicções busquei sempre os escaninhos. No exercício das minhas funções de magistrado, diuturnamente, dei o máximo dos meus esforços para bem desempenhá-las,(…) em nenhum momento transigi com a nobreza do cargo; escapei de juízos temerários, tomando cautelas para desembaraçar-me das influências e preferências determinantes de uma decisão; – e, se alguma vez, inadvertidamente, pequei contra a lei, vai-me a certeza de que o fiz para distribuir bondade e benevolência.’


Discurso pronunciado pelo juiz Luiz Gonzaga Belluzzo (1916-2000), por ocasião de sua aposentadoria


Heidegger disse em seu livro sobre Nietzsche: a idéia do eterno retorno do mesmo é o desdobramento íntimo da idéia da vontade de potência. Nietzsche, atento às trágicas idiossincrasias do homem produzido pela sociedade moderna, seria incapaz de antecipar a completa realização de seus conceitos num país tropical. Aqui a vontade de potência reescreve, em vários capítulos, o eterno retorno do mesmo.


Em obediência à sabedoria nietzschiana, cuido de reescrever o texto que tantas vezes escrevi diante de episódios semelhantes ao da prisão de Daniel Dantas. Este senhor, cuja prisão é anunciada com pompa, mas nenhuma circunspeção, foi um servidor fiel das forças que agora promovem a sua liquidação moral e política.


Os cínicos ou néscios ignoram que o peso dos interesses e os interesses de peso transformaram os Estados Nacionais, uns mais que outros, em instrumentos de acumulação dos grandes grupos privados. Assim é o capitalismo realmente existente e, por isso, assim é (e sempre foi) nos Estados Unidos da América, desde os barões ladrões até o escritório de corretagem organizado por George Bush & cia. Essa engrenagem controla o Estado por dentro e, para reproduzir a si mesma, esmera-se em produzir os funcionários corruptos e os escândalos empresariais, num movimento simultâneo e paradoxal. Mas a autoconsciência do Estado Plutocrático americano não permite que a situação escape ao controle: institucionalizou o lobby e limitou o ilícito. O secretário do Tesouro, Henry Paulson, advogou publicamente a ‘suavização’ da Lei Sarbanes-Oxley, promulgada depois da sucessão de escândalos promovidos pelas ‘inovações’ financeiras da Enron e inventividades assemelhadas.


Na caricatura à brasileira, a falsidade da consciência sai pelas bocas, num jorro de hipocrisias. O Tratado de Trapalhadas Morais, da lavra do establishment nativo, contém a lógica essencial que inspira o combate aos maus costumes na administração pública: ocultar as raízes do mal. Não é surpreendente que os escândalos se multipliquem. Os liberais querem resolver isso fazendo com que o Estado deixe de se intrometer nos assuntos econômicos. Essa sugestão esbarra na lei de ferro da economia contemporânea: a luta para sobreviver às asperezas da concorrência nos mercados exige mediação financeira do Estado e a cooperação, lícita ou ilícita, dos que se envolvem na concorrência política.


Os mercadores de favorecimentos estão por toda parte, surgem dos cantos, brotam das paredes dos edifícios públicos. Tentar caçá-los como quem organiza um safári da ética é candidatar-se a um monumental fracasso e iludir o distinto público. A despeito de quantos rostos possa simular, o fenômeno é fácil de decifrar: na economia da concorrência imperfeita vale tudo para eliminar o adversário e saciar a sanha pela grana do Erário.


Nos locais de música ambiente e comida requintada, nos intervalos em que a taça do melhor vinho se afasta dos lábios, os sussurros lamentam os abusos dos agentes da lei. É tal a obsessão com hierarquia das coisas ou das pessoas que nem mesmo os corruptos e a corrupção conseguem escapar à fúria classificatória. Veja o caro leitor que as aventuras financeiras do senhor Dantas e as peripécias fiscais e cambiais de outros graúdos foram e continuam sendo apreciadas pela turma da anedota e champanhota sob o prisma da categoria social dos que perpetraram as malfeitorias.


Mas classe é classe, diria o conhecido locutor esportivo. Não foi outro o crivo ideológico, digamos assim, que levou ao arquivo morto da memória nacional as denúncias de evasão de divisas e fraudes fiscais promovidas no escândalo do Banestado. Os bem-nascidos nem sequer dissimulam sua convicção profunda a respeito do tratamento que deve ser dispensado aos criminosos de primeira, segunda e terceira classes. Devemos, porém, nos precatar contra dois argumentos antitéticos, mas que têm a mesma origem. O primeiro é dos espertalhões: já que todos são corruptos, diante da geléia geral, é melhor deixar tudo como está; o segundo é dos Torquemadas: todos são culpados, até prova em contrário.


As ‘espetacularizações’ e fanfarronadas dos agentes da lei são o espelho da hipocrisia dos senhores. ‘Aos ricos daremos o mesmo tratamento que concedem aos pobres’: o desrespeito, a violação dos direitos elementares, a humilhação pública. Danosos para a reputação da República e desastrosos para os direitos dos cidadãos, os arreganhos e vazamentos midiáticos estimulam os piores instintos do rebanho. A massa de remediados que se expressam na internet clama por justiça, mesmo à custa de insuflar a soldadesca que atira a esmo e mata inocentes. Uns e outros revelam impulso incontrolável para difundir uma visão do mundo elaborada a quatro mãos por Gêngis Khan e Al Capone.


Então caberia pesar as conveniências da execração de um personagem tão emblemático, uma encarnação dos vícios e das virtudes do sistema dominante. Os vícios são muitos. Deixo à imaginação do leitor o trabalho de enunciar o elenco. Quanto às virtudes, dentre as poucas, sobressai a capacidade de reprodução das alianças de poder mesmo à custa do sacrifício de alguns poderosos.


Esta, aliás, é a aposta dos que praticam profissionalmente o conhecido esporte de chute ao cadáver. Alguns senhores e seus jagunços já preparam – quando ainda não desferiram – requintados pontapés na carcaça de quem, afinal, serviu tão bem a seus interesses e apetites. Talvez por isso tenham escapado do naufrágio do regime militar, entronizados na democracia como um corifeu das liberdades.


Nada pode ser mais trágico para uma sociedade do que a particularização da prestação da Justiça. No episódio Dantas, o vício da particularização deu o ar da graça no deplorável debate travado no Senado da República. O bate-boca revelou uma supina incompreensão dos parlamentares, dos que defenderam e dos que atacaram a decisão do presidente do STF. Adstrita ao cumprimento da lei, a decisão caminhou na contramão dos arreganhos autoritários da opinião massificada. A contaminação das decisões judiciais pelos movimentos mercuriais da opinião das massas é o descalabro. Há quem perceba o fenômeno e o abomine, mas prefere se recolher diante da contundência e da ousadia dos que buscam – enquanto escapam pela tangente – saciar os clamores de justiça nascidos no baixo-ventre.


A concentração e confusão de poderes reproduzem dois fenômenos gêmeos, funestos para a ordem democrática: a apatia popular e a busca de heróis vingadores, capazes de limpar a cidade (ou o País), ainda que isto custe a devastação das garantias individuais. Nesta cruzada antidemocrática, militam os agentes da lei que fazem gravações clandestinas ou inventam provas, e os jornalistas que, em nome de uma ‘boa causa’, tentam manipular e ludibriar a opinião pública.’


INTERNET
Nirlando Beirão


A felicidade está no mapa, 11/7


‘Por que Viena e não Veneza? Melbourne em vez de Nova York? Helsinque muito à frente de Amsterdã? Portland, mas cadê São Francisco? Listas de escolha fazem a delícia de quem as lê e a miséria de quem as produz. Tyler Brûlé encarou o perigo. Vinte e cinco cidades com o melhor índice Tyler Brûlé de qualidade de vida. E cinco cidades para se ficar de olho. Até Beirute está lá. O Rio não está, nem São Paulo nem Salvador – nada de Brasil.


Pode perguntar: e que diabo é Tyler Brûlé? Bem, ele é um canadense de 40 anos que, enquanto se arrependia, e convalescia num hospital de Londres, dessa coisa de jornalismo investigativo (sofreu um atentado no Afeganistão), rabiscou o projeto da Wallpaper. Início dos anos 1990. Vendeu-a para a Time em 1996. Em fevereiro de 2007, ele se reinventou na revista Monocle, outro escândalo de estilo, humor e glamour. Escreve uma coluna semanal no Financial Times – onde publicou sua lista das 25 mais e das cinco futuras. De design e bom gosto o carinha sabe muito.


O critério de Tyler é de uma requintada sobriedade: cidades que tentam fazer seus cidadãos felizes. Não aquelas que buscam a monumentalidade espetacular, senão Paris e Roma seriam imbatíveis e Copenhague jamais estaria em primeiro lugar. A capital da Dinamarca ganha as honras, diz Brûlé, exatamente por causa de sua incomparável simplicidade de acolhimento humano (confira logo abaixo a escolha do editor e os méritos de cada cidade escolhida).


Dá para discutir ao infinito uma lista que traz Hamburgo e esquece Florença e vê mais romantismo em Phnom Penh, no Camboja, do que na Verona de Romeu e Julieta. O intercâmbio que se estabelece entre o visitante e o seu destino sempre dispõe de química própria, à sombra de experiências, mas também de fantasias. Cada um tem direito à sua melhor cidade.


Não convém é discutir a honestidade intelectual de Tyler Brûlé. Personalidade cult dos happy few, ele está sempre disposto a ver o lado bonito das coisas. Chegou a dizer que São Paulo é uma metrópole de charmosos desafios e ocultos encantos.


Quando esteve aqui, interessou-se em comprar um apartamento no Edifício Bretagne, em Higienópolis – encantado com os arabescos kitsch e os exageros policromáticos do arquiteto Artacho Jurado. Ele que mora em Londres (que, aliás, ficou fora da lista) e viaja sempre por Tóquio, Cingapura e Genebra, achou os preços daqui um absurdo.


A lista de Tyler (clique na foto para ver o mapa ampliado)


Cidades que já são:


1. Copenhague: escala humana, bom aeroporto, todas aquelas trilhas de bicicleta e os belos nativos (e nativas).


2. Munique: quase venceu, mas ainda deve um sistema de transporte rápido a partir do aeroporto.


3. Tóquio: das megalópoles, é a melhor do mundo.


4. Zurique: vizinhos mais relaxados a colocariam em primeiro lugar.


5. Helsinque: uma capital européia com um pé na Ásia.


6. Viena: a cidade mais verde da Europa.


7. Estocolmo: está gostando de se verticalizar, mas é bom ir com cuidado.


8. Vancouver: o melhor da América do Norte numa linda moldura.


9. Melbourne: os melhores lugares do Hemisfério Sul.


10. Paris: seu prefeito visionário fez a Velha Senhora internacionalmente relevante, de novo.


11. Sydney; 12. Honolulu; 13. Madri; 14. Berlim; 15. Barcelona; 16. Montreal; 17. Fukuoka; 18. Amsterdã; 19. Minneapolis; 20. Kyoto; 21. Hamburgo; 22. Cingapura; 23. Genebra; 24. Lisboa; 25. Portland.


Cidades que prometem: A. Gênova; B. Buenos Aires; C. Istambul; D. Beirute; E. Phnom Penh.’


MARKETING
Fabio Kadow


Esporte S/A, 11/7


‘Não só os atletas terão de se esforçar muito em Pequim para subir ao pódio. Profissionais de marketing das empresas patrocinadoras e das que querem aproveitar o evento para divulgar suas marcas estão a todo vapor. O governo chinês fechou o cerco ao chamado marketing de emboscada (os patrocinadores não oficiais) e também ao abuso de peças espalhadas pela cidade, algo similar ao programa Cidade Limpa, da cidade de São Paulo.


Em 2007, foram retirados mais de 30 mil outdoors, entre eles cem gigantes na estrada que liga o aeroporto à capital. Em maio, todos os contratos de mídia em pôsteres, ônibus e metrôs foram invalidados. A iniciativa é considerada a mais forte de todas as edições das Olimpíadas.


Ao mesmo tempo que tenta coibir a propaganda descontrolada, o governo também dificulta o jogo para os patrocinadores oficiais, que pagaram fortunas para aparecer. Muitos não esperavam por leis tão rigorosas e agora reclamam da falta de tempo para adaptar as campanhas.


O outro lado da história é a censura, que poderá ocorrer no período dos Jogos. As maiores empresas de telefonia fixa e móvel e provedores de internet estão proibidos de aceitar novos clientes em agosto. Segundo o governo, o objetivo é evitar que a infra-estrutura sofra problemas técnicos. No entanto, o medo maior é que os holofotes iluminem eventuais ondas de protestos da população chinesa.


TRANSMISSÃO ON-LINE


O Terra será o único portal da América Latina a transmitir gratuitamente os Jogos Olímpicos em vídeos, por internet e celular. O contrato fechado com o Comitê Olímpico Internacional prevê mais de 300 horas de material em 13 canais simultâneos. Nos EUA, a NBC, que também possui os direitos de transmissão na tevê, promete investir pesado na cobertura on-line. Segundo a emissora, isso ocorrerá porque o temor de a web roubar a audiência da televisão é coisa do passado.


10,1 milhões


Foi o lucro líquido do Barcelona na temporada 2007-2008, segundo o balanço contábil recém-divulgado. Mesmo sem ter conquistado nenhum título, o time catalão registrou receita de 308,8 milhões de euros e despesas de 292,6 milhões de euros. Com esse resultado, a dívida bancária do clube caiu de 39,8 milhões para 13,6 milhões de euros.’


PAULO COELHO
José Onofre


Com medo da aventura, 11/7


‘Paulo Coelho é um incômodo. Seu sucesso, sua fama e a solidez de sua situação não lhe deram o selo de qualidade que personagens menores já receberam. Há algo indevido, ilegítimo, suspeito. Nós o conhecemos: infância desordeira, adolescência tumultuada, adulto irresponsável, temporadas internado sob tratamento psiquiátrico, drogas, sexualidade anárquica, sem profissão conhecida.


O resultado disso tudo deveria ser subemprego, vida irregular. Mas ele é o escritor que mais vende livros no mundo, é respeitado onde quer que vá, ganhou comendas em toda parte e seus números são únicos: mais de 100 milhões de exemplares vendidos em 160 países, escreve artigos semanais para 160 veículos da mídia de 109 países. O que deu errado? Como é que um marginal conseguiu chegar a isso?


No Brasil, na classe média letrada que não sabe escrever cartas e pouco lê, Paulo Coelho não é amado nem confiável. O Mago (Editora Planeta, R$ 59,90), uma biografia de 632 páginas, escrita pelo jornalista e biógrafo Fernando Morais, deveria resolver essas questões, fossem essas questões só um problema de más informações. Não são. E a biografia talvez não dê a Paulo Coelho a confiança dos céticos. Fernando Morais ficou surpreso ao encontrar Paulo Coelho pela primeira vez.


‘Habituado pela profissão a acompanhar personalidades e estrelas internacionais, imaginava encontrá-lo cercado por guarda-costas, secretárias e assessores. Para minha surpresa, o homem com quem eu conviveria nos três anos seguintes apareceu sozinho, de mochila nas costas e puxando uma pequena maleta de rodinhas.’ Essa primeira impressão se reproduzirá em vários outros momentos do texto e nos esclarecerá algumas coisas.


O que aconteceu com Fernando Morais aconteceu com os ‘formadores de opinião’ do Brasil e arredores. Se Paulo Coelho fosse o que eles suspeitam e, abandonada sua descrição, se vestindo como o Chacrinha e se comportando com estardalhaço, ele seria amado. Se perguntado o que faltou a Paulo Coelho para ser um herói no Brasil, não tenho dúvida: faltou um carnavalesco atilado, do tipo Joãosinho Trinta. Sei que não era e não é isso o que Paulo Coelho quer. Mas é necessário pensar sobre isso. E não apenas para entender a ambigüidade brasileira em torno dele, mas o livro de Fernando Morais. Há dois tipos de pessoas que são ambíguas sobre Paulo Coelho. O primeiro esperava maravilhas com balangandãs, turbantes e frases misteriosas. O segundo é o letrado, perplexo, diante de um sucesso único na história do mundo editorial globalizado. Talvez Paulo Coelho seja o primeiro best seller de uma nova era.


Fernando Morais conta, ao final do livro, num texto de arremate: ‘Procurei Paulo Coelho em todos os lugares possíveis e fui atrás dos acontecimentos que tantas cicatrizes haviam deixado em sua história. Procurei-o nos becos sombrios do basfond de Copacabana, nos prontuários dos loucos e nas ruínas da antiga Casa de Saúde Dr. Eiras, no perigoso mundo das drogas, nos arquivos da repressão policial, no satanismo, nas misteriosas sociedades secretas, na parceria com Raul Seixas, na sua família e na sua genealogia’.


Isso é só retórica jornalística, auto-enaltecedora e que deseja dar ao texto, com esse adendo, o que lhe falta. E o que lhe falta? Falta o épico da história, faltou ver que, se as palavras de Paulo Coelho não eram as de Saint-Exupèry, sua vida havia sido dura, destrutiva, e ele superara tudo e chegara ao que chegou. Na capa do livro, há um texto que promete contar essa aventura. Mas essa aventura, para que possa ser lida como aventura, precisaria ter sido sentida e, então, escrita como tal.


Fernando Morais foi afortunado: seu biografado está vivo, fala com franqueza, tem registros, escritos, da adolescência e juventude, enfim, o paraíso do biógrafo. Essa quantidade de informações força o biógrafo a fazer escolhas. No livro de Fernando Morais, um quinto poderia e deveria ser eliminado e não foi. Não existem duas maneiras de fazer isso, é ler e cortar o supérfluo.


O excesso de informação pode intoxicar. A única maneira de evitar isso é lendo e eliminando. Isso permite que o autor escreva um livro íntegro. O contrário, escrever com o material por avaliar, deixa o autor na situação de escolher a cada capítulo.


Morais não explica como trabalha. Isso pode valer para a ficção, mas não tem nada a ver com biografia. Como está, diante de tanta informação, seguiu a cronologia e pronto, desperdiçou a dramaticidade da experiência. Não existem fatos falsos numa biografia autorizada e ninguém está esperando um exame crítico da literatura de Paulo Coelho.


Fernando Morais teve nas mãos a possibilidade de fazer uma biografia forte, mas não teve o peito. O livro parece uma espera e não uma perseguição, trabalhosa, dura, que exigiria mais tempo. Poderia ser um livro muito bom. O que está aí parece um perfil, estilo Jornal da Tarde dos anos 70, levado ao delírio de mais de 600 páginas.’


CINEMA
Ana Paula Sousa


Cineclube do século XXI, 11/7


‘A indústria fonográfica, ao tratar a internet como inimiga, deixou passar seu vagão na era digital e, como todos sabem, caminha trôpega no novo cenário. Tendo a música como exemplo e fantasma, a indústria cinematográfica também tenta encontrar uma saída para estes tempos de download fácil. Mas, por ora, Hollywood parece oferecer apenas respostas de natureza proibitiva.


É por aderir às possibilidades de internet sem encampar o discurso da ‘ameaça’ que chama a atenção o site www.moviemobz.com, inaugurado na segunda-feira 7. Espaço que se propõe a agregar fãs de cinema, o projeto une duas épocas numa experiência só: a época das comunidades virtuais e das escolhas num clique àquela dos cineclubes.


Engendrado pela Rain, a empresa que implantou o cinema digital no Brasil, o site é uma mistura de distribuidora de filmes com comunidade de amigos, no estilo Orkut. A idéia é que as pessoas se mobilizem (daí o ‘mobz’) para marcar uma sessão com título, hora e sala à sua escolha. Hoje, 159 salas, em 18 cidades, possuem o sistema Rain. O slogan, ‘filmes independentes no cinema mais próximo de você’, demarca o tipo de produção a ser ali abrigada. A proposta não é ajudar as pessoas a ver Homem de Ferro, disponível em todo canto, mas filmes que passaram por um circuito restrito ou há muito estão longe da tela grande. Em 48 horas, o site recebeu manifestações de interesse, por exemplo, pelo brasileiro Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), e pelo clássico A Batalha de Argel (1966), de Gillo Pontecorvo.


‘As pessoas se mobilizam para fazer a legenda do Lost. Por quem não fariam isso para ver um filme no cinema?’, pergunta Fabio Lima, um dos fundadores da Rain. ‘O interesse determina tanto o tamanho da sala quanto o preço do ingresso. A sessão pode ser para 15 ou 300 pessoas, mas nunca vai ultrapassar o preço do ingresso tradicional.’


O outro sócio da MovieMobz, Marco Aurélio Marcondes, há anos no negócio da distribuição, aposta no site como uma possível mudança no jeito de ir ao cinema. ‘O cinema ainda é um hábito que mobiliza milhões de pessoas mundo afora, mesmo que para alguns pareça em desuso’, pontua. Nesse sentido, o site remete, de novo, aos destinos da música. Não é, cada vez mais, o show que garante o pão de cada dia dos artistas? Não seria a experiência da sala escura, cheia de gente, a salvação do cinema?


Adivinhações à parte, é fato que o site pode trazer à luz produções que as salas ignoram e, até mesmo, apontar desejos que os distribuidores pensam não existir. ‘Um grupo de pessoas pode se unir em Jundiaí para pedir um filme que não chegou lá, simplesmente porque não se sabia qual era a demanda’, diz Lima. Pedidos organizados por escolas e faculdades são outra aposta dos criadores. O site, por enquanto, reúne apenas 230 filmes. Mas o trabalho para o licenciamento de títulos prossegue. No mais, é a adesão espontânea – seja para pedir uma sessão, seja apenas para escrever uma crítica – que determinará o destino dessas salas à espera do público curioso pelas imagens que os multiplex, em geral, custam a enxergar.’


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