Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Carta Capital

TELEVISÃO
Fabio Kadow

Esporte S.A, 9/1

‘O patrocínio do futebol mundial está escasso. Com a queda dos valores e até o corte total dos contratos, ganhou relevância o dinheiro gerado pela televisão.

Apesar das acusações do Conselho Administrativo de Defesa Econômica de monopólio da TV Globo nas transmissões dos campeonatos brasileiros, um novo contrato foi renovado em 2008 entre a emissora e o Clube dos 13, que representa as equipes. São Paulo, Corinthians e Flamengo tentaram negociar suas cotas individualmente, sem sucesso, e se juntaram ao C13, que conseguiu cerca de 220 milhões de reais por temporada.

A Europa, onde historicamente cada clube cuidava dos próprios negócios, também se rendeu à venda coletiva dos direitos. Inglaterra, Alemanha, França e Itália adotaram o sistema e obtiveram ganhos significativos. Na Premier League, a valorização chegou a 60% (contrato de 815 milhões de libras) e, na França, a 43% (566 milhões de euros).

Isso foi possível pelo novo método de repartição das cotas. No caso inglês, 56% do total foi dividido em partes iguais para cada clube participante, 22% foi distribuído de acordo com a performance da equipe no campeonato e outros 22% variaram conforme a audiência e o número de jogos transmitidos de determinado time.’

 

TECNOLOGIA
Felipe Marra Mendonça

Os boatos sobre Steve Jobs, 9/1

‘A apresentação anual dos novos produtos da Apple na feira Macworld, em São Francisco, teve como principal destaque uma ausência. O presidente da companhia, Steve Jobs, não foi o palestrante principal e a tarefa ficou a cargo de Phil Schiller, vice-presidente de Marketing Mundial de Produtos. A substituição causou flutuação no preço das ações da empresa, em meio a boatos de que Jobs, extremamente magro, estaria à beira da morte por uma suposta remissão de um câncer. A resposta à especulação veio em uma carta de Jobs endereçada aos acionistas e consumidores, distribuída pela assessoria da Apple, em que ele se dizia saudável e passando por tratamento de uma disfunção hormonal.

Feita a ressalva, a empresa apresentou os novos produtos, entre eles o MacBook Pro de 17 polegadas (Prazer de Ponta). Anunciou também uma mudança importante no modelo de vendas de música digital na sua loja virtual, o iTunes Store (www.itunes.com). Depois de um acordo com as quatro grandes gravadoras – Universal, Sony BMG, Warner e EMI – e outros milhares de independentes, a Apple passa a oferecer faixas sem qualquer restrição de cópia. Depois de anos de restrições, o consumidor passa a ser o legítimo dono da música que comprar, com direito a colocar suas faixas onde quiser, seja num iPod, em outro tocador de MP3, queimá-las num CD ou passá-las a um amigo, se assim desejar.

Isso implica uma mudança na estrutura de preços. A maioria das faixas restritas antes custava 99 centavos de dólar. Os preços agora vão de 69 centavos a 1,29 dólar. É uma concessão clara da Apple às gravadoras. Estas queriam cobrar mais pelas faixas sem restrições, fundamentalmente porque não confiavam na idoneidade dos consumidores, ao tachar todos de piratas em potencial. As gravadoras acreditavam que os consumidores prefeririam conseguir a mesma faixa de graça por meio de redes de troca de arquivos e decidiram cobrar mais daqueles poucos que se propunham a conseguir a faixa de modo legal. Essa é a teoria, refutada por um exemplo intrigante.

Trent Reznor, líder da banda Nine Inch Nails, decidiu lançar o novo álbum da banda de diferentes maneiras. Com quatro volumes, Ghosts I-IV teria seu primeiro trecho (Ghosts I) distribuído gratuitamente no site da banda e o restante poderia ser comprado em sites de música digital, como o iTunes Store ou a Amazon. Outras edições também foram lançadas, como versões limitadas em discos Blu-ray e embalagens elaboradas, mas o curioso foi a comparação entre os downloads gratuitos e as vendas digitais.

As grandes gravadoras apostariam no fracasso de Reznor, pois entregar de graça as músicas supostamente inviabilizaria as vendas das mesmas faixas por outro canal. Aconteceu o inverso. Ghosts I-IV tornou-se o álbum mais vendido de 2008 na Amazon em formato digital, à frente de discos de bandas com apelo comercial mais forte, como Coldplay, 3 Doors Down, Snow Patrol e Keane. Foi uma vitória do consumidor.’

 

MAYSA
Nirlando Beirão

Édipo em Veneza, 9/1

‘Desde John Ford e Akira Kurosawa, pouca gente é capaz de retratar tão bem um crepúsculo como Jayme Monjardim. Ele se consagrou naquele Pantanal em que as irradiações da natureza prevaleciam grandiosamente sobre os atores e o enredo. A luz – ainda dá para observar, no replay pirata que o SBT

está proporcionando – é a verdadeira protagonista de Pantanal (aos leitores mais impacientes, ou menos sutis: isto é um elogio). John Ford seria a metade do gênio que foi sem a paisagem escultural

do Monument Valley. Kurosawa contou com as transparências ajardinadas de um Japão radicalmente plástico.

Jayme Monjardim está se esmerando em sua expertise. O pôr-do-sol em Veneza que abriu o seriado Maysa é um acontecimento deslumbrante que presume a beleza de uma dupla declaração de amor. A do casal Matarazzo, em idílica lua-de-mel na mais romântica das cidades, e a do próprio Jayme Monjardim, pelo assunto no qual mergulha fundo. Aqueles dois lá são a mãe e o pai dele. Já se sabia disso e o subtítulo Quando Fala o Coração, reiterando os piores temores, soava apavorantemente arriscado. Um espectro parecia assombrar o seriado: o espectro do dramalhão. Por ora, o carinhoso virtuosismo de uma imagem pronta a como que cobrir de beijos a heroína problemática vence qualquer tentação melodramática.

O diretor da série diz que nunca foi buscar em nenhum divã a reparação afetiva para o pai precocemente falecido e, sobretudo, para a mãe propositalmente ausente. ‘Tive de me virar sozinho’, conta. Num paradoxo bem explicável, ao cruzar o desfiladeiro que transporta a saga de Maysa Matarazzo da realidade à televisão, Jayme Monjardim escapou da atroz solidão de infante. Affonso Beato, um mestre da câmera cinematográfica (destaque para aquele Dragão da Maldade, com Glauber Rocha, e Carne Trêmula, de Pedro Almodóvar), é parceiro na sua requintada fotografia. E Manoel Carlos, ao colocar sua emoção experiente a serviço da narrativa, funciona como o tutor – simbólico, mas tremendamente efetivo – que pode ter faltado ao Jayminho do passado.

A figura desse Jayminho desvalido, de certo modo rejeitado, será bastante contemplada na trama, avisa o Jayme adulto. Rejeitado pelo diretor-protagonista, o Dr. Freud haveria, porém, de se deliciar com a notícia de quem interpreta o Jayminho em Maysa é o filho de Jayminho – e, portanto, neto de Maysa. O afeto, mais uma vez, pode se revelar fortemente incestuoso.’

 

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