Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Carta Capital

TECNOLOGIA
Felipe Marra Mendonça

A prancheta revelada

‘É um iphone sem o ‘Phone’.’ Esta descrição, feita por Henrique Chang, do Citadel Investment Group, em Chicago, é a síntese perfeita do aparelho que a Apple lançou na quarta-feira 27. O iPad é mesmo um iPhone tamanho-família sem a capacidade de fazer ligações telefônicas. É também o começo do fim dos PCs para o consumidor casual.

O presidente da companhia, Steve Jobs, abriu a palestra de apresentação do produto com uma fala ambiciosa. Ao se perguntar se existia espaço no mercado para um aparelho que ocupasse espaço entre os smartphones e os PCs para profissionais, Jobs disse que a Apple pensava nisso há anos. ‘Para criar essa categoria, os aparelhos precisam fazer algumas tarefas-chave melhor que um laptop e melhor que um smartphone. Quais tipos de tarefa? Acessar a internet. Escrever e-mail. Ver e compartilhar fotos. Assistir a vídeos. Ouvir música. Jogar. Ler livros eletrônicos. Para essa terceira categoria surgir, ela precisa ser melhor nessas tarefas ou não terá razão de existir. Alguns acharam que a resposta fosse o netbook. O problema é que ele não é melhor para absolutamente nada.’

Ou seja, a Apple entende que o futuro da computação para o consumidor casual é um aparelho simples de usar, com acesso à internet, boa integração com diferentes mídias e um preço que facilita uma compra impulsiva.

Ele não foi criado para quem edita vídeos, escreve textos longos ou cuida da diagramação de revistas. Não é um aparelho profissional. Mas, como bem descrito por Joel Johnson, do Gizmodo, ‘para o consumidor comum que entrar numa loja, talvez o dinheiro que ele tinha separado para um laptop agora vá para a compra de um iPad. E o que acontece quando ele descobrir que o iPad é tudo o que ele sempre procurou? Ele nunca mais vai comprar um laptop’.

As especificações do aparelho apontam para isso. A memória interna vai desde -16 GB até 64 GB e o preço varia de acordo com a conectividade escolhida. O iPad pode acessar a internet por meio de redes sem fio ou uma combinação de redes sem fio e redes de dados 3G. O mais simples, com 16 GB e só Wi-Fi sai por 500 dólares. O mais caro, com 64 GB e conectividade 3G além do Wi-Fi custa 830 dólares. A tela tem 9,7 polegadas, mas o formato não é widescreen. A Apple diz que a bateria dura cerca de 10 horas de uso e ‘é possível assistir a vídeos o tempo inteiro num voo entre São Francisco e Tóquio’, segundo Jobs. Em modo de espera a bateria segura a carga por mais de um mês.

Essa autonomia tem origem no chip que a Apple colocou no aparelho, um Apple A4. Não é um Intel, não é um AMD, é um chip de 1 GHz desenvolvido pela própria empresa especificamente para o iPad. É a peça final da filosofia ortodoxa da empresa em criar produtos como uma simbiose precisa entre o hardware e o software.

O iPad atiça a curiosidade do consumidor, porque fascina e intriga ao mesmo tempo. Não é um PC. Não é um telefone. Mesmo assim, ‘mais de 75 milhões de pessoas já sabem como usar um’. Esse foi o cálculo feito por Jobs durante a palestra ao citar o número de iPhones e iPods Touch vendidos até hoje. Os consumidores devem sentir uma estranha familiaridade ao usar um iPad e achar que ele é mais intuitivo do que um computador. Essa é a aposta da Apple.’

 

LITERATURA
Contra os bananas

‘Todos os seus melhores amigos eram jovens. O nova-iorquino J.D. Salinger morreu de causas naturais aos 91 anos, isolado há quase seis décadas em uma propriedade de 90 acres em Cornish, New Hampshire, como um escritor das primeiras certezas. Isto para não dizer que inventou a juventude como categoria iconoclasta, mais fantasiada pelo cinema do que real.

Salinger oscilava entre a melancolia e o humor, maduro com as palavras. Em O Apanhador no Campo de Centeio, seu único romance, de 1951, o protagonista Holden Caufield fala palavrões, é expulso da escola, anda de táxi e dá as costas para as regras, as mesmas que fizeram da guerra uma necessidade. E Salinger combateu pelos Estados Unidos depois do ataque a Pearl Harbour. De 1961, Franny e Zooey reúne um conto e uma novela publicados anteriormente pela revista New Yorker.

Ele detestou o sucesso, já que seu romance fora descaracterizado pelo cinema. Publicou um último conto com sua assinatura, Hapworth 16, 1924, em 1965. Suas narrativas constituíram sinais. Na história Um Dia Perfeito para os Peixes-Banana, Seymour se aproxima de uma garota que, como ele, passa férias na Flórida. Encaminha-a ao oceano e volta ao quarto do hotel. Lá sua mulher falara o dia inteiro por telefone com a mãe, rejeitando a loucura do marido. A esposa dorme enquanto Seymour senta a seu lado na cama, mira contra a própria têmpora direita e atira.’

 

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