Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

China usa internet como arma de propaganda

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 21 de abril de 2008


PROPAGANDA
Cláudia Trevisan


Internet vira arma do governo da China


‘Vista por muitos acadêmicos e políticos ocidentais como a ferramenta que iria conduzir os chineses na direção da democracia, a internet mostrou uma outra face no recente confronto entre Pequim e o Ocidente em torno da situação no Tibete: a de um poderoso instrumento de propaganda a serviço do governo, que usa a censura e a disseminação de informações na rede para despertar sentimentos de patriotismo e conduzir a opinião pública na direção que lhe interessa.


A China vive o paradoxo de ser um país autoritário que abraçou com fervor a internet. O governo investiu bilhões de dólares na criação da infra-estrutura necessária para funcionamento da rede e promove ativamente a sua expansão. Segundo estimativa da empresa de consultoria BDA, a China acaba de ultrapassar os EUA, assumindo a liderança mundial no ranking de número de internautas, com 220 milhões de pessoas conectadas. A BDA estima que serão 490 milhões em 2012.


Ao mesmo tempo, o governo construiu o mais sofisticado mecanismo do mundo para o controle da informação que circula online. O sistema bloqueia o acesso a milhares de sites por meio do uso de palavras-chave relacionadas a temas proibidos – um enorme universo que inclui ‘eleições livres’, ‘independência do Tibete’, ‘independência de Taiwan’ e ‘Falun Gong’, a seita que foi banida no país nos anos 90 depois que 10 mil seguidores fizeram uma demonstração pacífica em torno do quartel-general dos governantes chineses. Mas não são apenas sites que são bloqueados. A censura também funciona em chats, blogs e até em e-mails. Pequim utiliza um exército de cerca de 30 mil a 40 mil censores, que monitoraram as discussões online. Além disso, o controle do governo é facilitado pela autocensura praticada por sites de busca e provedores de serviços online. A China tem cerca de 60 milhões de blogs.


‘As autoridades chinesas se adaptaram à nova mídia e sabem utilizá-la a seu favor’, afirma Eric Sautede, um acadêmico que há anos estuda a expansão da internet no país. ‘O governo não apenas censura conteúdo, mas coloca na rede uma enorme quantidade de informações que influenciam a opinião dos internautas.’


Duncan Clark, presidente da BDA, discorda da avaliação de que a rede de computadores levará a reformas democratizantes na China. ‘A internet é uma tecnologia neutra, sem um sistema de valores, e cada um a utiliza como quer. Se existisse na Alemanha dos anos 30, o site número 1 seria www.nazi.gov.’’


 


CUBA
Ruth Costas


Ilha muda pouco para não mudar nada


‘Filas imensas na frente das lojas e caixas abarrotados são cenas comuns em quase todo o mundo, principalmente perto de datas comemorativas. Mas em Cuba – onde até o Natal foi abolido pela revolução durante 17 anos – são uma novidade que chama a atenção da comunidade internacional e dos especialistas em economia e política da ilha. Nas últimas semanas, o governo derrubou a proibição para os cubanos comprarem celulares, insumos e ferramentas agrícolas e aparelhos eletrônicos como computadores, DVDs e panelas elétricas. Outras medidas também foram anunciadas com o objetivo de – como definiu o presidente Raúl Castro – eliminar o ‘excesso de restrições’ à população local.


Para os mais otimistas, as medidas implementadas por Raúl desde que ele assumiu, em fevereiro, são prenúncio de uma mudança de rumos na ilha. A maior parte dos analistas, porém, recomenda cautela ao analisar esses sinais – no que são apoiados pelos dissidentes da ilha. ‘Até agora não vi nenhuma mudança de fato’, disse ao Estado, por telefone, Oswaldo Payá, um dos opositores cubanos mais conhecidos e respeitados no exterior. ‘Não vejo sinal de que a autorização para que os cubanos comprem celulares e DVDs e as concessões aos produtores agrícolas, no campo, expressem uma disposição do governo em ampliar nossos direitos e permitir que sejamos livres.’


A lista das pequenas mudanças implementadas pelo líder cubano fica mais extensa a cada semana. Além de liberar a compra de celulares, eletrônicos e insumos agrícolas, Raúl derrubou a proibição para que os cubanos freqüentem hotéis (antes exclusivos para turistas), acabando com uma espécie de apartheid. Ontem, o governo anunciou que a TV estatal exibirá a partir desta semana os seriados americanos Os Sopranos e Grey?s Anatomy. O governo também vai reformar o sistema de remuneração para permitir que os ganhos acompanhem a produtividade dos trabalhadores e deve normalizar as chamadas moradias estatais – um primeiro passo para que os cubanos tenham direito à casa própria.


‘Cuba nunca teve um mercado oficial de compra e venda de imóveis, mas a verdade é que na prática as famílias já ?trocavam? de casas e ocultavam transações comerciais com contratos de gaveta’, explica o economista Paulo Sandroni, professor da Fundação Getúlio Vargas, que fez trabalhos de consultoria para o governo cubano nessa área.


No campo, as concessões começaram pela descentralização das decisões sobre investimentos e comercialização dos produtos. O que antes era definido no Ministério da Agricultura, em Havana, agora é responsabilidade dos municípios, numa tentativa de reduzir a burocracia do setor. Além disso, Raúl começou a distribuir as terras improdutivas – 51% do total da ilha – e ampliou o crédito para as cooperativas privadas com o objetivo de aumentar a produção de alimentos.


As mudanças, no entanto, estão longe de incluir mais liberdades políticas, mas também porque, ao menos até agora, são pouco ousadas mesmo no que diz respeito à economia. Na sexta-feira o jornal espanhol El País informou que o governo estaria pensando em reduzir as restrições para que os cubanos viajem ao exterior, mas a informação não foi confirmada. ‘Pode haver surpresas, mas por enquanto o que temos de concreto são medidas paliativas, que têm como objetivo aliviar a situação econômica da ilha e atender às expectativas da população por mudanças após o afastamento de Fidel Castro, mas sem abalar a estrutura política e os fundamentos econômicos do regime’, afirma o cientista político argentino José Natanson, editor da revista Nueva Sociedad e especialista em Cuba. ‘Na grande maioria dos casos, são decisões que apenas legalizam situações que já existiam.’


Mesmo antes de Raúl assumir o poder formalmente, bastava andar pelas ruas de Havana para ver, por entre as janelas e portas sempre abertas, que muitos já tinham TVs, DVDs e outros produtos eletrônicos adquiridos no mercado negro. Da mesma forma, alguns cubanos também conseguiam habilitar linhas de celular pedindo a um estrangeiro para assinar em seu nome num dos postos da companhia telefônica estatal. ‘O governo apenas eliminou os intermediários e facilitou os trâmites para a aquisição desses produtos’, diz Natanson, para quem a probabilidade de reformas mais amplas é remota no curto prazo. ‘O máximo ao qual Havana pode chegar no momento é na ampliação do acesso à internet (hoje restrito a funcionários do governo e alguns pesquisadores), até porque os cubanos ainda não têm coragem para pedir muito. Não é porque hoje têm celular que amanhã vão querer quatro partidos políticos’, opina.


A maior parte das medidas está sendo implementada com pouco alarde – sem declarações oficiais ou comentários do jornal estatal Granma. Para Payá, se Raúl estivesse de fato interessado em reformar o regime, faria um anúncio oficial explicando o que exatamente pretendia mudar e como. ‘As medidas tomadas até agora são bem-vindas, mas o que todos estão se perguntando agora é: porque tudo isso era proibido se não representavam nenhum risco para a revolução, como as autoridades estão admitindo’, disse.


Irmão mais novo de Fidel, Raúl sempre foi visto como mais flexível e pragmático no que diz respeito à economia – o que alimenta as expectativas de mudança. À frente das Forças Armadas cubanas (que hoje controlam 60% das indústrias e negócios estatais), ele ajudou a transformar a instituição numa das mais eficientes do país do ponto de vista gerencial.


‘É claro que quando um processo de mudança tem início você nunca sabe onde vai parar’, diz o analista político cubano Pedro Freyre, da Universidade Internacional da Flórida. Ele explica que apesar de Fidel ter se afastado do poder, ele ainda participar da política da ilha por meio de seus artigos na imprensa oficial e é um freio importante para as reformas. De fato, na segunda-feira, o líder cubano já alertava seus conterrâneos de que se render ao capitalismo e ao ‘culto ao egoísmo’ poderia colocar em risco a ‘obra social sólida e duradoura’ da revolução. ‘Fidel é o marxista mais radical do regime e continua a ser uma figura emblemática para os cubanos’, diz Freyre.’


 


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Preço de celular equivale a 9 meses de salário


‘Saiu de Miami boa parte do dinheiro usado pelos cubanos para comprar celulares, DVDs e scooters, cuja venda foi liberada. Em Cuba o salário médio nas estatais equivale a US$ 20. Sem outra fonte de renda, um cubano precisaria trabalhar nove meses para ter um celular (US$ 180), três anos e quatro meses para comprar uma scooter (US$ 800) e dez meses para hospedar-se por um dia num hotel em Varadero (US$ 200). ‘O efeito imediato das medidas foi o de lançar luz sobre o abismo que hoje separa os que têm acesso à moeda forte e os que vivem dos salários do Estado’, diz o cientista político José Natanson.’


 


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Agências brasileiras avançam no exterior


‘Há uma notícia que está ficando corriqueira no meio publicitário. É aquela que informa a ida de profissionais de criação para participar de concorrências internacionais na sede dos grupos de comunicação ao qual as suas agências estão associadas. Algo na linha do anunciado, na semana passada, sobre a viagem de uma dupla da agência Lew, Lara/TBWA a Los Angeles, afim de colaborar com as outras duplas dos escritórios da TBWA espalhados pelo mundo, para a disputa da verba de propaganda de um cliente multinacional.


A presença de profissionais brasileiros nesses pools de criação para as grandes marcas globais era pontual. Mas, no último ano, está virando rotina. ‘Antes era esporádico, agora é bandeirada’, brinca Mario D’Andréa, vice-presidente de criação da JWT no Brasil. ‘Diria que a demanda cresceu uns 25% em relação ao passado’, acrescenta D’Andréa, que está nesse negócio há 26 anos.


O melhor para as agências daqui é que as suas propostas estão ganhando espaço e, em alguns casos, até mesmo encabeçando as campanhas globais. Há duas semanas, Anselmo Ramos, vice-presidente de criação da Ogilvy Brasil, foi gravar no exterior a nova campanha mundial para a linha de cabelos da marca Dove, da Unilever, toda desenvolvida em São Paulo.


‘O nosso mercado não está mais na Vila Olímpia (bairro que concentra grande número de agências e produtores de publicidade), há muitas oportunidades além fronteiras’, diz ele que, por 12 anos, trabalhou no exterior para várias redes de agências. Só nos últimos meses, a Ogilvy elaborou campanhas globais para marcas como Fanta, Motorola, Confort e para uma das bonecas da indústria de brinquedos Mattel.


A intensificação da presença brasileira integrando as forças tarefas em concorrências mundiais, sempre dominada pelos americanos e ingleses, não se dá por conta de custos menores. ‘O salário de um publicitário júnior no Brasil corresponde a de um sênior no exterior’, esclarece Ramos, com o conhecimento de vivência profissional lá fora. ‘Aliás, acho mesmo que o maior problema para aceleramos ainda mais nossa presença é a falta de domínio do inglês no meio, vejo que muitos deles fogem de participar das conferências via telefone com os escritórios de fora por medo do idioma.’


ECONOMIA


O que tem colocado o Brasil na rota da criação das campanhas globais é a economia em rota de cruzeiro. ‘Em vários segmentos o País hoje já representa 60% dos negócios de muitas multinacionais na América Latina’, explica D’Andréa. ‘Por isso mesmo, errar na forma escolhida de passar as mensagens publicitárias pode atingir o negócio e reverter em prejuízo. Ninguém quer arriscar. A direção mundial da conta do HSBC na JWT, por exemplo, sempre chama o Brasil quando vai lançar um projeto’, acrescenta.


Fora as questões de ordem econômica, há ainda o fato de os brasileiros terem um jeito de criar mais solto que interessa e, aliás, sempre foi reconhecido lá fora até pela fatura de prêmios que o País sempre obteve, dizem os publicitários. Mas não só os brasileiros estão sendo chamados, os profissionais asiáticos também fazem parte dessas ações entre outras razões pela excelência gráfica de seus trabalhos, que é um forte elemento na comunicação daqueles países.


‘O mercado interno cresceu tão positivamente para o uísque Jonnhie Walker que o País ganhou relevância no board de comunicação deles lá fora’, conta Alexandre Gama, presidente da agência NeogamaBBH, que detém a conta no Brasil. ‘Fomos chamados para as reuniões de desenvolvimento da próxima campanha global da marca que deverá ser veiculada em outubro, porque por lá eles planejam com muita antecedência’, acrescenta.


REMUNERAÇÃO


A NeogamaBBH não só aumentou sua freqüência de participação nas concorrências globais do rede BBH, como se orgulha de ser remunerada pelas tarefas, já que a prática do segmento é a matriz entender a participação como parte da prestação de serviços da subsidiária no risco da concorrência.


A presença nesses processos é considerada importante não só pelo faturamento que pode representar em si, como também pelo prestígio conquistado. Caso da campanha global da marca Omo, um dos maiores investimentos da Unilever em propaganda, cuja idéia criativa escolhida e que está em cartaz foi proposta pela equipe brasileira da NeogamaBBH: ‘Toda a criança tem o direito de ser criança’.’


 


PAÍS DAS MARAVILHAS
Antonio Gonçalves Filho


As várias faces de Alice


‘Ninguém discute que o clássico Alice no País das Maravilhas (1865), escrito pelo matemático e literato inglês Lewis Carroll (1832-1898), é uma cornucópia de sentidos que brinca com a lógica, um livro tão complexo que já mereceu estudos psicanalíticos, filosóficos, matemáticos e até políticos. A partir desta semana, o repertório de leituras sobre o fascinante clássico de Carroll ganha mais cinco versões diferentes que enriquecem essa discussão intelectual em torno do livro, amado indistintamente por crianças e adultos. A editora Objetiva lança uma nova tradução da obra, assinada pelo cineasta Jorge Furtado (Meu Tio Matou Um Cara) e sua professora de inglês Liziane Kugland. Completando o pacote, o selo Magnus Opus coloca no mercado uma caixa com três DVDs que reúne quatro versões para o cinema, desde a primeira, muda, dirigida em 1903 por Cecil M. Hepworth e Percy Stow, até a adaptação musical com Fiona Fullerton no papel da sonhadora Alice, passando por uma animação checa dirigida pelo surrealista Jan Svankmajer e a subversiva leitura do cineasta inglês Jonathan Miller, realizada em 1966.


Convencido de que a estrutura narrativa de Alice no País das Maravilhas conduz a múltiplas leituras, o cineasta Jorge Furtado tomou uma trilha diferente para se aproximar do clássico de Carroll. Ele e a tradutora Liziane Kugland foram buscar nos manuscritos do autor orientações para oferecer às crianças brasileiras do século 21 um livro ligeiramente diferente do original. Não que a dupla tenha subvertido Carroll. Apenas substituiu poemas e canções no corpo da narrativa, que só faziam sentido para crianças inglesas do século 19.


Furtado é um obcecado por Alice, a ponto de ter batizado a filha caçula, de 7 anos, com o nome da menina criada por Carroll e assinado a adaptação teatral estrelada por Luana Piovani em 2003, mesmo ano em que a atriz participou do filme mais popular do diretor, O Homem Que Copiava. O cineasta propôs à professora de inglês Liziane que traduzissem juntos o livro – como exercício, não com a pretensão de oferecer a versão definitiva do clássico. Como reconhece Furtado, não faltam boas traduções brasileiras, sendo a melhor delas – ele concorda – a do poeta Sebastião Uchoa Leite (1935-2003), publicada em conjunto pelas editoras Fontana e Summus em 1977, que traz fotos de Carroll e um ensaio antológico do tradutor.’


 


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Irreverência no país das maravilhas


‘Há traduções de Alice no País das Maravilhas destinadas ao estudo acadêmico, como a do poeta Sebastião Uchoa Leite, citada na capa deste caderno, e adaptações dirigidas ao público infanto-juvenil, entre as quais está incluída a de Monteiro Lobato, de 1931, que, se não chega a ser um exemplo de fidelidade, ao menos teve o mérito de apresentar às crianças brasileiras a menina curiosa de Lewis Carroll – que assume as feições de sua enfezada e impaciente Emília na versão do criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Outros tradutores, entre eles Ana Maria Machado, tentaram abordagens diferentes, sendo a última mais reverente que a de Lobato.


Em todo caso, foi a versão de Lobato que o tradutor Jorge Furtado buscou como modelo para trazer Alice à realidade brasileira. Não, ela não foi parar no Complexo do Alemão e nem está servindo de ‘avião’ para traficantes de drogas. É a mesma Alice de sempre – embora sem o aventalzinho original, nas ilustrações da jovem designer carioca Mariana Newlands. Furtado e sua professora de inglês simplesmente não poderiam conservar objetos, expressões, poemas e canções que só fariam sentido para uma criança da época vitoriana. O cineasta dá um exemplo dessa dificuldade de adaptação, mencionando a seqüência em que Alice, chorando após espichar dois metros, afoga-se no lago de lágrimas até encontrar um rato nadador. ‘Alice julga estar na praia, por causa da água salgada, mas não tem certeza, porque não vê cabines de banho dentro d’água, objetos da época vitoriana que serviam para manter a privacidade das senhoras e que uma criança brasileira jamais saberia o que é’, diz Furtado, que substituiu a anacrônica ‘cabine de banho’ por guarda-sóis e esteiras.


Já sua professora de Inglês, Liziane Kugland, observa que o pior mesmo foi traduzir os trocadilhos de Carroll sem ter que afogar as crianças num mar de notas de pé de página, como alguns tradutores de Alice. Existem, pelo menos, 15 traduções do clássico disponíveis no mercado brasileiro, desde adaptações para crianças, como a de Ruy Castro (Companhia das Letrinhas, ilustrações de Laura Beatriz, R$ 35) até edições anotadas e comentadas por intelectuais, como a organizada pelo americano Martin Gardner e traduzida por Maria Luiza Borges (Jorge Zahar Editor).


Martin Gardner é matemático e, talvez, a maior autoridade em Lewis Carroll, bastante maluco para acreditar em pseudociência e discos voadores, mas suficientemente lógico para responder a seus opositores – Katherine Leach, entre outros – quando o tema sonho-dentro-do-sonho é evocado por literatos para explicar as recorrências por inversão em Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho. Gardner foi pioneiro ao decifrar os trocadilhos e charadas de Carroll e localizar Alice num contexto científico, demonstrando que o crescimento randômico da garota não é apenas uma metáfora do seu desenvolvimento psicológico, mas um caminho para revelar as especulações do autor sobre um universo em expansão ou contração, que resultaria numa diminuição constante até sumir no nada. Anti-matéria não seria um tema ausente da Alice de Carroll, que, do outro lado do espelho, vê uma Alice invertida, que em tudo lembra os vestígios da garotinha engolida por um buraco negro – ou a toca do coelho que ela descobre no começo do livro.


A tradução de Furtado não privilegia nem a visão científica nem a dicusssão de caráter lógico-semântico dos acadêmicos. Como se disse, essa tradução tenta criar, como a de Lobato, uma Alice brasileira, inserindo referências culturais nacionais. A professora Liziane cita um exemplo da liberdade antropofágica andradiana da dupla ao verter a história: a dança da Tartaruga Falsa, cujo tema musical, traduzido por Augusto de Campos e composto por Cid Campos, foi cantado por Adriana Calcanhotto e é facilmente memorizado pelas crianças. É a única nota de pé de página num livro de 170 páginas.


Como se sabe, a história de Lewis Carroll – pseudônimo de Charles Lutwidge Dogson – foi concebida também com o objetivo de criar exercícios de memorização para crianças em idade escolar, a despeito do gênero eleito pelo autor, um cruzamento híbrido de nonsense literário e conto fantástico. Escrito para três irmãs pelo reverendo Dogson – uma delas a ninfeta Alice Liddell, então com 10 anos -, o livro já foi traduzido em 125 línguas, incluindo o esperanto. A tradução de Furtado respeita a estrutura dos 12 (número cabalístico) capítulos de Alice, começando com sua descoberta do coelho branco, sempre atrasado e consultando o relógio, a perseguição ao bicho dentro da toca, a queda de Alice num poço sem fundo e a descoberta de uma pequena porta que desperta nela a curiosidade e a faz beber um líquido capaz de reduzir seu tamanho. Finalmente, após sobreviver a um naufrágio das próprias lágrimas, Alice entra no país das maravilhas, onde lagartas usam narguilé, chapeleiros malucos tomam chá e cartas de baralho são ameaçadas por uma rainha autoritária.


Se a Rainha de Copas parece mandona na história, o Grifo (animal com cabeça de águia e garras de leão)é ainda mais fascista. Acordado pela tirana para levar Alice à presença da Tartaruga Falsa, o impertinente dá ordens para a menina cantar ‘qualquer coisa’, sob protestos de Alice, reclamando que parece estar na escola. Na tradução de Furtado, Alice canta o Hino Nacional Brasileiro com letra trocada. ‘Ouviram das pitangas, bergamota/Eu vi a tua vó virar cambota/Em cima de uma lata de compota/Eu vi a tua vó de cara torta!’ O Grifo, obviamente, não entende nada, como não entenderia mesmo se Alice estivesse cantando a letra original de Joaquim Osório Duque-Estrada. Esse tipo de brincadeira é muito comum em escolas que obrigam crianças a cantar hinos oficializados por decreto, cujas letras quilométricas não parecem fazer sentido para baixinhos do século 21.


Tudo o que Jorge Furtado e sua professora Liziane Kugland não queriam era justamente assinar uma tradução impossível de ser compreendida sem notas de pé de página e longas explicações que fariam dormir um acadêmico da época vitoriana. No ano em que o mundo presta homenagem aos 110 anos da morte de Lewis Carroll, a dupla reverencia o autor de Alice com uma versão moderna, contemporânea, para a qual muito contribuem as sintéticas e originais ilustrações de Mariana Newlands.


Trecho


– Concordo plenamente com você – disse a Duquesa. – E a moral disso é… Seja o que parece ser… ou, se você quiser que eu fale de uma maneira mais clara… Nunca imagine não ser outra coisa senão o que possa parecer aos outros que você foi ou possa ter sido senão o que você tinha sido pareceria aos outros ser outra coisa.


– Acho que eu entenderia isso melhor – Alice respondeu com toda a educação – se você me desse por escrito. Mas assim, falando, não estou conseguindo acompanhá-la.


– Isso não é nada perto do que eu poderia falar, se quisesse – respondeu a Duquesa, num tom muito satisfeito.


– Por favor, não se incomode de dizer nada mais comprido que isso – disse Alice.


– Oh, incômodo nenhum! – disse a Duquesa. – Pode pegar para você tudo o que eu falei até agora, é um presente.


‘Que porcaria de presente!’, pensou Alice. ‘Ainda bem que ninguém dá esse tipo de coisa de aniversário!’ Mas ela não teve coragem de falar isso em voz alta.


– Pensando de novo? – perguntou a Duquesa, dando mais uma cutucada com seu queixinho pontudo.’


 


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Filmes ampliam espaço surrealista de Alice


‘A caixa com as quatro adaptações cinematográficas de Alice no País das Maravilhas lançada pelo selo Magnus Opus (três discos, R$ 120) é uma relíquia que reúne desde a primeira versão filmada do livro de Lewis Carroll, em 1903, por Cecil M. Hepworth, até a adaptação musical dirigida por William Sterling em 1972, passando pela felliniana versão do inglês Jonathan Miller, lançada em 1966, e a surrealista animação (com bonecos e uma Alice real) realizada há 20 anos pelo desenhista checo Jan Svankmajer.


A última é uma adaptação lisérgica e, obviamente, nada tem a ver com a comportada versão de Walt Disney de 1951. Contudo, a mais intrigante é a de Jonathan Miller com música de Ravi Shankar. Feita para a televisão inglesa, ela ficou 40 anos no limbo até que a BBC decidiu recuperá-la. O DVD com a versão restaurada traz ainda a versão muda, cujo estado de deterioração é evidente, mas compreensível para um filme histórico com 105 anos de idade.


O que torna o outro filme, o de Miller, perturbador não é tanto o diálogo algo insólito, na trilha sonora, entre a cítara de Ravi Shankar e um oboé – até mesmo porque o músico indiano mostra-se reverente demais com a tradição clássica ocidental. É, principalmente, o clima onírico que lembra muito o de Julieta dos Espíritos de Fellini. A atriz Anne-Marie Mallik parece ter saído diretamente de um filme do italiano para um parque de diversões dirigido por Beckett, em que as distorções não são apenas visuais. Embora extremamente fiel ao original de Carroll, o diretor preserva cautelosa distância do espectador, levando-o a um estado de sonolência com as mudanças bruscas de ritmo sugeridas pelo fio tênue que separa a vida real de Alice de seu sonho à beira do lago. Alice aproxima-se da tela como se estivesse numa peça de Brecht, sem demonstrar muita surpresa diante dos bizarros seres que vão desfilando diante de seus olhos.


Já a versão musical de William Sterling é um pouco decepcionante. As músicas de John Barry e as letras do parceiro Don Black não funcionam e o elenco parece tão deslocado quanto Alice na casa da Duquesa. Se Jonathan Miller lida magistralmente com a mudança brusca de lugares por onde passa Alice, evitando carregar nos efeitos especiais, Sterling está mais para Disney em sua fantasia cromática. Ele explora a experiência e o talento do fotógrafo Geoffrey Unsworth (autor das imagens de 2001 – Uma Odisséia no Espaço), mas é tímido ao dirigir atores como Michael Crawford (o Coelho Branco) e a estrela Fiona Fullerton (Alice). De qualquer modo, valeu a restauração. Desde seu lançamento, em 1973, o filme havia desaparecido de circulação.’


 


TELEVISÃO
Julia Contier


Bombeiros em foco


‘Nada de seres fantásticos, mutantes e alucinações. Desta vez, a próxima novela das 10 da Record, Chamas da Vida, terá um tema bem real: a vida dos bombeiros. Fazem parte da trama várias cenas de salvamento, busca de pessoas desaparecidas, ou seja, tudo que inclui a rotina desses profissionais.


Por isso, o elenco que faz parte desse núcleo, como Leonardo Brício, Raymundo de Souza, Gabriel Gracindo, Rodrigo Faro, Milhem Cortaz e Roger Gobeth, fez uma intensa preparação no quartel-sede do Corpo de Bombeiros do Rio. Acordaram cedo, aprenderam a apagar incêndio, a descer por cordas para salvar pessoas presas em janelas e varandas.


Leonardo Brício e Juliana Silveira serão os protagonistas da história. No elenco estarão também Dado Dolabella, Lucinha Lins , Jussara Freire, Antonio Grassi, Juliana Lohmann, Ana Paula Tabalipa, Floriano Peixoto, Guilherme Leme, Marilu Bueno e Íris Bruzzi.


Chamas da Vida tem direção-geral de Edgard Miranda, que estréia como diretor-geral de novelas, e texto de Cristiane Fridman. O folhetim será ambientado no Rio e estréia no dia 24 de junho.’


 


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 21 de abril de 2008


CASO ISABELLA NARDONI
Fernando de Barros e Silva


Teatro dos vampiros


‘SÃO PAULO – Perto do fim de ‘Budapeste’, José Costa (ou Zosze Kósta), o narrador do romance de Chico Buarque, descreve a sensação de estar dentro de uma ficção em seus passeios pela orla do Rio:


‘As pessoas que eu topava (…) não me pareciam afeitas ao ambiente. Às vezes eu as via como figurantes de um filme que caminhassem para lá e para cá, ou pedalassem na ciclovia a mando do diretor. E as patinadoras seriam profissionais, ganhariam cachês os moleques de rua, ao volante dos carros estariam dublês, fazendo barbaridades na avenida.’


Embora distante, essa passagem de mestre veio com força à memória na última sexta, diante da imagem da multidão aglomerada e disposta a linchar o casal suspeito pelo assassinato de Isabella.


Aqueles tipos pareciam figurantes, coadjuvantes, dublês involuntários num filme B de horror. Um ‘popular’ se exibe fantasiado de Bin Laden; outro vem de Cuiabá, 12 horas na estrada; um terceiro surge com um bolo de aniversário, devorado em segundos pelos ‘curiosos’.


A novidade, porém, não está na atuação desses zumbis sociais; o que agora espanta não é apenas a fúria carnavalesca deste lúmpen da sociedade do espetáculo.


Quando o programa da Record coloca, no meio da tarde, uma cama no palco para reproduzir, no estúdio, o quartinho da menina, a apelação abjeta desse teatro parajornalístico é muito evidente.


E quando a Rede Globo decide transmitir ao vivo, durante três horas, sem intervalos, as imagens do casal acossado no dia dos depoimentos -o que devemos pensar?


Não excluo, evidentemente, a mídia impressa -nem a Folha- dos comentários. Mas é a TV, como se sabe, quem chega às massas, ainda mais neste país. A morte de Isabella já se tornou um capítulo de uma guerra desembestada por audiência. E o jornalismo dito ‘sério’ está a reboque dessa escalada bárbara.


Ou, quem sabe, William Bonner seja apenas um ator da novela das oito representando um locutor que nos narra uma tragédia grega…’


 


Ruy Castro


Peçonha humana


‘RIO DE JANEIRO – Uma plêiade de animais peçonhentos -cobras, escorpiões e lacraias- reuniu-se neste fim de semana às margens de um brejo para deliberar sobre fatos que ocuparam o noticiário nos últimos dias. Peçonha, como se sabe, significa veneno. Esses animais são considerados agressivos, traiçoeiros e letais, embora usem o veneno apenas para se defender ou se alimentar.


Na reunião, eles trataram do caso do cirurgião plástico de São Paulo que, dizendo-se assediado pela ex-namorada, matou e esquartejou a mulher com requintes profissionais, usando bisturis e pinças, e depois ocultando e destruindo o cadáver. Houve comoção geral quando uma lacraia, aos prantos, descreveu o médico retirando a pele do rosto, dos seios e das pontas dos dedos da vítima para dificultar sua identificação pela polícia.


Outra história referia-se ao rapaz de Caxias (RJ) que, inconformado com o fim de seu relacionamento com a namorada, tomou uma espada ninja de sua coleção e, com ela, simplesmente decepou o braço direito da moça. A infeliz foi levada em estado grave para o hospital Souza Aguiar, no Rio, mas o braço não pôde ser reimplantado.


E, naturalmente, o grande assunto do encontro foi a tragédia da menina Isabella, em São Paulo, espancada, asfixiada e atirada ainda viva do 6º andar por, tudo indica, seu pai e sua madrasta. Chocante. Mas o que também deprimiu os animais foi o histórico de violência desse casal contra os filhos mais novos e contra a própria Isabella, a ameaça de morte à avó da criança por motivo fútil, as brigas por ciúme doentio, a vida num inferno.


Os animais peçonhentos estão assustados. O planeta que habitam parece cada vez mais hostil e perigoso pela presença desses seres -esses, sim, agressivos, traiçoeiros e letais- ditos humanos.’


 


Alba Zaluar


Macondo no Brasil


‘NA LITERATURA latino-americana, cunhou-se o termo realismo fantástico para caracterizar a combinação de elementos da fantasia com o realismo que retrata o continente na ficção. Garcia Márquez, autor de muitos romances assim caracterizados, só se reconhecia como alguém que relatava a realidade de seu país.


A ficção, cheia de figuras míticas, imitava a vida, que ele encontrava em eventos comuns. A cidade real e mítica -Macondo- ficou condenada ao desaparecimento, a cem anos de solidão, sem direito a segunda chance.


No Brasil, às vezes tem-se a impressão de que a vida imita a mitologia, especialmente a dedicada às crianças, povoada de madrastas más (é preciso acrescentar o adjetivo, porquanto há as boas) e de pais malvados. Quando deparados em vida com aquelas figuras cruéis, narradas tantas vezes, de tantas maneiras, enquanto crescíamos, a reação pode ser também bárbara e cruel. O horror e o medo que tais personagens primitivos despertam cegam os espectadores e fazem-nos esquecer as atitudes civilizadas. Estas precisam ser construídas no cotidiano da nação para se tornarem reais.


Havia muitas crianças e jovens entre os que jogavam pedras, agrediam e ameaçavam os acusados pela morte da menina Isabella. Foram espetáculos dantescos, dignos de um país em que o sistema de Justiça funciona mal e que incentiva os atingidos pelo horror do crime a querer fazer justiça pelas próprias mãos.


É como se a caixa de Pandora dos sentimentos mais abjetos e das emoções mais primitivas tivesse sido aberta na seqüência narrada pelas telas da televisão.


O que a vida, tal como exposta nessas cenas primitivas, sugere é que uma reforma no sistema penal se tornou urgente. A confiança em relação à capacidade do sistema de Justiça de condenar os culpados precisa ser recuperada. Há muitos crimes que permanecem impunes neste país, tanto mais revoltantes quanto mais atingem pessoas inocentes, vulneráveis e indefesas.


Um país em que as pessoas livres, assim como os apenados, resolvem castigar e até executar os culpados pelas maldades feitas a crianças e idosos, quando apenas suspeitos ou quando chegam à prisão, não é um país que confia na sua Justiça.


Mas é possível que não estejamos, ao contrário dos acusados pelo crime, condenados a cem anos de solidão. Depois de tantas críticas feitas às polícias no Brasil, é preciso registrar que, nesse caso, a investigação bem-sucedida e a discrição dos policiais em relação a provas fundamentais podem ajudar no desfecho justo do julgamento dos homens, que só será completado no tribunal do júri.’


 


Folha de S. Paulo


Pai e madrasta vão à TV e negam ter matado Isabella


‘Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta de Isabella Nardoni, 5, foram ontem à TV para negar a participação na morte da menina. Foi a primeira entrevista concedida pelos dois desde que foram apontados pela polícia como suspeitos do crime.


Alexandre, 29, e Anna Jatobá, 24, foram indiciados na última sexta-feira pela Polícia Civil sob a acusação de homicídio doloso (com intenção), com três agravantes: motivo fútil, impossibilidade de defesa da vítima e meio cruel.


Para a polícia, Anna Jatobá agrediu e esganou Isabella e Alexandre jogou a menina da janela de um dos quartos do apartamento do casal, no sexto andar do edifício London, na Vila Isolina Mazzei, zona norte de São Paulo.


Em entrevista ao ‘Fantástico’, da Rede Globo, Alexandre e Anna Jatobá disseram ser ‘totalmente inocentes’. ‘A Isabella era tudo na nossa vida.’


A entrevista foi concedida no prédio dos pais de Anna Jatobá, em Guarulhos (Grande SP), onde estão também os dois filhos do casal, de 1 e 3 anos.


Alexandre e Anna Jatobá insistem na tese de que uma pessoa que tinha cópia da chave invadiu o apartamento na noite de 29 de março, matou Isabella e a jogou pela janela.


Na versão do casal, quando eles chegaram ao prédio as três crianças estavam dormindo. Alexandre, então, teria subido com Isabella no colo e voltado para ajudar a mulher com os meninos. Nesse meio tempo teria ocorrido o crime.


A polícia diz não ter encontrado nenhum indício de que uma terceira pessoa tenha entrado no apartamento.


‘Eu não consigo acreditar o que fizeram com ela. Não entra na minha cabeça como alguém faz isso com uma criança. A Isabella era um tesouro na nossa vida’, afirmou Alexandre.


Os dois insistiram, nos cerca de 30 minutos de entrevista -divididos em dois blocos-, em dizer que estão sendo prejulgados, em falar sobre como a família é unida e como Isabella gostava de estar com eles.


Chegaram a dizer que a menina queria morar com o casal -Isabella morava com a mãe, Ana Carolina de Oliveira, e passava o fim de semana com o pai quando foi morta.


Sobre as conclusões da perícia, Alexandre e Anna Jatobá não fizeram muitos comentários. ‘Nós não tivemos conhecimento ainda desses laudos, então não tem como explicar isso’, disse Alexandre.


Eles afirmaram, no entanto, que Isabella não se feriu no carro. De acordo com a perícia, havia sangue no assoalho, atrás de um dos bancos e na lateral da cadeirinha do bebê.


‘Eu fui a última pessoa a sair do carro. Ninguém se machucou no carro, ninguém se machucou aqui na casa da minha mãe, em Guarulhos, nada’, afirmou Anna Jatobá.


Eles negaram também ter usado uma fralda para limpar sangue do rosto da menina.


Anna Jatobá declarou várias vezes durante a entrevista que nunca bateu na enteada. ‘Eu nunca levantei um dedo para ela, nunca falei um nada, nunca nem gritei com ela.’


A madrasta disse que se sente como se estivesse vivendo em uma prisão domiciliar. ‘Como se fosse uma prisão domiciliar a gente tá vivendo. Os nossos filhos também, toda a nossa família’, afirmou Anna Jatobá.’


 


Casal diz que Isabella queria morar com o pai


‘Alexandre Nardoni e Anna Jatobá afirmaram ontem, na TV, que Isabella queria morar com eles e que, por duas vezes, a menina chegou a chamar a madrasta de mãe.


A menina vivia com a mãe, Ana Carolina Oliveira, e visitava a casa do pai a cada 15 dias.


‘O sonho dela era morar com a gente’, declarou Anna Jatobá, em entrevista ao programa ‘Fantástico’, da TV Globo.


Durante os cerca de 30 minutos de entrevista, Anna Jatobá chorou várias vezes. Alexandre chorou por duas vezes.


‘Ela tinha vergonha, mas por duas vezes ela me chamou de mãe’, disse a madrasta.


Alexandre chorou pela primeira vez ao contar que a filha lhe pediu para brincar ‘de motinha’. A segunda vez foi quando descreveu a sensação de ter visto o caixão de Isabella.


Alexandre refutou ainda a versão de que ele brigava constantemente com a mulher, apresentada tanto por vizinhos do edifício em que ele morava até o ano passado como por moradores do prédio onde ocorreu o crime.


De acordo com a investigação policial, o casal Nardoni discutiu dentro do apartamento momentos antes de Isabella ser atirada pela janela.


‘Brigávamos como uma pessoa normal [sic]’, disse Alexandre. ‘Nunca brigamos ou discutimos nesse apartamento novo’, completou Anna Jatobá.


Sem ciúmes


Perguntado sobre a relação com a ex-mulher, mãe de Isabella, Alexandre disse apenas que era ‘normal’.


Indagada sobre ter ciúmes de Isabella, Anna Jatobá respondeu que jamais isso ocorreu. ‘Nunca tive ciúmes dela. ‘


Alexandre disse, na entrevista, ter feito uma promessa sobre o caixão de Isabella, de não sossegar enquanto não encontrar ‘quem fez essa crueldade’.


Ele afirmou ainda que fará uma tatuagem com o rosto da filha, para homenageá-la, e que teve vontade de se jogar na cova junto com o caixão de Isabella.


Anna Jatobá disse que, ao tomar banho com Isabella -’ela sempre tomava banho comigo’-, a menina desenhou um coração no boxe para demonstrar o quanto a amava.


Prisão


A madrasta de Isabella contou ter passado fome nos primeiros dias em que ficou na prisão. ‘Fiquei sem comer por três dias seguidos.’


Anna Jatobá e o marido ficaram presos por nove dias e foram soltos após a Justiça conceder um habeas corpus impetrado pela defesa do casal.


Ao saber que o habeas corpus havia sido concedido, Anna Jatobá, segundo seu relato, gritou os nomes dos dois filhos. ‘Mamãe tá indo ver vocês.’


Mesmo em liberdade, Anna Jatobá reclamou que tanto ela quanto o marido não podem sair de casa. Além do assédio da imprensa há o temor de serem agredidos pela população.


Alexandre pediu que as pessoas ‘façam disque-denúncia’ para apontar possíveis suspeitos pelo crime. Ele disse, ainda, que o caso serve para alertar as pessoas de que isso pode acontecer com qualquer um.’


 


Marina Novaes


Madrasta levou surra na prisão, diz avô paterno


‘O casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta da menina Isabella, ‘sente muito medo de sair de casa’, disse o avô da menina, Antonio Nardoni, em entrevista à Folha Online.


A polícia, com base nos laudos, crê que Isabella, 5, morreu após ser agredida e asfixiada pela madrasta e lançada do sexto andar pelo pai, em 29 de março. O casal nega e atribui a morte da menina a uma terceira pessoa que teria invadido o apartamento.


Eles foram indiciados sob acusação de homicídio doloso triplamente qualificado (motivo fútil, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima).


Segundo o avô da menina, o casal sente muito medo da reação das pessoas, especialmente Anna Jatobá. Ele diz que a moça apanhou das presas nos dias em que ficou no 89º DP (Portal Morumbi).


‘Ela sofreu muito. As outras detentas bateram nela e, por isso, tivemos o cuidado de tirar fotos das marcas, pois não sabemos até onde isso pode chegar’, disse. Antonio Nardoni diz desconhecer o que levou as presas a bater em Anna Jatobá.


Inicialmente, Anna Jatobá ficou sozinha em uma cela. Depois foi colocada com outras presas, admitiu a Secretaria da Segurança. Não foi informado o período nem quantas mulheres ficaram com ela.’


 


Mario Cesar Carvalho


Reação ao caso Isabella é ‘sadomasoquista’, diz criminalista


‘Paulo Sérgio Leite Fernandes, 72, já viu tantos casos criminais em seus 51 anos de advocacia nessa área que não vê muita novidade na comoção que o caso Isabella provoca.


‘O povo é sadomasoquista e gosta de tragédia. Num certo sentido, o homem gosta de ver o sofrimento dos outros e se castiga por isso. A rotina é o sofrimento, é o drama. A comédia é a exceção’, diz um dos mais antigos criminalistas de São Paulo ainda em atividade.


Fernandes tem experiência em comoções. Em 2002, ele defendeu o pediatra Eugênio Chipkevitch, que foi condenado a 124 anos de prisão por pedofilia quando já não era seu cliente. Na entrevista a seguir, ele diz que falta equilíbrio à imprensa no caso Isabella.


FOLHA – O sr. se lembra de crimes que tenham provocado uma reação popular tão violenta quanto a morte de Isabella?


PAULO SÉRGIO LEITE FERNANDES – Eu fui advogado de Eugênio Chipkevitch, médico acusado de pedofilia em 2002. Esse caso provocou uma celeuma igual ou pior do que o homicídio praticado contra essa menina.


FOLHA – Houve tentativa de agredir policiais ou suspeitos?


FERNANDES – Houve um acoroçoamento [estímulo] popular muito grande contra o Eugênio. Não chegou a agressão física porque a polícia não deixou. Comecei a advogar em 1957 e não me lembro de reações tão violentas quanto essas duas [Isabella e Eugênio]. Antes disso, há casos famosos, como a da Gata Mineira, que foi morta por um homem da alta sociedade. Houve o caso de dois jovens cariocas [Cássio Murilo e Ronaldo] que foram acusados de matar uma menina [Aída Cury, de 18 anos, em 1958, após ter sido estuprada]. Davi Nasser fez uma cobertura longa na revista ‘O Cruzeiro’, a mais importante da época. Todos foram condenados. Houve o caso de Osmany [Ramos, cirurgião plástico, condenado nos anos 80 a 47 anos de prisão por homicídio e tráfico].


FOLHA – Por que o caso Isabella provoca tanta comoção?


FERNANDES – Em primeiro lugar porque é uma menininha. Em segundo lugar porque a imputação teórica, a suspeita, é contra a madrasta, que normalmente é vista como a rainha má. Você se lembra da Branca de Neve, da maçã envenenada. Isso está no subconsciente popular. Em terceiro lugar porque o pai estaria junto da madrasta [no momento do crime]. Essa combinação provoca uma comoção social enorme a ponto de prejudicar o exame equilibrado dos fatos.


FOLHA – O sr. acredita que o direito de defesa do pai e da madrasta estão sendo cerceados?


FERNANDES – Acho que no aspecto formal não há cerceamento. Porque eles têm advogados, têm a garantia da proteção da defesa, inclusive física. Mas, no sentido de conseqüências na mídia, isso provoca uma retração muito grande da possibilidade de defesa. Dizem que a voz do povo é a voz de Deus. É errada muitas vezes, mas essa voz funciona como pressão psicológica. Há casos clássicos de pressão popular que geraram injustiças. O caso Dreyfus na França é clássico [o capitão Alfred Dreyfus foi acusado em 1894 por monarquistas de ter vendido segredos militares aos alemães e acabou condenado à prisão perpétua]. Ele foi condenado pela imprensa francesa, foi desvitalizado durante boa parte da vida. Aí um colega seu, o jornalista Émile Zola, saiu em defesa dele.


FOLHA – O sr. acha que o casal suspeito no caso Isabella já foi julgado pela mídia como Dreyfus?


FERNANDES – Julgado, não, mas o casal está numa situação muito delicada perante a mídia. Creio que foram encurralados. A posição da imprensa em relação a eles não é muito equilibrada. Falta equilíbrio.


FOLHA – A imprensa deveria dar as costas para a curiosidade mórbida do público em relação ao caso?


FERNANDES – O sr. quer uma resposta franca? Vou lhe dar. O jornal, rede de TV ou rede de rádio que deixar de acompanhar esse caso perde venda, perde Ibope, perde dinheiro, em última instância.


FOLHA – Os jornais hoje, diferentemente do que ocorria nos anos 50, vivem de assinaturas. Elas representam 80%, 90% da circulação.


FERNANDES – Mas se você mandar um jornal para a minha casa sem notícia da Isabella eu vou procurar o ‘Estadão’. Se ligo a TV e não vejo notícias, vou procurar outra estação. São os fatos da vida.


FOLHA – A mídia está errada em tratar o caso com tanta ênfase?


FERNANDES – A imprensa não erra no sentido objetivo da coisa. A imprensa existe para que o seu acionista não vá à falência. Nesse sentido, não erra. Mas, no sentido ético, você tem de examinar isso da mesma forma que o indivíduo que é obrigado a se alimentar tomando a comida do outro. Ele não pode morrer de fome porque aí a família dele pode morrer de fome também. Isso é muito complicado. Não há respostas fáceis. Às vezes a imprensa não tem saída.


FOLHA – O sr. acha razoável do ponto de vista criminal que a polícia trabalhe com uma única hipótese?


FERNANDES – Não acho que a polícia trabalhe com uma única hipótese. Há algumas cartas que estão na manga da polícia, que vocês [da imprensa] não conhecem. Tenho 50 anos de advocacia criminal e creio que há alguma coisa no subterrâneo que vocês ainda não sabem. As notícias que a imprensa consegue colher são parciais. O óbvio não é a verdade. A polícia oferece duas laranjas para a imprensa, mas às vezes a fruta boa é uma maçã. Às vezes o esclarecimento está escondido na gaveta do delegado. Isso vai depender muito da solércia [astúcia] da imprensa.


FOLHA – O cerco da mídia hoje é diferente do que ocorria nos anos 50?


FERNANDES – Não, é igualzinho. ‘O Cruzeiro’ vivia às custas do sangue dos homicídios. O povo se apaixonava da mesma forma que no caso da Isabella.


FOLHA – Por que esse caso provoca tanta paixão?


FERNANDES – O povo é sadomasoquista. O ser humano vive permanentemente entre Deus e o demônio. Se você noticiar o nascimento de uma criança, ninguém lê. Mas, se você noticiar o assassinato de uma menina, todo mundo compra o jornal. O povo gosta de tragédia. Você vê criança de oito anos comentando o caso com o pai.


FOLHA – Qual seria a raiz desse sadomasoquismo?


FERNANDES – O ser humano nasceu assim. Num certo sentido, o homem gosta de ver o sofrimento dos outros e se castiga por isso. A imprensa vive muito de sangue. A rotina é o sofrimento, é o drama. A comédia é a exceção. O homem vive muito mais da dor do que da alegria.’


 


PUBLICIDADE
Folha de S. Paulo


Propaganda enganosa


‘NUMA DECISÃO exemplar, o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) determinou a suspensão de duas campanhas da Petrobras em que a estatal se enaltece como ambientalmente responsável. O Conar, provocado por secretarias de Meio Ambiente e ONGs, considerou as peças propaganda enganosa.


A Petrobras não só perpetra um dano continuado contra a saúde dos brasileiros, ao forçá-los a respirar fumaça de óleo diesel com níveis perigosos de enxofre, como ainda vem procrastinando a solução do problema.


Em 2002, o Conselho Nacional do Meio Ambiente baixou a resolução 315: a partir de janeiro de 2009, o diesel deveria ter concentração máxima de enxofre de 50 partes por milhão (ppm).


O combustível comercializado em 237 cidades de grande porte tem 500 ppm de enxofre. Nos cerca de 5.300 municípios restantes, chega a 2.000 ppm. O limite máximo na União Européia é de 50 ppm e de 10 ppm a partir de 2009. Nos EUA e no Canadá, é de 15 ppm. No Japão, 10 ppm.


A Petrobras afirma que não poderá cumprir o cronograma. Na melhor das hipóteses o diesel mais limpo chega em 2013. A estatal tenta empurrar a responsabilidade para a Agência Nacional de Petróleo, que teria atrasado a especificação técnica. Não revela que ela mesma, aliada aos fabricantes de veículos, pressionou a agência para ir devagar, a fim de postergar os custos que as mudanças deverão impor à cadeia.


As conseqüências dessa ‘economia’ não são triviais. Estudo do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP estima que a má qualidade do ar na região metropolitana de São Paulo provoque a morte prematura de 3.000 pessoas por ano. O enxofre responde por boa parte desses óbitos. Até que a Petrobras resolva isso, deve ficar calada em temas ambientais.’


 


INTERNET
Vinicius Queiroz Galvão


Em site, pacientes trocam informação sobre doenças


‘À primeira vista, ele parece o Orkut, a rede de relacionamentos na internet. Aliás, à segunda também: o usuário escolhe um nome, senha, traça o próprio perfil com idade, foto, localidade e comentários pessoais.


Antes disso tudo, no entanto, está a diferença: a obrigação de escolher a doença da qual é vítima. Aids, mal de Parkinson e depressão são algumas das enfermidades listadas.


Lançado nos EUA, o site ‘Patients Like Me’ (ou ‘Pacientes Como Eu’) já tem dezenas de membros no Brasil.


Basicamente, o site funciona assim: os usuários trocam informações sobre doenças, tratamentos, remédios, dosagens e efeitos colaterais. Tudo é compilado em gráficos que mostram a evolução da doença.


Infectologista e membro da câmara de bioética do CRM (Conselho Regional de Medicina), Caio Rosenthal vê com bons olhos e ter gostado da proposta do site. ‘Achei interessante. São pessoas que têm suas dúvidas’, avalia. O endocrinologista Danilo Possídio concorda: ‘É impossível fugir dessa nova realidade virtual. Os médicos agora têm de se adaptar.’


Os dois, no entanto, fazem uma ressalva: a ferramenta jamais poderá substituir a consulta médica e a análise clínica pessoal do paciente.


Cadastrado na página como portador do HIV, o cearense Marcos Braga diz ter se motivado a entrar no site para ‘compartilhar experiências’.


Ao concluir a inscrição, foi informado da quantidade de usuários que tomam a mesma combinação do coquetel antiAids: 89 pessoas com as quais pode trocar informações.


Em São Paulo, Débora Zopazo diz ter abandonado o tratamento contra síndrome do pânico. ‘O médico propôs tratamento com antidepressivos. Resolvi deixar o remédio e tentar me tratar por meio de relacionamentos com pessoas que sofrem do mesmo problema.’


Nos EUA, um termo já foi criado para definir o comportamento dos usuários do ‘Patients Like Me’, ainda não descrito na lista de doenças do site: são os ‘cibercondríacos’.’


 


ARTHUR CANTALICE (1926 – 2008)
Willian Vieira


Jornalismo militante desde o armazém


‘Ainda não se sabe por quê, dias antes de morrer, Arthur Cantalice escreveu uma biografia em duas folhas batidas à máquina. Em que conta que tinha seis anos quando lia, ‘no chão da sala de jantar da nossa casa no Meyer, todos os jornais’. Pois ‘desde garoto gostei de jornalismo’.


Aluno do colégio militar no Rio, onde nasceu, criou o clube de leitura de jornais, além de escrever, à mão, o jornalzinho. Quando não escrevia, certeza, era porque a bola corria na quadra do colégio. ‘Era América roxo.’


Começou como auxiliar de escritório e logo entrou para o Porto do Rio, onde foi ser conferente, checando as cargas nos armazéns. Em pouco tempo estava na liderança da União dos Portuários do Brasil, onde, ‘com grande apoio de massa’, fez uma greve atrás da outra. Mas com a eclosão da ditadura, concluiu que ‘a gorilada golpista não gostou nada disso’, pois foi demitido, processado, condenado a três anos e preso por nove meses -’com tortura nos oito primeiros dias’.


Foi redator e repórter do ‘Última Hora’ e há 20 anos escrevia para o ‘Correio da Lavoura’. Foi ainda conselheiro da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e diretor do Sindicato dos Jornalistas do Rio, onde montava o Jornal Mural. Em todas as edições, trazia a máxima: ‘Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados’. Tinha três filhos e três netos. Morreu de infarto, em uma reunião da ABI, na terça, aos 81 anos.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


SBT prepara reação a crescimento da Record


‘O SBT demorou, mas finalmente esboça uma reação contra sua queda no Ibope e conseqüente crescimento da Record.


Está em curso na emissora um projeto de médio prazo para recuperar a audiência perdida nos últimos três anos e tentar reconquistar a vice-liderança. O plano está sendo tocado por Daniela Beirutty, filha de Silvio Santos, provável sucessora do empresário na emissora.


Daniela, que estreou na televisão dirigindo ‘Ídolos’, está assumindo o comando das áreas comercial e administrativa do SBT. Ela fez cursos no exterior e está estudando processos de sucessão familiar.


A executiva iniciou um estudo de todos os programas e horários do SBT para apresentar um projeto de nova grade. Está em busca de novos formatos.


Todo o SBT deve passar por uma reestruturação organizacional, após revisão dos processos internos. O projeto de reação também passa pela comunicação. A emissora, que extinguiu sua assessoria de imprensa no final de 2006, já começou a reestruturar o departamento.


Um dos pilares do projeto do SBT é a ruptura com o modelo de produção de novelas estabelecido em 1999, com a Televisa. Por contrato, o SBT só poderia gravar no Brasil textos mexicanos e sem autonomia para adaptações. A rede acaba de quitar o contrato com a Televisa (que só venceria em 2009) e já produz uma novela nacional (‘Revelação’).


ÉTICA GLOBAL 1


Márcio Garcia assinou contrato com a Globo na semana passada. O artista atuará em novelas (deve entrar na próxima das sete) e trabalhará no desenvolvimento de um programa a ser apresentado por ele.


ÉTICA GLOBAL 2


O contrato de Márcio Garcia quebra um princípio defendido pela Globo, o de não assediar artistas com vínculos com outras redes. Garcia tem contrato com a Record até 31 de julho. A Globo diz que a Record já anunciou publicamente que não irá renovar contrato com o ator-apresentador. E que ele só começa a trabalhar lá em agosto.


DIGITAL


A TV Justiça já está no ar com sinal aberto em São Paulo. Transmite no canal 67, acessível apenas por receptor digital.


REPLAY


O SBT criou sua versão do ‘Vale a Pena Ver de Novo’, da Globo. Exibe agora, aos sábados, das 16h às 18h, o ‘Quem Não Viu, Vai Ver’, com reprises de ‘Hebe’, ‘Domingo Legal’ e ‘Topa ou Não Topa’.


TECNOLOGIA


A Rede TV! encomendou 50 iPhones. A emissora irá equipar os aparelhos com um software, desenvolvido pela Tecnet (empresa do mesmo grupo), que permite o acesso aos vídeos em produção para os programas da casa. Os iPhones serão distribuídos aos produtores.


CEBOLA


Uma grande rede de supermercados importou do Japão um lote de televisores. Acreditava que seriam digitais, mas eram analógicos. O assunto virou anedota entre engenheiros.’


 


Eduardo Ohata


Série espia bastidores da pancadaria


‘Um lutador de Mixed Martial Arts, o popular vale-tudo, que enfrenta dificuldade para realizar um simples alongamento. Um ‘veterano’ da guerra do Iraque de apenas 25 anos.


Com esses protagonistas, ‘Mestres do Combate’, que estréia hoje no Discovery Channel, teria tudo para dar errado. Porém, de forma inadvertida, Jimmy Smith e Doug Anderson tornam divertidos os episódios.


Mais ou menos como a participação de Sylvester Stallone no reality show ‘O Desafiante’. ‘Mestres do Combate’ acompanha dois americanos que visitam, ao redor do mundo, com direito até a uma parada no Brasil, os berços de diversas formas de artes marciais.


Suas reflexões provocam risos. Ao observar um mestre Xaolin, Smith pensa: ‘esse sorriso esconde uma habilidade mortal’. Ou, quando tenta conversar com um aluno de kung fu que obviamente não fala inglês, não obtém resposta, e diz: ‘Ele não tem cara de ser muito conversador mesmo…’.


Além de momentos cômicos e curiosidades, como o atleta que é erguido no ar com o corpo apoiado em lanças, o programa revela alguns detalhes menos glamourosos do universo das artes marciais: durante o episódio inicial, na China, é mostrada a precariedade dos quartos e da ‘sala de jantar’ dos candidatos a mestres do kung fu.


MESTRES DO COMBATE


Quando: hoje, às 22h


Onde: no Discovery Channel’


 


 


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