Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Claudio Lessa

‘Suazilândia e Brasil: dois países tão díspares, dois países com problemas tão semelhantes. A minúscula Suazilândia, paraíso da Aids (38 por cento soropositivos na população de 1 milhão) encravado entre Moçambique e África do Sul, tem um presidente galinha. Mal vê um rabo de saia, dá um jeito de transformá-lo em mais uma rainha. Até agora, já são doze. O problema é que o nosso Mswati Terceiro não consegue dar conta de tanta mulher. Parece que é muita areia para o caminhãozinho do monarca. Duas delas, inclusive, já se mandaram e não querem mais saber dele, nem de seu reino encantado. As mais velhas ficam enciumadas, reclamam que o rei não as visita durante meses e acham que toda essa promiscuidade de Mswati pode acabar trazendo o famigerado HIV para dentro das alcovas palacianas e acabando com a (agora revelada pelas majestades de plantão) alegria bastante rara e rala de todas ali dentro.

O gigantesco Brasil, eternamente deitado em berço esplêndido que se recusa a levantar, sempre com a justificativa de que ‘é assim mesmo’, tem dezenas de milhões de habitantes cada vez mais ansiosos por ver o fim do marasmo político-institucional-cultural-social-econômico e é presidido por uma turma que gosta de brincar de gosplan, bem à moda de seus ícones, os já mortos e enterrados soviéticos. Coisa muito demodé, cercada de intrigas, quedas em desgraça e reabilitações triunfais, mas… quando se pára no tempo, é uma mão-de-obra muito grande fazer a carroça andar. O presidente, que costumava olhar o Brasil pelo buraco de uma agulha, quando pôde ver toda a extensão do que teria que administrar, entrou em parafuso. Saiu criando bolsa disso, auxílio daquilo, assistência daquilo-outro, promessa disso-assim-assim, e tirou o time de campo. Foi levar o Sucatão para dar seus últimos rasantes por esse mundão de Deus enquanto o novo palácio voador não chega.

Para virar presidente, o nosso rei de Garanhuns, da Suazilândia pernambucana, contou com a ajuda da imprensa, que enxergava nele uma alternativa romântica e ingênua. Com certeza, todos jornalistas gerados enquanto papai e mamãe, durante seu intercurso, deixavam a televisão Zenith ligada bem alto e ‘Mr. Smith Goes to Washington’ passava, em preto-e-branco, estrelado por James Stewart, para abafar os ruídos da saliência marital. Essa imprensa velha de guerra, cansada das arbitrariedades, abraçou o simplório líder – que, a exemplo do seu colega africano galinha, parece ter um tesão enorme por dar um ou dois peixes, não ensinar a pescar, e dar no pé – e relevou, num primeiro momento, as sacadas fora de contexto, as demonstrações de um certo desequilíbrio etílico maior do que o socialmente aceitável, as promessas exageradas. Tudo em nome da vontade de ver o Brasil mudar, de ver as propostas defendidas com tanta garra e durante tantos anos colocadas em prática e com alguma chance de sucesso.

Agora, como na miudinha Suazilândia e suas doze rainhas, até os jornalistas caem na real e começam a mostrar os desmandos do PT em todas as suas tonalidades de vermelho, geralmente sujo e encardido.

O que fazer? É assim mesmo… O jeito é tentar voltar ao básico, e tentar entender onde foi que tudo se perdeu. Eu, por mim, descobri uma forma de elaborar tudo isso: comprei uma Vemaguete 64. Vou desmontar a ‘pequena maravilha’ todinha e remontá-la, enquanto penso nos tempos menos complicados em que as opções disponíveis eram apenas o fusca, o gordini e o DKW. Quem sabe eu não chego a uma conclusão sobre os dias de hoje?’



Rodrigo Rangel

‘Lula promete ajudar a valorizar cultura nacional’, copyright O Globo, 7/7/04

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem de um grupo de artistas e intelectuais um conjunto de propostas para valorizar a cultura brasileira. A lista de sugestões é resultado de um seminário realizado em fevereiro, em São Paulo, em que mais de 70 profissionais ligados à área debateram possíveis soluções para proteger a produção cultural nacional. O presidente se comprometeu a tirar as propostas do papel e defendeu uma atitude mais altiva do Brasil no setor cultural.

Presidente: Brasil deve deixar de ser subalterno

Segundo ele, o país não pode continuar se comportando como um ‘zé-ninguém’.

— É uma orientação de todo o governo que em todos os debates que façamos em nível internacional a questão da cultura seja vista como estratégica para a interação que o Brasil pretende fazer com o restante do mundo — disse Lula.

Para o presidente, o Brasil deve deixar de se comportar como um subalterno diante dos outros países:

— Um país do tamanho do Brasil, com a diversidade cultural que tem o Brasil, com a dimensão tanto cultural quanto de outras riquezas que tem o Brasil, não pode mais ficar agindo no mundo como se fosse um ‘zé-ninguém’, como se fosse uma coisa menor, como se tivesse sempre que estar pedindo licença para fazer as coisas.

O documento entregue a Lula tem 13 sugestões para o Executivo e o Congresso Nacional. Todas elas com o objetivo de defender a produção brasileira da crescente inserção, no mercado nacional, da concorrência muitas vezes desleal de empresas estrangeiras. O seminário que originou as propostas foi promovido pela Rede Globo e pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Lula informou que encaminhará o texto aos ministros ligados à área e dará a eles um prazo para que as sugestões virem políticas públicas ou leis. O documento defende, por exemplo, mudanças na lei que estabelece mecanismos para regular os novos meios de comunicação social, como a internet e o conteúdo veiculado pelas empresas de telecomunicações por meio de telefones, hoje sob controle de empresas estrangeiras.

‘Essas empresas veiculam conteúdos produzidos sem qualquer vinculação com a cultura, a diversidade e as necessidades nacionais e regionais e apenas comprometidas com os hábitos e padrões de consumo de seus países de origem e a estratégia de seus controladores’, diz o documento.

Personalidades de diversas áreas participam do evento

A delegação que foi ao Palácio do Planalto levar o documento a Lula estava repleta de famosos e de gente que trabalha nos bastidores. Havia ainda estudiosos de temas como comunicação e cultura. Lá estavam, por exemplo, artistas como Tony Ramos, Regina Casé e Cláudio Manoel, os diretores Cacá Diegues, Luiz Carlos Barreto e Jayme Monjardim e a escritora Maria Adelaide Amaral.

O documento defende a criação de subsídios e a taxação de produtos culturais importados como forma de defender a produção nacional.’



Laura Mattos

‘Lula multiplica alcance de sua TV oficial’, copyright Folha de S. Paulo, 10/7/04

‘Em crise de popularidade, o governo Lula decidiu investir no canal de TV criado para veicular ações do Planalto e transmitir eventos e pronunciamentos oficiais, além das viagens do presidente. O NBR, produzido pela Radiobrás (estatal de comunicação), passará de um alcance médio de 1,5 milhão de domicílios no país para algo perto de 12 milhões.

A emissora era distribuída a 50 municípios do país, apenas por meio da operadora de TV paga Net. Passou a ser transmitida por satélite e pode ser captada por antena parabólica em todo o país.

O governo federal terá um gasto mensal de R$ 345,5 mil para pagar o aluguel do satélite à StarOne (empresa da Embratel).

Para assinar o contrato, a Radiobrás contou com auxílio financeiro da Secom (secretaria de comunicação de governo), responsável pela imagem do Planalto.

O site da Radiobrás (www.radiobras.gov.br) diz que ‘o principal objetivo da emissora é informar sobre ações econômicas, políticas e sociais do Poder Executivo’. Eugênio Bucci, presidente da estatal de comunicação, afirma que a ampliação do alcance do canal NBR é uma maneira de ‘equilibrar o acesso da opinião pública às informações’, já que as TVs Câmara e Senado também são veiculadas pelo mesmo satélite.

O acordo entre o governo federal e a StarOne é válido até dezembro deste ano, mas poderá ser prorrogado por mais 60 meses.’



Belisa Ribeiro

‘Amigos, amigos…’, copyright Jornal do Brasil, 7/7/04

‘O presidente Lula, ontem, ao rasgar, mais uma vez, o discurso formal para abrir o coração em público, justificou elogios que tem feito a ministros que não são petistas nem eram seus próximos, como Luiz Furlan, do Desenvolvimento e Comércio Exterior, e Roberto Rodrigues, da Agricultura:

– Quem cria grupo de amigos no governo está fadado ao insucesso.

Eunício de Oliveira, das Comunicações, que já foi comparado pelo presidente a jogador capaz de salvar time (de futebol) inteiro, é da lista – ex-líder do PMDB na Câmara, nem conhecia Lula até 2003 e, como Furlan e Rodrigues, é empresário muito bem-sucedido. Irrita-se com freqüência contra a burocracia e chegou a por porta afora advogado do ministério que justificava pedir-se aos interessados novos documentos e certidões para fazer andar processos parados há mais de uma década. De 100 mil, despachou todos os anteriores a 2001, depois de multiplicar o número de digitadores através de convênio com instituição de Brasília que reúne portadores de deficiência, impressionado com a eficiência, em especial, de um digitador de um braço só.

Com uma perna de homem de negócios e outra de político, conseguiu feito de repercussão mais direta e ampla, no que diz respeito ao bolso das donas Marias e dos seus Joões, do que muitos dos anunciados, no mesmo dia, no balanço do bem realizado nos primeiros 18 meses de governo – o parcelamento do aumento do reajuste das tarifas de telefone fixo, garantido pela Justiça, como firmado em contrato, e o cancelamento dos atrasados. Vai ser economia, em média, de 140% ou uma conta e meia mensal em um ano. E só deve começar a ser pago em setembro, bimestralmente.

Para iniciados

Entre os beneficiários da sutileza – PL e PMDB, pela ordem – foram poucos os que compreenderam o recado embutido nos sete minutos que o presidente Lula dedicou de seu discurso, segunda-feira, a enaltecer seu vice José Alencar, com direito a lembranças de seu hotel, em que sempre se hospedava ‘por ser o mais barato’. Mas a mensagem foi entendida pelo prejudicado – o PTB que já se arvora em nomear o ministro do Turismo, Mares Guia, companheiro de chapa de Lula para a reeleição.’



Ruy Fabiano

‘O governo e os tambores’, copyright Correio Braziliense, 7/7/04

‘A celebração, anteontem, dos primeiros 18 meses do governo Lula está sendo vista como o ato inaugural da campanha eleitoral de outubro. Não havia o que, em jornalismo, se convencionou chamar de gancho, pretexto efetivo para o evento.

Ninguém comemora 18 meses. Não é uma data redonda. Não havia (e não há) também nenhum acontecimento objetivo, como lançamento de algum programa novo ou anúncio de projeto ou mesmo descoberta de um poço de petróleo ou mina de carvão.

Por que então celebrar 18 meses no poder? Segundo pesquisas recentes (e semana passada foram divulgadas duas, uma do Ibope e outra do Instituto Sensus), não há o que celebrar. O presidente e sua equipe estão no mais baixo nível de popularidade e confiança desde a posse. Há divergências na base de sustentação parlamentar e, internamente, há duelo entre ministros estratégicos.

José Dirceu (Casa Civil) disputa espaço com Aldo Rebelo (Articulação Política) e vocaliza as queixas do PT contra a ortodoxia da política econômica de Antonio Palocci. Enquanto a Fazenda difunde pela mídia estudo sobre desvinculação de receitas orçamentárias, José Dirceu afirma publicamente que o assunto não está nem sequer em discussão. O PT não aceita aquela tese, que a Fazenda, no entanto, considera imperativo de governabilidade.

A confrontação interna é palpável – e prova disso é que o governo a desmente diariamente. Numa circunstância dessa, recomenda-se menos exposição e mais ação em busca de harmonia e sinergia.

O discurso com que o presidente Lula saudou os presentes evidencia a falta de conteúdo administrativo do evento. Mais uma vez, o presidente deteve-se em comparações com o governo anterior. E fez isso como se cumprisse um dever cívico inestimável: ‘Temos de fazer comparações com quem nos está atacando. A comparação com o nosso plano de governo vai ser feita no fim do mandato, mas a comparação com todos os anos anteriores vai ser feita a cada dia, a cada seis meses’. Não pode haver maior confissão de insegurança.

Quem tem plano de governo e confia nele não perde tempo com comparações. Olha para a frente, não para trás. O PT, cada vez se confirma mais, tinha um plano para chegar ao poder, mas não para depois que chegasse. O resultado é que fica olhando para trás para ver se erra menos do que quem o precedeu. Não foi eleito para isso.

O dado marcante da reunião acabou sendo o retorno de José Dirceu ao primeiro plano da cena política. Foi ele quem abriu a reunião e falou por uma hora e meia, com um fôlego de Fidel Castro. Serviu-se de um apanhado de dados dos ministérios, alinhavando realizações administrativas, relacionadas em um documento de mais de sessenta páginas, a ser distribuído aos candidatos como peça de campanha.

Por precipitação (ou talvez por excesso de confiança) acabou incluindo como realizações do governo matérias ainda não aprovadas pelo Congresso, como a nova Lei de Falências e o projeto das PPPs (Parcerias Público-Privadas), ambas em discussão e sob o risco de só serem votadas no segundo semestre. Deve ter sido a primeira vez que alguém fez um balanço do porvir.

O Barão de Itararé comparava alguns ritos políticos ao feitio dos tambores: fazem barulho, chamam a atenção, mas são ocos. Assim foi a celebração dos 18 meses iniciais do governo Lula.’




Ricardo Mignone


‘Lula critica denuncismo durante posse do presidente da Abin’, copyright Folha Online (www.folha.com.br), 13/07/04


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje, durante solenidade de posse do diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Mauro Marcelo de Lima e Silva, que o denuncismo da imprensa ‘não contribui com a democracia como alguns pensam’.


Segundo Lula, uma denúncia só pode se tornar pública quando estiver embasada em fatos verdadeiros e totalmente comprovados, senão passa a ser difamação. O presidente disse ainda que o denuncismo ‘não dá ao Estado brasileiro mais sabedoria para tomar as suas decisões’.


‘No Brasil, muitas vezes, nós assistimos pela imprensa personalidades políticas, intelectuais, empresariais, sindicais, mesmo no meio de vocês ou na Polícia Federal ou na Receita Federal, figuras que são difamadas pela imprensa por informações precipitadas, com o nome achincalhado pelos quatro cantos do país. ‘Depois, não se prova nada e ninguém pede desculpa pelo estrago que foi feito à imagem da pessoa, à imagem da família e à imagem do Estado brasileiro’, disse o presidente.


Lula disse também que é preciso que o governo crie as condições necessárias para a Abin funcionar de forma precisa. Segundo ele, o órgão pode e deve ser muito mais eficiente agora do que já foi em qualquer outro momento.


O presidente ressaltou que instituições como a Polícia Federal, a Receita Federal e a própria Abin são indispensáveis para garantir a eficiência do Estado. ‘Pobre o governante que não tiver as informações adequadas para tomar as boas e importantes decisões que tem que tomar’, afirmou.


Lula destacou que os funcionários da Abin não podem pertencer a nenhum partido político e brincou dizendo que eles não devem sequer dizer por que time torcem, devido à natureza estratégica de sua função. ‘É importante que, antes de tudo, permaneça o profissionalismo’, disse.’


 


Vera Rosa


‘Lula faz críticas ao ‘denuncismo’ da imprensa’, copyright Agência Estado (www.agestado.com.br), 13/07/04


Ao participar esta manhã da posse do novo diretor-geral da Agência Brasileira de Informações (Abin), Mauro Marcelo Lima e Silva, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o que chamou de ‘denuncismo’, por parte da imprensa, e o vazamento de informações dentro do governo. Lula disse que muitas vezes no Brasil personalidades públicas são difamadas pela imprensa com informações precipitadas, e têm o nome achincalhado. ‘Depois não se prova e ninguém pede desculpas pelo estrago à imagem da pessoa, da família, ou do Estado brasileiro’, disse o presidente.


Para ele, o denuncismo não contribui para a democracia. ‘Uma denúncia só pode ser tornada pública quando estiver embasada em fatos verdadeiros e totalmente comprovados. Senão passa a ser difamação’, afirmou. Para o presidente, um agente da Abin precisa ser apartidário e não ter ideologia no exercício de suas funções. ‘Um agente da Abin precisa usar as informações a serviço do Estado e não como um degrau para subir na carreira’, disse o presidente, ao fez uma crítica velada à denúncia de que existiam espiões no Palácio do Planalto, que agiriam em conjunto com agentes da Abin, para investigar o chefe da Casa Civil, José Dirceu, e a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy.


Lula disse ainda esperar que a imagem da Abin se consolide como uma instituição respeitada ‘sem a desconfiança que muitas vezes gera nas pessoas’. Ainda durante a solenidade, o presidente afirmou que passou grande parte de sua vida preocupado de como iria viver com os militares. ‘Toda vez que eu estava perto de ganhar uma eleição me diziam: eles não vão deixar’, afirmou. Ao lado do chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, Lula disse que mantém um relacionamento muito bom com os militares. ‘Tenho consciência da dedicação e do patriotismo que vocês têm com o País’, observou. O presidente chamou ainda o general Félix de ‘companheiro’, e disse ser ‘uma espécie de paizão’.’