Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Clóvis Rossi


‘SÃO PAULO – O presidente que o ‘Fantástico’ mostrou domingo é um homem que acredita em um país e uma situação que não existem.


Lula lamenta que o Brasil-maravilha que construiu em escassos dois anos e meio tenha ficado soterrado pela lama.


Errado: a lama é permanente, o Brasil-maravilha não existe.


Prova-o o próprio Lula ao dizer que o PT apenas fez o que os outros também fazem ‘sistematicamente’. Ou seja, todo mundo tem caixa dois, o que é crime, e ver o PT aderir a ele foi tudo o que o governo Lula conseguiu fazer a respeito.


O Brasil-maravilha continua sendo o país mais desigual do planeta, fora Serra Leoa, dos mais inseguros do planeta (vide o tiroteio no Rio, sábado à noite, se ainda fosse necessária alguma prova), continua com todas as carências de sempre.


A novidade é o PT na lama. Confessada e sistematicamente.


Além de alienado, o presidente foi covarde, ao botar a bomba no colo da antiga direção petista, como se ele não tivesse nada com ela, como se ela não fosse formada de velhos companheiros (de armas ou de malas?).


Delúbio Soares, é bom deixar claro, era o tesoureiro do partido durante a campanha eleitoral de 2002, aquela que levou Lula ao poder. Se o tesoureiro ‘não pensou direito no que estava fazendo’, conforme a desculpinha dada por Lula, o candidato paga também o preço.


Quem leu a bela reportagem de Laura Capriglione sobre a frustração dos velhos companheiros de Lula no sindicalismo do ABC entende melhor a crise. E as culpas. Lula trocou a sua turma pelos Delúbios, Jefferson, Janenes, Costas Nettos e cia. Se foi por ‘não pensar direito’ ou, ao contrário, por saber bem o que fazia, é culpado de qualquer forma. Fugir da realidade não o inocenta.’


 


Valdo Cruz


‘Caiu a máscara’, copyright Folha de S. Paulo, 20/7/05


‘BRASÍLIA – A CPI dos Correios fervia ontem. E não era o depoimento de Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, o motivo da temperatura elevada, mas a análise da quebra do sigilo bancário das agências de Marcos Valério no Banco Rural.


Membros da CPI que tiveram acesso aos dados saíam apressados, com cara de espanto, da sala da comissão onde estão guardados os documentos reunidos pelas quebras de sigilo.


Aos jornalistas, acampados em frente à sala chamada de buraco da CPI, diziam coisas do tipo: ‘O país não vai acordar o mesmo amanhã’ e ‘o ‘mensalão’ denunciado pelo Roberto Jefferson está provado’.


Os governistas pediam calma, que não se podia prejulgar ninguém, mas destacavam que a verdade terá de prevalecer no final.


E, pelo visto, será uma verdade nada agradável para muitos petistas e aliados do governo Lula. As informações vazadas para a imprensa indicam parlamentares recebendo altas somas das empresas de Valério.


Todos já têm a desculpa oficial, engendrada pelo próprio Marcos Valério e por Delúbio Soares. Tudo grana para bancar dívidas de campanhas eleitorais, provenientes de um gigantesco caixa dois.


Mesmo que seja verdade, por que esses parlamentares, agora flagrados na documentação de Valério, não revelaram isso antes? Por que ficaram literalmente na moita, torcendo para que nada fosse descoberto?


Alguns, inclusive, confrontados com informações preliminares, negaram envolvimento com dinheiro proveniente do empresário mineiro. Como vão se explicar agora?


São perguntas que petistas e seus aliados terão de responder. Não será nada fácil. Principalmente pelo comportamento inicial de tentar esconder o que agora se torna público.


O fato é que ninguém camufla o que é legal. Caiu a máscara.’


 


Janio de Freitas


‘O troféu a quem merece’, copyright Folha de S. Paulo, 19/7/05


‘Ao inventar o Troféu Óleo de Peroba, o deputado José Thomaz Nonô teve, talvez sem o perceber, mais do que uma de suas tiradas: criou um recurso de linguagem jornalística.


Certas atitudes não são definíveis sem que se escorre em alguma dose de grosseria, e os eufemismos convencionais aveludam demais o que deve ser dito. As palavras, por exemplo, para definir uma das respostas de Lula na entrevista em Paris são, todas, mais pesadas do que o caso requer. É aí que entra o achado de José Thomaz Nonô.


A repórter perguntou a Lula sobre a reeleição. Como sempre, Lula não está pensando nisso, deixa o assunto para o ano que vem, apesar de todas as evidências de que, desde o dia seguinte à posse, sua maior ocupação é com eventos típicos de campanha. Lula tem um complemento para a resposta de sempre: [antes de cuidar de reeleição] ‘tenho que cumprir as promessas que fiz ao povo na campanha’.


Os 10 milhões de empregos? Reforma agrária verdadeira e inteligente? A desconcentração da renda? A auditoria da dívida externa? Ou seriam outras as maravilhas que relegou nos dois anos e meio já transcorridos do mandato, e realizará, todas, no restante ano e meio?


A resposta de Lula é vencedora antecipada de uma das categorias do Troféu Óleo de Peroba e candidata forte à premiação geral e mais alta. Na qual Lula compete com Lula, autor de vasta produção no gênero. Mas as aventuras de seus companheiros lançaram novos candidatos em competição feroz.


O mecenas Marcos Valério lança a nova versão para a dinheirama que o une a uma patota petista. Não satisfeito com a fábula do aval fraterno exposta na CPI, aumenta o lance: foram R$ 39 milhões que tirou, por empréstimos bancários, em nome de suas empresas e os entregou ao PT, para repasse a nomes indicados pelo amigo Delúbio Soares. E, ante um brando questionamento do repórter sobre o empréstimo do empréstimo, esclarece: ‘Normal. Normal’.


Cena que Delúbio Soares, sempre determinado a disputar a categoria maior do troféu, ultrapassou já no dia seguinte. Perguntado se sua nova versão, idêntica à de Marcos Valério na véspera, resultava de combinação ou de coincidência, Delúbio foi preciso: ‘Coincidência, só coincidência’. Mal chegara da viagem para encontrar-se, em Belo Horizonte, com Marcos Valério.


O fato de estar mandado para corner pelos companheiros não retira de José Genoino, com a vasta produção que já lhe deu o prêmio nos últimos anos, a condição de grande candidato atual. Com destaque para esta jóia sobre o empréstimo maroto: ‘Eu não sabia que ele [Marcos Valério] é avalista. Eu assinei sem ler’.


Não é muito mais delicado falar, em relação a essas atitudes e seus autores, no Troféu Óleo de Peroba para caras-de-pau, do que usar palavras equiparadas pelo Aurélio, para as mesmas situações, como ‘cinismo, impudência, desfaçatez, descaramento’?


Pelo que se está vendo e, mais ainda, pelo que se espera, o deputado José Thomaz Nonô bem que podia enriquecer suas tiradas úteis.


Em tempo: está previsto para logo mais o depoimento, na CPI dos Correios, de Silvio Pereira, secretário afastado do PT. Como se trata de uma das mais puras inocências do PT, ao lado das mais conhecidas também alijadas da direção partidária, o depoimento promete aumentar a competição pelo troféu. Nada, porém, que abale a expectativa quanto ao depoimento, amanhã, do competidor Delúbio Soares. A menos que José Genoino reapareça ou Lula faça um dos seus improvisos.’


 


Ancelmo Gois


‘Jogo perdido’, copyright O Globo, 20/7/05


‘O jornalista Ricardo Kotscho andava ontem pelas ruas de São Paulo quando, triste, constatou que todas as TVs sintonizavam a fala de Sílvio Pereira na CPI.


— Parecia jogo do Brasil. Mas nessa Copa não há vencedor…’


 


Arnaldo Jabor


‘Zumbis, surdos-mudos e cegos’, copyright O Estado de S. Paulo, 20/7/05


‘O depoimento do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira foi, de saída, inviabilizado por mais um desserviço do Supremo Tribunal Federal, dando-lhe o habeas-corpus preventivo, a figura jurídica que permite que o sujeito possa mentir em paz, não possa ser preso e não precise responder a perguntas que o incriminem. Assim, tudo virou mais um ritual vazio, nesse escândalo histórico, nesse sarapatel sistêmico.


A entrevista ridícula que Lula deu na França para uma patricinha amadora, visivelmente encomendada para furar o jornalismo profissional, já fazia parte desse conluio de enrolações. Lula lançou a palavra de ordem, combinada com seus prepostos no Brasil: ‘Vamos confessar crimes menores, para fugir do principal, vamos admitir ter errado na utilização de caixa 2 de campanha, para escapar da verdade do saque ao dinheiro público nas estatais, dos acordos com empresários e do mensalão’ – assim como um marido culpado confessa à mulher uma pequena sacanagem para fugir do batom (ou dos 100 mil dólares) na cueca. Com sua entrevista, Lula burrissimamente se uniu a Valério e Delúbio e rompeu o cordão que ainda o separava do PT. Agora, vemos que a simbiose partido/governo é patente, inegável. A vergonhosa entrevista de Gushiken ao Jornal da Globo também denota a mesma estratégia. Ele não respondeu a nenhuma pergunta de William e Christiane, com sua impassível cara oriental, num escandaloso desafio aos mais baixos QIs da inteligência humana.


No depoimento ontem na CPI, Silvio seguiu a mesma ‘linha justa’ de Lula e Delúbio, mas acrescentou um plus histriônico: a baba na gravata, a cara de pateta. Em tribunais, os suspeitos costumam se declarar inocentes. Tudo bem. Mas Silvio e PT se declaram ‘débeis mentais’. Ou acham que nós somos. Silvio Pereira negou tudo e só faltava dizer: ‘Eu sou um imbecil, eu nunca vi nada, eu nunca falei nada, eu não conhecia ninguém, e eu era apenas um humilde (sic) secretário-geral do PT’. Aliás, é incrível que um homem ignorante como ele, para quem os ‘s’ não existem, possa ter ocupado uma função tão alta no ‘partido do futuro’. Silvio, com seu patrimônio muito além dos R$ 9 mil que ganha, com land rovers e casa em Ilhabela, disse que nunca soube de empréstimos do PT em bancos, que tudo era função do Delúbio (atual bordão ‘respiratório’), que não sabia de empréstimos de R$ 90 milhões, que recebeu empresários apenas por gentileza, mas nunca para discutir cargos ou interesses, que os empresários iam conversar sobre tendências ideológicas ou sobre marxismo ou sobre fofocas. Silvio chegou a negar que tenha influído nas nomeações de seu irmão e irmã. E e a dizer que nem Dirceu nem Genoino, nem Mercadante, nem Tarso, ninguém sabia de nada do que ele fazia. Ninguém. Só faltou dizer: ‘Somos um partido de zumbis surdos-mudos e cegos’.


Como acreditar que um sujeito como Valério fosse arranjar US$ 30 milhões para o PT sem nenhuma vantagem, sem que ninguém soubesse de nada? A mentira do PT/governo está chegando a níveis insuportáveis, e os crimes que se adivinham sob o avesso desse avesso são de tamanho equivalente à grande mentira inicial, como disse Lula no ato falho parisiense: ‘Quando a gente começa a mentir, não pára mais’.


Outra coisa que essa CPI está expondo é a incrível discrepância entre o PT real, primitivo, ignorante e trapalhão, com aquele PT épico, heróico e ético que os intelectuais e ‘militantes imaginários’ inventaram. A cada depoimento fica mais vergonhoso que essa gente esteja no poder. O tempo todo, todos tentam desvincular o PT do governo, e a cada negativa essa ligação se aprofunda, esse adultério fica mais evidente. Todas as perguntas tocam em alguma verdade e todas as respostas são mentiras descaradas. O último recurso é sempre falar em falta de ‘provas’, mas os juristas sabem que as pistas que se fecham, as confissões que se contradizem são também provas ‘indiciárias’ insofismáveis. Só resta à oposição e aos inquisidores comer pelas bordas, adivinhar a verdade pelas negativas, descobrir o ‘sim’ através dos ‘nãos’ obsessivos.


O País está diante de uma muralha de mentiras. A cada dia, a situação do Lula fica mais grave. A cada dia, fica mais difícil salvá-lo da enchente. E não por algum novo vídeo escandaloso ou algo assim. Não. A incriminação geral dos petistas e de Lula é obra deles mesmos, de suas trapalhadas, suas desculpas esfarrapadas, mais esfarrapadas que os miseráveis em nome dos quais armaram essa chanchada trágica.’


 


O Estado de S. Paulo


‘Para ‘FT’, é o pior quadro desde a queda de Collor’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/7/05


‘O jornal britânico Financial Times destaca, na edição de ontem, que a crise política enfrentada pelo governo Lula – ‘a pior desde o impeachment do presidente Fernando Collor’ – aprofunda-se a cada dia e arranha cada vez mais a imagem do partido. ‘A percepção da corrupção é particularmente danosa para um partido que prometeu mais ética na política’, avalia.


O artigo lembra desde o vídeo do ex-diretor dos Correios Maurício Marinho recebendo propina à prisão do petista cearense José Adalberto Vieira da Silva com US$ 100 mil na cueca. ‘A cada dia, surgem novas e mais estranhas acusações.’ Segundo o FT, a maioria das denúncias abala o PT e aliados, mas ‘políticos de oposição também estão sob fogo cerrado’.


‘Foi uma grande surpresa para nós’, comenta, na reportagem, o editor-chefe do Estado, Flávio Pinheiro. ‘E acho que teremos novas surpresas.’


A extensa cobertura da imprensa brasileira é destaque no artigo, que alerta para o risco de uma onda de acusações não comprovadas. ‘Há a tendência de divulgar acusações sem nenhum acompanhamento’, diz Alberto Dines, do Observatório da Imprensa. Pinheiro considera importante trazer à tona casos de corrupção, mas também alerta contra o ‘denuncismo’.


Segundo o FT, a relação do governo com a imprensa ‘não é boa’. Ressalta que, ao surgirem as denúncias, a primeira reação do PT foi acusar a mídia de inspirar ‘uma conspiração de direita’. E lembra que Lula deu apenas uma entrevista coletiva em três anos de mandato, embora falasse constantemente com jornalistas antes de ser eleito.’