Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Comunique-se

DIPLOMA EM DEBATE
Tiago Cordeiro

Diploma: o que (não) muda?, 17/11/06

‘O diploma de jornalismo não é mais obrigatório para jornalistas. Por enquanto. A decisão do ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal (STF), que, nesta quinta-feira (16/11), determinou a suspensão da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão até que o STF julgue definitivamente a polêmica, retomou uma trama de muitos capítulos. Desde a decisão da juíza Carla Rister, da 16ª Vara Cível da Justiça Federal em São Paulo em 2001, a imprensa nacional não tem certeza se o diploma é ou não necessário para se tornar jornalista. Segundo a assessoria do STF, o próximo julgamento ainda não tem data definida.

‘A minha avaliação é que se trata apenas de uma ação cautelar do Ministro Gilmar Mendes. Como todos sabem ele é muito técnico e só concedeu a liminar para efeito de acautelar a discussão e, eventualmente, acolher que há um contingente que poderia estar dependendo do registro para exercer a profissão’, afirmou Claudismar Zupirolli, assessor jurídico da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

Para o advogado, apesar da decisão a tendência é o STF decidir a favor da obrigatoriedade. ‘Não tem nenhuma outra decisão além da sentença da juíza Rister contrária à obrigatoriedade. Não é possível que todo judiciário esteja equivocado’, afirmou. Zupirolli lembra que tanto o Superior Tribunal de Justiça (STJ) quanto a justiça do trabalho e outros juízes intercederam a favor do diploma.

Nesta quinta-feira (16/11), o Comunique-se conversou com Sergio Murillo, presidente da Fenaj. Na ocasião, Murillo e Zupirolli garantiram que qualquer um que desempenhe atividades jornalísticas terá que ser formado em jornalismo, caso a exigência seja confirmada pelo STF. Isso incluiria blogueiros e redatores de sites que escrevessem reportagens ou outras atividades próprias do jornalismo. Questionado sobre quem fiscalizaria essas atividades, o presidente da Fenaj garantiu que isso seria responsabilidade do Ministério do Trabalho.

Impossibilidades

Porém, segundo a assessoria do Ministério, a fiscalização está limitada à ‘verificação objetiva’ das funções previstas na lei e ao registro profissional. Quando tratar-se de situações novas ou mais complexas, que dependam de interpretação da lei, a competência é do Poder Judiciário, que analisará cada caso concreto, quando provocado, e proferirá sua decisão’.

O órgão admite ainda que as inspeções de irregularidades dependem de solicitações ou denúncias de entidades sindicais ou representativas, como a Fenaj, ou ainda de ações fiscais nos estabelecimentos que contratam esses profissionais. ‘A fiscalização deve verificar, seja através de entrevistas com os empregados e representantes da empresa e através de documentos, seja por qualquer outra forma admitida em lei, a função efetivamente exercida pelo empregado e a compatibilidade com seu registro profissional’.

Atualmente existem milhares, talvez milhões, de usuários de blogs no País. Segundo Pedro Dailer, profissional da Globo.com e responsável pelos blogs do portal, só o domínio blogger hospeda mais de 200 mil usuários. Para verificar se essas páginas possuem ou não atividades jornalísticas, seria necessário checar o conteúdo de cada uma. Muitos blogueiros brasileiros utilizam ainda provedores internacionais, o que dificulta seu rastreamento.

Exceções

Tanto magistrados quanto membros da Fenaj parecem concordar que a lei não retroage. Jornalistas que possuam registro antes do Decreto-Lei de 1969, não são afetados pela obrigatoriedade. ‘Isso é direito adquirido’, garantiu Murillo.

Apesar do Projeto de Lei nº 79, de 2004, de autoria do deputado Pastor Amarildo (PSC-TO) e da própria Fenaj, que entendia o cargo de comentarista como função privativa de jornalistas, Zupirolli garantiu ao Comunique-se que críticos e comentaristas não estariam impedidos de trabalhar para jornais com a obrigatoriedade. ‘Se estão fazendo a análise de um material cultural, não há nenhum impedimento para criticar e publicar’. Mesmo assim, colunistas que exercessem o jornalismo, como Ancelmo Góis e Ricardo Boechat, precisariam do diploma. Resta saber como essas interpretações chegarão às redações brasileiras.

Manifestação

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro organiza ato público contra a decisão do STF. Em comunicado enviado por e-mail, a entidade afirma que a recente decisão ‘não pode ameaçar um direito legítimo da sociedade brasileira’ e solicita que os seus membros fiquem atentos aos próximos comunicados.’



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Supremo muda tudo: diploma não é obrigatório, 17/11/06

‘O ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu ontem a necessidade do diploma em jornalismo para exercício da profissão até que o STF julgue definitivamente a polêmica, acatando liminar do procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza. A decisão precisa ser referendada pela 2ª Turma do STF.

A data para o julgamento da obrigatoriedade ainda não foi definida. Na liminar, o procurador argumenta que diversas pessoas foram beneficiadas pela decisão da justiça federal em São Paulo e que não poderiam ser prejudicadas até que o Supremo decidisse a questão.

‘Um número elevado de pessoas, que estavam a exercer (e ainda exercem) a atividade jornalística independentemente de registro do Ministério do Trabalho de curso superior, por força da tutela antecipada anteriormente concedida e posterior confirmação pela sentença de primeira grau, agora se acham tolhidas em seus direitos, impossibilitadas de exercer suas atividades’, afirmou Souza.

Idéias divergentes

Segundo o ministro do STF, a decisão envolve uma discussão entre dois aspectos da constituição que são, aparentemente, divergentes. Enquanto o artigo 5º define que ‘é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendida as qualificações profissionais que a lei estabelecer’; o artigo 220 afirma que não é possível nenhuma lei que ‘constitua embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social’.

* Com informações do Consultor Jurídico.’



MAINARDI vs. MINO
Comunique-se

Diogo Mainardi e Editora Abril condenados a indenizar o jornalista Mino Carta, 17/11/06

‘O colunista Diogo Mainardi e a Editora Abril, que edita a Veja, revista em que a coluna de Mainardi é publicada, foram condenados a indenizar o jornalista Mino Carta, diretor de redação da revista CartaCapital, em R$ 35 mil por danos morais. A condenação foi imposta pela juíza Camila de Jesus Gonçalves Pacífico, da 1ª Vara Cível de Pinheiros, São Paulo. A defesa de Mainardi informou que vai recorrer.

Mainardi escreveu em sua coluna que Carta era pago pelo empresário Carlos Jereissati para editar reportagens contra Daniel Dantas, comparando o jornalista a políticos mensaleiros. O colunista afirmou ainda que em CartaCapital há mais anúncios do governo do que da iniciativa privada, o que caracterizaria dependência.

Os argumentos dos advogados de Mainardi são que ele emitiu sua opinião, sem intenção de ofender. ‘Além disso, os artigos representam o direito à liberdade de informação, sendo que a crítica inspirada pelo interesse público, não constitui abuso, nos termos do artigo 27, VIII, da Lei de Imprensa’, sustentou a defesa.

A juíza não aceitou a argumentação. ‘O exercício da liberdade de pensamento e de opinião também exige o cumprimento do dever de veracidade, que não se confunde com a verdade real, mas pressupõe uma conduta diligente’, afirmou.

O pedido original de indenização estendia o benefício à Editora Confiança, responsável por CartaCapital, porém a pretensão foi negada. A justiça também negou o pedido de publicação da sentença na coluna de Mainardi.

* Com informações do Consultor Jurídico.’



WEBJORNALISMO
Bruno Rodrigues

Uma nova visão do jornalismo online, 17/11/06

‘Quando o avião se chocou contra a primeira torre, Elisa estava trabalhando em casa, a tevê ligada. A programação foi interrompida, e a bióloga girou a cadeira, ainda sem entender o fogaréu que saía do World Trade Center. Ficou alguns segundos apática, até que pulou de sopetão e soltou um berro:

– Credo!

Neste mesmo instante, seu filho Joca acessava, no quarto, todos os sites noticiosos que podia, em busca de qualquer nova informação. Foi então que o outro avião arrebentou com a segunda torre. Os dedos pararam no teclado, e ele sussurrou alguma coisa que parecia ser…

– … meu Deus…

Elisa e Joca se esbarraram no corredor, trocaram um rápido ‘já soube?’, e foram até a cozinha – não sem antes formar um rápido conselho de família.

– Antes que sua vó saiba o que está acontecendo, é melhor prepará-la. Um acidente horroroso como esse choca qualquer um, ainda mais…

– Que acidente, o quê! Foi ataque terrorista, gente!

Os dois olharam para a porta da cozinha, e vó Carlotinha descascava batatas tranqüilamente.

– Em que planeta vocês estavam? Estou com meu radinho ligado há um tempão e eles entraram direto de Nova Iorque. Ah: e caiu outro avião em Washington.

Elisa e Joca ainda tiveram tempo de se imaginar como dois seres de uma estranha era jurássica ao inverso, antes que a boa vovozinha desse a punhalada final.

– Desliguem a televisão e o computador! O mundo tá terminando e vocês nem para economizar energia, meu povo! Meu radinho é a pilha, sabiam?

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Ainda nos orgulhamos do jornalismo online como ápice do esforço de apuração. No Everest da Comunicação, está fincada a bandeira do ‘tempo real’ da internet, quando deveríamos perceber que, ao lado, tremulam há tempos as bandeiras do rádio e da televisão.

Noticiário em ‘tempo real’ – ou ‘real time’ – não é, nem nunca foi, o grande avanço do jornalismo online. O século XX consagrou este estilo mais do que necessário de apuração e que mudou para sempre a face do Jornalismo. Mas em seu Panteão, sempre estarão, lado a lado, rádio e televisão.

Sim, há lugar para nossa cria, mas neste pódio subiremos para receber um honroso terceiro lugar. Mais uma vez, com a internet fizemos e faremos a Evolução – mas nunca a Revolução, pois esta já foi feita por outros pioneiros, há muitas décadas…

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Nesta cadeia evolutiva, temos um fantástico campo a explorar, e o horizonte vai muito além do – indispensável, diga-se de passagem – ‘real time’.

O jornalismo online é diferente porque:

– Traz perenidade à notícia. A notícia da tevê, do rádio ou do impresso são voláteis, se esvaem no ar. Você viu e ouviu – mas passou, ou então virou embrulho de pão. Na internet ela permanece e se expande, novos aspectos são agregados e criam-se células de informação, como minúsculas agências de notícias específicas sobre um determinado assunto. Eternas, se necessário.

– É ferramenta para pesquisa. Se o grande ‘The New York Times’ constatou de que o conteúdo mais acessado é sempre o banco de notícias – em bom português, a ‘notícia de ontem’ -, é hora de nos preocuparmos com o que já foi destaque na primeira página e hoje está acumulando poeira nos porões dos nossos sites. Hoje, o nyt.com cobra pelo acesso às profundezas, e nelas também mora, agora, um reluzente pote de ouro…

Curioso que, no suposto reino do ‘real time’, seja o Passado que garanta um Futuro glorioso – e não o Presente.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’. Ministra treinamentos e presta consultoria em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em seis anos, seus cursos formaram 1.200 alunos. Desde 1997, é coordenador da equipe de informação do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, com 4.000 páginas em português e versões em inglês e espanhol e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’ (Editora Objetiva, 2001), há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’



JORNALISMO ECONÔMICO
Eleno Mendonca

Para crescer, precisa infra-estrutura, 13/11/06

‘A realidade é que o Brasil não conseguirá, com a infra-estrutura atual, fazer com que a economia cresça 5% ao ano no mínimo, como pretende o presidente Lula em seu segundo mandato. As estradas estão ruins, não haverá energia, transporte marítimo e ferroviário, telefonia, saneamento. Ao ser divulgado o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), expôs-se uma das maiores injustiças sociais de todos os tempos no Brasil. Nada menos que 43 milhões de pessoas, ou 25% da população, não têm acesso a esgoto. Além de não priorizar obras em geral, os governos detestam enterrar tubulações. Em vez de enterrar canos que não aparecem, dão preferência aos viadutos, usinas e outras coisas que, digamos, são bem mais fotografáveis.

Se quiser crescer, portanto, e passar para a história por suas realizações, Lula terá de correr. Precisa ter pressa e contar com muito dinheiro da iniciativa privada, com a atração do investimento estrangeiro, com fortalecimento das agências reguladoras. Se não fizer um pouco de tudo isso e ainda destinar mais recursos à infra-estrutura estará entrando numa rota de estrangulamento de capacidade.

Há muito tempo a imprensa tinha áreas de cobertura específicas sobre energia, matérias-primas, infra-estrutura. Agora não tem mais, por isso, como em tudo, se pauta por partes e por emergências. Os repórteres se voltam com maior ou menor intensidade para um assunto apenas e quando ele se torna indispensável. Pois discutir tudo isso tornou-se imprescindível. O Brasil está bem camuflado, mas esconde mazelas em todas as áreas.

Lógico que se trata de um estudo de empresários, portanto com interesses específicos, mas foi elaborado por vários economistas antes das eleições e passado a todos os candidatos que concorriam ao cargo de presidente. A Abdib – que é a associação para desenvolvimento de infra-estrutura das indústrias de base – concluiu que até 2010 será preciso investir no setor cerca de R$ 90 bilhões por ano se o Brasil quiser fazer um crescimento de que necessita.

Lula tem consciência de tudo isso, sabe que sua imagem hoje, a despeito da vitória incontestável nas urnas, está ainda muito ligada a mensalão e dossiês. Sabe que seu nome e seu partido precisam recuperar a imagem histórica. Por isso o presidente tem pressa, deve ter pressa, mas deve ter consciência exata de que não dá para crescer 5% por ano, criar empregos, com a ineficiência existente na infra-estrutura. Joelmir Betting chama a tudo isso de ‘apagão logístico’, um nome apropriado. O mesmo ‘apagão’ que atinge por exemplo o setor aéreo de controle de vôos, sem atualização condizente para os equipamentos e sem contratação de pessoal há anos.

(*) Também assina uma coluna no site MegaBrasil, é diretor de Comunicação da DPZ e âncora da Rádio Bandnews. Ele passou pelo Estado de S. Paulo, onde ocupou cargos como o de chefe de Reportagem e editor da Economia, secretário de Redação, editor-executivo e editor-chefe, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.’



POLÍTICA & IMPRENSA
Milton Coelho da Graça

Curta lição de ‘ciência’ política, 13/11/06

‘Ariel Palacios, o excelente correspondente multimídia em Buenos Aires, explica a natureza política do presidente Nestor Kirchner, recordando a antiga receita de Juan Domingo Perón para manter o poder: ‘Acenda o pisca-pisca para a esquerda e, depois, vire para a direita.’

Porrada no povão e silêncio geral

Passou sem debate público o mais recente truque das telefônicas para aumentar seus lucros: o Ministério das Comunicações e a Anatel concordaram que seja reduzido o número de orelhões. Há 12 anos, o então presidente Itamar Franco fechou questão por uma justa proporção de telefones públicos em relação à população e à área territorial, e a tarifas mínimas. Agora, o ministro Hélio Costa e a agência reguladora aceitaram o argumento de que o orelhão já não é tão necessário na era do celular. Inteiramente falso.

O velho orelhão continua a ser uma alternativa útil e barata de comunicação, tanto em grandes como em pequenas cidades. E continuam a ser também superpopulares em Nova York, Londres e Paris.

Pior do que o acordo está sendo o quase absoluto silêncio da imprensa. Só vi a notícia no Valor, no meio de uma longa matéria sobre o novo contrato. Se alguém mais deu o destaque merecido, antecipo desculpas e elogios.

Jornalista francês também sofre

Ninguém entendeu direito por que Rotschild comprou, no ano passado, o jornal criado por Jean Paul Sartre, o Libération. Mas, como 20 milhões de euros (menos de R$ 50 milhões) não devem fazer um grande estrago no bolso do legendário banqueiro, até que a operação parecia assegurar a sobrevivência e mesmo o crescimento do jornal. Mas outros 6 milhões de euros de prejuízo em um só semestre mudaram o humor do homem. Ele quer a demissão de 71 (quase metade) dos jornalistas para continuar no negócio. E, apesar da resistência sindical, dos leitores e da opinião pública, alguém tem dúvida sobre o futuro do Libération?

O que pensa Lula sobre a mídia?

Dois trechos de declarações do Presidente, já depois da emoção da batalha eleitoral:

29 de outubro (depois de votar): ‘Quero agradecer à imprensa, mesmo nas horas em que nos criticou, porque muitas vezes a imprensa diz o que não deve e até o que a gente não gostaria de ouvir, mas teve um papel importante na consolidação da democracia brasileira. Quero agradecer porque em alguns momentos fui criticado, mas depois a verdade foi estabelecida.’

13 de novembro (dirigindo-se ao presidente Hugo Chavez): ‘Quando fui a Caracas (três anos antes) e vi a televisão, voltei ao Brasil dizendo a mim mesmo que jamais havia visto meios de comunicação agredindo um presidente da República como você foi agredido. Jamais imaginei que isso poderia ocorrer no Brasil e ocorreu o mesmo, querido companheiro.’

Qual é mais sincero? Ou nenhum deles? Ou os dois?

(*) Milton Coelho da Graça, 75, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’



LULA & COMUNICAÇÃO
Carlos Chaparro

Por um segundo mandato sem equívocos na comunicação, 17/11/06

‘O XIS DA QUESTÃO – Se são verdadeiros os propósitos anunciados pelo Presidente Lula, de não repetir erros, podemos esperar que, na área da comunicação, os equívocos do primeiro mandado sejam corrigidos. E arrisco propor uma prioridade, na correção de rumos: o estabelecimento de critérios e princípios que organizem, de forma inteligente, criativa e honesta, as fronteiras e interações entre jornalismo, propaganda e publicidade.

1. Entre amor e ódio

O presidente Lula foi à Venezuela. Lá, em nome do Brasil, ou seja, de todos nós, deu uma achega à campanha ao que parece já vitoriosa de Hugo Chávez. Dono do show e do palanque, destravou a língua. E voltou a acusar a imprensa de persegui-lo com falsidades e preconceitos. No dia seguinte, não sei se para surpresa do Presidente, os espaços mais importantes do jornalismo foram cedidos à sua fala, ao que parece sem motivos para desmentidos. Ou seja: o que o Presidente disse foi rigorosamente reproduzido e ampliado.

Moral da história: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tanto e tão bem quanto o sindicalista Luiz Inácio da Silva, o Lula, sabe dizer, quando dizer e como dizer, para ser notícia. Há décadas vive cercado de jornalistas. E os tem à mão, sempre que quer falar ao mundo.

Essa relação de ódio e amor entre Lula e o jornalismo teria sabor de comédia, se nos déssemos ao trabalho de colecionar os episódios em que se desdobra.

Lembro-me, por exemplo, que no começo do atual mandato havia em Brasília, entre os jornalistas que faziam a cobertura do governo (ministérios incluídos), um claro espírito de cooperação com o Governo que se instalava. Mas o inverso não ocorreu. Havia ministérios em que os repórteres credenciados não conseguiam ir além das primeiras barreiras de secretárias. Teve até ministro que se recusava a divulgar a agenda oficial dos compromissos diários.

Por experiência própria, o Presidente Lula sabe que a melhor maneira de os governos se relacionarem com a Imprensa, no Brasil como em qualquer parte do mundo, é a produção de fatos e falas noticiáveis. Esse é o pão da sobrevivência do jornalismo e dos jornalistas. Para fatos e falas noticiáveis bem trabalhados não falta espaço nem tempo. O próprio Lula sempre teve a mídia de que precisou para divulgar o que dizia e fazia.

Quando, porém, se assiste, como todos nós assistimos, ao grande e bem sucedido esforço de divulgação jornalística em torno do projeto tapa-buracos, uma gigantesca pulga se instala atrás da orelha – em forma de pergunta: se o projeto tapa-buracos, que deveria ser trabalho de rotina em qualquer governo, virou a grande notícia após três anos de mandato, onde está a causa da crise no relacionamento com a imprensa, na falta de notícias ou na falta de fatos noticiáveis?

Seja como for, se as ações e as razões do governo foram mal divulgadas, o mais indicado seria que o próprio Presidente Lula avaliasse a qualidade das suas políticas, programas e projetos de comunicação pela via jornalística, antes de perder tempo em diatribes contra jornais e jornalistas.

2. O perigoso argumento do dinheiro

Ao seu redor, em tarefas de assessoria de comunicação, o Presidente Lula teve e tem alguns bons profissionais do ramo jornalístico – Ricardo Kotscho, Bernardo Kucinski, Eugênio Bucci e André Singer, quatro exemplos citáveis. Mas, com clara exceção do bom trabalho realizado por Eugênio Bucci à frente da Radiobrás (ele tem resistido a todas as pressões de quem pensa mais em poder do que em Nação), acredito que boa parte dessa competência se perdeu, ao longo do primeiro mandado.

As razões podem ser diversas. Mas acredito que a maior delas está no equívoco da filosofia adotada, claramente manifestada no exagero das verbas e da relevância dada aos investimentos em publicidade e propaganda, em detrimento do jornalismo. Tanto foi o dinheiro colocado à disposição de bons e maus gênios do marketing político contratados pelo governo, que o jornalismo perdeu importância como linguagem e espaço de comunicação com a sociedade.

Ou seja: apesar de dispor do mais importante acervo de conteúdos da vida nacional, o governo não soube atuar como fonte jornalística.

Será que tudo se repetirá no segundo mandato?

Se verdadeiros os propósitos anunciados pelo Presidente Lula, de não repetir erros, podemos esperar que os equívocos do primeiro mandado sejam corrigidos. E arrisco dizer que os procedimentos de correção de rumos são particularmente urgentes na área de relações com a mídia. Com uma prioridade: o estabelecimento de critérios e princípios que organizem, de forma inteligente, criativa e honesta, as fronteiras e interações entre jornalismo, propaganda e publicidade.

Por mais generosas que sejam as verbas para gastar em publicidade e propaganda, o argumento do dinheiro jamais deve ser usado para minimizar, menos ainda para fraudar o jornalismo, que deveria ser tratado como linguagem preferencial para as interlocuções com a sociedade civil organizada.

A própria história pessoal do presidente Lula está aí, para servir de demonstração.’



MERCADO EDITORIAL
Eduardo Ribeiro

Sou+Eu! abre caminho no segmento de vida real, 16/11/06

‘Está chegando ao mercado brasileiro uma revista que certamente se transformará num marco editorial – para o bem ou para o mal, dependendo do enfoque. É Sou+Eu, novo título apresentado como o maior investimento da poderosa Editora Abril nos últimos dez anos e que marca a entrada da empresa no chamado segmento da vida real, o mesmo que vem invadindo lares de todo o planeta pelos mais variados meios, inclusive revistas, neste caso, no entanto, até agora apenas no Exterior. Será uma revista feminina, com periodicidade semanal, feita com histórias verdadeiras das próprias leitoras e 100% escrita por elas. E mais, quem escrever e tiver o material selecionado e publicado vai ganhar por isso: três páginas valem R$ 500; duas páginas, R$ 300; uma página, R$ 200; e há ainda cachês de R$ 100 e R$ 50 para contribuições publicadas nas seções de serviços. O mix de conteúdo inclui histórias da vida real, receitas, fotos de celebridades feitas pelas leitoras, dicas de beleza, truques domésticos, dúvidas (que serão respondidas por especialistas) e sugestões para a revista. Tudo, segundo garante o diretor de Redação da revista, Kaíke Nanne, ‘devidamente checado e testado antes de ir para as bancas ou para o site’.

Na pioneira Inglaterra, esse segmento editorial já representa 38% do mercado editorial de revistas, tendo suplantado, com os recentes lançamentos, o forte nicho de celebridades, hoje dominando outros 37% de audiência dos leitores ingleses. Lançamentos mostrando histórias de pessoas comuns e da vida real, transformando simples mortais em celebridades, viraram uma febre, mas não no Brasil que esteve até aqui alheio a esse movimento.

Como a líder não entrou, as demais, talvez por timidez ou medo de pôr dinheiro num mercado desconhecido, ou mesmo por desconhecimento, também não se aventuraram e com isso nada se fez nessa direção. Na verdade alguma coisa se fez. Um ano e meio atrás, a própria Abril deu a largada e começou a desenvolver com seriedade e consistência o projeto Sou+Eu, já de posse de informações valiosas sobre o potencial desse mercado. Analisou publicações e mercado do mundo inteiro, mandou gente para o Exterior para conhecer mais de perto as experiências em curso, pesquisou os demais segmentos que estavam investindo na vida real, como televisão, jornal e web, inclusive no Brasil, montou grupos de estudos e de pesquisa, escutou o mercado, e fez tudo isso no mais absoluto sigilo para evitar que a concorrência saísse eventualmente na frente, mesmo que fosse só para atrapalhar a perfomance do novo título.

Feita com sucesso a lição de casa, a Abril põe agora a faca nos dentes e vai à luta. No próximo dia 23 coloca nas bancas nada menos do que 850 mil exemplares de Sou+Eu! ao preço de capa de R$ 1,99, com ampla campanha publicitária. E – fato inédito na história editorial do País – já anunciou que dará 100% da receita da venda da edição 1 aos jornaleiros. Ou seja, quer com essas ações de um lado levar público novo às bancas e, de outro, as bancas ao público-alvo.

A equipe editorial é enxuta e está dentro dos atuais parâmetros do que se convencionou chamar de redação moderna: 16 pessoas no total. Além de Kaíke Nanne, que é o diretor de Redação, a nova publicação conta também com um redator-chefe – Kadu Palhano, vindo do núcleo de Projetos Especiais (ali foi substituído por Daniela Almeida) – Kadu é também formado em Administração de Empresas e na Abril foi ainda editor de AnaMariaÁfrica (primeira revista da Abril lançada no continente africano – Angola e Moçambique). Completam a equipe a editora Flávia Martinelli (ex-Criativa, Elle, VivaMais e Estadão); a editora de Arte Daniela Decourt (ex-AnaMaria e que também foi do núcleo de Projetos Especiais da Abril); os repórteres Daniela Torres, Isabel Baeta, Daniele Zebini, Ana Maria Brambilla (vinda de Porto Alegre para trabalhar no site de Sou+Eu, função que acumulará com a de correspondente do jornal virtual sul-coreano OhMyNews), Gustavo Heidrich (vindo de Brasília), Ana Rita Martins (vinda do Rio de Janeiro) e Serena Calejon (os três últimos oriundos do Curso Abril de Jornalismo); os designers Samantha Pottmaier e Márcio Nami; os estagiários Cristine Dephino Costa (texto) e Luciana Maluf de Medeiros (arte); e a revisora Maria Tereza Pagliaro.

Sou+Eu! nasce de uma tendência de dar vez e voz às pessoas comuns e de transformá-las, por meio de suas respectivas histórias de vida, em celebridades. As leitoras poderão encaminhar as respectivas colaborações por site, carta (av. das Nações Unidas, 7.221, 17º, 05425-902) e também pelo celular. Este, aliás, será também estratégico nas operações promocionais: as leitoras poderão concorrer a prêmios diversos, por exemplo, ao responder via SMS a palavra-chave da Seção de Palavras Cruzadas. Esse uso intensivo do celular exigiu da Abril e demais parceiros uma operação de alta complexidade com todas as operadoras de telefonia móvel do País. Todas elas, a propósito, aderiram à parceria.

Também complexa foi a montagem do sistema de circulação da revista: como trabalhará com promoções e prazos rigorosos de participação nos concursos criados, Sou+Eu! terá de chegar às bancas de todo o País, do Oiapoque ao Chuí, no mesmo dia, ou seja, às 5ªs.feiras. Chova ou faça sol, por terra ou pelo ar.

‘É a primeira revista cujo conteúdo é ‘many-to-many’ e não ‘one-to-many’, disse Kaíke Nanne a este Jornalistas&Cia/Comunique-se. Ao ressaltar o papel da Abril de pioneirismo, criatividade e ousadia, ele acentua que ‘uma publicação com essas características deve provocar entre os jornalistas uma reflexão positiva acerca do papel que nos cabe num ambiente cada vez mais interativo, em que aqueles que sempre vimos como consumidores de conteúdo tornam-se produtores’.

Perto de 50 pessoas de dentro e de fora da Abril foram mobilizadas nos 18 meses de gestação do projeto. ‘Essa participação – diz Kaíke – foi uma agradável surpresa, não só pela valiosa contribuição que cada um deu para aperfeiçoar o título, mas sobretudo pela vibração e aposta de todos’.

Se Sou+Eu for o sucesso esperado será apenas uma questão de tempo a chegada de novos títulos para disputar o novo nicho de mercado que com ela se criará. Apostando nisso, a Abril não só procurou retardar ao máximo eventuais vazamentos de informações como tratou de montar um projeto com altíssimo grau de sofisticação e complexidade com o claro objetivo de inibir ‘cópias ou clones de qualidade’, que possam exercer nas leitoras o fascínio que se imagina que o novo título da Abril vai fazer, permitindo um convívio praticamente online tanto via web como celular com a redação, distribuindo prêmios valiosos por essa participação, pagando um pró-labore por todas as contribuições, levando para o público boas histórias e a imagem de pessoas comuns, entre outras ações estratégicas.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Donas de casa, 16/11/06

‘a cada etapa

do aprendizado

fui me deixando

(Astier Basílio in Antimercadoria)

Donas de casa

Deu no sempre bem informado Jornalistas & Cia., do considerado Edu Ribeiro:

Abril lança Sou+Eu!, revista feminina com histórias da vida real e 100% escrita pelas leitoras Nova publicação chega às bancas no próximo dia 23 e inaugura, no Brasil, um segmento editorial ainda inexplorado pelo meio revista – o mesmo que, na Inglaterra, já representa 38% do mercado.

Janistraquis, pertinaz otimista desde os tempos do ‘Milagre Brasileiro’ e da marchinha ‘Pra Frente, Brasil!’, aplaudiu a iniciativa da editora:

‘Considerado, tenho absoluta certeza de que as donas de casa vão-se revelar jornalistas de grande talento e sensibilidade e, brevemente, teremos algumas à frente até da revista Veja!’

Gravata no bolso

Galvão Bueno elogiou a elegância de Dunga e chamou atenção geral para a ‘gravata vermelha’ que o técnico exibia, não no pescoço, pois estava vestido com pulôver de gola rolê, mas no bolso do paletó… Ao lado do narrador, Falcão escutou calado a barbaridade. Apesar de já ter emprestado seu nome a grife de moda masculina, o comentarista preferiu não contrariar o chefe e assim o lenço que compunha o traje ganhou status de gravata.

Janistraquis não deu a mínima para o Galvão-crítico-de-moda, porque já estava chateado com os repórteres a ‘informar’ que o desconhecido Fernando ‘começaria como titular’ no jogo de ontem contra a Suiça:

‘Ora bolas, considerado; não se pode chamar de titular qualquer um que começa jogando. Ninguém vira titular só porque foi escalado para iniciar uma partida, né mesmo? Aliás, há reservas célebres, como Amarildo, que substituiu Pelé na Copa de 1962. Quem era titular, Amarildo ou Pelé?!!!

Claro que era Pelé; machucado, mas titular. Fernando não é titular, do mesmo modo como Ronaldinho Gaúcho não é reserva.

Corno na TV

O considerado Geraldo Viviani Reis, engenheiro aposentado do Rio de Janeiro, escreve para reclamar da GloboNews:

Como não tinha nada pra fazer, passei o dia inteiro acompanhando o seqüestro do ônibus em Nova Iguaçu, aquele em que o ex-marido queria matar a ex-mulher, acusando-a de traição, e garanto ao considerado que nunca vi uma cobertura de TV com tão pouco jornalismo, principalmente num canal que dedica 24 horas por dia à divulgação de notícias.

Vi duas entradinhas rápidas de repórteres e, dentre os apresentadores que se revezavam, parecia que quem saía não contava pro outro o que estava acontecendo! Confundiam tudo, jamais chamavam o sujeito de seqüestrador, mas ‘homem armado’, disseram que a irmã dele era uma policial e, finalmente, confundiram o próprio maluco com outra pessoa que nada tinha a ver com a história…

Janistraquis acha temerária qualquer cobertura jornalística sem repórteres em tempo integral, ó Viviani, mas meu secretário, que viu o seqüestro e a Via Dutra quase parada nos telejornais da noite, se preocupou apenas com o aspecto viário da bacafuzada:

‘Considerado, se todo corno de Nova Iguaçu seqüestrar um ônibus, haverá colapso total e irreversível nas ruas e avenidas da Baixada Fluminense.’

Astier Basílio

Leia no Blogstraquis a íntegra do poema intitulado No ar, cuja primeira estrofe encima esta coluna.

Vizinhança perigosa

Quase houve pane nos canais desta coluna, tantas foram as mensagens que denunciavam a chamada na capa do Comunique-se:

STJ: jornalista deve ter diploma

O Superior Tribunal de Justiça escreveu mais um capítulo de uma longa novela: em decisão unânime, o STJ julgou o diploma universitário obrigatório para o exercício do jornalismo. A sentença decorre do mandato de segurança de um médico que trabalhava em um programa de TV.

É deverasmente doloroso ler-se ‘mandato de segurança’ num portal jornalístico, e dói mais ainda quando a expressão insere-se em matéria sobre o diploma universitário. Todavia, Janistraquis, que anda mais compreensivo e tolerante do que a imprensa diante das incursões de Lulinha pela mídia, defendeu o redator da notícia:

‘Considerado, ocorreu simples erro de digitação, pode acreditar; se você observar bem o teclado do computador verá que o D de mandado é vizinho do T de mandato…’

Quebrando barraco

A grande artista que se chama Tati Quebra-Barraco, presa esta semana no Rio por dirigir sem a carteira de habilitação, já havia se metido noutra há alguns dias, segundo bizarra notícia enviada pelo considerado Leonardo Werner:

Veja só que notícia contraditória saiu no Diário da Tarde, de Belo Horizonte, a respeito da pena recebida pela ilustre cantora, flagrada ao degustar um cigarro de maconha:

Quebra-Barraco: funkeira condenada a trabalho voluntário.

Vá lá que tivesse sido condenada a prestar trabalho comunitário, mas o juiz aplicou-lhe pena muito mais severa: como foi ‘condenada’ a trabalho voluntário, Tati só cumprirá a pena se quiser. Essa Justiça brasileira…

É mesmo, considerado Leonardo; é Justiça que não merece inicial maiúscula, embora Janistraquis esteja convencido de que foi o redator do jornal quem confundiu comunitário com voluntário, da mesma forma como meu secretário confunde sarrabulho com rebotalho.

Venelívia

O presidente Lula ao iniciar discurso na Venezuela:

‘Homens e mulheres da Bolívia!’

Janistraquis tem certeza de que Hugo Chávez adorou a retórica do amigo.

Saparia arretada

O considerado Jonas S. Marcondes, de Praia Grande (SP), via o programa Caldeirão do Huck quando o apresentador, emocionado com as primeiras flores da estação, poetisou:

Agora na primavera os animais se acasalam, então o touro procura a vaca, o cavalo procura a égua e o sapo procura a rã…

Embora viva nas imediações de um brejo no qual pululam anfíbios anuros de todos os coaxares, não entendo do assunto, porém Jonas e Janistraquis garantem que Luciano Huck entende menos ainda, pois tesão de sapo não entusiasma rã alguma; mulher de sapo é sapa mesmo e existe rã macho e rã fêmea.

Trabalhadores na m…

O considerado Valmir Ribeiro Lopes, de São Paulo, lia a Folha de S. Paulo quando deparou com este título e indefectível olho:

Trabalhadores são maioria entre os pobres no Brasil

Participação dos ocupados entre os que ganham menos sobe de 43,3% para 52%

Valmir, que não é jornalista, porém economista, não vê razão para tanto alarde:

Ora, vamos e venhamos, os trabalhadores sempre foram maioria entre os mais pobres, não só no Brasil mas em todos os países. Abaixo desses, somente os desempregados.

Janistraquis preferiu não tomar partido:

‘Considerado, não sei exatamente por que, mas se os jornalistas me confundem, os economistas me confundem muito mais. Deixa eles brigarem!

Para Todos

Deu na coluna Sete Dias, do JB, assinada pelo considerado e sempre competente Augusto Nunes:

Cabôco Perguntadô — Acusado de ‘ladrão’, ‘assassino de trabalhadores’ e ‘racista’ por Emir Sader, o senador Jorge Bornhausen acionou judicialmente o sociólogo petista. A reação enfureceu a Irmandade dos Órfãos do Muro, que soltou um manifesto ‘em defesa da liberdade de imprensa’.

Acusado de estimular o racismo pelo sociólogo Demétrio Magnoli, o ministro Tarso Genro acionou-o judicialmente. O Cabôco pergunta: vem algum manifesto por aí ou liberdade de imprensa é só para companheiros?

Veadagem das boas

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, cujos janelões estão voltados para todo tipo de poluição ambiental, pois Mestre Roldão interrompeu a leitura diária para escrever a seguinte mensagem à direção do Correio Braziliense, com cópia para esta coluna:

A matéria da primeira página (jornal não tem capa!) da edição de 13/11 sobre as mortes por malformações congênitas em Angra dos Reis, hipoteticamente causadas pela radioatividade oriunda das usinas nucleares locais, não tem comprovação nos dados publicados na tabela dessa ocorrência nos municípios fluminenses.

Ora, se Angra dos Reis apresenta um índice de 98,95 óbitos por mil habitantes, o distante município de Sumidouro acusa 98,75 mortes por mil habitantes, índice praticamente igual, e o município vizinho Parati só tem 37,23 mortes por mil habitantes. A estatística contradiz a matéria da reportagem.

Janistraquis enxerga nessa implicância com as usinas nucleares um sinal de exacerbada veadagem dos ‘politicamente corretos’.

Nota dez

Ao analisar o desempenho eleitoral das mulheres pelo mundo afora, o Mestre Sérgio Augusto nos fala das ninfas americanas Hilary Clinton, Nancy Pelosi, Claire McCaskill e Cindy Sheehan, mas também e, principalmente, de Rosario Ortega Murillo, mulher do presidente Daniel Ortega e verdadeira ‘dona’ da Nicarágua:

(…) Ao casar-se com Rosario, Ortega herdou uma enteada, Zoilamérica Narvaez, a quem teria assediado sexualmente, e finalmente estuprado, quando ela tinha apenas 11 anos. Os abusos teriam continuado até Zoilamérica sair de casa, em 1999, aos 19 anos. O que salvou o comandante da cadeia?

Confira no Blogstraquis a íntegra do excelente artigo escrito originalmente para o caderno Aliás, do Estadão.

Errei, sim!

‘REDATOR VS. TYSON – Matéria do Diário Popular, o ‘Rei das Bancas’ de São Paulo, decrevia o calvário do pugilista Mike Tyson: ‘(…) Ele foi considerado culpado de violação sexual e condenado a seis anos de prisão em março de 1992. O pugilista poderá sair em liberdade condicional em 95, por boa conduta’. Título da matéria: Liberdade de Mike Tyson está cada vez mais longe.

Janistraquis, leu, releu e concluiu: ‘Considerado, o redator nocauteou a lógica; se o tarado foi condenado a seis anos em 92 e vai deixar a cana em 95, então a liberdade não está cada vez mais longe; está é cada vez mais perto’. Verdade; o redator, como se diz, partiu para a ignorância.’ (dezembro de 1994).

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).

(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.’



TELEVISÃO
Antonio Brasil

Globonews 10 anos: manual de auto-elogios, 14/11/06

‘‘A Globo News é um tsunami; é trabalhosa, porque vivemos o jornalismo na forma bruta, no momento em que o fato acontece. E, com certeza, isso é o que há de mais interessante para um jornalista’.

‘Não há paralelo na televisão brasileira a precisão da cobertura dada pela Globo News às questões ligadas à sobrevivência do planeta Terra’.

Globo News: a notícia que dá sentido à vida! De olho, 24 horas, no que acontece… Respira notícia. Ouve todas as versões dos fatos. Fala a sua língua.

O canal de notícias Globo News está completando 10 anos. Para comemorar, a editora Globo lançou Globo News, 10 Anos – 24 horas no ar. Trata-se de mais um exemplo de história oficial no mesmo estilo de outra publicação, Jornal Nacional – A noticia faz história (Ed. Zahar, 2004).

Segundo a divulgação, ‘o livro conta a história da Globo News desde sua concepção como ousada iniciativa das Organizações Globo até sua consolidação como referência internacional no campo do jornalismo on-line, em tempo real’.

Mas em realidade, são 448 páginas de muitos auto-elogios, abobrinhas e quase nada sobre as rotinas profissionais e o processo de produção de noticias do canal.

‘Parece que foi ontem (sic). Em 1996, vivíamos sob o impacto do desconhecido, entre dúvidas e incertezas. Como fazer o canal brasileiro de jornalismo?…

Após a leitura de Globo News, 10 anos, 24 horas no ar, continuo sem repostas.

Mas alguns dos capítulos revelam os evidentes objetivos promocionais:

Repórteres no centro da ação

A decisão certa, na hora certa

Adrenalina e emoção

Quem tem repórter vai a Roma

No alto do pódio

A história oficial elogia muito, mas explica pouco: ‘A tevê paga brasileira vivia, assim, um momento de grande efervescência, pronto para a oferta de novas opções para o assinante…’

‘A encomenda era esta: nós tínhamos de fazer o primeiro canal de notícias do Brasil. Foi um susto! Depois do susto, o trabalho.’

‘A função da GN é informar com agilidade e imediatismo. Por definição, e porque temos condições de espaço e tempo, pode dar tudo. Dar tudo com todos os lados, todos os ângulos da noticia, e as pessoas notam que a pluralidade é um valor da GN’.

Ou seja, ainda não foi dessa vez que a Globo resolveu abrir a caixa-preta da Globo News, sem dúvida, uma das experiências mais interessantes do nosso jornalismo de tevê.

O início

Em uma história de família, João Roberto Marinho, Vice-Presidente das Organizações Globo escreve o prefácio:

‘No fim de 1995, coube ao meu irmao Roberto Irineu, presidente das Organizacoes Globo e então vice-presidente-executivo da Rede Globo, o mérito de conceber todo o projeto da Globo News e de liderar a sua implantação…’

Nada se cria…

Mais adiante, o livro revela a velha fórmula de sucesso na tevê brasileira:

‘Não há como negar que a CNN foi sempre uma inspiração, mas até para que se soubesse o que a Globo News não deveria ser.’

‘A primeira iniciativa foi visitar os canais a cabo que já funcionavam no modelo 24 horas de noticias. ‘Fomos à Argentina, depois aos Estados Unidos, conhecemos a New York One, canal que fazia muito sucesso na época. Visitamos também a CNN e outros canais’.

Aprendendo o bê-á-bá

O livro também contém inúmeras pérolas em relação a formação dos nossos jornalistas, a destacar:

‘A GN é essa espécie de cátedra básica, intermediária e especializada. Aprimora o exercício da profissão e fornece aos jornalistas um conjunto de conhecimento especifico sem parâmetros’.

‘Precisávamos selecionar entre 80 e 100 profissionais. Era uma megaseleção! Em abril de 1996, um vendaval percorreu as faculdades de Comunicação do Rio de Janeiro: espalhados pelos corredores, centenas de cartazes anunciavam uma oportunidade única para estudantes de Jornalismo’.

‘Era um grupo muito alegre. Eles não sabiam fazer jornalismo, mas em compensação, não tinham vício algum.’

Perceberam a sutileza do comentário? Ou seja, a Globo seleciona os melhores alunos – segundo os critérios de seleção da Globo – dos melhores cursos de jornalismo das universidades do Rio de Janeiro, e consta que ‘eles não sabem fazer jornalismo’. Pode ser. Mas por que será que a Globo não contribui para a formação de seus futuros jornalistas?

Jornalismo de verdade

Essa é mais uma comprovação do velho preconceito dos profissionais em relação à formação acadêmica. Em outra oportunidade escrevi sobre uma observação feita por editor de TV a um ex-aluno logo após ser admitido para estágio na empresa: ‘Esquece tudo que você aprendeu na universidade. Aqui a gente faz jornalismo de verdade’.

É sempre mais fácil criticar e desprezar formação dos nossos jornalistas do que desenvolver parcerias e apoiar projetos educacionais como a publicação um manual de telejornalismo.

Mais uma vez, apesar de amplamente anunciado (ver aqui), a direção do jornalismo da Globo preferiu investir em auto-elogios e desprezar a formação dos nossos futuros jornalistas. A Globo continua sem publicar um manual de telejornalismo à altura da sua própria importância para a história da nossa tevê.

Manual de Telejornalismo

Grandes empresas jornalísticas como a Folha, o Estadão e até mesmo O Globo já publicaram seus manuais de redação. Menos a Globo. Manuais de redação, apesar de todas as críticas, são instrumentos essenciais para um ensino eficiente de jornalismo. Aproximam as nossas instituições de ensino da realidade do mercado profissional. Em televisão então, nem se fala! Além da falta dos manuais de redação, temos problemas ainda maiores como a ausência de políticas de parcerias, programas de bolsas de estudo para os alunos ou reciclagem profissional para professores. Mas sobra dinheiro para campanhas promocionais e publicações de auto-elogios.

O que mais incomoda, no entanto, é a falta de responsabilidade social das nossas emissoras de TV para com o futuro do seu próprio meio. Ao ignorar a formação dos futuros telejornalistas, elas perpetuam valores desgastados e não experimentam novas saídas para uma crise evidente de audiência, conteúdo e linguagem.

Mas como seria um bom manual de redação de telejornalismo?

Antes de tudo, deveria respeitar as características audiovisuais do meio. Manual de telejornalismo não pode se restringir a ditar as palavras e as fórmulas sintáticas apropriadas para produzir um bom texto de TV. São questões importantes, sem dúvida. Mas televisão é imagem. Ainda bem.

Ensinar a ‘casar texto com imagem’ em livro é muito difícil, quase impossível. Manual de telejornalismo limitado ao meio impresso está condenado a ter uma utilização restrita às peculiaridades do texto e ao relato de ‘curiosidades’ da prática profissional.

Descrever as funções dos jornalistas nas redações de TV e dar exemplos de bons textos é muito pouco para um manual de telejornalismo. Questões importantes referentes à captação, edição e geração de imagens são sempre descritas somente por palavras e algumas poucas ilustrações, mas jamais são demonstradas na forma própria do meio, ou seja, com recursos audiovisuais.

Mas, de qualquer maneira, Globo News, 10 anos, 24 horas no ar é uma boa leitura para quem dispõe de tempo e dinheiro para conhecer as ‘curiosidades’ do nosso jornalismo de tevê.

Infelizmente, publicar caríssimos livros de auto-elogios é sempre mais seguro do que investir na formação de nossos profissionais.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’



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Folha de S. Paulo – 1

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O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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