Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Comunique-se

JORNALISMO ECONÔMICO
Eleno Mendonça

Em defesa do consumidor, 30/01/06

‘Na semana passada o pessoal do Procon foi ao aeroporto e resolveu multar sete empresas por atrasos nos horários de vôos. O assunto foi destaque em todos os jornais, rádios e tevês. A pergunta: porque não multou antes, afinal, só naquele dia houve atrasos? A resposta a essa pergunta é que os organismos de defesa do consumidor, como outras entidades do país, infelizmente são movidas a holofote. Nos tempos em que os veículos davam maior espaço às coisas relacionadas ao direito dos consumidores, todos os órgãos de defesa do consumidor estavam bem equipados, com pessoal e eram bem mais atuantes.

Na verdade, desde que inventaram que o Brasil podia ter aviação há atraso. Se quiserem, é possível fazer uma atuação desse tipo todos os dias. Basta ver os relatórios de atrasos do Departamento de Aviação Civil. Bem, mas por enquanto os consumidores terão de esperar. A não ser que de uma hora para outra os veículos de novo passem a ver que ampliar o espaço e dar maior cobertura ao tema consumidor é uma bom canal de reaproximação do público.

Há vários anos, quando foi definida a legislação de defesa do consumidor, todos os veículos treinaram gente para esse tipo de cobertura, que é meio jornalismo de prestação de serviços, meio comunicação social. Com o tempo, contudo, aproveitando a fase de cortes de custos, essas seções foram minguando, a periodicidade baixou drasticamente e no momento, com raras e honrosas exceções apenas alguns poucos mantêm jornalistas cuidando disso, seja escrevendo matérias a respeito, seja atendendo a queixas que às dúzias chegam às redações.

A publicação, a exposição do fato, a execração pública de como agem algumas empresas é o único caminho a dar jeito em tudo isso. Não fosse a atuação da mídia, ainda hoje estaríamos recebendo produtos com data de validade vencida, ou até sem data, estaríamos com desmandos de todo tipo em vários contratos e assim por diante. Foi por conta da atuação pesada da imprensa que as empresas criaram os serviços de atendimento ao consumidor, investiram em ouvidorias, criaram a figura do ombudsman. Muitos mudaram seu mix de produtos, embalagens, formas de produção. Hoje, sinceramente, acho que muita gente deixa esses ‘detalhes’ de lado.

Tanto porque, me parece que o código de defesa do consumidor está virando letra morta. A não ser por atuação individual das próprias pessoas afetadas, a não ser por esporádicas ações de setores da imprensa e de alguns órgãos públicos, a verdade é que o assunto definitivamente não está na moda. No governo, no Congresso, é a mesma regra de exceções. Muitos usam o tema apenas quando há um caso escabroso, com fim especificamente eleitoreiro.

Acho que não se deve restabelecer o passado, mas também não se deve desdenhá-lo. Seria uma boa forma de mostrar-se ao público como veículo de fato preocupado com suas questões entrar pesado em questões que cuidam dos seus interesses e direitos. Os veículos não podem apenas se distanciar como têm feito nos últimos tempos. A crítica, insisto, não é generalizada. Daniela Mercury disse outro dia que a igreja somos todos nós, quando lhe perguntaram se ela ficou muito brava com o fato de o Vaticano tê-la censurado por pregar o uso da camisinha para evitar a transmissão da aids. Ela disse isso e assim quis dizer que dentro da igreja é óbvio que há quem a admire e concorde com ela. Da mesma forma, espero haver no governo, na mídia, pessoas pensando um pouco mais sobre o assunto consumidor e formas de ampliar sua participação no debate sobre seus direitos.’

MERCADO EDITORIAL
Milton Coelho da Graça

É carnaval e jornais cariocas requebram, 25/01/06

‘A imprensa do Rio de Janeiro vive um bom momento. Os resultados do IVC de novembro e outubro mostram números interessantes. A circulação do novo jornal Meia Hora (preço: 50 centavos) é maior do que a perda combinada de Extra (1,10) e O Dia (1,30) em mais de 40 mil exemplares – ou seja, esse é o numero de novos leitores de jornal, demonstrando que muita gente não lê jornal exclusivamente por falta de grana.

O Aqui continua esquentando as turbinas para lançamento em março e, agora, o Jornal do Brasil estuda a possibilidade de mudar seu formato para tablóide. Mas a discussão é grande. Qual tablóide? O mais comum, para a maioria das rotativas, é de 36,8cm de altura e 26,4cm de largura. Mas o vice-presidente executivo, Helio Tucler, acha que o berliner (47cm x 30,5cm – como El País) seria o mais adequado para um jornal sério (não há nenhuma rotativa no Brasil capaz de imprimir em formato berliner). Ziraldo acharia legal para o Caderno B o formato de Zero Hora, de Porto Alegre. A gráfica usada pelo JB vai receber equipamentos novos dentro de 60 dias, mas são acessórios apenas com o objetivo de melhorar o rendimento da rotativa. Mas seus donos admitem que aceitariam apoio financeiro do jornal para comprar mais uma torre, que lhes permitiria imprimir mais quatro páginas em 4 cores ou 16 em P&B.

O Globo faz planos para novos produtos e iniciativas, diante do avanço do Meia Hora, mas também tem de se preocupar com um eventual revés no CADE e no Ministério da Justiça diante de uma ação de O Dia, a que o JB pretende se juntar. O Globo é acusado de práticas contra a concorrência por oferecerem ao anunciante um desconto especial de 33% se o anúncio for exclusivo e não for publicado em outro jornal. E ainda rola outra pendência pela publicidade de O Globo e Extra na Rede Globo. Segundo um cálculo feito pela direção do JB, o valor dessa publicidade, pelos preços normais de tabela, também caracteriza a dominação de mercado e a eliminação da concorrência.

Também se murmuram planos para um outro jornal de 50 centavos, que seria impresso na rotativa do esportivo Lance. E não se espantem com a possível ressurreição do grande sonho de Ari de Carvalho. Se Meia Hora superar os 200 mil exemplares de venda nos dias de semana, as filhas de Ari começarão a empurrar O Dia para o confronto direto com O GLOBO, deixando o tablóide para a briga com Extra.

IstoÉ no caminho da avacalhação

Com a óbvia colaboração do Ibope, a revista IstoÉ fez algo impensável em qualquer país democrático com fiscalização da imprensa pela sociedade -Olha aí, gente, estou falando de fiscalização pela sociedade, isto que estou fazendo, não de CFJ. Como é possível que a direção comercial de IstoÉ tenha ousado tapear a Rede Globo, os jornais e o público do Jornal Nacional com a divulgação apenas parcial de uma pesquisa, com o objetivo de favorecer determinado candidato? E não é também muito estranho a Rede Globo e os jornais (que também entraram na esparrela) não terem criticado mais essa ‘operação’ da revista?’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Remédio falso, 26/01/06

‘Secaram os rios

Apagaram os passos

nos sagrados caminhos

do pastoreio

Levaram meu gado

e os passarinhos

(Talis Andrade in Sertões de Dentro e de Fora)

Remédio falso

Parece que os boatos segundo os quais o colunista anda numa brochura de dar pena chegaram ao mercado. A suspeita advém desta mensagem que se enxeriu em nosso endereço eletrônico com o seguinte assunto:

Para almentar o desejo sexual (assim mesmo – aumentar com L) — O Viril Force é um afrodisíaco que vai mudar suas relações sexuais. Pois é um super e eficaz composto energético para homens e mulheres que atinge os níveis ideais de energia que irá lhe proporcionar uma vida mais intensa, com mais prazer e com mais desejo sexual.

Janistraquis também animou-se, porém pensou melhor e desistiu:

‘Considerado, se para voltar a ter aquele tesão da juventude a gente precisa ficar analfabeto, não vale a pena…’

Cretinice

Conterrânea e correligionária do senador Paulo Paim, e, como este, sem ter absolutamente nada para fazer, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) festeja a polêmica causada por seu projeto de lei, já aprovado na Câmara, que proíbe até palmadinhas na criação de nossos filhos. Não se sabe como o governo vai proceder para fiscalizar a casa das pessoas e, por isso, imagina-se que a deduragem poderá correr solta como nos tempos da Inquisição.

Janistraquis, pai e avô, com relevante experiência na educação das crianças, abominou o projeto, chamou de cretinos os deputados que o aprovaram e ainda regurgitou esta verdade:

‘Considerado, o negócio é criar os pimpolhos como se estivessem no céu, debaixo da saia de Maria Santíssima. Então, quando estiverem grandinhos e folgarem pra cima de alguém, levarão um murro na cara, um pontapé na bunda e pronto, estarão diante da vida real.’

Isso, se não sobrar uma bala perdida…

Literatura

Um velho intelectual e sua odisséia para conseguir a reedição dos livros mais raros da literatura pernambucana, eis a matéria do Jornal do Commercio, do Recife. É um exemplo a se preservar e seguir neste país que cultua o analfabetismo. Leia a íntegra no Blogstraquis.

Cavalices

Chamadinha que saiu na capa da Folha de S. Paulo:

Revolução — Chávez quer cavalo de esquerda.

Intrigadíssimo, Janistraquis recordou imediatamente a posse de Incitatus como senador romano, porém resolveu dar uma espiada na matéria:

(…) O projeto prevê ainda, em uma pouco sutil referência às tendências políticas do governo venezuelano, que o brasão seja redesenhado de modo a que um cavalo apareça galopando em direção à esquerda, em vez de à direita. A proposta ainda passa por uma segunda votação.

Meu secretário suspirou:

‘Ah, considerado, pensei que fosse alguma ousadia do amigo de Lula, porém trata-se apenas de pobreza de espírito.’

Reino ou império?

O considerado Giulio Sanmartini, nosso correspondente na Europa, o mais brasileiro dos italianos e historiador de renome, leu no blog do Ricardo Noblat, sob o título O QUE LULA PODE APRENDER COM DOM JOÃO VI:

Li ‘O Império à Deriva – A Corte Portuguesa no Rio de Janeiro 1808-1821’, recente livro de Patrick Wilcken. Conta um fato único e extraordinário: a transferência de uma família real com toda sua corte da sede do império para uma colônia distante (…)

Então Sanmartini, que está de férias e veio visitar a ex-colônia distante, resolveu explicar direitinho a diferença entre reino e império e ainda deu outras informações. Leia no Blogstraquis e aprenda mais essa.

Terra de cego

Procura daqui, procura dali e eis que Janistraquis encontrou em nosso arquivo recente esta colaboração do leitor André Aron, de São Paulo:

‘Segue notícia hilariante (se não tratasse de assunto tão sério como surdez), estampada no dia 01/11/2005 em O Liberal Online, de Belém do Pará’:

Seminário mostra novos recursos sobre surdez — Para discutir a inclusão social de deficientes visuais, a coordenação de Pedagogia da Universidade do Estado do Pará (Uepa), juntamente com alunos do 4º ano do curso, estão realizando o I Seminário Sobre Surdez: ‘Atualidades na Educação de Surdos: do bilingüismo ao implante coclear’.

Aron achou pra lá de esquisito:

‘Parece que em terra de cego, quem é surdo tá lascado!’

Iraniana de Rosário

A desfilar sob o titulinho Argentina no pedaço, na seção Rio, de O Globo, a seguinte e instigante notícia chamou a atenção da considerada Moema Coelho:

Única gringa na passarela, Romina desfila hoje para a Permanente, de Andrea Saletto (foto), com styling de Pedro Sales. Ela é de Rosário e está no Rio pela primeira vez para desfilar 20 coleções. Romina já desfilou para Dolce & Gabbana, Versace, Dior e fez a campanha da segunda linha de Valentino.

– Sou mais que iraniana, sou urbana. Adoro os iranianos, mas eles não têm uma identidade na moda. E se tivessem seria algo ligado à arquitetura e à paisagem natural.

Moema, que nunca dormiu nas aulas de geografia, reagiu:

‘Afinal, a moça é iraniana ou argentina de Rosário?!?!

Janistraquis acha que é muito comum confundirem os países, Moema:

‘Como sabemos, o Irã tem o aiatolá e a Argentina tem o aiatolou-se… se me permitem o infame trocadilho.’

Terceira posição

O considerado Ubirajara Moreira da Silva Júnior lia alguns textos do site Envolverde quando deparou com a seguinte notícia:

Na reta final para as eleições presidenciais no Chile, a candidata oficialista, Michelle Bachelet, e seu adversário, o direitista Sebastián Piñera, disputam o voto das mulheres, que são maioria entre os eleitores e cuja decisão fará a diferença, no próximo domingo, entre a vitória e a derrota.

Este outro Moreira da Silva, que não é chegado a empulhações de samba de breque, protestou:

Qual seria a posição intermediária (ou a outra posição) entre vitória e derrota numa eleição disputada apenas por dois candidatos????

Desempenhando o jornalismo há 30 anos, a cada dia me surpreendo mais com o novo estilo dos redatores modernos…

Na opinião de Janistraquis, ó Morengueira, além do empate sempre haverá uma outra posição entre vitória e derrota num país que produziu o general Pinochet…

Presidiário condenado

Decepcionado com os acontecimentos de todo santo dia neste país, como repete nosso honrado presidente, Roldão Simas Filho, diretor da sucursal desta coluna no Planalto, de onde se pôde escutar a festa dos deputados pelo fim da verticalização, pois o diretor dirigiu sua atenção para o mundo, por intermédio das páginas do Correio Braziliense. E lá estava, à página 24 do indispensável caderno, sob o título DNA liberta inocente preso durante 24 anos:

Por duas vezes, o detento pediu que seu DNA fosse testado com base nas amostras das mulheres e outras evidências colhidas no local do crime. No entanto, a solicitação foi sempre adiada.

Mestre Roldão corrigiu:

‘Ora, Alan Crotzer não era ‘detento’. Era um presidiário, condenado. Detento é quem ainda não foi condenado. E ‘evidências’ são ‘provas’, na nossa língua.’

Nota dez

A coluna convida o considerado leitor a visitar o Blogstraquis e ali se deliciar com mais um artigo do Mestre Sérgio Augusto, desta vez inspirado pela vitória de Evo Morales na Bolívia. Que vengan los cholos! é o título da obra-prima publicada originalmente no caderno Aliás, do Estadão, e que começa com estas linhas:

Cuidado, caras-pálidas: os índios estão retomando o poder na América Latina, dispostos a zerar uma dívida de quase cinco séculos, acumulada por vocês.

Errei, sim!

‘NOTÍCIA SEQÜESTRADA – O Estadão resolveu dar, num texto-legenda, todos os detalhes de breve notícia de seqüestro e assim obrou:

‘De volta para casa – Depois de passar uma semana em cativeiro e parte desse tempo acorrentado a uma árvore, o empresário Reni Caramori, de 43 anos, foi libertado no domingo pelos seqüestradores, que exigiram Cr$ 132 milhões pelo resgate. Caramori é um dos sócios da empresa de transportes Reunidas e irmão do deputado estadual Reno Caramori (PDS), o mais votado do Estado’.

Janistraquis leu, releu, procurou a continuação na página seguinte e nada. ‘É, considerado… só faltou o Estadão dizer onde se deu o maldito seqüestro!’

É. Faltou.’ (dezembro de 1991)’

WEBJORNALISMO
Mario Lima Cavalcanti

Eficiência na Blogosfera, 24/1/06

‘França é uma nação blogueira. A frase é da consultora alemã em mídia interativa Katja Riefler e foi postada no weblog E-Media Tidbits nesta semana. Na situação, Riefler diz ter aprendido (lendo a Digital Lifestyle Day) que os blogs possuem uma audiência tão grande quanto a das mídias tradicionais. Os dados coletados pela consultora comprovam não só a grandiosidade da Blogosfera, como também sua eficiência.

Segundo Riefler, de acordo com o vice-presidente da Six Apart Loic Le Meur, 17 milhões ou 73% dos internautas franceses estão familiarizados com os blogs. Le Meur aponta que 6,7 milhões lêem weblogs e cerca de 1 em 10 usuários já criou um weblog.

A questão aqui não é mostrar a França como uma supernação blogueira (até porque o Brasil não fica atrás), mas sim se apoiar num evento para mostrar, assim como uma colônia de formigas, o quanto eficazes podem ser os elos da Blogosfera e as informações disseminadas via weblogs.

Um exemplo claro de tal eficácia citado pela consultora – e assino embaixo em termos de veículos e propagação de informações realmente relevantes, pois percebi o mesmo impacto – foi o dos conflitos recentes ocorridos em Paris. De acordo com Riefler, no episódio Le Meur teria postado um vídeo do ministro da cultura da França que gerou 100 mil downloads e 500 comentários.

Em tal evento os weblog se mostraram durante todo o ocorrido – assim como na invasão dos Estados Unidos ao Iraque – uma importante porta de comunicação em diversos sentidos. Mais que isso, mostra com clareza a natureza e a proposta do jornalismo cidadão, que não necessariamente precisa estar sob a bandeira de um conglomerado ou de um site de jornalismo colaborativo.’

JORNAL DA RECORD
Eduardo Ribeiro

Contagem regressiva para a estréia de telejornal, 25/1/06

‘As fontes mais graduadas do jornalismo da TV Record não se pronunciam, mas o trabalho na emissora está a todo o vapor com vistas a colocar o novo Jornal da Record no ar já na próxima segunda-feira, dia 30 de janeiro. Os estúdios estão sendo preparados e devem ter um visual, segundo informou Daniel Castro na coluna Televisão, da Folha de S.Paulo, na última segunda-feira (23/1), totalmente inspirado no Jornal Nacional (o colunista da Folha fala explicitamente em clonagem, numa alusão ao que seria o desejo da Record de copiar a vitoriosa fórmula do Jornal Nacional, da Globo).

Também a redação vem passando por reformas físicas para acomodar os novos contratados. Não a redação comandada por Boris Casoy, que ficava no mesmo andar, mas era totalmente independente, mas sim o outro núcleo de jornalismo, que cuidava dos demais telejornais e também dos programas jornalísticos, e era dirigido por Douglas Tavollaro. Com a saída de Boris, o jornalismo foi unificado sob Tavollaro, que ganhou carta branca para fazer as mudanças necessárias com vistas a dar uma nova linha editorial e um novo padrão jornalístico para o principal telejornal da casa, o Jornal da Record.

As contratações foram inúmeras como este próprio Comunique-se já anunciou, mas prosseguiram em ritmo intenso na última semana. A emissora foi buscar, por exemplo, na Band de Curitiba, João Beltrão, para ser um dos três editores executivos do núcleo. Ele cuidará de Edição enquanto José Occhiuso, vindo da TV Cultura, será o executivo de Produção. Sabe-se que está previsto ainda um terceiro executivo e que as negociações estão muito avançadas, mas não se sabe ainda qual é o nome. Claro, não será de se admirar que também venha da Globo.

Um nome muito conhecido nas redações da mídia impressa, Domingos Fraga, também foi convidado e aceitou ir para a Record. Ele foi redator-chefe da IstoÉ, fundador e diretor de Redação da Quem Acontece (Editora Globo), por alguns anos, e estava quieto no seu canto, na DF5, empresa que criou para atuar na área editorial, até ver-se diante de um convite para fazer no jornalismo algo que ainda não tinha feito, trabalhar em tevê. Chega na Record como produtor executivo do núcleo de matérias especiais, reportando-se diretamente ao José Occhiuso.

As propostas feitas pela Record devem ter sido efetivamente atraentes, como se nota. Outra prova disso é a contratação do produtor Edvaldo Nunes, que contabilizava nada menos do que 14 anos de Globo, tendo, ali, passado por praticamente todos os telejornais.

Da Globo partiram ainda para a Record o editor de Internacional do Jornal da Globo, Luís Cosme, que se integrou ao núcleo de editores da emissora, mesmo percurso feito por outros dois colegas de Globo: Evérton Holtz, que se dedicará à cobertura de matérias internacionais e também à atuação dos correspondentes estrangeiros, e Cristina Amaral.

Outros nomes confirmados são os de Camila Busnello Nistal, que apresentava o 1ª Edição, ao lado de Fernando Vieira de Mello Filho, e Eduardo Prestes, ambos da Band e já dando expediente na Record. A Band foi rápida no gatilho e já fez as duas substituições: trouxe Nadya Haddad, da Band Rio, para o lugar de Camila e Sérgio FC, da Rede 21, para o de Eduardo.

O Domingo Espetacular entrou com sua cota de sacrifício cedendo não só Celso Freitas como o editor Octávio Tostes, que para lá foi como editor de Qualidade. Celso terá como substituto Paulo Henrique Amorim e na vaga de Tostes foi promovida Hebe Arruda (outra novidade por lá foi a contratação do repórter Raul Dias Filho, que era da EPTV de Campinas).

Com tantas e tão qualificadas contratações parece não haver dúvidas de que a Record mirou na Globo e de que não poupará esforços e recursos para atingir os objetivos de audiência.

Há também o aspecto político, que obviamente não se revela e que, suspeita-se, estaria por de trás da decisão de flexibilizar o mais importante telejornal da Record e um dos mais importantes do País. Fonte deste J&Cia diz que não se deve menosprezar a capacidade dos bispos da Igreja Universal do Reino de Deus e muito menos esquecer que estamos em ano eleitoral e que a Igreja tem vários candidatos em todo o País. Boris sempre afirmou que não aceitava interferências e que estava protegido, nesse sentido, por cláusula contratual. Teria saído por esta razão.

Pela qualidade da nova equipe montada – e pelo passado da maioria dos integrantes – não é sequer razoável fazer qualquer tipo de insinuação nesse sentido. De todo modo, esses profissionais que ali chegaram terão de conviver ao menos por um tempo com esse tipo de dúvida. O lado positivo disso é que com tantos olhos voltados para a Record e para seu principal telejornal a audiência poderá crescer significativamente.’

CASO JEAN CHARLES
José Paulo Lanyi

O Primeiro Mundo acabou 26/1/06

‘Você tem razão, na prática ele nunca existiu. A selvageria sempre se impôs, na Europa, nos Estados Unidos, em qualquer lugar em que se respira. Mas havia, até a queda do Muro de Berlim, uma espécie de partilha da miséria humana. O Primeiro Mundo era dos ricos industrializados; o Segundo, dos comunistas; o Terceiro, todo nosso. Com o esfacelamento da Cortina de Ferro, o planeta ficou dividido, simplesmente, entre países ricos e pobres. Ou, como reza o bom eufemismo, entre desenvolvidos e a maioria ‘em desenvolvimento’- encabeçada pelos ‘emergentes’.

Quando alguém pensa em Primeiro Mundo, tem em mente um modelo de civilização. A democracia é um princípio. É a tal condição sine qua non. Troca alianças com a liberdade de imprensa. Mas a barbárie é persistente e derruba a hipocrisia. Serve para alguma coisa.

Leia, como exemplo, esta notícia publicada na Folha Online, com as agências internacionais:

‘Jornalista é preso por ter acesso a documentos do caso Jean Charles

Um jornalista da televisão britânica ITV, um dos primeiros a divulgar os dados da morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, em Londres, foi preso, segundo uma reportagem do jornal ‘The Guardian’.

Segundo policiais, o repórter pode estar envolvido no furto de documentos com informações exclusivas da Comissão Independente de Queixas Policiais (IPCC, na sigla em inglês), que investiga a ação da polícia inglesa na morte do brasileiro, confundido com um terrorista.

Em reportagem divulgada em agosto, o jornalista contrariava as informações oficiais de que o brasileiro estaria fugindo na hora dos disparos. Além do repórter, foram presos um funcionário da comissão e uma mulher de 30 anos. O trio, no entanto, foi liberado após pagamento de fiança.

Um pessoa da ITV, que preferiu não se identificar, revelou ao jornal inglês que a polícia procura por uma evidência que prove que tais documentos foram vendidos para o jornalista.

O editor do ITV News, David Mannion, disse que mantém a história veiculada no telejornal. ‘Foi mais um dos tantos trabalhos que fazemos diariamente’, disse.

Jean Charles de Menezes foi morto na estação de metrô de Stockwell, no sul de Londres, após ter sido confundido por policiais com um homem bomba prestes a se explodir.

O brasileiro morreu duas semanas após os atentados no sistema de transportes de Londres que mataram 52 pessoas, no dia 7 de julho, e um dia após os atentados frustrados do dia 21 de julho’.

O Terra publicou uma informação adicional:

‘O jornal britânico diz que o jornalista da ITV News teria obtido cópias dos documentos que incluíam a transcrição de depoimentos de testemunhas e fotos’.

Se isso tudo tivesse acontecido no Brasil, você poderia dizer que ‘este país não tem jeito’, ou ‘coisa de Terceiro Mundo’, ou que tais.

Nada disso. Foi lá mesmo no então Primeiro Mundo, aquele que prende um repórter suspeito de ter furtado (tirado cópias?) documentos que revelariam a grande fraude oficial, desde a perseguição à vítima ao embaralhamento dos fatos, cara a cara com a opinião pública.

Estou quase chegando à conclusão de que o brasileiro se suicidou com, sei lá, oito tiros… Ou que foi assassinado pelo repórter. Afinal, este foi preso, embora (que horror!) tenha sido libertado, depois de contribuir com os cofres de Sua Majestade.

No outro lado da história, nenhum dos responsáveis pelo, para usarmos outro eufemismo, ‘erro fatal’ conheceu o xilindró por dentro… Ao contrário: as últimas apontam para a declaração de inocência dos acusados de terem ajudado o brasileiro a abrir mão da vida.

De que se pode concluir: prender e arrebentar é um hábito mundial. A diferença é a roupa do carcereiro: lá em cima eles usam punhos de renda.’

REPRESSÃO AO GRAMPO
Carlos Chaparro

A lei já existe, senhor ministro!, 27/01/06

‘O XIS DA QUESTÃO – Não precisamos de novas leis para proteger a inviolabilidade das comunicações telefônicas. Há leis suficientes para processar, julgar e condenar não só os jornalistas que violam o segredo de justiça ou agridem a honra alheia com a transcrição de gravações clandestinas, mas também os juízes, promotores e policiais que, levianamente, ou por interesses não revelados, espalham ao vento, pela imprensa, as conversas gravadas.

1. Casuísmo ou autoritarismo?

Se é verdade que o ministro Márcio Thomaz Bastos andou por aí anunciando o propósito de propor uma nova lei para inibir e punir transcrições jornalísticas de conversas telefônicas grampeadas, terá Sua Senhoria perdido uma bela ocasião de ficar calado. Em o primeiro lugar, porque a lei já existe, tanto na esfera penal quanto na esfera civil. Só que não é levada a sério. Em segundo lugar porque, atrás dessa idéia de que ‘precisamos controlar esses jornalistas’, percebe-se, claramente, um perigoso impulso autoritário, mais um, deste governo repleto de gente que, em outras épocas, tanto estimulava e apreciava a transcrição de conversas telefônicas violadas.

A ameaça do ministro não passa, portanto, de bravata casuística. Mas não deixa de ser uma proposta surpreendente, por vir ela de quem vem, de um jurista com biografia e imagem de civilista, vinculado a lutas e escolhas de cidadania, liberdade e direitos humanos.

A questão, entretanto, não pode ser reduzida a polemicazinha oportunista, na moldura de ocasionais conveniências político-partidárias. Olhando as coisas por esse lado, o quadro de incoerências é lamentável. Nos tempos do governo tucano, era o pessoal do PT (incluindo famigerados nomes do Ministério Público) que adorava a entrega clandestina de gravações a jornalistas. Considerava-se missão partidária conseguir a divulgação de qualquer grampo com denúncias ou indícios que envolvessem gente do tucanato. Por seu lado, a argumentação tucana de então se apegava à forma e ao espírito da lei, em favor do direito à privacidade telefônica, à inviolabilidade da honra e à presunção de inocência. Para os tucanos, na era FHC, transcrever conversas grampeadas era crime, quer o grampo fosse ilegal ou autorizado pela Justiça.

Agora, curiosamente, os pontos de vista e os argumentos se invertem, porque quem era oposição virou governo, e quem era governo se tornou oposição. Assim, enquanto o governo esperneia e ameaça quando é vítima dos grampos transcritos, a oposição de agora acha uma beleza a violação de conversas telefônicas, e a sua divulgação pública, se isso ajudar a enfraquecer o governo.

Só os jornalistas, ou pelo menos, entre eles, aqueles para quem tudo vale pela notícia (e não são poucos), mantêm a mesma posição: ontem como hoje, continuam achando que divulgar grampos é um feito profissional digno de aplausos e um serviço prestado à democracia.

Será?

2. Vulgarização criminosa

Essa coisa da transcrição jornalística de conversas violadas é, sem dúvida, uma questão complicada. Trata-se de prática transformada em costume, que afronta princípios e valores de cidadania firmados na Constituição. Costume tão vulgarizado que, mesmo sendo essa uma prática criminosa, até a sociedade, com seu silêncio, parece aceitá-la como coisa boa.

No cerne da questão está a verdade estabelecida pela Constituição de 1988, em um dos incisos do Artigo V, aquele dos direitos individuais e coletivos.

Diz o inciso XII: ‘É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e de comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer, para fins de investigação criminal ou instrução processual penal’.

Depois de uma ditadura militar que, sem preocupações com a lei nem com a cidadania, usou intensamente a espionagem telefônica e outras formas de invasão, o inciso XII do artigo 5º representa um notável avanço de cidadania, na sociedade brasileira. E é isso que está em jogo, não os interesses ocasionais, político-partidários, do PT ou do PSDB.

Os direitos assegurados por esse inciso XII, entre eles, em especial, o da inviolabilidade das comunicações telefônicas, foram claramente regulamentados pela Lei n. 9.296, 24 de julho de 1996. Eis aí uma lei que deveria fazer parte do acervo básico de referências éticas, para o trabalho de qualquer jornalista. E que deveria estar sobre a mesa do ministro Thomaz Bastos.

O que diz a lei? Vale a pena detalhar, porque isso nos interesse, se é que, como jornalistas, alguma coisa temos a ver com a qualidade cívica e ética da Nação que ajudamos a construir – já que essa é, supostamente, uma das contribuições inerentes à atividade jornalística de informar e comentar a atualidades.

Diz a Lei, em seu artigo 1º, que a interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, ‘para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, (…) dependerá de ordem do juiz competente (…)’. E mais: no artigo 2º se diz que o juiz está impedido de admitir a interceptação quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: a) a inexistência de indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal; b) se a prova puder ser produzida por outros meios; c) se o fato investigado constituir infração penal punida no máximo, com pena de detenção.

Portanto, não se pode autorizar o grampeamento de conversas por ‘dá cá aquela palha’. Nem ao sabor de emoções políticas ou interesses partidários de ocasião.

3. Lei para todos

Depois de detalhar os limites e as formas dos procedimentos técnicos, a Lei 9.296 estabelece (artigo 8º) que ‘a interceptação de comunicação telefônica, de qualquer natureza, ocorrerá em autos apartados, (…) preservando-se o sigilo das diligências, gravações e transcrições respectivas’. E o artigo 9º determina que ‘a gravação que não interessar à prova será inutilizada por decisão judicial, durante o inquérito’.

O artigo 10º é claro e incisivo: ‘Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas (…), ou quebrar segredo de justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. Pena: reclusão de dois a quatro anos e multa.’

Quando a divulgação dessas transcrições viola a honra de alguém, temos ainda o Código Penal, cujo artigo 151estebelece que comete crime, e incorre em pena de um a seis meses, ou multa, ‘quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente (…) comunicação telefônica entre outras pessoas’. E (parágrafo 2º) ‘as penas aumentam-se de metade, se há dano para outro’.

Portanto, senhor ministro Márcio Thomaz Bastos, não precisamos de novas leis de proteção à inviolabilidade das comunicações telefônicas. Há leis suficientes para processar, julgar e condenar não só os jornalistas que violam o segredo de justiça ou agridem a honra alheia com a divulgação de gravações clandestinas, mas também os juízes, promotores e policiais que, levianamente, ou por interesses não revelados, entregam cópias das gravações à imprensa, jogando no lixo o segredo de justiça pelo qual deveriam zelar.

Afinal, senhor ministro, todos são iguais perante a lei. E se há crime na divulgação jornalística de gravações (e há), ele tem um percurso que se inicia bem antes das cópias chegarem às redações.’

ECOS DA GUERRA
Antonio Brasil

Jornalistas da ABC News feridos no Iraque, 30/1/06

‘A bruxa anda solta na rede americana ABC. Após a repentina morte de Peter Jennings, um dos jornalistas mais respeitados dos EUA, neste domingo, Bob Woodruff que co-ancorava o principal telejornal da ABC, o World News Tonight junto com Elizabeth Vargas, foi vítima de ataque com bomba no Iraque.

As notícias mais recentes destacam a gravidade dos ferimentos do âncora e do cinegrafista canadense, Douglas Vogt. Com ferimentos na cabeça, eles foram operados em um hospital militar americano perto de Bagdá e agora estão a caminho da Alemanha. O estado dos dois jornalistas é considerado grave, mas estável. No entanto, os relatórios médicos indicam que os próximos dias são considerados fundamentais.

A notícia do ataque à equipe da ABC no Iraque caiu como uma bomba no meio jornalístico americano.

Bob Woodruff é um jornalista competente e experiente. Como a grande maioria dos profissionais americanos, ele jamais estudou jornalismo. Aqui não é obrigatório. Ele é formado em direito, estudou chinês e foi professor em Pequim durante vários anos. Começou sua carreira no jornalismo como tradutor no escritório da CBS na capital chinesa. Cobriu diversos países do mundo e sempre dizia que queria ser um bom correspondente internacional. De forma meio inesperada e experimental, acabou se tornando co-âncora da ABC News.

Guerra de audiência

Segundo as agências internacionais, Bob Woodruff e o cameraman Douglas Vogt estavam embedded ou ‘embutidos’ na 4ª Divisão de Infantaria do Exército dos EUA. Viajavam pelo Iraque em unidades militares americanas. Mas, no momento do ataque, eles estavam em um veículo mecanizado iraquiano – alvo preferido dos insurgentes – gravando uma matéria sobre o treinamento e as condições de trabalho dos militares iraquianos. Especialistas em segurança declararam que eles estavam fazendo algo muito perigoso e pouco recomendável.

Pelo jeito, os jornalistas americanos se tornaram as últimas vítimas da guerra do Iraque e da guerra de audiência.

O ataque pode ter sido uma ‘fatalidade’. Mas, talvez também pode ser o resultado da vontade de acertar, de mostrar serviço a qualquer custo e de mudanças estratégicas na ABC. O fantasma de Peter Jennings continua assombrando a redação da rede americana. Bob Woodruff e Elizabeth Vargas são as ‘novas’ promessas do telejornalismo da ABC. Assim como as tropas iraquianas, Bob Woodruff estava sendo ‘preparado’ pelo alto comando da rede americana para assumir grandes responsabilidades.

Em tempos de crise, os novos âncoras da ABC precisam provar ao público e aos patrocinadores que são dignos do privilégio de apresentar o melhor telejornal americano. Agora, mais do que nunca, exige-se que os âncoras saiam do conforto do estúdio e corram atrás da notícia. O problema é que as boas notícias estão cada vez mais em lugares considerados muito perigosos. Os custos e os riscos dessa guerra de audiência são enormes.

Correspondentes pára-quedistas

Após cobrirem as eleições na Palestina, o âncora Bob Woodruff e o cinegrafista Doug Vogt estavam de ‘passagem’ no Iraque. Hoje, os novos correspondentes de TV, por motivos de economia ou por questões de segurança, fazem regularmente essas ‘viagens relâmpagos’ a lugares perigosíssimos como Bagdá no Iraque ou Kabul no Afeganistão. É cada dia mais difícil e caro manter correspondentes internacionais em lugares considerados ‘quentes’. Essa cobertura internacional com jornalistas ‘pára-quedistas’ pode ser bem mais em conta para as empresas. Mas tende a comprometer a qualidade do conteúdo e põe em risco a vida de tantas colegas.

Há alguns dias, foi seqüestrada uma jovem jornalista americana, Jill Carroll freelancer do Christian Science Monitor. Na ocasião, os seqüestradores exigiam a libertação de todas as mulheres iraquianas presas pelos americanos. Concederam um prazo de 72 horas que já se esgotou e até agora ninguém sabe o que aconteceu com a jornalista.

O cinegrafista da TV sunita, Mahmoud Za’al, da TV Bagdah, também foi morto pelas tropas americanas nesta mesma semana.

Apesar das tentativas dos americanos de convencer o mundo de que estão ganhando a guerra no Iraque, mais do que nunca é evidente que não há as mínimas condições de segurança no país.

Valeu a pena?

Essas últimas fatalidades, e principalmente o ataque à equipe da ABC podem significar um sério revés para o governo do presidente Bush. A opinião pública americana está cada vez mais insatisfeita com o número de mortos no Iraque e com o custo financeiro da aventura no Iraque. A imprensa americana e os patrocinadores dos telejornais começam a perceber as mudanças. Assim como na guerra do Vietnã, podemos estar diante de uma grande reviravolta.

Em outros tempos, Walter Cronkite, o velho âncora da CBS, após visitar o Vietnã e constatar o caos que se encontrava o país, anunciou para mundo que os americanos tinham cometido um grande erro e que estavam perdendo a guerra. O que aconteceu nos meses seguintes hoje é historia. Ao constatar a perda do apoio de um jornalista, o ‘homem que o público americano mais confiava’, o presidente Johnson renunciaria a candidatura à reeleição e alguns anos mais tarde o governo americano acabaria se retirando do Sudeste Asiático. O bom jornalismo prevaleceu.

A História jamais se repete. Mas, podemos aprender lições importantes com o passado. De alguma forma, temos que justificar a morte de tantos colegas. Em seu último relatório, a organização Repórteres Sem Fronteira anunciou a morte de 79 jornalistas somente no Iraque desde a invasão americana em março de 2003. Desses, 43 eram iraquianos.

Fica no ar a questão: valeu a pena?

Notícia de última hora

Pelo jeito, a bruxa também anda solta para o lado dos brasileiros. Segundo as agências internacionais, o carioca Felipe Carvalho Barbosa de 21 anos que servia no Corpo de Fuzileiro Navais dos EUA morreu neste sábado no Iraque depois que o caminhão que o transportava capotou. O incidente está sendo investigado pelos americanos. Pode ter sido um acidente. Mas também pode ter sido mais um ataque dos militantes iraquianos.’

JORNALISMO & SORTE
Cassio Politi

O repórter que chegou primeiro aos destroços do Fokker 100, 27/01/06

‘João Palomino se dedica há quase dez anos ao Jornalismo Esportivo. Antes de trabalhar na ESPN Brasil, foi repórter da TV Cultura, de São Paulo. Pouco antes de trocar de emprego, fez a cobertura da queda do Fokker 100. Por um misto de sorte com faro jornalístico, foi o primeiro repórter a chegar ao local do acidente, história que rapidamente contou aos alunos do Curso Premium de Jornalismo Esportivo, promovido pelo Comunique-se em parceria com a ESPN Brasil. História esta que merece ser contada em detalhes.

Uma nuvem de fumaça

O carro da TV Cultura passava pela Avenida dos Bandeirantes na manhã do dia 31 de outubro de 1996. Acompanhado da equipe, o então repórter João Palomino seguia na direção da rodovia dos Imigrantes, que liga São Paulo a Santos, quando viu uma nuvem de fumaça não muito longe dali. Pediu ao motorista para virar na primeira rua à direita e seguir na direção do que parecia ser um incêndio.

Num contato via rádio, conversou com a redação. Os programas de radiojornalismo, que contam com helicópteros para abastecer informações sobre o trânsito, já noticiavam um suposto acidente aéreo nas proximidades do aeroporto de Congonhas, um dos mais movimentados do Brasil. Poucos minutos depois, o carro da Cultura parou em uma esquina, em frente a uma padaria.

Palomino caminhou alguns metros, viu fogo e destroços de um avião. Ainda não sabia se era um avião pequeno ou grande. E também não tinha idéia de que era o primeiro jornalista a chegar ao local onde o Fokker 100 da TAM caiu, matando 99 pessoas. Definitivamente, a pauta sobre estufa de flores em Santos estava adiada.

Entrevistando vizinhos, descobriu que o acidente tinha proporções maiores. Era um avião grande. ‘Priorizamos gravar o máximo de imagens. Quando chegamos, a Aeronáutica ainda não estava lá. Eu não sabia em qual momento a área seria isolada’, lembra o jornalista. Uma dessas imagens foi a de parte de um dos motores, que foi parar dentro de uma casa.

Ilhado pela Aeronáutica

A primeira imagem chocante foi a de um corpo em meio aos escombros. ‘Vi duas pernas voltadas para cima. Elas estavam se mexendo. Quando o resgate puxou, vi que eram duas pernas decepadas. Não havia o corpo’, lembra.

Antes de a aeronáutica isolar a área, Palomino conseguiu ir até as redondezas, fez entrevistas e tentou voltar para a área destruída pela queda do Fokker 100. Um soldado da Polícia Militar impediu o acesso. A equipe tentou entrar por outro ponto e conseguiu. Logo depois, a Aeronáutica cercou e isolou a área. Palomino conseguiu ficar dentro da área cercada. ‘Continuamos a gravar até o momento em que a bateria acabou. Saímos de lá perto de meio-dia’.

Depressão do jornalista

Das tantas entrevistas com vizinhos, uma foi marcante. Um jovem de vinte e poucos anos tinha levado um parente até o aeroporto. No caminho de volta para casa, ouviu a notícia do acidente. Teve a confirmação da morte do familiar instantes antes de ceder entrevista à Cultura.

Palomino viu gente emocionada, como colegas, cinegrafistas e assistentes chorando. ‘A gente imagina que tem de ser frio nesses momentos, mas, naquele ambiente, eu não conseguia pensar só na matéria’. Não era sua primeira matéria pesada. Já tinha feito cobertura de chacina e uma vez entrara num banco onde o corpo de uma pessoa assassinada por assaltantes ainda aterrorizava os sobreviventes.

Roupa no lixo

Antes de ir para casa, passou na ESPN Brasil, que tinha menos de dois anos de atividade no Brasil. Narrou um jogo e foi para casa. O mau cheiro impregnado na calça e na camisa que usava era tão forte que teve de jogar a roupa fora. No dia seguinte, quando acordou, reviu nos jornais e na TV as cenas da tragédia. Sentiu-se abalado. ‘Eu me senti deprimido por algumas semanas depois do acidente’, lembra.

No final de 1996, Palomino recebeu um telefonema de José Trajano, que o convidou para trabalhar em tempo integral na ESPN Brasil. Aceitou porque queria mudar de área. O esporte o fascinava. O abalo emocional foi o empurrão que faltava para mudar de ares.

Repórter x emoções

Se havia gente chorando durante a cobertura, se Palomino ficou abalado pelos mortos que viu, é correto afirmar que um jornalista se permita não cobrir um caso semelhante a este por ser emocionalmente frágil? ‘Se eu estivesse hoje indo para Santos e um avião caísse ali perto, não tenha dúvida de que faria tudo igual. Mandaria o motorista virar à direita, entrevistaria os parentes e assim por diante. É a obrigação do repórter’.’

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