Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Comunique-se

PRESIDENTE
Comunique-se


Lula classifica como ‘promíscua’ relação fonte x jornalista


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, em entrevista concedida à piauí, a relação entre jornalista e fonte. Em sua opinião, a fonte ‘estabelece uma relação promíscua com o jornalista’. A entrevista foi publicada na edição de janeiro da revista e a íntegra, disponibilizada no site da Presidência.


‘Não gosto, não gosto de ser fonte, porque eu acho que você estabelece uma relação promíscua com o jornalista, com o jornal, com a revista, com a televisão. Se você passa a ser uma espécie de informante privilegiado… no caso do mundo policial, isso seria informante. No mundo jornalístico é mais chique, você passa a ser fonte. Então, é o cara que planta laranja para colher manga, é o cara que planta manga para colher limão…’, disse ao ser questionado se já tinha sido fonte de algum jornalista.


Lula também critica o off


De acordo com o presidente, não é correto ‘as pessoas se esconderem em nome de uma coisa fictícia’. Lula também criticou outra prática comum no jornalismo: a informação em off.


‘Eu não gosto, eu não gosto. Se tem que dizer, diga. Por que eu vou dizer para você e falar ‘não publica’? Quando eu disser para você ‘não publica’ eu estou dizendo para você ‘porra, aqui tem uma coisa boa, mas vai firme’, afirmou.


Comunicação é mais democrática e independente


Apesar das críticas, Lula afirmou que hoje, os meios de comunicação são mais democráticos e independentes. O presidente aproveitou a ocasião para defender a sua ‘tese’:


‘A informação está muito mais independente do que ela era antes. A possibilidade que o povo tem de receber as coisas é infinitamente maior do que em qualquer outro momento da história do nosso país. (…) Eu acabo de dar uma entrevista às 9h05, às 9h06 já está tudo que eu falei na internet, está tudo. (…) Então, a quantidade de informação que você recebe em tempo real vai deixando tudo que demora 10 minutos obsoleto. Ou seja, tudo que demora: então o jornal fica mais obsoleto. (…) Eu acho que alguns companheiros da imprensa não descobriram isso, porque continuam agindo como se estivessem 40 anos atrás’.


Lula defende TV Brasil


Durante a conversa com o jornalista Mário Sérgio Conti, Lula também defendeu a implantação da TV Brasil.


‘Porque no mundo desenvolvido você tem outras coisas a informar, além daquilo que dá ibope. Eu não posso fazer dos meios de comunicação apenas uma coisa de interesse mercadológico. Nós queremos uma TV pública para informar, para promover debates sobre temas que, certamente, a TV privada não tem interesse porque… Se colocar a televisãozinha na frente do Ibope ali e começar a cair, muda de assunto imediatamente’, avaliou.’


 


Milton Coelho da Graça


A busca ilusória de toda a verdade


‘O presidente Lula, com notável franqueza, admitiu, em entrevista exclusiva, concedida a Mário Sérgio Conti, da revista piauí, não ler jornais nem revistas, não usar a internet para ler notícias ou blogs nem ver noticiários na televisão.


Merval Pereira dedicou a essa entrevista o comentário de hoje, terça, 06/01, concentrando a análise no óbvio desagrado presidencial em relação ao trabalho da imprensa, considerado ‘tumultuado e injusto’ desde o início do primeiro mandato em 2003.


E critica fortemente a dependência, para o conhecimento claro da realidade no país e no mundo, a que o presidente teria voluntariamente se submetido, em relação a um pequeno grupo de assessores, encarregados de ‘digerir’, ‘selecionar’ e ‘comprimir’ todo o noticiário que possa lhe interessar.


Merval diagnostica que esses ‘canais de informação do presidente estão mais para propaganda do que para notícia’. Chega mesmo a apontar essa deformação como causa de erros de avaliação dos efeitos da crise mundial sobre a nossa economia.


E é sobre este ponto que proponho uma outra discussão: será possível a um presidente da República obter hoje uma visão plural de tudo que possa influenciar suas decisões através da leitura atenta dos três ou quatro maiores jornais, pelo menos duas revistas semanais, algumas outras publicações mensais e sem perder pelo menos os dois mais importantes noticiários da televisão?


A pergunta tem sentido duplo: 1. o presidente da República teria condições de cumprir tudo isso como ‘tarefas obrigatórias’ ?; e 2. mesmo acompanhando com máxima atenção todas essas fontes de informação, ele teria acesso a essa ‘visão plural’?


Por obrigação profissional, respondo ‘sim’ à primeira pergunta. Mas a vida me ensinou – e certamente também ao presidente Lula – que não dá para repetir o ‘sim’ à segunda.


Não podemos esquecer que dirigentes de outros países e das maiores empresas também são obrigados a delegar a tarefa da ‘peneira’ – quantitativa e seletiva do noticiário – para conseguir um quadro mais ou menos completo e confiável, no qual basear as decisões.


A coluna de Merval é ótima como reflexão e defesa da liberdade de imprensa, mesmo quando imprecisa ou até mentirosa. Mas louco seria o governante que apenas confiasse nela para saber todos os ângulos de visão da realidade.


Dois anúncios de jornais brasileiros buscaram há algum tempo realçar suas maiores qualidades. O Estadão publicou uma mensagem em que proclamava a ‘credibilidade’ como seu principal atributo. A Folha lançou um outro, em que ia apresentando algumas qualidades de um chefe de Estado, ao mesmo tempo em que ia surgindo a foto de Adolf Hitler. E aí afirmava com toda a razão, que, às vezes, não é preciso dizer mentiras, mas apenas não contar TODA a verdade;


Esse é o ‘x’ do problema, como diria Noel Rosa.


(*) Milton Coelho da Graça, 78, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’


 


CONTEÚDO NA REDE
Bruno Rodrigues


2009: assuntos essenciais em Comunicação Digital


‘Em Comunicação Digital, é preciso ficar alerta. Há assuntos que vêm e vão, não passam de modismo. Pequenas (ou grandes) tecnologias surgem do nada, e o tempo prova que não têm força suficiente para contribuir para reais ações e estratégias de Comunicação. Outros assuntos, contudo, sobrevivem com o passar dos anos e precisam fazer parte do leque de conhecimentos que um profissional da área deve dominar. Abaixo, listo três temas que já mostraram resultado, e por isso é preciso acompanhar sua evolução:


. Acessibilidade Digital


Criar sites preparados para serem acessados por usuários com deficiência visual ou auditiva era para ser regra – aliás, deveria ter sido assim desde o início da web comercial. Mas como não ainda é regra, e sim recomendação para a imensa maioria dos sites, há que torcer para que o bom-senso e a tão falada responsabilidade social prevaleçam. Desde 2004, há no Brasil um decreto-lei que solicita que os órgãos da administração pública adaptem seus sites à Acessibilidade Digital. O prazo é sempre postergado – uma bondade e tanto do e-Gov, o grupo que elabora padrões para os sites do Governo. O objetivo é fazer com que cheguemos lá, mesmo que, para isso, demore alguns anos. Vale a pena esperar.


. Direito Digital


Fato é que a maioria dos administradores de sites não tem a mínima idéia do cuidado que é preciso ter com o conteúdo de suas páginas. O assunto Direito Digital ainda está muito ligado, no Brasil, às perversões de que vez em quando eclodem em redes sociais como o Orkut, mas a questão vai muito além. Como e o quê disponibilizar em um site deve ser questão prioritária ao pensar em conteúdo, e desta forma Política de Privacidade e Condições de Uso são essenciais. Em suma, é bom que você conheça pelo menos o básico de Direito Digital para orientar bem seu cliente e evitar problemas com o seu próprio site.


. Otimização de Sistemas de Busca


Passe por cima de mais um neologismo, e entenda que o que importa, hoje, é que um site seja encontrado na Rede. Para isso, há recursos que vão muito além do link patrocinado. É possível turbinar o conteúdo de um site sem gastar nem um tostão: as técnicas de SEO (Search Engine Otimization) são o pulo do gato para que o site de seu cliente apareça na frente dos outros nos resultados do Google.


Ao longo deste ano, vou continuar a abordar assuntos que merecem atenção no universo da Comunicação Digital – fique atento!


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A próxima edição de meu curso ‘Webwriting & Arquitetura da Informação’ acontece em fevereiro no Rio. Para quem deseja ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é uma boa dica! As inscrições podem ser feitas pelo e-mail extensao@facha.edu.br e outras informações podem ser obtidas pelo telefone 21 21023200 (ramal 4).


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1. Para quem não conhece meu blog, dê uma checada no http://bruno-rodrigues.blog.uol.com.br.


2. Gostaria de me seguir no Twitter? Espero você em twitter.com/brunorodrigues.


(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’


 


JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu


‘Meta’ é somente um tempo do verbo meter


‘Um soneto te espia.


Desça da cama. Venha ver


a manhã tossindo a alma


(Nei Duclós in Valsa)


‘Meta’ é somente um tempo do verbo meter


Deu no indispensável Meio&Mensagem:


Secom suspende licitação de pesquisas de opinião — Denúncias sobre direcionamento da concorrência levaram a Secretaria a interromper o processo para reavaliar edital


(…) De acordo com as informações, apenas a empresa Meta Pesquisas de Opinião, de Porto Alegre, foi classificada. Os demais concorrentes questionaram os critérios e levantou-se a suspeita de que houve direcionamento para favorecer a empresa, que tem entre seus clientes o Partido dos Trabalhadores (PT).


Janistraquis, que tentava mastigar o amanhecido pão da crise, deu boas gargalhadas:


‘Considerado, aí tem… E tudo indica que a tal de Meta Pesquisas de Opinião não se pronuncia méta, sinônimo de fim, limite, termo, mas MÊTA, do verbo meter, de fazer entrar, enfiar, introduzir… afinal, o buraco da safadeza é fundo, mesmo que seja mais embaixo.’


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Reforma & cacofonia


O considerado Marco Zanfra, assessor de imprensa do DETRAN de Santa Catarina, veterano de tantas enchentes e outras enxurradas, envia de seu QG na Praia da Joaquina (Janistraquis insiste na Joaquina porque ‘é nome bonito’) este utilíssimo exemplo de jornalismo encharcado:


Diante da manchete da contracapa do Diário Catarinense de hoje, 5 de janeiro – Israel cerca Gaza em ofensiva contra Hamas – uma dúvida pungente veio confundir ainda mais meu bestunto, já assoberbado nesta época pós-férias e pós-festas, com as novas obrigações para escrever direito: a reforma ortográfica mexeu de alguma forma com os conceitos de cacofonia?


Abraço e um Ano-Novo ainda com hífen (ou sem?)


(Aliás, o assunto impele o colunista a avisar aos considerados leitores que não pretende observar a tal ‘reforma ortográfica’, pois não tem mais idade nem paciência para assimilar nenhum tipo de besteira. Nesta coluna, a menos que ressurja a figura do revisor, lingüiça será sempre lingüiça e estamos conversados.)


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Gatos e lebres


Percorrem a internet imagens emocionantes de uma gata que cuida de um filhote de coelho. Janistraquis, que às vezes é tão impiedoso como um fiscal corrupto filiado ao PT, sorriu diante daquela meiguice:


‘Considerado, tá explicado por que sempre querem nos empurrar gato por lebre; os bichinhos são tão parecidos que a gente até esquece das orelhas.’


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Anti-semitismo


O considerado Hernando Villar, arquiteto em São Paulo, despacha de seu escritório no bairro dos Jardins:


O excelente site Direto da Redação abriga um colunista chamado Rui Martins que bem poderia atender pelo apelido de ‘general’, pelo hábito de generalizar. Agora mesmo, em artigo à moda do samba do crioulo doido, li que ele considera prova de anti-semitismo todas as manifestações contrárias às ações de Israel na Faixa de Gaza.


Rui Martins parece ignorar que a invasão dos judeus e a criação do Estado de Israel em 1948 foram uma violência contra os palestinos. Depois disso, a situação piorou muito e pessoas de bom senso têm condenado a política israelense naquela área. Aí, vem o colunista Martins e acusa a todos de anti-semitismo. Isso pode ser chamado de bom jornalismo?


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Bolsa-família


Janistraquis, que adora contrariar deus-e-o-mundo, acha pouco o Ministério da Saúde gastar R$ 40 milhões para comprar tubos de KY para os gays fazerem a festa:


‘Ora, considerado, se o Brasil tem quase 200 milhões de habitantes e a partir deste ano vamos todos tomar no rabo sem dó nem piedade, Temporão deveria encarar o problema como se fosse de saúde pública e inundar o país com o chamado ‘gel do prazer anal’; neste 2009 de tantas nuvens negras no horizonte próximo, tal providência terá mais serventia do que o Bolsa-família!’


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Fumacê


Quatro chamadinhas bem juntinhas no índice da Folha de S. Paulo:


— Rota da transposição do São Francisco tem obras paradas


— Lula quer entregar parte de obras no São Francisco em 2010


— Obra não alivia falta d’água na zona rural


— Transposição pode irrigar maconha em Pernambuco


Janistraquis analisou os títulos à luz da lógica kantiana e deduziu:


‘Considerado, vê-se claramente que o objetivo dessa transposição é converter o sertão pernambucano no maior produtor de maconha do mundo!’


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Milagre no Pantanal!


Em Pantanal, novela de 1990 que o SBT exumou da massa falida da TV Manchete e exibe com grande sucesso, o peão Alcides foi capado pelo super-hiper-mega vilão Tenório, também conhecido como ‘O Mardito’. Em cena razoavelmente nauseabunda, o bandido até exibe os colhões sangrentos do coitado, entre gargalhadas e olhares e esgares à Nosferato.


Alguns capítulos mais tarde, Alcides, que até então andava amuado pelos cantos, recupera-se milagrosamente e confessa à amada que não está mais capado!!! O colunista, sobrevivente do Grupo Manchete, imaginou logo que o dono, Adolpho Bloch, homem de coração amanteigado, havia ordenado ao autor da novela que devolvesse ao peão a macheza perdida, mas Janistraquis prefere outra e mais plausível versão:


‘Considerado, Pantanal foi ao ar quando o Mandante era Fernando Collor, aquele que se vangloriava de ter ‘aquilo roxo’, tá lembrado? Pois na certa seu Adolpho, pra puxar o saco de mais um presidente, homenageou-o com o acontecimento deverasmente formidável que Sílvio Santos exibe hoje.’


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Assustadora


O considerado Cneu Fernandes, publicitário no Rio, anda a lutar contra um teclado chinês mas ainda assim conseguiu enviar aquela que foi publicada na Folha de S. Paulo e por ele apontada como ‘a manchete mais assustadora’ do recém-falecido 2008:


BEBÊ NASCE COM 6,4 KG NOS EUA; ASSISTA


Segundo Cneu, homem acautelado, porque o mar não está para cavalas nem xaréus, o ‘assista’ é que mete medo…


Janistraquis concorda, pois assistir ao parto de um bebê com 6,4 kg é algo capaz de desestruturar qualquer cristão.


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Exagero


Foi publicado (e festejado) por aí afora:


Obama é a maior notícia deste século, diz pesquisa.


Janistraquis suspirou:


‘Ainda bem que o século está apenas começando…’


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Veadagem nervosa


O considerado leitor que se abstém de sentar, fumar ou cheirar nem imagina os desaforos que este pobre colunista recebeu via e-mail (o pleonástico ‘rato asqueroso’ foi o mais leve dos insultos), por causa da manchete da semana passada (releia aqui).


Tão unidos como os Unidos da Tijuca, ou Joãozinho mais Maria, parece que todos os xibungos, veados, frescos, bichonas, baitolas, perobos, qualiras, toda a fauna, enfim, resolveu nos atacar, num movimento parecido com aquele dos fiéis contra a Folha de S. Paulo. Ignora-se por que são chamadas de gays essas criaturas tão desprovidas de humor.


Janistraquis ficou preocupado:


‘Considerado, é claro que continuaremos a exercer nosso inalienável direito de informar e expor temas à discussão na área de comentários, mas ainda bem que ninguém entrou na justiça; falta-nos cabedal para contratar advogado e o jeito seria bater à porta da defensoria pública.’


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Nei Duclós


Leia no Blogstraquis a íntegra do poema cujo fragmento epigrafa esta coluna. Valsa faz parte dos cantos poderosos incluídos num livro ainda inédito, provisoriamente intitulado de Novíssimos Poemas. Nei promete grandes novidades em 2009.


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Massacre


O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal em Brasília, que fica a poucos metros do local onde mais se come capim no Brasil, pois Roldão envia aqui pra sede a primeira queixa do novo ano:


Acabo de receber o número de janeiro de 2009 da revista Língua Portuguesa. Logo na página 5 um anúncio institucional alardeia um novo projeto gráfico dizendo que o conteúdo é ainda mais focado e que tem novas sessões. Que pena! uma revista dedicada ao nosso idioma não tem o direito de o massacrar assim.


Janistraquis acha, ó Roldão, que a palavra em tal contexto pode ser diçimulada, digo, dissimulada sugestão para outra e novíssima reforma ortográfica…


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Traumatizado


Janistraquis leu este titulinho na capa do UOL e não há quem o convença de que o assunto não é gramaticamente misterioso nem faz parte das obrigatórias modificações ortográficas:


Reforma deixa um apartamento de 92m² mais integrado


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Nota dez


O considerado Mestre Sérgio Augusto, melhor jornalista cultural do Brasil, escreveu no caderno Aliás, do Estadão, edição especial sobre os 50 anos da Revolução Cubana, o artigo intitulado A Las Vegas do Caribe:


Havana, 31 de dezembro de 1958.


Um réveillon inesquecível. Para os cubanos, para ‘los gringos’ que lá curtiam mais uma mordomia bancada pela Máfia, e sobretudo para o presidente Fulgencio Batista. Convencido de que não tinha mais como resistir ao avanço de ‘los rebeldes barbudos’ comandados por Fidel Castro, o ditador cubano interrompeu a festa, ergueu um brinde, anunciou sua renúncia, desejou boa sorte a todos, e embarcou às pressas para a República Dominicana, levando consigo 180 cupinchas e US$ 300 milhões.


O réveillon de 58 para 59 foi o ‘último baile da Ilha Fiscal’ do governo Batista, o melancólico desfecho de uma tirania que havia durado 25 anos.


Leia no Blogstraquis a íntegra do texto que revela intimidades cubanas antes de Fidel; é indispensável exercício de ilustração, principalmente quando, dizem, Obama planeja reatar os antigos laços. Agora, porém, com o respeito que os americanos nunca tiveram pela ilha.


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Errei, sim!


‘GADO & GALINHAS – Estranhei este título do Suplemento Agrícola do Estadão: Gado de corte espera posse de Collor. Porém Janistraquis, que herdou uma chácara no Vale do Paraíba, garantiu estar certíssimo tal, digamos, enunciado: ‘Considerado, é verdade; a bicharada andou açodada às vésperas da posse do homem. As galinhas lá de casa, então, estavam num assanhamento maior que o da Cláudia Raia na TV Pirata’. Pedi a meu assistente um pouco de moderação.’ (abril de 1990)


Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.


(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’


 


JORNALISMO
Eduardo Ribeiro


Servidão intelectual do jornalismo brasileiro


‘Devidamente autorizado pelo professor e doutor José Marques de Melo, há anos a maior autoridade brasileira no campo acadêmico da área de Comunicação, aproveito este espaço que semanalmente o Comunique-se me reserva para divulgar um artigo por ele elaborado, mostrando caminhos e descaminhos do jornalismo brasileiro. Trata-se de um texto que aponta pecados estruturais do nosso jornalismo e do pensamento de nossos principais dirigentes.


Não deixa de ser uma pequena contribuição ao debate sobre os rumos do jornalismo na sociedade contemporânea.


Demanda precoce


Há mais de um século a educação dos jornalistas vem desafiando a sociedade brasileira.


A demanda floresceu no caldo de cultura gerado pela mercantilização da imprensa.


As gráficas substituíam utensílios manuais, artesanalmente manipulados, pelo maquinário industrial, movido a eletricidade.


Os jornais deixavam de ser correias de transmissão dos partidos políticos para se converter em empresas auto-sustentáveis.


A sociedade requeria profissionais competentes para produzir notícias de interesse coletivo e comentários sintonizados com as aspirações do público leitor.


Providência tardia


Onde formá-los? Evidentemente na universidade. Já em 1908, Gustavo de Lacerda, ao fundar a ABI, reivindicava tal providência.


Contudo, a academia só abriu suas portas aos jornalistas 40 anos depois. As primeiras escolas funcionaram em São Paulo (1947) e no Rio de Janeiro (1948).


O Brasil vem acumulando, durante seis décadas, experiência na formação universitária de jornalistas. Construiu uma matriz pedagógica que lhe confere singularidade no panorama mundial.


Tanto assim que a revista Journalism: Theory, Practice and Criticism, publicada simultaneamente em Washington, Londres, New Delhi e Singapura, dedica sua última edição (Vol. 10-1, 2009) ao caso brasileiro.


Mesclando o padrão europeu (estudo teórico) com o modelo americano (aprendizagem pragmática), logramos uma via crítico-experimental de ensino-pesquisa.


Fábricas de diploma


O sistema é perfeito? Absolutamente não. Tem muitas fragilidades. Mas pode ser melhorado. Basta vontade política e compromisso educativo.


Carente de maior interação com o mercado e a sociedade, muito nos beneficiaria o restabelecimento do estágio, condição necessária para oxigenar o treinamento profissional.


Refinando o controle da qualidade do ensino, através de parcerias das universidades com as empresas e os sindicatos, arbitradas e mediadas pelo MEC, lograríamos separar o joio do trigo, colocando em quarentena as ‘fábricas de diploma’ (escolas de baixo nível).


A verdade é que a reserva de mercado para os jornalistas diplomados contribuiu para a expansão das escolas de jornalismo, influindo na mudança da postura ética adotada pela mídia, em todo o território nacional. Estima-se que mais de 300 cursos superiores estão funcionando no país. Mas também é preciso reconhecer que a lei do diploma favoreceu a proliferação de escolas de segunda classe. Acomodadas ao rito cartorial de expedir passaportes para o mercado de trabalho, nem se preocupam com as demandas ocupacionais, nem buscam acumular conhecimento jornalístico.


Modelo mestiço


Apesar dessa contradição, o Brasil cunhou uma matriz didático-científica autônoma, refletindo melhoria na competência pedagógica e na capacidade investigativa em instituições de vanguarda. Trata-se de modelo mestiço, como o é a nossa cultura nacional, sedimentado no tripé – conhecer, experimentar, pesquisar.


A etapa cognitiva articula-se em função de dois eixos: as matérias que fundamentam os processos de codificação e os conteúdos a serem difundidos (humanísticos, comportamentais, gerenciais, tecnológicos etc.) e as interdisciplinas que pretendem explicar os fenômenos comunicacionais (da sociologia da comunicação à filosofia crítica e aos estudos culturais).


Mas o espaço privilegiado da aprendizagem corresponde aos laboratórios didáticos (estúdios, oficinas, estações, agências). Ali se concretiza o pragmatismo criativo, através da aplicação das técnicas jornalísticas ou de simulações didáticas e exercícios práticos. Monitorados pelos docentes, os alunos testam produtos que circulam e repercutem em audiências reais. A infra-estrutura laboratorial que dá sustentação à fase experimental do processo tem sido objeto de regulamentação por parte do MEC. É com base na sua composição e disponibilidade, além de outros fatores, que os cursos são autorizados e reconhecidos.


O circuito se completa com o fomento à pesquisa, através de projetos de iniciação científica ou de estudos avançados. Bolsistas recém graduados, postulando oportunidades na vida acadêmica, convergem cada vez mais para programas de mestrado e doutorado. Mas estes denotam pouca sintonia com as demandas da graduação, produzindo conhecimentos distanciados das atividades profissionais, salvo algumas exceções.


Inclusão educativa


O jornalismo adquiriu maior complexidade, principalmente em função da convergência midiática e das transformações da sociedade. Por isso, torna-se urgente repensar as estratégias investigativas da pós-graduação para sintonizá-las com as prioridades cognitivas do novo século.


Precisamos, imediatamente, vencer a secular batalha pela inclusão educativa das maiorias incultas e iletradas que povoam o território nacional.


Trata-se de criar e experimentar formatos jornalísticos que, potencializando as novas tecnologias, sejam capazes de catalisar o saber popular, estimulando o apetite cognitivo dos que estacionaram à margem da cultura impressa.


Nesse sentido, nada mais oportuno que o depoimento do diretor editorial da Folha de S. Paulo, Otavio Frias Filho ao Fórum Mega-Brasil Mitos e Verdades do Brasil: Visões da Mídia: ‘Nós fazemos um jornalismo muito cifrado. Usamos o mesmo repertório, porque escrevemos para nossos pares, para nossos amigos, para as pessoas que conhecemos, na crença de que dessa forma estamos escrevendo para todos. E a verdade é que, infelizmente, pouco sabemos do leitor real, do que ele quer. E o que acontece é que há aí uma distância abissal entre o que oferecemos e o que deveria ser oferecido’. (Jornalistas&Cia, São Paulo, 28/11/2008).


Distorções congênitas


O modelo vigente já não atende às aspirações nacionais nesta conjuntura de acelerada mutação tecnológica e de transformações velozes na vida cotidiana, engendrando novos processos de produção e difusão jornalística.


Capitalizando meio século de imersão em atividades jornalísticas, tenho consciência de que o nosso ensino do jornalismo precisa ser reinventando para superar, entre outras, duas distorções congênitas:


1) Romper a tradição gutenbergiana que nos tem mantido prisioneiros de estruturas tecnologicamente anacrônicas que ainda governam a lógica dos processos de ensino-aprendizagem. Precisamos potencializar os recursos oferecidos pelas novas tecnologias digitais, formando profissionais vocacionados para produzir conteúdos jornalísticos de interesse do conjunto da sociedade, inclusive dos contingentes que permanecem excluídos do banquete civilizatório. Isso corresponde a priorizar os modos de expressão jornalística através do som e da imagem, sem evidentemente descuidar o código verbal.


2) Ultrapassar a caricatura balzaquiana que nos tem induzido a privilegiar a formação aristocrática de jornalistas comprometidos com os interesses das elites cultas ou medianamente educadas. Precisamos engendrar estratégias discursivas sintonizadas com o repertório das populações desinformadas e aplicar táticas motivadoras do apetite cultural daqueles bolsões marginalizados da sociedade de consumo. Do contrário, nossa Sociedade do Conhecimento será também uma caricatura, perpetuando a Sociedade dos Conhecidos (aquela que nos governa secularmente). Para tanto, precisamos tomar como referência também a cultura popular, ao invés de persistir no domínio exclusivo da cultura erudita.


Sair do gueto


Como lograr essa transformação? Trata-se de compromisso que está a desafiar o espírito público da nova geração de educadores e investigadores do jornalismo.


Cabe a esse segmento da comunidade acadêmica, em sintonia com o mercado e a sociedade civil, romper as paredes do gueto universitário, repensando o esgotamento do nosso modelo de jornalismo. Só assim poderemos incluir cognitivamente o vasto contingente que o jornalista venezuelano Eleazar Diaz Rangel com muita sensibilidade denominou ‘pueblos subinformados’.


Formar profissionais capazes de superar essa situação-limite e pesquisadores engajados na produção de conhecimento empírico, socialmente utilitário e culturalmente relevante, constitui o ponto de partida. Trata-se, afinal de contas, de romper a servidão intelectual que nos tem condenado a mimetizar padrões estéticos e reproduzir modelos forâneos, sempre de costas para o legado das gerações que nos precederam.


(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’


 


TELEVISÃO
Antonio Brasil


Morre o criador do melhor programa infantil da TV brasileira


‘Você talvez não conheça o ator e diretor Fábio Sabag. Aos 77 anos, ele morreu aqui no Rio no último dia do ano. Mas todos os ‘jovens’ com mais de 40 ou 50 anos e que gostam de TV certamente se lembram de sua principal obra: o Teatrinho Trol, um dos mais premiados programas da história da televisão brasileira.


Produzido pela Tupi de 1956 a 1966, o programa fez enorme sucesso com crianças e adultos. Naquelas tardes de domingo dos primeiros anos da TV no Brasil, todos desapareciam das ruas para assistir aos melhores contos de fadas e peças infantis especialmente adaptados para a TV.


Eram tempos heróicos do meio. Tudo era novo, improvisado e experimental. Com muita coragem e profissionalismo, muitos anos antes da introdução do vídeo-tape, o Teatrinho Trol encenava suas peças infantis ao vivo diante de várias câmeras de TV. Os erros eram inevitáveis, mas a vontade de criar e inovar era ainda maior.


Em preciosa entrevista para o site InfantTV, Fábio Sabag explica esses tempos pioneiros (ver aqui):


‘Eu já tinha feito teatro infantil em São Paulo e depois na TV, quando ela começou. Procurei me cercar do que havia de melhor na época, atores, autores, figurinistas, maquetistas, etc…’


Sobre as dificuldades, ele comenta:


‘Não sabíamos o que eram dificuldades, pois a única maneira de se trabalhar era ao vivo. Ninguém sonhava com video-tapes, etc. Os programas eram muito ensaiados. Apesar dos ensaios, falhas eram inevitáveis. Tivemos muitas, dariam um livro.’


Sabag também explica o segredo do sucesso do programa:


‘Ficamos no ar durante 10 anos com muito sucesso. O segredo era muita luta, elenco de primeira, pesquisando as crianças, e sempre com a proposta de formação de platéias. Quem assistiu o Teatrinho, teve sempre, ao longo desses anos, um critério na escolha de espetáculos, para seus filhos e netos’.


Premiado e feliz


No Teatrinho Trol, grandes nomes da nossa dramaturgia como Fernanda Montenegro, Zilka Salaberry, Norma Blum, Roberto de Cleto, Moacyr Deriquem e até mesmo jovens promissoras como a estrela Christiane Torlone aos 10 anos encantavam toda uma geração com o melhor do teatro adaptado para a TV.


E por trás de toda aquela mágica e inovação estava o jovem Fábio Sabag. Ele se tornaria sinônimo de qualidade e criatividade no Teatrinho Trol:


‘A melhor recordação são as pessoas que encontro até hoje, pais, avós, que eram fãs do Teatrinho. Recebemos 120 prêmios e citações nas maiores revistas e jornais do Brasil e de muitos outros países e de escritores, intelectuais, artistas, inclusive da Unesco. Quanto a decepções foram tão poucas, que não deixaram mágoas. Sempre fui e sou feliz.’


Em mais quase 60 anos de atividades profissional, Fábio Sabag teve mais de 7.000 participações como ator de teatro, cinema, televisão e produtor de teatro. Chegou a ter quatro companhias teatrais no Rio de Janeiro.


Só na Globo participou de mais de 20 novelas, além de minisséries e casos especiais.


Mas quem não assistiu ao Teatrinho Trol, não sabe o que perdeu.


Débeis mentais


De lá pra cá, com raras exceções como o Sítio do Pica-Pau Amarelo ou o Castelo Ra-Tim-bum, a televisão infantil brasileira tem sofrido muito.


Os programas infantis de Xuxa e suas congêneres contribuíram de sobremaneira para deseducar e imbecilizar toda uma geração de crianças. A perigosa mistura de estimulo à sensualidade precoce e consumo desenfreado teve péssimos resultados.


Nos EUA, a tentativa da dupla Xuxa e Marlene Matos de introduzir programas infantis com o ‘molho’ brasileiro foi um completo fracasso. Associações de pais, mestres e críticos se uniram para impedir os programas infantis da dupla brasileira. Na terra de bons programas infantis como o Vila Sésamo produzido pela rede pública PBS, essa foi uma sábia decisão Aqui entre nós, não existe nada pior e mais perigoso do que os programas da Xuxa.


Nos novos tempos, os pequenos telespectadores passaram a serem vistos somente como consumidores e índices de audiência. Todo um trabalho de formação de público, principalmente para as artes cênicas se perdeu. Os teleteatros se transformaram em novelas e os programas infantis tratam as crianças como marionetes.


Fazer programa para crianças deixou de ser investimento no futuro e passou a ser grande negócio para as nossas emissoras.


Antes de morrer, Fábio Sabag já reconhecia esses problemas.


‘No mundo tudo muda a cada segundo. As crianças aceitam o que lhes é oferecido pela Tv. Mas, não se iluda. Elas sabem o que querem, mas muitas vezes não têm opções. Além do mais existe o hábito’.


E sobre o futuro, Sabag completa:


‘A criança merece um espetáculo, melhor e muito mais bem cuidado do que o dos adultos. Hoje todos os programas, são bem produzidos, mas a maioria é feita com pessoas inadequadas e apresentadores no estilo ‘tati-bi-tati’. Pena que tratando as crianças como débeis mentais’.


Tudo a ver!


(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’


 


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